TARDE DEMAIS, BONITÃO, O ESTRAGO JÁ FOI FEITO…
Os dados econômicos dos Estados Unidos animaram os investidores globais ontem. A inflação ao produtor reforçou a sensação de desinflação, o que é crucial para a manutenção de uma janela promissora para investimentos no segundo semestre, abrindo caminho para possíveis cortes de juros nos EUA.
Como resultado desse movimento, apesar de os ativos globais apresentarem um desempenho misto nesta manhã, vimos novos recordes de fechamento em Wall Street ontem.
Hoje, os mercados da China, Índia, Coreia e Japão tiveram um bom desempenho. No Japão, o destaque foi o Banco Central, que manteve a taxa de juros estável e indicou a possibilidade de reduzir as compras mensais de títulos do governo na reunião de julho.
Por outro lado, os índices europeus estão em queda, sem grandes catalisadores nesta sexta-feira, e os futuros americanos também apresentam recuo, pelo menos até agora.
As commodities, igualmente, não estão mostrando um desempenho positivo. Pensem pelo lado positivo: pelo menos a Eurocopa 2024 começa hoje…
A ver…
00:53 — “O Brasil não está mais no radar”
No Brasil, a agenda econômica desta manhã inclui a divulgação do IBC-Br de abril, que serve como uma proxy do PIB.
Além disso, continuamos atentos aos eventos em Brasília, que têm gerado preocupações fiscais nos últimos dias.
O ministro Haddad terá uma reunião fechada com os principais banqueiros hoje, mas o dano à confiança do mercado já foi feito e será difícil reconquistá-la.
Ontem, tivemos mais um dia de queda, apesar das declarações da ala econômica de que a agenda de revisão de gastos está ganhando tração no governo. Convencer o mercado continua sendo um desafio.
O dólar, por exemplo, encostou nos R$ 5,40 esta semana, e algumas grandes instituições financeiras retiraram suas recomendações otimistas para o real. O desempenho recente só não é pior que o do peso mexicano, que está sofrendo desde a eleição da Sheinbaum, embora muitos ainda considerem esse peso sobrevalorizado.
A questão agora é quais propostas para revisão de gastos realmente vão ganhar tração.
Lembrando que elas precisam ser aprovadas em 2024 para terem impacto em 2025, com uma eleição municipal no meio do caminho. Será um desafio. Não adianta Haddad falar em um ritmo mais intenso na agenda de cortes de gastos ou Lula elogiar Haddad após tê-lo desprestigiado. O estrago já foi feito.
Existem algumas possibilidades. Jaques Wagner está levando à Fazenda sugestões de líderes do Senado para compensar a desoneração, mas até agora as ideias apresentadas foram consideradas "inúteis" pela Fazenda. Vamos ver se algo novo aparece.
Outra possibilidade para Lula, embora apenas para o final do ano, é a troca do comando no Banco Central.
Se feita corretamente, com a escolha de um nome mais ortodoxo, pode ter um efeito positivo no mercado local. No curto prazo, porém, não há grandes mudanças à vista. Até lá, como disse o CEO do Pinheiro Neto, Fernando Meira, sobre o que seus clientes pensam do país: "o Brasil não está mais no radar."
01:46 — Mais alguns estudos sobre os impactos no Rio Grande do Sul
O BTG Pactual realizou um estudo abrangente para avaliar os impactos imediatos das recentes enchentes no Rio Grande do Sul sobre a economia local. O relatório, além de destacar a gravidade da tragédia humana, aponta para consequências econômicas, como uma queda estimada de 0,2 pontos percentuais no Produto Interno Bruto (PIB).
No entanto, há uma expectativa de recuperação relativamente rápida, especialmente no mercado de trabalho, que pode se normalizar até o final do ano, juntamente com a recuperação da arrecadação de impostos municipais.
Quanto às medidas de assistência do governo, o foco está no fortalecimento da infraestrutura logística e no apoio direto e indireto às famílias que precisam reconstruir suas casas. Essas ações devem impulsionar a recuperação do emprego, com um aumento significativo na demanda por trabalho no setor da construção civil nas áreas afetadas.
