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Camille Lima
Camille Lima
Repórter no Seu Dinheiro. Estudante de Jornalismo na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Já passou pela redação do TradeMap.
DESTAQUES DA BOLSA

Vamos (VAMO3): os três motivos por trás da queda de 11% desde o anúncio da reestruturação; ação recua na B3 hoje

A Vamos deverá se fundir com a rede de concessionárias Automob, que também é controlada pela Simpar — e o plano de combinação das operações gerou ruídos entre investidores

Camille Lima
Camille Lima
3 de outubro de 2024
16:09 - atualizado às 17:26
Grupo Vamos
O Grupo Vamos (VAMO3) foi um dos poucos sobreviventes da safra de IPOs de 2020 e 2021. - Imagem: Divulgação

Desde que anunciou no último domingo (29) a separação do negócio de concessionárias, a Vamos (VAMO3) vem enfrentando forte pressão na bolsa. Só nos últimos quatro pregões, a queda acumulada das ações supera 11%.

Os papéis da locadora de caminhões e equipamentos encerraram a sessão desta quinta-feira (3) em baixa de 4,11% e figuraram entre as maiores perdas do Ibovespa hoje, cotados a R$ 5,77. Nas mínimas do dia, a companhia chegou a ser negociada a R$ 5,42. Já o principal índica da bolsa brasileira recuou 1,39%, aos 131.665 pontos. 

No ano, a desvalorização de VAMO3 chega a 42% na B3. Atualmente, a empresa é avaliada em pouco mais de R$ 6,3 bilhões. 

Na leitura de analistas e gestores consultados pelo Seu Dinheiro, há três motivos principais que explicam o recuo da Vamos na B3. Você confere as razões a seguir.

1 - Mercado não gostou da reestruturação da Vamos (VAMO3)?

Uma das razões por trás da queda das ações VAMO3 é a reestruturação anunciada na última segunda-feira. Com a operação, a Vamos deverá se fundir com a rede de concessionárias Automob, que também é controlada pela Simpar (SIMH3) — e o plano de combinação das operações gerou ruídos entre os investidores.

Nos termos do negócio, a divisão de concessionárias da Vamos passará por uma cisão da operação atual. Posteriormente, a Vamos Concessionárias vai adquirir uma participação de 35,49% da Automob que hoje pertence à Simpar, por R$ 1 bilhão.

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Com a transação, a Simpar será a controladora da "nova Automob", com 64,12% do capital. Enquanto isso, os acionistas minoritários da Vamos deterão 21,39% das ações e os da Automob, 14,49%.

Isso significa que, com o negócio, os acionistas da Vamos terão papéis da própria companhia e da Automob, que também será listada no Novo Mercado.

Ou seja, a Automob estreará na bolsa em uma combinação com as concessionárias que atualmente pertencem à Vamos. Por sua vez, a companhia passará a atuar exclusivamente no segmento de locação.

Inicialmente, a reação do mercado foi bem positiva. Para a XP, a operação faz sentido do ponto de vista estratégico tanto para a Vamos quanto para a Automob. 

Segundo Rafael Cota, gestor de renda variável da Inter Asset, a operação foi positiva para Simpar, já que traz uma oportunidade de desalavancagem para a holding, reduzindo a dívida líquida de R$ 3,3 bilhões para R$ 2,3 bilhões.

“Na operação, os minoritários da Vamos ficam com um novo ativo que foi avaliado a um preço muito caro. A empresa vai precisar captar dívida para realizar essa operação, e esse endividamento parcialmente ficará com os minoritários da Vamos”, afirmou.

“O movimento de separar a concessionária da Vamos era algo que o mercado cobrava em alguma medida desde o IPO. Então é bom quando você pensa no negócio, porque a concessionária era um negócio pior, com rentabilidade pior e ainda por cima muito volátil”, diz outro gestor.

Porém, na avaliação desse economista, a transação também traz incerteza para a Vamos. Isso porque a compra de parte da concessionária de veículos leves da Simpar por uma quantia bilionária.

“A transação avalia a nova Automob em um valor que parece um pouco puxado. A empresa está pedindo cerca de 6 vezes o Ebitda nesse negócio da concessionária, parece um valuation um pouco esticado para um negócio que não é exatamente bom”, afirmou.

“Na prática, o acionista da Vamos vai acordar amanhã com a empresa de locação de caminhão que já tinha, o business de concessionária que já tinha, mas com uma empresa um pouco mais alavancada, porque vai ter que tomar R$ 1 bilhão de dívida para fazer uma alocação de capital que talvez seja ruim, que é para comprar a concessionária de carros a um preço caro.”

Para o gestor, caso o investidor não queria se tornar também acionista da concessionária de carros e de caminhões, que é a Automob, “faz sentido vender a ação e esperar para comprar depois”. “Até porque, no fim do dia, ele vai poder comprar só a operação de locação.”

2 - Investidores operam vendidos nas ações VAMO3

Para além dos investidores que passaram a se desfazer temporariamente das ações da Vamos para adquiri-las após a conclusão da reestruturação, há ainda aqueles que decidiram aproveitar o momento para apostar contra os papéis VAMO3.

Em uma estratégia batizada de short — também conhecida como venda a descoberto —, o investidor toma emprestado uma ação e vende na expectativa de que os preços recuem na bolsa.

Se as cotações das ações caírem como esperado, o investidor compra as mesmas ações de volta, mas a um preço mais baixo.

Atualmente, cerca de 16% do total de ações em circulação (free float) da Vamos encontram-se shorteados.

3 - O peso dos juros sobre a Vamos

A trajetória dos juros no Brasil também adiciona pressão à Vamos (VAMO3). Considerada uma ação cíclica e altamente alavancada, a locadora de automóveis é mais sensível às mudanças de taxas por aqui — e tende a sofrer em ciclos de aperto monetário.

Vale lembrar que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central recentemente elevou a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, a 10,75% ao ano.

No fim de setembro, o Copom também publicou uma ata mais dura que o esperado e reforçou as expectativas de um aperto monetário ainda maior na próxima reunião, prevista para acontecer nos dias 5 e 6 de novembro.

Na avaliação de João Daronco, analista da Suno Research, o mercado brasileiro encontra-se em um dos momentos mais altos da curva de juros futuros (DIs) do ano – e isso impacta diretamente empresas de crescimento e endividadas, como a Vamos. 

“O mercado está um pouco mais arisco ao risco e acaba por se desfazer de papéis como Vamos. Mas para o investidor que pensa mais em longo prazo, comprar um ativo que tem capacidade de crescer 20% ao ano nos próximos 10 anos e que negocia a um múltiplo de 9 vezes a relação preço sobre lucro é muito atrativo”, disse Daronco.

Segundo um gestor, a Vamos atualmente se encontra fortemente endividada, com uma relação de cerca de 4 vezes a dívida líquida sobre Ebitda. 

Desse modo, em um ambiente de estresse de juros, a companhia se encontrará em uma situação “bem difícil” e ainda corre o risco de precisar reduzir a frota de caminhões para enfrentar esse cenário.

“É um cenário que, se os juros estressarem, a Vamos no mínimo vai ter que segurar o ritmo de crescimento, isso se não tiver que encolher a frota.”

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