VÉSPERA DE FERIADO NO BRASIL: MUITO TRABALHO, POUCO DESCANSO
Estamos na véspera do feriado de Corpus Christi, que fechará o mercado brasileiro na quinta-feira e deverá trazer cautela para os investidores locais nesta quarta-feira.
A volta do feriado, na sexta-feira, promete muita emoção, com a digestão da segunda leitura do PIB americano do primeiro trimestre (amanhã), bem como a leitura do PCE de abril (sexta-feira), a medida de inflação favorita do Fed.
Em antecipação a esses dados, as ações caíram em Tóquio, Seul, Sydney e Hong Kong, mas subiram em Xangai.
Os mercados da China continental foram impulsionados por medidas dos governos municipais para apoiar o mercado imobiliário. O iene japonês voltou a cair, atingindo seu nível mais fraco em quase 16 anos.
O mercado europeu está em queda desde a abertura de hoje, assim como os futuros americanos, indicando um dia difícil pela frente.
Isso ocorre após um leilão ruim de Treasuries ontem e na expectativa pelo Livro Bege do Fed, que será apresentado mais tarde.
Também aguardamos mais declarações de autoridades monetárias americanas, que podem pressionar a curva de juros.
Outros pontos de atenção incluem a pesquisa industrial do Fed de Dallas, a inflação preliminar dos preços ao consumidor na Alemanha para maio e os dados sobre a oferta monetária da zona euro. Os preços do petróleo também estão subindo nesta manhã, ultrapassando os US$ 84 por barril.
A ver…
00:56 — Não adianta mais
No Brasil, após romper a sequência de quedas na segunda-feira, o Ibovespa voltou a cair ontem, fechando aos 123.780 pontos.
O índice local tem encontrado dificuldades para ganhar tração. Especificamente ontem, a queda ocorreu apesar da alta da Petrobras, que reagiu positivamente à primeira coletiva de Magda Chambriard (como mencionamos, não foi ruim, mas ainda está longe do ideal).
Um dos fatores que contribuíram para a queda foi a desvalorização da Vale, afetada pela queda do preço do minério de ferro no mercado internacional.
Um ponto de atenção foi o IPCA-15 de maio, a prévia da inflação oficial, que ficou abaixo do esperado, subindo 0,44% na comparação mensal e 3,70% na anual (as expectativas eram de 0,47% e 3,70%, respectivamente).
No ano, o IPCA-15 acumula alta de 2,12%. Embora isso possa parecer um bom sinal, o impacto desse dado na condução da política monetária do Copom será limitado.
Apesar de o dado mostrar desaceleração na comparação anual e qualitativamente melhores números, a recente desancoragem de expectativas restringe a atuação do Banco Central.
Mesmo com uma ata mais "hawkish" (contracionista) e declarações firmes dos membros do Comitê, o estrago já estava feito devido à divisão mal comunicada do comitê e às declarações equivocadas de Haddad.
Galípolo, da diretoria de Política Monetária, tem tentado ajudar mostrando alinhamento técnico na busca pela meta de 3% e no combate à desancoragem, mas não tem sido suficiente.
Criamos um problema que não existia na âncora monetária com o último Copom. Talvez o problema esteja na insistência no uso do forward guidance.
Nem mesmo o bom resultado das contas públicas em termos de arrecadação consegue animar, pois as despesas crescem em termos reais mais do que a receita, o que é insustentável.
A agenda de hoje inclui mais dados do setor público, o IGP-M de maio e os dados de emprego, com o mercado de trabalho ainda mostrando força.
01:42 — E a reforma tributária?
Esta semana foi crucial para o avanço da reforma tributária sancionada no ano passado. Estamos aguardando a divulgação do segundo projeto regulatório sobre os impostos de consumo, que definirá elementos chave como o comitê gestor, a distribuição entre os entes federativos e o mecanismo de resolução de disputas.
Um grupo de trabalho, criado especificamente para essa finalidade, realizou sua primeira reunião com o objetivo de entregar o relatório final até o final deste semestre, em junho.
Este comitê foi estabelecido para agilizar o processo e assegurar que o relatório seja votado em Plenário dentro dos prazos estipulados.
Um cronograma com 17 audiências públicas foi estabelecido para discutir os detalhes da proposta apresentada pelo Ministério da Fazenda.
Além disso, desafios continuam a surgir, especialmente em relação ao imposto sobre herança, o ITCMD, que foi modificado para incorporar progressividade pela emenda constitucional de 2023.
