Do Japão ao Ibovespa: 3 coisas que você precisa saber para entender o terremoto financeiro que derruba as bolsas hoje
Alta de juros do banco central japonês e desaceleração da economia dos EUA não estão sozinhos na tempestade perfeita que atinge as bolsas hoje
O Japão é conhecido como um dos países com maior incidência de terremotos no mundo. Nesta segunda-feira (5), um outro tipo de tremor originado no país asiático abala duramente as finanças globais e reverbera nas bolsas de valores, incluindo o Ibovespa.
A bolsa de valores de Tóquio vinha de uma queda de 5,8% na sexta-feira. Hoje, o índice Nikkei despencou 12,4%. Foi a maior queda da bolsa japonesa em número de pontos (4.451,28) em apenas um dia e o pior recuo desde o tombo de 14,9% em 20 de outubro de 1987.
O mercado de ações de Tóquio é o mais afetado globalmente, mas o abalo financeiro emite ondas de choque ao redor do mundo.
Por aqui, o principal índice da B3 abriu em queda de 2%, mas aos poucos atenuou as perdas. Por volta das 12h30 desta segunda-feira a bolsa brasileira recuava 0,8%, aos 124.807 pontos.
No mesmo horário, o dólar comercial subia 0,4%, negociado na faixa de R$ 5,74. Em Nova York, os principais índices de Wall Street caíam mais de 2%.
O epicentro desse terremoto é facilmente localizável na chamada Super Quarta dos bancos centrais, na semana passada.
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Na decisão de política monetária do BoJ, como é conhecido o banco central do Japão, os juros nipônicos passaram da faixa de 0% a 0,1% para a de 0,15% a 0,25%.
A alta deu continuidade ao aperto monetário iniciado em março, quando o Japão pôs fim a 17 anos de juros negativos no país.
O presidente do BoJ, Kazuo Ueda, aproveitou a ocasião para sinalizar que a autoridade monetária vai continuar subindo os juros gradualmente se as atuais projeções para a economia e inflação no país se confirmarem.
Isso leva à primeira das três coisas que você precisa saber sobre o terremoto que hoje derruba Wall Street e o Ibovespa.
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1 - Alta dos juros no Japão implodiu o carry trade do iene e abalou bolsas pelo mundo
O carry trade, ou carrego, é a arbitragem conduzida por investidores internacionais de grande porte por meio da qual eles tomam dinheiro emprestado na moeda de um país com taxas de juros baixas e reinvestem o lucro em alguma divisa que permita uma taxa de retorno mais alta.
O carry trade do iene era feito principalmente em cima do dólar.
Como os juros nos Estados Unidos encontram-se há mais de um ano nos níveis mais altos desde 2001 e o Japão vivia com taxas negativas até março, o carry trade do iene tornou-se altamente popular entre os grandes investidores.
Antes de subir os juros, porém, o BoJ começou a intervir no mercado de câmbio para defender o iene, que estava em níveis historicamente baixos. Isso levou a uma rápida e acentuada valorização da moeda japonesa, acompanhada da depreciação das ações listadas em Tóquio.
Consequentemente, os investidores precisaram vender ativos para financiar as perdas com o carry trade do iene.
2 - Economia dos EUA em desaceleração
A implosão do carry trade do iene é apenas uma das explicações para a forte queda de hoje nas bolsas.
Ainda na Super Quarta da semana passada, o Federal Reserve até sinalizou a intenção de cortar os juros em setembro, mas manteve as taxas de referência nos níveis mais elevados em décadas.
Logo em seguida à decisão, vieram à tona dados de atividade e emprego sinalizando uma repentina desaceleração da economia dos Estados Unidos. Na sexta-feira, o payroll garantiu uma sessão azeda para os ativos de risco ao redor do mundo.
Entre os investidores, a percepção é de que o Fed segurou os juros em níveis restritivos por tempo demais e poderia ter promovido um corte na reunião do fim de julho.
Hoje, os contratos futuros dos Fed Funds com vencimento em agosto apresentam alta acentuada.
É um sinal da expectativa de que o banco central norte-americano pode se antecipar e cortar os juros antes de sua próxima reunião de política monetária, marcada para 18 de setembro.
3 - Notícias sobre a Apple e a Nvidia e o pé atrás com a inteligência artificial
Nem só de bancos centrais é feito o terremoto de hoje nas bolsas.
A forte alta das bolsas internacionais no primeiro semestre teve como principal fator de impulsão a disparada das ações das big techs.
Outros setores, porém, não acompanharam o movimento e é crescente a percepção de que a valorização das grandes empresas de tecnologia — em particular aquelas que subiram na onda da inteligência artificial — tem características de bolha.
Os resultados das big techs no segundo trimestre de 2024 vêm, em grande medida, confirmando que as ações de chamadas Sete Magníficas estavam caras demais.
Em meio ao aumento de juros do BoJ e à desaceleração da economia dos EUA, duas notícias sobre as empresas do setor veiculadas durante o fim de semana desencadearam uma onda de venda desses papéis nesta segunda-feira.
A outra é de que a Nvidia vai atrasar por pelo menos três meses o lançamento de sua próxima geração de chips de inteligência artificial.
De qualquer modo, embora Wall Street e o Ibovespa tenham amanhecido em meio a fortes perdas hoje, o movimento parece refletir uma correção nos preços dos ativos — e não uma recessão.
Hoje, em entrevista coletiva concedida após a apresentação dos resultados do segundo trimestre, o CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, qualificou a reação dos mercados hoje como “absolutamente extremada”.
*Colaborou Renan Sousa.
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