PUXÃO DE ORELHA
No panorama dos dados econômicos, hoje o calendário está menos recheado em comparação com outros dias desta semana. Contudo, há indicadores importantes para serem monitorados no cenário internacional, incluindo os PMIs de atividade de abril provenientes da Zona do Euro, Reino Unido e EUA.
Além disso, continua a temporada de resultados nos Estados Unidos, com destaque para a Tesla, que anunciará seus resultados após o fechamento do mercado — até o momento, as ações da empresa de veículos elétricos já depreciaram 43% este ano.
O dia começou com os mercados asiáticos fechando de forma mista, escondendo uma leve tendência negativa, enquanto as bolsas europeias iniciaram em alta, dando sequência à recuperação de ontem.
Internacionalmente, nota-se um suporte significativo no mercado de ações de Tóquio, impulsionado pelo setor financeiro, mesmo com o iene atingindo a menor cotação em 34 anos contra o dólar, aproximando-se de 155 ienes — o nível mais alto desde julho de 1990.
Esse movimento ocorreu após Kazuo Ueda, presidente do Banco do Japão, reafirmar na última sexta-feira que a política monetária do país permanecerá flexível por mais algum tempo.
Enquanto isso, na Europa, há uma expectativa generalizada de que as taxas de juros começarão a cair em junho, apesar das incertezas no mercado de petróleo.
Isso pode ser prejudicial para o euro, mas é uma notícia positiva para o ciclo de redução de juros globalmente, o que poderia aliviar a pressão sobre ativos em regiões mais vulneráveis, como o Brasil.
No cenário doméstico, o foco está em Brasília, onde o presidente Lula fez uma cobrança direta à sua equipe ontem.
A ver…
00:58 — Panos quentes
Hoje inicia-se no Brasil a divulgação dos resultados do primeiro trimestre das empresas, começando com a Usiminas.
Ao longo da semana, outras grandes companhias seguirão, como Assaí, Neoenergia e Vale na quarta-feira; Klabin e Multiplan na quinta; e Quero-Quero e Hypera na sexta.
Outro destaque será a arrecadação federal de março, a ser anunciada pela Receita Federal nesta manhã, que pode confirmar o bom desempenho fiscal do início do ano.
Em termos de mercado, o Ibovespa ontem viu uma alta, ultrapassando os 125.500 pontos, refletindo uma melhora no ânimo dos mercados internacionais e a antecipação dos balanços das empresas de tecnologia.
O dólar, após várias sessões em alta, apresentou uma leve queda.
Essa melhora veio após movimentos do governo tentarem reduzir as tensões recentes, ilustradas na revista Veja como "Orquestra Desafinada".
O presidente Lula destacou a necessidade de seus principais ministros, como Alckmin e Haddad (coitados), intensificarem suas atividades na articulação política.
Isso sugere uma tentativa de estabelecer uma dinâmica mais colaborativa com o Congresso, que tem pressionado com propostas que podem ter grandes implicações fiscais.
A estratégia do governo parece ser ampliar os esforços para mitigar essas pautas onerosas, diante da necessidade de encontrar R$50 bilhões para equilibrar as contas públicas.
A equipe econômica pretende continuar buscando mais arrecadação, uma tarefa desafiadora.
01:45 — E essa petroleira?
Certamente, há uma clara tentativa do governo de acalmar os ânimos após os recentes atritos com o mercado.
Além do chamado de atenção de Lula, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, também procurou minimizar algumas preocupações do governo. Ele afirmou que nunca houve uma intenção oficial do governo de reconsiderar a privatização da Eletrobras, uma declaração que pode ser questionável.
No entanto, sua declaração sugere uma estratégia para diminuir o impacto das medidas mais controversas do governo.
Além disso, Silveira admitiu que o Conselho da Petrobras considerou as necessidades da Fazenda ao decidir sobre os dividendos, o que é um sinal positivo.
A alta do Ibovespa ontem também foi impulsionada, em parte, pelo aumento na cotação da Petrobras, que repercutiu positivamente o pagamento de 50% dos dividendos extraordinários.
Indubitavelmente, a distribuição de dividendos pela Petrobras será útil ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para cumprir a desafiadora meta fiscal de 2024 (a União receberá cerca de R$ 6 bilhões em dividendos).
Olhando para o futuro, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, confirmou que haverá uma normalização na distribuição de dividendos nos próximos balanços.
Segundo ele, a decisão de reter os lucros tomada em março foi a primeira de um novo mecanismo que a estatal está implementando para estabilizar a remuneração dos acionistas. Resta saber como isso será implementado. Uma das vantagens seria uma previsibilidade maior dos dividendos, pelo menos teoricamente.
Além dos dividendos, no entanto, a Petrobras precisa ser um instrumento de fortalecimento da nossa balança comercial, que já acumula um superávit de mais de US$ 26 bilhões este ano.
Para isso, no futuro, dependeremos da Margem Equatorial; afinal, a produção de petróleo continuará sendo relevante nas próximas cinco décadas.
02:39 — Tentando se recuperar
Nos Estados Unidos, ontem foi um dia de sólida recuperação para as bolsas, com mais de 400 componentes do S&P 500 fechando em alta, em um movimento que abrangeu todos os 11 setores do índice.
