RUIM COMO ESPERADO
Os resultados oficiais do PIB da China para o primeiro trimestre mostraram uma robustez inesperada, facilitando teoricamente o atingimento da meta de crescimento estabelecida para 2024.
No entanto, essa surpresa positiva não impediu que as ações asiáticas registrassem uma queda significativa nesta terça-feira, ecoando o declínio observado nos mercados ocidentais na véspera, em meio a preocupações contínuas sobre tensões geopolíticas no Oriente Médio e expectativas de taxas de juros mais altas nos EUA por um período prolongado.
Além disso, outros indicadores econômicos da China, como a produção industrial e as vendas no varejo de março, mostraram fraquezas, mitigando o impacto positivo dos dados do PIB.
Na Europa, os mercados também abriram em baixa, ainda preocupados com o aumento das tensões no Oriente Médio e a possibilidade de uma retaliação israelense aos recentes ataques do Irã.
Os futuros dos mercados americanos seguem essa tendência negativa. Na agenda de hoje, destaca-se uma apresentação de Jerome Powell, presidente do Fed, além de dados sobre a produção industrial nos EUA e a continuação da temporada de divulgação de resultados financeiros.
As commodities também apresentam queda nesta manhã, refletindo o clima de cautela nos mercados globais.
No Brasil, o mercado financeiro pode ser impactado por esse cenário internacional adverso, enquanto ainda analisamos os detalhes do Orçamento de 2025.
A ver…
00:51 — Sinalização ruim, porém já esperada
No ambiente doméstico, as preocupações com um possível agravamento do conflito no Oriente Médio após os ataques do Irã a Israel influenciaram negativamente os mercados na segunda-feira, resultando na queda dos principais índices. O Ibovespa recuou para 125.334 pontos, enquanto o dólar atingiu R$ 5,19.
Além das tensões internacionais, o mercado também está avaliando as declarações do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a intenção do governo de propor um déficit zero para 2025 no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), uma mudança em relação à meta anterior de um superávit primário de 0,5% do PIB anunciada no ano passado.
Embora a revisão da meta fiscal tenha sido vista por alguns como um sinal de que a Fazenda estaria desistindo de seus objetivos fiscais, eu vejo essa mudança como algo esperado e ainda vejo a manutenção da meta para 2024, apesar da possibilidade de futuras alterações ainda neste trimestre.
A reação negativa do mercado foi mais intensa do que o previsto, criando uma impressão de que reduções de despesas não estão sendo consideradas pelo governo, o que sinaliza uma relutância em fazer sacrifícios necessários.
Esse posicionamento é visto como um sinal negativo (lembrança da Era Dilma), especialmente após a autorização do governo para antecipar R$ 15,7 bilhões em gastos na semana anterior, o que já havia prejudicado a credibilidade do novo arcabouço fiscal.
Apesar de uma melhora na arrecadação em 2024, permanece a incerteza sobre a sustentabilidade dessa tendência.
01:47 — Os primeiros sinais da temporada
Nos EUA, os investidores foram agraciados ontem com notícias encorajadoras de um dos gigantes de Wall Street, o Goldman Sachs, cujos resultados do primeiro trimestre superaram consideravelmente as expectativas dos analistas tanto em lucros quanto em receitas.
Notavelmente, houve um crescimento robusto em todas as suas divisões, com um desempenho particularmente forte nas áreas de banco de investimento e operações de mercado, enquanto o banco se afasta de suas iniciativas voltadas para o varejo.
Apesar do sucesso do Goldman, o entusiasmo não se estendeu ao resto do mercado americano, em grande parte devido aos dados de vendas no varejo de março, que revelaram uma contínua tendência de gastos além das previsões.
Este forte consumo impulsionou os rendimentos dos títulos, aplicando pressão negativa sobre os valuations de ações.
O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos aumentou 0,13%, atingindo 4,63%, o nível mais alto desde novembro e marcando o quinto aumento em sete sessões.
Como resultado, o Índice do Dólar dos EUA, que compara o dólar a uma cesta de outras moedas, registrou um aumento de cerca de 5% desde o início de 2024; rendimentos mais altos tornam o dólar mais atrativo.
