DEPOIS DE VÁRIOS PREGÕES TURBULENTOS, UMA RETA FINAL DE SEMANA MAIS CALMA
Começamos o dia analisando os dados de produção da China, que vieram fortes e ajudaram a salvar o mercado chinês (Xangai e Hong Kong) nesta sexta-feira, apesar das quedas observadas nas demais regiões.
Os investidores, diante de uma agenda econômica mais esvaziada nesta reta final de semana, parecem estar fazendo uma pausa para reavaliar as perspectivas de curto prazo para os mercados, aproveitando para realizar alguns lucros após os ganhos recentes.
O pano de fundo é a desaceleração da inflação nos EUA, o que reacende as expectativas de cortes nas taxas de juros neste ano, embora os membros do Fed se mantenham cautelosos.
Os mercados europeus estão em queda nesta manhã, após a inflação anual de abril permanecer inalterada em relação a março, registrando 2,4%. Na comparação mensal, a inflação subiu 0,6% em abril, alinhando-se com as expectativas.
Os futuros americanos também estão em baixa, pelo menos nesta manhã, enquanto aguardamos mais declarações dos membros do Fed.
As commodities, por outro lado, conseguem sustentar uma alta, com desempenho positivo do petróleo e do minério de ferro, o que pode beneficiar os ativos brasileiros.
A ver…
00:57 — Dificuldade para engrenar
No Brasil, hoje é essencial acompanhar a fala de Roberto Campos Neto durante o evento que celebra os 30 anos do Plano Real. Qualquer novidade trazida por ele, especialmente após a recente pacificação do Copom, poderá ser relevante.
Com poucos indicadores econômicos a serem monitorados, o foco se volta para a Petrobras, cujas ações caíram mais de 10% nos últimos cinco dias.
Ontem, houve outra queda, ainda influenciada pela demissão de Jean Paul Prates pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A eleição do Conselho da estatal para sua sucessora, Magda Chambriard, está prevista para a última semana de maio.
O mercado está bastante cético quanto à escolha de Chambriard, principalmente devido ao seu passado no governo Dilma, quando seu suposto perfil técnico foi frequentemente questionado. O verdadeiro teste será a apresentação do plano de investimentos para 2025/2029 no quarto trimestre.
Na agenda fiscal em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chegaram a um acordo nesta quinta-feira sobre a desoneração da folha dos municípios, que será mantida este ano, com a reintegração gradual da alíquota previdenciária a partir de 2025.
Para a desoneração das empresas, o governo já havia decidido manter o benefício fiscal até 2027, com reoneração gradual a partir de 2025, começando com uma alíquota de 5%. Em 2026, a alíquota será de 10%, e em 2027, de 15%, restabelecendo os 20% em 2028. Este ano, a taxação sobre a receita bruta varia de 1% a 4,5%, resultando em um impacto de R$ 9,3 bilhões em 2023.
Para o orçamento brasileiro, isso já representa um progresso. Com tantos assuntos a serem discutidos, o decreto da meta contínua para o Banco Central deverá vir posteriormente, conforme mencionado anteriormente.
O governo ainda precisa levantar mais informações para avaliar o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul e está buscando apoio do FMI e do Banco Mundial para socorrer o estado.
01:45 — Elevando expectativas…
A ONU revisou para cima as previsões para o crescimento econômico global em 2024, aumentando a taxa estimada de 2,4% para 2,7%, conforme relatado no documento "Situação e Perspectivas Econômicas Mundiais".
A expectativa de crescimento para o Brasil foi também corrigida de 1,6% para 2,1%. Para o ano de 2025, prevê-se que a economia mundial cresça 2,8% e a brasileira 2,4%, ambos representando um ajuste de 0,1 ponto percentual.
O relatório indica uma melhoria nas perspectivas econômicas desde janeiro, com as maiores economias evitando um retrocesso acentuado.
Concomitantemente, o Boletim Macrofiscal elevou a previsão de crescimento do PIB brasileiro para 2024 de 2,2% para 2,5%, impulsionado por expectativas ampliadas de absorção doméstica e contribuição do setor externo.
Essa revisão foi sustentada pela recuperação do investimento, evidenciada pelo aumento das atividades na construção civil e pelo crescimento nas importações de bens de capital.
