Onde investir: Por que ter dólar na carteira pode ser uma má ideia em 2024
Tendência de curto prazo para o dólar é de baixa frente a outras moedas; veja o que esperar em relação à taxa de câmbio neste ano
O dólar dificilmente sai de moda no mundo dos investimentos. A moeda norte-americana é amiga de quase todas as horas, especialmente quando falamos em reserva de valor e proteção do patrimônio.
Nossos hermanos argentinos que o digam. Mas terei que brigar com a chefia para emplacar a próxima frase: o dólar não é um investimento recomendável para 2024.
A avaliação contraria um dos mantras do Seu Dinheiro (sempre é hora de comprar dólar), mas não vem de fontes da minha cabeça. Quem diz é Gustavo Menezes, gestor de fundos multimercado da AZ Quest.
“Todo mundo precisa sair do conservadorismo e ir para o risco para não perder oportunidades”, afirma o gestor.
O executivo enfatiza que esta é a visão dele para o primeiro trimestre de 2024, mas que dificilmente será revertida nos meses seguintes.
O momento não vem de agora — e Menezes talvez tenha sido um dos primeiros a percebê-lo no mercado financeiro brasileiro.
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No início de 2023, quando grande parte dos investidores mostrava-se desconfiada em relação aos ativos locais, o gestor da AZ Quest enxergou elementos para ir contra o consenso.
No fim das contas, os três fundos multimercado da AZ Quest situaram-se entre os cinco mais rentáveis de 2023.
Em um ano no qual esse mercado específico patinou, os principais fundos da gestora bateram com folga o CDI, usado como referência.
Cabe destacar que a análise do gestor sobre o dólar tem o ponto de vista da moeda como investimento.
Agora se o seu objetivo é outro, como viajar para o exterior, o melhor a fazer é ir comprando os dólares necessários aos poucos, sem tentar adivinhar o “momento ideal” para comprar.
Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir em 2024. Eis a lista completa:
- Investimentos no exterior
- Cenário macro: a visão do gestor
- Bolsa
- Tesouro Direto
- Bitcoin e criptomoedas
- FII e imóveis
- Dólar e ouro (você está aqui)
- 5 ideias de negócios e franquias de até R$ 50 mil para abrir em 2024
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Por que o dólar deve perder força no mundo todo
Discrepâncias nas projeções para a taxa de câmbio são comuns — principalmente pela reconhecida dificuldade para prevê-la.
No entanto, parece haver um consenso de que a tendência de curto prazo para o dólar é de baixa em todo o mundo.
Em um encontro com jornalistas no fim de 2023 em São Paulo, o chefe de economia do Bank of America (BofA) para o Brasil, David Beker, pontuou algumas situações que tendem a pesar sobre a força do dólar lá fora.
Uma delas é a expectativa de alívio monetário pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em algum momento de 2024 — provavelmente em junho, segundo o BofA.
Com a queda das taxas de juros, a expectativa de Beker também é de que os investidores busquem mais risco no mercado.
A propósito, o economista do BofA não prevê somente alguma perda de força do dólar nos mercados internacionais. Ele também aposta em um real mais forte em 2024.
Tanto é assim que uma das recomendações para os clientes do BofA com posições na América Latina este ano é de compra do real contra o peso mexicano.
Mas lembra do mantra do Seu Dinheiro?
Sempre tenha dólar na carteira.
Os profissionais do mercado consultados para esta reportagem em nenhum momento disseram que o dólar deva ser relegado ao ostracismo.
Seja você um investidor ou uma investidora de perfil conservador, moderado ou arrojado, “sempre cabe um pouco de dólar no momento de montar a carteira”, afirmou Gustavo Menezes, da AZ Quest, gestora que fechou 2023 com mais de R$ 24 bilhões em ativos sob custódia.
No entanto, se você já tiver ativos dolarizados na carteira, a hora é de, no máximo, manter essa exposição — e eventualmente diminuí-la na busca por mais rentabilidade.
“Quem ainda não começou a ajustar o portfólio a esse novo ciclo, deveria começar a buscar, de maneira gradual, um posicionamento mais arrojado”, disse Menezes.
“No momento, não gosto do ativo dólar como expectativa de retorno, principalmente frente ao real”, afirmou o gestor da AZ Quest.
