O FUNDO DA CORREÇÃO SE APROXIMA?
Os mercados globais enfrentam dias desafiadores recentemente, agravados desde a divulgação dos dados de inflação ao consumidor nos EUA em março.
A situação se intensificou após a participação de Jerome Powell no Fórum de Washington, onde ele confirmou que as taxas de juros nos Estados Unidos permanecerão altas por mais tempo. Embora não seja uma surpresa, o reforço desta posição por Powell exacerbou as preocupações do mercado.
A economia americana continua robusta, e o Fed busca garantias mais sólidas de que a inflação está se aproximando de sua meta informal de 2%.
Isso sugere que ainda podemos esperar apenas um adiamento, e não um cancelamento, do ciclo de flexibilização monetária.
Além disso, o ambiente de aversão ao risco é reforçado por tensões geopolíticas, que recentemente impulsionaram o ouro a novos recordes, fechando a US$ 2.407,80 a onça-troy.
Esse movimento parece contraintuitivo diante das altas taxas de juros americanas, que normalmente moveriam o ouro em direção oposta.
No entanto, a compra contínua de ouro por bancos centrais de países como China e Índia ajuda a sustentar seus preços.
Hoje, os mercados tentam uma recuperação, com altas na Europa e nos futuros americanos após um dia de correções na Ásia. A agenda do dia inclui discursos de autoridades monetárias, dados de inflação ao consumidor na Europa e a publicação do Livro Bege do Fed.
A ver…
00:56 — Será que fizemos fundo?
As elevadas taxas de juros nos Estados Unidos têm desencadeado um amplo processo de reprecificação de ativos que impacta diretamente os mercados emergentes, especialmente o Brasil, exacerbando a pressão sobre o dólar enquanto os juros futuros disparam.
Esse cenário é agravado pela instabilidade do quadro fiscal brasileiro — a preocupação com a estabilidade fiscal local tem tido seu efeito, prejudicando os ativos e resultando no sexto dia consecutivo de perdas para o Ibovespa.
Com esse pano de fundo, o dólar alcançou R$ 5,27 no encerramento do pregão de ontem.
As tentativas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de atenuar a reação negativa do mercado durante seu discurso em Washington não foram suficientes para acalmar os ânimos.
A proposta apresentada no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) é vista como insuficiente para assegurar a sustentabilidade fiscal em um prazo aceitável.
Além disso, a equipe econômica enfrenta desafios adicionais com a Reforma Tributária pendente.
O principal desafio é evitar que as exceções à alíquota padrão da reforma avancem excessivamente em sua regulamentação. Hoje, na agenda econômica, será divulgado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).
01:43 — As perspectivas não deveriam ser tão pessimistas…
Ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou suas previsões para o crescimento global deste ano para 3,2%, impulsionado pela robustez observada nos Estados Unidos e em alguns mercados emergentes, embora mantenha uma postura cautelosa devido à inflação persistente e a riscos geopolíticos contínuos.
A entidade também ajustou as projeções de crescimento do PIB para 2024, refletindo uma recuperação do consumo doméstico mais rápida que o esperado e uma retomada surpreendente do mercado de trabalho.
Para este ano, o FMI projeta um crescimento de 2,2%, e para o próximo ano, uma expansão de 2,1% parece viável.
Um aspecto destacado é o potencial da balança comercial brasileira, especialmente com um real mais depreciado.
O presidente Lula mencionou a possibilidade de o Brasil alcançar um fluxo de comércio exterior de US$ 1 trilhão em dez anos, o que, embora ambicioso, sublinha o grande potencial do país.
Essas projeções, se confirmadas, poderiam sinalizar uma melhora nas condições fiscais, refletindo um panorama econômico mais otimista para o ano e um desempenho de arrecadação sólido no primeiro trimestre, ainda sem levar em conta fatores significativos como potenciais dividendos extraordinários da Petrobras.
O cenário atual sugere um crescimento econômico sustentável, inflação sob controle, taxas de juros mais baixas e contas externas robustas. Esse ambiente deveria oferecer uma certa proteção aos ativos locais no longo prazo. No entanto, a curto prazo, essas dinâmicas tendem a ser efêmeras.