Entretanto, o crescimento projetado também sugere um aumento nas pressões inflacionárias. O Boletim Macrofiscal ajustou para cima as estimativas de inflação para 2024 e 2025. A previsão para 2024 foi de 3,50% para 3,70%, ainda dentro do intervalo de tolerância da meta de inflação, que é de 3,00% com variação de até 1,5 ponto percentual.
Para 2025, a estimativa de inflação foi ajustada de 3,10% para 3,20%. Vale destacar que estas novas projeções ainda não consideram os efeitos das recentes enchentes no Rio Grande do Sul.
02:32 — Encostando nos 40 mil pontos
Nos Estados Unidos, o Dow Jones Industrial Average alcançou um marco notável ao ultrapassar a marca dos 40 mil pontos pela primeira vez ontem. Contudo, o índice não manteve essa alta e encerrou o dia com um decréscimo modesto de 0,1%. Superar brevemente os 40 mil pontos é um evento de grande relevância para a psicologia do mercado, marcando um crescimento impressionante desde 2017, quando o Dow estava nos 20 mil pontos. Em apenas sete anos e meio, o índice conseguiu dobrar.
Além disso, somente 873 dias de negociação se passaram desde que o Dow superou os 30 mil pontos, cerca de três anos e meio atrás.
Entre os principais propulsores desse aumento, Goldman Sachs foi o maior contribuidor, adicionando cerca de 1.500 pontos ao índice. Atrás dele, temos Microsoft, UnitedHealth e Caterpillar. O Dow é distinto por ser um índice ponderado pelo preço das ações, não pelo valor de mercado das empresas, o que significa que as ações de maior preço têm maior peso no índice, independentemente do tamanho total das empresas.
Além disso, o Dow é notavelmente mais concentrado que o S&P 500, especialmente com uma representação limitada do setor tecnológico.
Esta manhã, os mercados americanos continuam a refletir as perdas do dia anterior, indicativo das persistentes volatilidades e incertezas que continuam a desafiar a economia global.
03:29 — Preocupação com a inflação
Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, expressou ontem uma preocupação maior com a inflação do que os mercados aparentam ter. Ele ressaltou que as pressões significativas sobre os preços continuam a impactar a economia dos EUA, o que pode implicar em taxas de juros mais altas por um período mais prolongado do que muitos antecipam.
Dimon apontou diversos fatores que contribuem para essas pressões inflacionárias, incluindo os custos associados à economia verde, a remilitarização, os investimentos em infraestrutura, as disputas comerciais e os grandes déficits fiscais. Em suma, há muitas forças inflacionárias pela frente.
Concordo com essa visão. Embora os mercados tenham se mostrado resilientes por algum tempo, isso pode mudar. A inflação subjacente pode não desaparecer como muitos esperam.
Em outras palavras, as autoridades monetárias ainda têm trabalho a fazer, o que explica o adiamento do início dos cortes de juros.
Por enquanto, a tese predominante é que o aumento inflacionário observado no início do ano não é estrutural. No entanto, se entre maio e junho não virmos uma retração mais significativa da inflação, o mercado pode enfrentar dificuldades.
04:18 — Dados chineses
Hoje, recebemos alguns dados sobre a atividade econômica na China. No setor imobiliário, a situação permanece desafiadora. As vendas de novas moradias registraram uma queda anual de 31,1% entre janeiro e abril, um resultado pior em comparação aos três primeiros meses do ano, que tiveram uma queda de 30,7%.
Consequentemente, o preço médio das novas moradias nas 70 maiores cidades chinesas caiu 0,58% em abril em relação a março e teve uma queda anual de 3,51%. Isso reforça o fato de que o setor imobiliário segue sendo o ponto fraco da China.
Por outro lado, a produção industrial apresentou uma alta anualizada de 6,7% em abril, superando a expectativa de 5,5%. Embora as vendas no varejo não tenham sido tão fortes quanto o esperado, o desempenho robusto da produção industrial foi um alívio para o mercado.
Esses dados indicam que o setor industrial, voltado para a exportação, tem impulsionado a segunda maior economia do mundo este ano, mesmo com a crise imobiliária. Nos próximos dias, será importante observar quais serão as medidas do governo chinês para enfrentar a crise no mercado imobiliário.