A proposta atual já inclui diretrizes para a formação do comitê gestor, que será responsável por administrar e distribuir os recursos provenientes do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), destinado aos estados e municípios.
Discrepâncias pontuais ainda persistem no texto, afetando tanto municípios quanto estados. Bernard Appy, Secretário Extraordinário da Reforma Tributária, será responsável por arbitrar o conteúdo final do documento.
Uma das preocupações de Appy é a alíquota proposta de 26,5%, que ele considera elevada em comparação aos padrões globais, embora inferior às taxas atuais, que são mais altas e menos transparentes para diversos setores.
02:39 — E um novo recorde foi registrado
Nos EUA, o índice Nasdaq Composite subiu 0,6% ontem, alcançando um novo recorde, impulsionado por um forte desempenho das ações da Nvidia.
Em contraste, o Dow Jones Industrial Average caiu 0,6%, enquanto o S&P 500 teve um ganho marginal de apenas 0,02%. Esta dinâmica lembra muito o cenário de 2023: um mercado estreito liderado por megacaps.
No entanto, este ano, a atenção está voltada mais para o que o mercado chama de "Fabulous 5" — Nvidia, Meta Platforms, Alphabet, Amazon e Microsoft — todas com alta de pelo menos 15% no ano. Enquanto isso, as ações da Tesla e da Apple estão em queda.
A Nvidia se destacou significativamente ontem, com um aumento de 7% em suas ações, atingindo um recorde e um valor de mercado de cerca de US$ 2,8 trilhões.
Em breve, a empresa pode até superar a Apple em valor de mercado.
O principal catalisador para esses ganhos recentes foram as notícias de que a startup de IA generativa de Elon Musk, xAI, arrecadou US$ 6 bilhões em financiamento de capital de risco, avaliando a empresa em US$ 24 bilhões.
Uma grande parte desse investimento provavelmente será destinada à compra de chips especializados da Nvidia para IA.
O entusiasmo em torno da IA está compensando o impacto de um recente aumento nos rendimentos dos títulos, que normalmente seria negativo para as ações.
03:23 — Eleições sul-africanas:
Os sul-africanos votam nesta quarta-feira em uma eleição que pode ser a mais significativa desde o fim do apartheid em 1994.
Mesmo com o apoio dos eleitores mais velhos e rurais, o Congresso Nacional Africano (ANC), liderado pelo Presidente Cyril Ramaphosa, corre o risco de perder a maioria pela primeira vez.
Apesar de ter conduzido a África do Sul à democracia sob a liderança de Nelson Mandela, o ANC enfrenta crescente descontentamento devido a uma taxa de desemprego de 32%, uma taxa de pobreza de 50% e inúmeros escândalos de corrupção.
Mais de 50 partidos estão competindo pelos votos dos 28 milhões de cidadãos do país, mas dois se destacam com propostas que podem levar a África do Sul em direções radicalmente diferentes.
O primeiro é a Aliança Democrática, principal partido de oposição, com uma plataforma centrista e pró-negócios. O segundo é o partido marxista Combatentes pela Liberdade Econômica, que defende a nacionalização das minas de ouro e platina do país e a expropriação de terras.
Independente do resultado, as profundas diferenças demográficas e políticas entre os partidos sugerem que qualquer governo de coalizão resultante será provavelmente ainda mais instável do que a situação atual do país.
04:15 — As viagens de Milei e o remédio amargo
O presidente da Argentina, Javier Milei, desembarcou em São Francisco na noite passada para uma semana de encontros com a elite tecnológica dos Estados Unidos, marcando sua quarta visita ao país como presidente em cinco meses, em meio a um período de intensas reformas em sua nação.
Eleito no ano passado com a promessa de revitalizar a economia argentina e controlar a inflação altíssima, Milei se reunirá com os CEOs da Meta, Google, Apple e OpenAI.
O objetivo é reposicionar a Argentina no cenário global, atraindo novos investidores.
Com esta viagem, Milei completará oito viagens internacionais em seus primeiros seis meses de mandato, estabelecendo um recorde entre os presidentes argentinos, superando até mesmo o presidente Lula.
No entanto, é improvável que esses investimentos, caso se concretizem, amadureçam a tempo de combater a pior crise financeira da Argentina em 20 anos.
Todos sabíamos que a Argentina precisava de um ajuste rigoroso, que inevitavelmente levaria a uma recessão.
Resta ver até que ponto a população argentina tolerará essas dificuldades antes de expressar um descontentamento mais profundo.