VOLATILIDADE ENTRE AS COMMODITIES: OS IMPACTOS DA QUEDA DO HELICÓPTERO
Na semana passada, o mercado financeiro americano recebeu dados promissores com a atualização do índice de preços ao consumidor dos EUA, indicando que o Federal Reserve ainda pode reduzir os juros ao menos duas vezes antes do ano terminar. Esse indicativo ajudou as bolsas americanas a registrar novos picos de fechamento.
Porém, o ânimo não permeou os juros dos Treasuries, que se mantiveram altos, influenciados por comentários cautelosos de membros do Fed.
Essas falas conservadoras indicam uma continuidade da rigidez na política monetária nos próximos meses, com expectativas voltadas para a próxima ata do Fed, que será divulgada na quarta-feira. Esse documento será fundamental para tratar sobre possíveis cortes adicionais de juros em 2024, especialmente nos meses de setembro e dezembro.
Globalmente, os mercados europeus e os futuros americanos abriram a semana em alta, refletindo o otimismo dos mercados asiáticos, impulsionados por medidas governamentais para revitalizar um duradouro mercado imobiliário em crise.
Outro destaque da semana é a expectativa pelos resultados da Nvidia, previstos para serem anunciados na quarta-feira.
As previsões são otimistas, dada a histórica capacidade de Jensen Huang em superar expectativas com a forte demanda por chips de IA. Entre as commodities, o petróleo viu seus preços subirem após a queda de um avião que levava o presidente do Irã, adicionando mais volatilidade a um cenário global já instável.
A ver…
00:58 — As preocupações fiscais continuam
No Brasil, a semana passada foi marcada por um desempenho desfavorável no Ibovespa, principalmente devido à queda das ações da Petrobras após o governo destituir Jean Paul Prates da presidência da empresa. Esta decisão reavivou temores de interferência política e possíveis cortes nos dividendos.
Além disso, renovadas preocupações fiscais surgiram, notadamente pela percebida relutância do governo em se comprometer com ajustes fiscais necessários, algo que poderia afetar decisões futuras do Banco Central.
Sobre o tema, a semana será fundamental, pois o Relatório de Receitas e Despesas será encaminhado ao Congresso.
Espera-se que o segundo relatório bimestral revele um piora na expectativa de superávit primário para 2024, principalmente por conta da antecipação de um crédito suplementar de R$ 16 bilhões, o que eleva permanentemente o teto de gastos.
Ao mesmo tempo, o ministro Haddad, deve propor medidas para compensar a perda fiscal resultante da desoneração da folha de pagamento.
Adicionalmente, a Receita Federal deverá liberar os dados de arrecadação de abril. A situação fiscal, já preocupante, poderá deteriorar-se ainda mais em 2025.
Para que o governo alcance a necessária consolidação fiscal, é essencial debater e avançar na desvinculação dos benefícios previdenciários e sociais do ajuste anual do salário mínimo, embora tal iniciativa pareça ausente dos planos atuais.
Em outra frente, o governo federal avalia três medidas para apoiar a indústria do Rio Grande do Sul, que incluem a expansão do crédito, a depreciação acelerada de máquinas e equipamentos exclusivamente para o estado, e a extensão do drawback.
Essas intervenções também devem influenciar significativamente o panorama econômico nacional.
01:49 — Acima de 40 mil pontos
Nos EUA, depois de quase atingir o recorde na quinta-feira, o índice Dow Jones Industrial Average finalmente encerrou a semana passada pela primeira vez acima dos 40 mil pontos.
A jornada do marco dos 30 mil até os 40 mil pontos levou 874 dias de negociação, impulsionada principalmente pelas contribuições da Goldman Sachs e da Microsoft.
No entanto, oito dos 30 componentes do índice, incluindo Walt Disney e 3M, subtraíram pontos do total. Já comentei em outras oportunidades que o Dow é um índice peculiar: seu mecanismo de ponderação pelo preço e a coleção relativamente pequena de 30 ações significam que ele não é particularmente representativo do mercado mais amplo, mas ainda assim tem grande relevância para os investidores.
Nos bastidores, a expectativa é de que o Fed reduza as taxas de juros em 50 pontos-base ainda este ano, com duas reduções de 25 pontos-base cada, uma em setembro e outra em dezembro. Mais cortes são esperados para 2025 e 2026.
Esse cenário macroeconômico benigno apoia nossa recomendação de investimento em obrigações e ações de alta qualidade.
Vale acompanhar a ata do Fed nesta semana sobre o tema. Há quem diga que, se um cenário otimista se materializar – com desaceleração da atividade econômica sem recessão, normalização da inflação e queda nos juros –, o índice Dow poderia buscar os 42.500 pontos.
