O BRASIL NÃO TEM UM ÚNICO DIA DE FOLGA
Hoje será divulgado o índice de preços ao consumidor dos EUA, considerado o principal dado econômico global da semana.
No momento, observa-se uma leve tendência positiva nos ativos europeus e nos futuros americanos, mas a situação ainda é incerta, com os investidores aguardando tanto este dado quanto o PIB do primeiro trimestre da Zona do Euro. Um relatório de inflação mais benigno pode, sem dúvida, definir o rumo dos mercados nesta quarta-feira.
Na Ásia, os movimentos dos ativos financeiros também não apresentaram uma direção clara, com os investidores esperando os dados de inflação ao consumidor dos EUA.
No Brasil, os desdobramentos globais e a alta do petróleo deveriam ser os principais tópicos de discussão.
No entanto, um evento interno desviou a atenção: o governo brasileiro demitiu o presidente da Petrobras. Essa notícia provavelmente terá repercussões negativas significativas nos mercados locais hoje.
A ver…
00:52 — Vai sair rápido do radar do mercado
Aqui no Brasil, ainda estamos digerindo a ata do Copom, que considerei relativamente aceitável e em linha com nossas expectativas discutidas na manhã de terça-feira.
O documento esclareceu a divisão na decisão, com quatro dos nove membros, nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, votando por uma redução de 50 pontos base.
Apesar dessa divergência, que parece ser pontual, o conteúdo da ata foi percebido pelo mercado como hawkish (contracionista), indicando um possível alinhamento para decisões futuras mais restritivas.
Há um consenso crescente sobre a necessidade de uma política monetária mais apertada para trazer a inflação e as expectativas inflacionárias de volta à meta. Essa perspectiva impactou tanto que o mercado já começa a antecipar uma pausa no ciclo de flexibilização monetária.
Assim, a redução da Selic estaria suspensa por enquanto, mantida em 10,50% ao ano, aguardando sinais mais claros de queda dos juros nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos.
A ideia de um duplo ciclo de política monetária ressurgiu, com o primeiro ciclo possivelmente encerrado. Esse cenário se refletiu ontem na curva de juros, com queda nas taxas mais longas e aumento nas mais curtas, sugerindo que os juros permanecerão elevados por um período prolongado.
01:47 — O presidente do Brasil sempre quer ser o presidente da Petrobras
O cenário é desafiador: apesar dos debates sobre a ata do Copom e das expectativas em torno do IBC-Br, que serve como uma prévia do PIB, o foco do mercado hoje está na demissão de Jean Paul Prates da Petrobras, anunciada ontem à noite.
Lula solicitou a renúncia de Prates, indicando Magda Chambriard como sucessora. Esta mudança repercutiu negativamente nas bolsas, com as ADRs da Petrobras em Nova York caindo mais de 8% no pré-mercado de hoje, após uma queda de 6,89% no after-hours de terça-feira.
Este evento transmite uma mensagem negativa, destacando o continuado intervencionismo do governo, além de reavivar memórias do governo Dilma, já que Chambriard foi diretora-geral da ANP durante sua administração.
A substituição foi percebida como uma vitória da ala política sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que não esteve presente na reunião decisiva. Havia expectativas de que Haddad poderia usar seu capital político para proteger Prates, mas isso não ocorreu (o ministro tem outras batalhas).
A justificativa para a troca, segundo o presidente, foi a insatisfação com a lentidão de Prates em acelerar os projetos anunciados pela companhia, especialmente no que se refere às encomendas de navios para estaleiros brasileiros.
Essa é a sexta mudança de presidência na Petrobras em menos de três anos, o que complica a continuidade dos projetos de longo prazo.
A escolha de Chambriard, com uma visão mais nacionalista em contraponto ao perfil mais pró-mercado de Prates, sugere uma possível mudança na estratégia da empresa. Essa alteração no comando da Petrobras promete ser mal recebida pelo mercado.
02:35 — A tragédia no Rio Grande do Sul
Ontem, o presidente Lula reuniu-se com alguns dos principais líderes políticos do país — Rodrigo Pacheco, presidente do Senado; Arthur Lira, presidente da Câmara; e Edson Fachin, ministro do STF — no Palácio do Planalto para discutir as medidas federais de resposta à calamidade no Rio Grande do Sul. As ações serão oficialmente anunciadas hoje.