02:31 — A fala de Powell
Os investidores estão ajustando suas expectativas em relação às políticas do Federal Reserve (Fed), reagindo à perspectiva de que as taxas de juros podem demorar mais para serem reduzidas, dada a persistência da inflação e a robustez da atividade econômica nos Estados Unidos.
Nesta terça-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, em seu pronunciamento, indicou que o tempo necessário para o banco central americano se sentir confiante o suficiente para baixar os juros provavelmente será maior do que o previsto anteriormente.
Powell enfatizou que não houve progresso significativo na inflação desde a rápida queda no final do último ano, sinalizando que, se as pressões inflacionárias continuarem, o Fed manterá as taxas elevadas pelo tempo que for necessário.
Em resumo, salvo mudanças significativas, cortes nas taxas de juros parecem improváveis no curto prazo. Como resultado, os rendimentos dos títulos têm subido, e os mercados de ações enfrentaram um dia volátil, com os investidores reajustando suas previsões de juros para 2024.
Atualmente, o mercado futuro sugere apenas meio ponto percentual de redução até o final de 2024, um ajuste drástico em comparação com os 150 pontos-base anteriormente esperados para o mesmo período. Essa correção nas expectativas certamente contribuiu para a turbulência nos mercados globais.
Na agenda econômica, os investidores ainda têm pela frente mais divulgações de resultados corporativos e a publicação do Livro Bege do Fed, que ocorre oito vezes ao ano e compila informações sobre as condições econômicas atuais a partir dos relatos dos 12 bancos regionais do Fed.
03:29 — Cancelando dívidas
Poucos meses antes das eleições, o presidente Biden implementou uma nova série de medidas de alívio de dívidas estudantis, resultando no perdão de US$ 7,4 bilhões em empréstimos.
Essa ação beneficiou 277 mil americanos, sobretudo aqueles com dívidas menores (inferiores a 12 mil dólares) ou que já realizavam pagamentos há mais de uma década.
Além disso, o perdão estendeu-se a profissionais como professores, bibliotecários e trabalhadores da segurança pública que têm contribuído com pagamentos consistentes por 10 anos.
Até o momento, a administração Biden cancelou um total de US$ 153 bilhões em dívidas para 4,3 milhões de devedores, embora essa quantia represente apenas uma fração do alívio necessário, considerando que 43 milhões de americanos acumulam uma dívida coletiva de US$ 1,6 trilhão em empréstimos estudantis.
Comparativamente, 70% da dívida familiar americana é composta por hipotecas, com empréstimos estudantis e financiamentos de veículos representando 9% cada.
Notavelmente, a dívida estudantil é a categoria que mais cresceu nas últimas duas décadas, com mais da metade dos devedores possuindo dívidas de até US$ 20 mil.
Com as eleições se aproximando, Biden colocou novamente o perdão de empréstimos estudantis em destaque, buscando apelar aos eleitores afetados por essas dívidas.
04:17 — Cortando os juros
O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, indicou recentemente que o Reino Unido pode iniciar a redução das taxas de juro antes dos Estados Unidos, sinalizando um possível começo mais cedo do ciclo de flexibilização monetária comparativamente ao Federal Reserve.
Durante seus comentários, Bailey destacou que os Estados Unidos enfrentam uma pressão inflacionária liderada pela demanda mais acentuada do que o Reino Unido, onde já se observa uma desaceleração nas pressões sobre os preços.
Economistas preveem que a inflação britânica de março recuará de 3,4% para 3,1%, o que pode intensificar a divergência entre os rendimentos dos títulos do Reino Unido e dos EUA.
Situação semelhante é esperada na Zona do Euro, onde a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sugeriu que os cortes de juros podem começar em breve, a menos que surjam choques econômicos significativos.
Lagarde expressou preocupação com os preços das commodities, especialmente energia e alimentos, devido à sua influência direta na inflação. Ela também monitora de perto o preço do petróleo, particularmente em resposta às tensões no Oriente Médio.
Apesar dos recentes ataques do Irã a Israel, ela notou que a reação dos preços do petróleo foi moderada, o que sustenta a expectativa de que os cortes de juros na região podem ocorrer em breve.