Além disso, a semana será importante para o setor de tecnologia, com o mercado aguardando ansiosamente pelos resultados da Nvidia, previstos para quarta-feira.
02:35 — Um dos países mais relevantes do mundo que você nunca ouviu falar
Uma pequena nação da África Oriental encontra-se no centro de um dos focos de conflito mais dramáticos do mundo. Localizado no Chifre da África, Djibouti fica ao lado do Golfo de Adem e do Estreito de Babelmândebe, fazendo fronteira ao norte com a Eritreia, ao sul com a Somália e a oeste com a Etiópia.
Apesar das tensões regionais, Djibouti conseguiu se posicionar como um ativo indispensável na área, mantendo uma diplomacia equilibrada para preservar sua neutralidade. Essa estratégia de neutralidade foi destacada pelas consequências da guerra entre Israel e Hamas.
Após o início dos ataques com mísseis Houthi, os EUA solicitaram permissão para conduzir operações contra o grupo a partir de sua base naval em Djibouti.
Ao mesmo tempo, o país, de forma discreta, permitiu que navios da União Europeia atracassem e se reabastecessem como parte dos esforços para manter os Houthis afastados.
O principal porto de Djibouti tem se beneficiado diretamente da escalada das tensões do Oriente Médio, com um aumento no número de navios que atracam para descarregar mercadorias em embarcações menores, contribuindo para o crescente negócio de transbordo do país através do perigoso Mar Vermelho.
Olhando para o futuro, a localização estratégica de Djibouti provavelmente o manterá como uma prioridade para grandes potências. China, França, Itália, Japão e EUA já possuem bases militares no país, refletindo a importância geopolítica de Djibouti. Observa-se que os conflitos atuais recriam zonas de interesse semelhantes às da Guerra Fria.
03:26 — A morte do presidente iraniano
No fim da noite de ontem, o preço do barril de petróleo operava em alta moderada, sugerindo um impacto limitado da queda do helicóptero que transportava o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, apesar da tensão que o episódio pode deflagrar no Oriente Médio.
Nesta manhã, no entanto, o petróleo reverteu parte dos ganhos recentes devido à incerteza política após a morte do presidente iraniano no acidente de helicóptero. Após atingir a máxima de US$ 84,44 entre ontem e hoje, o Brent para julho caiu de volta para baixo de US$ 84.
A mídia estatal iraniana informou que o mau tempo causou o acidente no domingo, resultando na morte de Raisi, um clérigo ultraconservador de 60 anos que venceu as eleições presidenciais do Irã em 2021 e era visto por muitos como um potencial sucessor do aiatolá Ali Khamenei.
Tanto Raisi quanto o chanceler, Houssein Amirabdollahian, foram encontrados entre os destroços do helicóptero em uma região montanhosa, em meio a tensões crescentes no Oriente Médio. A queda ocorreu perto da fronteira com o Azerbaijão.
Agora, o primeiro vice-presidente assume como presidente interino, e as eleições serão convocadas dentro de 50 dias.
Não se espera uma mudança significativa nas principais posições políticas do Irã, uma vez que as decisões mais importantes são supervisionadas pelo Líder Supremo Khamenei.
A longo prazo, o mercado se concentrará nas implicações para o sucessor de Khamenei e no potencial de protestos em torno das eleições. Em outras palavras, a morte de Raisi pode desencadear uma intensa disputa pelo poder na República Islâmica.
04:12 — Encontro de gigantes
Taiwan empossou hoje Lai Ching-te como presidente, após uma eleição em que os três principais candidatos destacaram a importância da ilha, com seus 24 milhões de habitantes e fundamental na produção global de chips, ser governada separadamente da China.
Enquanto isso, o presidente da China (e desafeto de Lai), Xi Jinping, esteve na semana passada com Vladimir Putin, que visitou Pequim em uma viagem de Estado.
Os dois líderes, que já se encontraram mais de 40 vezes, evidenciaram a importância de sua relação estratégica.
Durante o encontro, Xi e Putin celebraram a recente "vitória eleitoral" de Putin e comemoraram o 75º aniversário das relações diplomáticas entre os dois grandes vizinhos.
Eles reafirmaram um plano de desenvolvimento conjunto para 2030, segundo os meios de comunicação estatais, declarando um novo ponto de partida para uma cooperação ainda mais estreita entre a Rússia e a China.
O comércio entre as duas nações atingiu níveis recordes, crescendo 26% no ano passado e totalizando 240 bilhões de dólares, superando as expectativas.
A Rússia se tornou o principal fornecedor de petróleo da China, ultrapassando a Arábia Saudita, enquanto a China exportou produtos essenciais, veículos e outros bens de consumo para a Rússia.
Esse comércio robusto contribuiu para a expansão de 3,6% da economia russa em 2023, apesar das sanções ocidentais. A união entre os dois preocupa os EUA.