No entanto, a extensão do suporte governamental ainda é incerta, e observa-se que várias propostas no Congresso Nacional estão tentando desviar o foco, utilizando a tragédia como justificativa para aumentar os gastos em áreas não afetadas.
02:35 — Uma trajetória interessante
Nos EUA, o S&P 500 e o Nasdaq voltaram a bater recordes de fechamento, enquanto o índice Dow Jones continuou em queda. Esses resultados mistos refletem as divergências nas notícias econômicas.
De um lado, dados mais fracos animam os investidores com a possibilidade de queda nos juros, beneficiando especialmente o setor de tecnologia.
Por outro lado, esses mesmos dados aumentam o medo de recessão, afetando negativamente setores mais tradicionais da economia, nos quais o índice Dow é mais representativo.
Quais foram esses dados? Primeiramente, os pedidos iniciais de seguro-desemprego divulgados ontem subiram em 13 mil, atingindo 242 mil, o nível mais alto em 9 meses. Este número superou as expectativas, mesmo com a fraqueza do mercado de trabalho. Contudo, este não foi o dado mais significativo.
A inflação ao produtor surpreendeu com a maior queda desde outubro. O índice principal recuou 0,2% em maio em relação a abril, contrariando as expectativas de um aumento mensal de 0,1%. A parte central do índice, que exclui alimentos e energia, permaneceu estável, enquanto se esperava um aumento de 0,3%.
Se os dados de inflação continuarem a ficar abaixo do esperado, assim como os dados de atividade econômica, há uma possibilidade real de cortes nos juros em setembro. No entanto, qualquer desvio dessa trajetória pode adiar essa expectativa para o final do ano, complicando o cenário econômico.
03:28 — A economia ainda está forte
Mesmo com esse arrefecimento marginal, a economia americana ainda está bastante robusta. No entanto, é curioso observar a disparidade entre a realidade econômica e a percepção da população.
Em uma pesquisa recente conduzida pelo Guardian, 56% dos entrevistados acreditam que os EUA estão atualmente em recessão e 55% pensam que a economia está encolhendo, com 72% afirmando que a inflação ainda está aumentando.
Isso demonstra um claro descolamento da realidade, pois sabemos que a inflação está se normalizando e a atividade econômica está longe de uma recessão.
Além disso, 49% dos entrevistados acham que a taxa de desemprego atual é a mais alta dos últimos 50 anos, quando na verdade está perto do nível mais baixo em meio século. Da mesma forma, 49% acreditam que o S&P 500 está em declínio, embora tenha subido mais de 12% este ano em Wall Street.
Por que tantos americanos estão desconectados da realidade? Em minha opinião, o pessimismo deriva da inflação. Vimos isso recentemente no Brasil. Quando os preços sobem, mesmo que a taxa de inflação caia, os preços elevados persistem, criando uma sensação de inflação contínua. Embora a inflação esteja finalmente diminuindo, os custos médios de alimentos, habitação e outras necessidades dispararam nos últimos anos.
Além disso, a cobertura midiática também desempenha um papel significativo. Em um fenômeno global liderado pelos EUA, as notícias frequentemente adotam um tom cada vez mais pessimista.
Isso é péssimo para Joe Biden, que, como consequência, está atrás nas pesquisas em relação a Donald Trump. As eleições de novembro prometem ser interessantes.
04:17 — Os movimentos japoneses
Na Ásia, o índice de referência do Japão, Nikkei 225, avançou após o Banco do Japão manter sua política monetária inalterada, com a taxa de curto prazo permanecendo entre 0 e 0,1%.
O banco central anunciou que pretende começar a reduzir suas compras de títulos do governo, à medida que se afasta de sua postura ultra-relaxada.
É importante lembrar que, em março, o banco central aumentou as taxas pela primeira vez em 17 anos e encerrou sua política de juros negativos, em vigor desde 2016.
O iene se enfraqueceu após o Banco do Japão adiar a redução na compra de títulos. Embora o Banco do Japão queira sinalizar que está caminhando em direção ao aperto monetário, seu princípio orientador é o gradualismo. A confiança econômica subjacente permanece frágil, senão preocupante.