Esse aumento ocorre após uma semana desafiadora, onde o índice caiu mais de 3%, acumulando uma perda de 4,6% desde o pico alcançado em 28 de março.
Os avanços registrados na segunda-feira parecem ser a calmaria antes de uma possível tempestade, considerando que mais de 150 empresas do índice estão programadas para divulgar seus resultados hoje, incluindo nomes de peso como Tesla hoje, Meta Platforms na quarta-feira, Microsoft e Alphabet na quinta-feira, e Exxon Mobil na sexta-feira.
Especificamente em relação à Tesla, cujos resultados serão anunciados hoje à noite, as expectativas são particularmente altas.
As ações da empresa de veículos elétricos desvalorizaram-se em mais de 40% apenas em 2024, antecipando-se um trimestre desfavorável.
As projeções do mercado apontam para uma queda de 42% no lucro por ação, comparado ao mesmo período do ano passado, e uma redução de 5% nas receitas.
Há uma pressão crescente sobre o CEO Elon Musk para que ele reoriente o foco dos investidores para as perspectivas de longo prazo da Tesla e os ajude a navegar pelos desafios imediatos, incluindo a perda de participação no mercado chinês — o maior do mundo para veículos elétricos.
Além disso, com as grandes apostas de Musk em veículos autônomos e a promessa de lançar um “robotáxi” ainda este ano, será interessante observar qualquer nova direção que possa ser indicada nesta divulgação.
03:24 — O preço do apoio
Seis meses após Kevin McCarthy ser removido da presidência da Câmara dos Representantes dos EUA, a deputada republicana Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, está buscando a destituição de seu sucessor, Mike Johnson.
Greene declarou que a liderança de Johnson está encerrada e sugeriu que ele deveria renunciar voluntariamente; caso contrário, ela pretende tomar medidas para remove-lo do cargo. O motivo? Johnson recentemente negociou e aprovou um acordo bipartidário que liberou um pacote de ajuda externa de US$ 95 bilhões, dos quais quase US$ 61 bilhões destinam-se à Ucrânia.
Esse pacote de ajuda tem enfrentado resistência da facção mais radical do Partido Republicano, que prefere alocar fundos para questões domésticas, como a segurança das fronteiras, em vez de apoiar o que consideram ser "guerras estrangeiras".
Apesar do ex-presidente Donald Trump ter apoiado Johnson publicamente na semana anterior, permanece incerto se esse apoio será suficiente para protegê-lo do descontentamento crescente entre alguns republicanos, que muitas vezes são seguidores do próprio Trump.
Com o adágio de que é difícil restringir alguém depois de coroá-lo, as tensões continuam a surgir dentro do partido, mesmo frente a uma política que normalmente contaria com o respaldo da ala mais tradicional do partido.
Por ora, Johnson mantém sua posição, enquanto o pacote de ajuda aprovado procura equilibrar a situação no Leste Europeu e oferecer suporte a Israel no Oriente Médio.
Enquanto isso, os preços do petróleo têm se estabilizado em torno de US$ 87 o barril, refletindo a complexidade da situação geopolítica.
04:11 — E por falar em eleições…
A expectativa predominante é que a eleição presidencial americana de 2024 seja tão acirrada quanto a de 2020, desta vez sem o pano de fundo de uma pandemia global. Essa foi a impressão transmitida pelas lideranças durante as reuniões recentes do FMI e do Banco Mundial.
A previsão é que a margem de votos nos estados decisivos oscile entre 0,5 e 2 pontos percentuais.
Donald Trump está intensificando sua campanha junto aos seus seguidores do movimento "Make America Great Again" (MAGA) e planeja expandir seus esforços para alcançar os eleitores indecisos e independentes.
Atualmente, ele aparece bem-posicionado nas pesquisas e continua a ser percebido como o candidato "vitimizado" (característica derivada dos processos judiciais), destacando-se pela vitalidade em contraste com a condição física de Joe Biden.
Biden ainda mantém a preferência entre os eleitores moderados, mas Trump vem ganhando terreno entre os independentes, o que indica que ele tem sido bem-sucedido em projetar uma imagem que vai além das fronteiras do Partido Republicano.
As pesquisas também indicam que Trump aumentou sua base de intenções de voto entre aqueles que se abstiveram em 2020.
Por outro lado, os Democratas têm demonstrado maior proatividade e eficácia em educar os eleitores sobre a importância do voto, instruindo sobre como, quando e em quem votar.
Essa estratégia de mobilização foi um fator decisivo para o sucesso de Biden em 2020.
Ademais, o partido aprendeu com os erros cometidos naquela eleição, adotando abordagens mais criativas e focadas para otimizar os gastos da campanha, evitando investir em canais de baixo impacto.
Por fim, Biden está empenhado em não repetir os erros de Hillary Clinton em 2016, priorizando uma presença mais marcante nos estados decisivos que tendem ao alinhamento democrata.
Até o momento, o mercado financeiro não tem reagido de forma expressiva às eleições, mas espera-se que comece a incorporar esses fatores em suas análises em breve, talvez após a temporada de resultados.