VOLTAMOS AO RISCO DE ESTAGFLAÇÃO NOS EUA
Hoje, os mercados internacionais tentam se reerguer após um dia de intensa aversão ao risco ontem, impulsionados pela preocupação com possíveis sinais de estagflação nos EUA, devido aos recentes dados sobre a atividade econômica americana.
Os índices na Europa apresentam alta nesta manhã, e os futuros dos EUA também mostram recuperação, estimulados pelos resultados positivos das gigantes tecnológicas Alphabet e Microsoft.
A expectativa pelo anúncio do Índice de Preços Gastos de Consumo Pessoal (PCE) de março nos EUA adiciona uma dose de ansiedade, mas não impede um certo otimismo nos mercados.
O cenário na Ásia também foi de ganhos, concluindo a semana em alta, especialmente após a decisão do Banco Central do Japão de manter as taxas de juros estáveis. Kazuo Ueda, presidente do Banco, reforçou que a política monetária japonesa continuará flexível por ora.
No entanto, o iene viu uma depreciação adicional, com o dólar alcançando a marca de 156 ienes.
No mercado de commodities, o petróleo registrou alta, ultrapassando os US$ 89 por barril, enquanto o minério de ferro mostrou estabilidade, com ligeira tendência de alta. Esses movimentos são de interesse do Brasil, que ainda precisa processar os dados preliminares da inflação local.
A ver…
00:51 — Uma normalização no horizonte
No Brasil, o Ibovespa voltou a registrar queda ontem, predominantemente afetado pela baixa nas ações da Vale, apesar do progresso observado nas ações da Petrobras.
A reação dos investidores ao balanço do primeiro trimestre da Vale, que estava alinhado com as expectativas, não impediu a queda das ações.
Essas também foram influenciadas pela proposta da BHP, a maior mineradora do mundo, de fusão com a Anglo American, que viu suas ações subirem 16,05% e atingirem o pico de nove meses, avaliadas em 31,1 bilhões de libras.
Por outro lado, o avanço das ações da Petrobras, após a aprovação da distribuição de 50% dos dividendos extraordinários para 2024, ajudou a amenizar as perdas do índice, reforçando a expectativa de pagamentos semelhantes até o final do ano.
Além disso, o foco do dia recaiu sobre a divulgação do IPCA-15 de abril, desacelerou para 0,21% em abril, após 0,36% em março.
Qualitativamente, ainda se prevê uma inflação resiliente no núcleo de serviços, enquanto a situação para bens industriais continua favorável. Para a inflação acumulada em 12 meses, a desaceleração foi de 4,14% em março para 3,77% em abril.
Contudo, mesmo com essa normalização inflacionária, as expectativas para a Selic ao final do ano se inclinam mais para 9,75% e 9,50% do que para 9%.
Este cenário permanece tenso, especialmente num contexto onde os investidores estrangeiros parecem dar preferência a mercados como o México, em detrimento do Brasil.
01:47 — Espaço para um clima mais ameno em Brasília
Em Brasília, Fernando Haddad teve duas notícias animadoras esta semana. Primeiramente, além do dividendo extraordinário já mencionado da Petrobras, o Presidente Lula autorizou a liberação da segunda parcela desses dividendos, retidos anteriormente, o que pode representar um acréscimo de mais de R$ 6 bilhões para o Tesouro Nacional.
A segunda boa nova veio do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ministro Cristiano Zanin atendeu ao pedido do governo para suspender partes da legislação que estendia a desoneração da folha de pagamento para municípios e certos setores produtivos até 2027.
Essa medida é temporária e será avaliada pelo plenário virtual do STF já a partir de amanhã. Apesar de potencialmente gerar fricções com o Senado, essa decisão abre caminho para negociações mais suaves com a Câmara dos Deputados.
Adicionalmente, nesta mesma semana, Arthur Lira, presidente da Câmara, expressou suas reservas sobre a viabilidade da PEC do quinquênio, prevendo resistências significativas dentro da casa e questionando sua progressão no Senado, dada a preocupação com o impacto orçamentário da inclusão de várias categorias na proposta.
Esta é mais uma vitória moderada para a equipe econômica, somando-se ao compromisso parcial acerca do Perse. Essa melhoria nas relações é crucial para neutralizar potenciais pautas explosivas no Congresso.
Com a expectativa de que a agenda econômica esteja mais protegida de conflitos, o mercado pode começar a perceber o cenário político de forma mais positiva.