Isso se deve em grande parte ao momento atravessado pelo dólar no cenário global, mas não só.
No Brasil, os primeiros meses do ano no mercado costumam ser marcados pelo retorno à ativa dos fundos e dos investidores estrangeiros.
Na avaliação de Menezes, o mercado financeiro brasileiro está bem posicionado para voltar a receber capital estrangeiro, especialmente pelo fato de os ativos locais terem ficado depreciados demais no último ciclo de baixa.
Caso o ingresso de recursos estrangeiros na bolsa se concretize, o economista Julio Hegedus, da Mirae Asset, enxerga nisso um fator adicional de pressão sobre o dólar.
Além disso, o Comitê de Política Monetária do Banco Central segue sinalizando novos cortes da taxa Selic e a agenda econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem sendo bem aceita pelo mercado em geral.
O dólar e os economistas
Essa conjunção desses fatores disparou, do fim de outubro para cá, o gatilho do rali de fim de ano no Ibovespa e levou o dólar a fechar 2023 com uma queda acumulada de 8%.
No início do ano passado, os economistas consultados pelo Banco Central para a elaboração da pesquisa Focus projetavam que o dólar encerraria 2023 na faixa de R$ 5,28.
No entanto, a moeda norte-americana chegou ao fim da última sessão do ano passado bem abaixo disso, cotada a R$ 4,85.
É necessário ponderar que projetar os caminhos e descaminhos do dólar não é uma tarefa trivial.
Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, brincou certa vez que a taxa de câmbio teria sido “criada por Deus apenas para humilhar os economistas”.
Neste início de 2024, a mediana das projeções do boletim Focus traz o dólar cotado a R$ 5,00 no fim do ano.
A estimativa encontra-se bem acima das projeções apresentadas pelos profissionais consultados pelo Seu Dinheiro.
A AZ Quest e a Mirae Asset, por exemplo, veem o dólar a R$ 4,80, no fim de 2024.
O Bank of America (BofA), por sua vez, projeta o dólar a R$ 4,75 no encerramento do ano recém-iniciado.
Não sem a costumeira volatilidade, claro.
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Proteção e equilíbrio
Todo assessor profissional de investimentos recomenda a seus clientes que mantenham uma carteira diversificada, com ativos capazes de proteger o patrimônio construído.
Dólar e ouro costumam ser os mais citados nesse sentido. Como em tudo na vida, porém, é necessário equilíbrio.
“Se o seu cenário se realiza e sua carteira está protegida demais, a proteção acaba corroendo o retorno”, afirma Gustavo Menezes, da AZ Quest.
De acordo com ele, as proteções devem ser suficientes para resistir a solavancos, mas sem prejuízo à rentabilidade do restante da carteira.
E o ouro?
Quando falamos em hedge, normalmente nos referimos ao dólar ou a ativos cotados na moeda norte-americana, especialmente o ouro.
Considerado uma reserva de valor, o ouro visitou níveis recordes recentemente — e é provável que continue renovando máximas históricas em 2024, segundo participantes do mercado.
Boa parte dessa valorização se deve justamente ao enfraquecimento do dólar e à perspectiva de cortes nos juros nos Estados Unidos.
Isso porque as oscilações de preço do ouro costumam ter correlação inversa ao dólar e às taxas de juros norte-americanas. Quando o dólar e os juros sobem, o ouro cai; quando a moeda e as taxas recuam, o ouro se valoriza.
Portanto, em termos de rentabilidade, um investimento tende a anular o outro.
“O ouro é um ativo adequado para momentos de crise, quando não há alternativas melhores e você fica sem um norte”, diz Julio Hegedus, economista da Mirae Asset. E este não parece ser o cenário de momento.
De acordo com Gustavo Menezes, da AZ Quest, o investimento em metais preciosos como o ouro na carteira equivale à contratação de um seguro: você sabe que precisa ter, mas vai achar melhor se não tiver que usar.
“A questão é que, se você tem retorno expressivo com um ativo como o ouro, é porque alguma coisa deu errado em outros pontos da sua carteira.”
De qualquer modo, o Conselho Mundial do Ouro considera que a commodity deve se beneficiar, em 2024, do aumento das tensões geopolíticas em um ano eleitoral importante para diversas economias de peso, entre elas os EUA, bem como da continuidade das compras do metal por bancos centrais.