A região sofreu uma devastação severa devido às intensas chuvas, resultando na destruição ou dano de mais de 100 mil residências, afetando 447 dos 497 municípios.
Segundo o último relatório da Defesa Civil, divulgado no domingo, o desastre já contabiliza 149 mortos, 127 desaparecidos, além de 81 mil pessoas em abrigos e outras 537 mil deslocadas para casas de parentes.
A Confederação Nacional de Municípios (CNM) estima que os danos ao setor habitacional somam R$ 4,5 bilhões.
Nos próximos dias, serão delineadas novas medidas de apoio ao estado, que teve 94,3% de sua atividade econômica afetada pelas inundações.
Uma das ações imediatas foi a suspensão da dívida do Rio Grande do Sul com a União por três anos, proporcionando uma margem financeira de R$ 10 bilhões. Estima-se que as enchentes terão impactos significativos, incluindo aumento da inflação, redução da atividade econômica e desajustes fiscais no Brasil.
A perda esperada da safra deve pressionar os preços dos alimentos, adicionando entre 10 e 20 pontos-base à inflação ao consumidor.
Além disso, projeta-se uma redução de até 30 pontos-base na atividade econômica nacional no cenário mais grave, representando uma grande recessão para um estado que contribui com mais de 6% do PIB brasileiro.
As comparações com o furacão Katrina, que devastou os EUA, ressaltam a magnitude da catástrofe.
03:22 — No aguardo da inflação ao consumidor
Nos EUA, os principais índices de mercado mostraram uma recuperação significativa no final da tarde de ontem após um dia de relativa estabilidade, resultando no sétimo recorde de fechamento do ano para o Nasdaq Composite.
O índice de preços ao produtor superou as expectativas, mas isso foi equilibrado por revisões positivas dos dados de março.
Agora, os investidores aguardam com expectativa a divulgação do índice de preços ao consumidor de hoje, esperando que resultados favoráveis impulsionem os mercados globais.
Espera-se que o Índice de Preços ao Consumidor aumente 0,4% em abril, repetindo o resultado de março, enquanto a inflação anual deve cair ligeiramente de 3,5% para 3,4%.
O núcleo do índice, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, deve subir 0,3% em abril, com uma desaceleração anual de 3,8% para 3,6%.
Se os dados de hoje ficarem abaixo do esperado, isso seria uma boa notícia para os mercados, que estão cada vez mais otimistas quanto à possibilidade de o Federal Reserve reduzir as taxas de juros em setembro.
Por outro lado, um relatório de inflação mais elevado poderia desestabilizar os mercados. Portanto, a qualidade dos dados e seu impacto serão acompanhados de perto.
04:18 — Outros eventuais desdobramentos sobre a possível volta de Donald Trump
Nas últimas semanas, tenho discutido a possível reeleição de Donald Trump à presidência dos EUA. Este evento é considerado pela Eurásia como um dos três principais focos de atenção geopolítica do ano, junto às tensões na Ucrânia e no Oriente Médio.
O primeiro mandato de Trump impactou significativamente as exportações dos EUA para a China, beneficiando também outras nações asiáticas e o México.
No entanto, esses benefícios podem ter sido resultado do redirecionamento das exportações chinesas através do México, especialmente após a primeira rodada de tarifas de Trump em 2018, que causou uma realocação para o Sudeste Asiático.
O impacto de um segundo mandato de Trump nas relações comerciais entre o México, a China e outros competidores asiáticos dependerá da extensão das medidas protecionistas adotadas.
Sob um protecionismo moderado, México e Canadá poderiam se beneficiar por serem menos afetados, enquanto uma abordagem mais agressiva poderia resultar em perdas severas devido a uma desaceleração econômica global.
Para os mercados financeiros, um trumpismo moderado teria um impacto limitado e similar em muitos aspectos às políticas comerciais de Biden. No entanto, tarifas significativamente mais altas sob uma política mais extrema exigiriam elevação das taxas de juros, a menos que Trump conseguisse influenciar as ações do Federal Reserve.
Atualmente, Trump lidera as pesquisas, mas ainda é incerto se ele adotará uma postura moderada ou políticas mais extremas.