Outro indicativo de melhora foi a promessa de Lira de reduzir as tensões com seu adversário, Padilha, indicando um esforço para diminuir os confrontos.
02:33 — O medo de estagflação
Nos Estados Unidos, os dados do PIB divulgados ontem surpreenderam a todos, registrando um crescimento anualizado de apenas 1,6%, o que ficou abaixo de todas as expectativas dos economistas.
Esse resultado mais modesto foi principalmente devido a uma menor acumulação de estoques e um déficit comercial mais amplo.
Isoladamente, esse crescimento mais fraco poderia ser interpretado positivamente, pois indicaria uma maior margem para cortes de juros.
No entanto, o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE) como deflator do PIB veio mais forte do que o esperado, saltando de 1,8% para 3,4% do último trimestre do ano passado para 2024.
Essa combinação de alta inflação e crescimento lento acende o alerta para a possibilidade de estagflação nos EUA — um cenário em que o crescimento econômico é estagnado enquanto a inflação permanece elevada, prejudicando o consumo das famílias e os lucros das empresas.
Apesar de ainda ser um cenário improvável, ele se torna mais plausível após os recentes dados, sugerindo juros elevados.
Por isso, é crucial analisarmos hoje o índice PCE, que é a medida de inflação preferida pela Reserva Federal. O mercado prevê uma alta de 0,3% tanto no índice total quanto no núcleo. Um resultado acima do esperado poderia impactar negativamente não só o mercado americano, mas também os mercados globais.
Enquanto isso, ainda estamos processando os excelentes resultados de Alphabet e Microsoft e aguardamos os balanços de outras empresas importantes, como Charter Communications, Chevron, Colgate-Palmolive, Exxon Mobil e HCA Healthcare.
03:24 — A força das empresas de tecnologia
Nos Estados Unidos, havia uma grande expectativa em torno de Microsoft e Alphabet, especialmente após a Meta Platforms ter deixado os investidores apreensivos com suas previsões.
Conforme mencionei na edição de ontem do M5M+ no último minuto da newsletter, nossa confiança estava depositada em Microsoft e Alphabet, como temos reforçado nos últimos meses, em detrimento de empresas como Meta e Intel. Essa expectativa se confirmou acertada.
A Microsoft reportou um aumento nas vendas e lucros trimestrais que superou as projeções, impulsionado pela demanda corporativa por suas soluções de nuvem e inteligência artificial.
Por sua vez, a Alphabet, controladora do Google, também excedeu as expectativas de receita para o primeiro trimestre, beneficiada pelo crescimento de sua unidade de computação em nuvem.
Especificamente, a Microsoft estava sob intensa expectativa para demonstrar um retorno sobre seus investimentos em inteligência artificial, e os resultados não decepcionaram.
O destaque foi a performance da sua unidade de computação em nuvem, Azure, que registrou um crescimento de 31%, superando as estimativas que previam 30%, com uma contribuição de sete pontos percentuais provenientes de iniciativas ligadas à IA, uma melhoria em relação aos seis pontos do trimestre anterior.
De maneira semelhante, a Alphabet também mostrou que os ganhos advindos de IA começam a se materializar, sugerindo que esses gigantes tecnológicos provavelmente continuarão a dominar o setor.
04:18 — O medo do nível de dívidas
Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, manifestou preocupação profunda com a situação geopolítica global, a qual ele classifica como a mais intrincada e ameaçadora desde a Segunda Guerra Mundial.
Ele enfatizou particularmente a invasão da Ucrânia por 300 mil soldados russos, um ataque a uma nação democrática nas fronteiras da OTAN, marcado por ameaças de "chantagem nuclear".
Adicionalmente, temos também que destacar o intenso conflito em Israel, que transformou a região num local ainda mais volátil. Esses conflitos afetam diretamente o comércio internacional.
Neste contexto, não podemos nos esquecer do aumento das tensões entre EUA e China, que também desafia a ordem global estabelecida no pós-Segunda Guerra, sustentada por acordos e organizações como Bretton Woods, a Organização Mundial do Comércio e a ONU.
Vale pontuar que, um eventual triunfo russo na Ucrânia seria um desafio crucial para a OTAN, fundada para assegurar a liberdade e segurança de seus membros através de meios políticos e militares, representando um risco sério e iminente.
Este cenário equivale a uma nova Guerra Fria, que pode ser ainda mais perigosa que a anterior, conforme a perspectiva do falecido Henry Kissinger.