Para hoje, aguardamos mais resultados corporativos de entidades como Bank of America, Bank of New York Mellon, Johnson & Johnson, Morgan Stanley, United Airlines e UnitedHealth, além de novos dados sobre construção residencial de março.
02:35 — Superando as expectativas
Na China, os índices Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite recuaram 0,5% e 1%, respectivamente, apesar dos dados do PIB do primeiro trimestre indicarem um crescimento de 5,3%, superando as expectativas que giravam em torno de 4,8% e mostrando uma aceleração comparada aos 4,8% do trimestre anterior.
Esses números sugerem que a economia chinesa está no caminho para atingir a meta governamental de crescimento de 5% do PIB anual, beneficiada por estímulos e uma melhoria nos gastos do consumidor.
No entanto, outros indicadores econômicos sinalizam que o ímpeto econômico pode estar arrefecendo. A produção industrial em março cresceu menos que o previsto, assim como as vendas no varejo.
Desde o levantamento das restrições pandêmicas no ano passado, a recuperação do país tem sido inconsistente, com a indústria se mantendo relativamente estável enquanto uma prolongada crise imobiliária afeta a confiança dos consumidores.
Para complicar, a União Europeia deu início a uma série de investigações contra práticas comerciais chinesas. O ambiente não é dos melhores.
03:29 — Ainda precisamos saber qual será a resposta
Ontem, discuti bastante neste espaço sobre os impactos dos recentes acontecimentos no Oriente Médio.
Desde então, autoridades militares israelenses reafirmaram a necessidade de Israel responder ao ataque com drones e mísseis do Irã ocorrido no último fim de semana, mesmo diante dos pedidos de autoridades europeias e americanas para que Israel evite uma escalada que poderia levar a um conflito mais extenso.
Ainda assim, prevalece a expectativa de que a resposta de Israel seja moderada.
Por conta disso, nesta manhã, os preços do petróleo registraram queda, aliviados também pela redução das preocupações com a segurança no fornecimento.
Esse sentimento eclipsou os dados positivos sobre o crescimento econômico chinês no primeiro trimestre e as vendas robustas no varejo dos EUA recentemente reportadas.
Uma perturbação significativa na produção ou no transporte de petróleo seria necessária para que os preços atingissem novamente a marca de US$ 100 por barril, cenário que, por enquanto, parece improvável.
Contudo, ainda aguardamos para ver como Israel irá reagir ao ataque do Irã.
04:14 — Outra frente geopolítica
Nos próximos dias, os Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul realizarão uma importante reunião em Washington, envolvendo seus principais responsáveis financeiros. Este encontro, marcado para quarta-feira, faz parte de uma iniciativa para enfrentar desafios geopolíticos e econômicos crescentes. Estarão presentes a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, o ministro das Finanças japonês, Shunichi Suzuki, e o ministro das Finanças sul-coreano, Choi Sang-mok.
Os tópicos de discussão incluirão a imposição de sanções contra a Rússia e a Coreia do Norte e o fortalecimento do apoio a países insulares do Pacífico.
Este encontro ocorre em um momento estratégico, logo após os Estados Unidos terem estabelecido novos acordos com a TSMC de Taiwan e expandido parcerias em diferentes setores com o Japão e agora com a Coreia do Sul.
Paralelamente, o aumento na demanda por semicondutores, impulsionado pelo crescimento da inteligência artificial, tem acelerado a corrida global pela liderança na produção desses componentes essenciais.
A Coreia do Sul, representada pelo presidente Yoon Suk Yeol, anunciou um investimento significativo de US$ 7 bilhões em inteligência artificial e tecnologias de semicondutores até 2027.
A Coreia do Sul, já sendo o segundo maior produtor mundial de chips, atrás apenas de Taiwan — com gigantes como Samsung e Hynix —, viu suas exportações de chips alcançarem o maior volume em quase dois anos, somando 11,7 bilhões de dólares no último mês, o que representa um quinto de todas as suas exportações.
Com esse novo investimento, a Coreia busca aumentar sua participação na produção global de chips de 3% para 10% até 2030, fortalecendo sua posição como um aliado chave dos Estados Unidos no contexto de tensões com a China na região asiática.