DECIFRANDO A ATA DO COPOM
Hoje será um dia de grande atenção para os investidores, que estarão focados na ata do Copom, disponibilizada pelo Banco Central logo pela manhã.
Desde a última quinta-feira, após a decisão do comitê, há uma ansiedade no mercado para entender melhor as motivações por trás das ações da autoridade monetária, que ficou dividida sobre a trajetória da Selic.
A explicação das divergências será crucial para que o risco percebido pelo mercado nos últimos dias possa ser minimamente aliviado. Ontem, por exemplo, observamos uma deterioração nas expectativas do Boletim Focus.
Paralelamente, a temporada de resultados continua a todo vapor, com o mercado ainda digerindo os números da Petrobras, divulgados durante a noite de ontem, e aguardando com expectativa o balanço da Home Depot nos EUA.
Os mercados de ações asiáticos encerraram o dia com um desempenho misto, refletindo os sinais contraditórios de Wall Street durante o pregão de ontem. No entanto, os futuros americanos estão em alta nesta manhã, impulsionados principalmente pelas empresas de tecnologia, entusiasmadas com a atualização do ChatGPT pela OpenAI.
A nova versão, o ChatGPT-4o, em referência a "omni", traz melhorias significativas em velocidade e recursos aprimorados de texto, visão e áudio. Essa divulgação representa um desafio para o Google, que está realizando sua conferência anual de desenvolvedores hoje.
A ver…
00:57 — Adicionando prêmio
No Brasil, o Ibovespa fechou a segunda-feira com alta de 0,44%, aos 128.155 pontos, impulsionado principalmente pelas ações de commodities, como Vale e Petrobras, além dos bancos.
Hoje, o mercado local deve digerir os resultados do primeiro trimestre da Petrobras, que vieram abaixo das estimativas, resultando em uma queda de mais de 1% nas ações da empresa no pré-mercado de Nova York.
Em contrapartida, a Petrobras anunciou o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) no valor de R$ 13,45 bilhões, a serem pagos em duas parcelas iguais de R$ 0,52 por ação nos dias 20 de agosto e 20 de setembro.
Desse montante, R$ 4,92 bilhões serão destinados à União, que detém 36,6% do capital da Petrobras. Embora o anúncio de dividendos seja positivo, não é suficiente para compensar a piora nas contas públicas.
Observamos que o prêmio de risco sobre os ativos locais tem aumentado.
Ontem, o Boletim Focus apresentou uma deterioração marginal nas expectativas, com elevações nas projeções para a Selic e a inflação. Esse ajuste reflete, além do crescimento interno robusto, do aumento do risco fiscal e da resiliência da economia americana, as divergências reveladas na reunião do Copom da semana passada.
Por falar nisso, a situação fiscal continua preocupante e insustentável. Para exemplificar, os gastos mínimos com saúde e educação, exigidos pela Constituição, devem consumir todo o espaço das despesas não obrigatórias, comprometendo os recursos destinados ao custeio e ao investimento em outras áreas da União até 2028.
Isso torna o orçamento impraticável e destaca um problema estrutural grave nas finanças públicas brasileiras.
01:42 — A sustentação técnica da divisão
Após a polêmica decisão da semana passada, quando o Copom revelou a divisão entre os membros do Comitê sem esclarecer os argumentos dos diretores que votaram por um corte de meio ponto percentual, o mercado estava ansioso por explicações.
O comunicado falhou na semana passada ao não apresentar os motivos dos divergentes, e agora a ata tinha a função de trazer os esclarecimentos necessários.
Como já mencionei, um corte de 50 pontos não era descartado pelo mercado, que se inclinou para uma queda de 25 pontos devido às correções no forward guidance feitas por Campos Neto em várias entrevistas, dada a complexidade da situação internacional.
O problema foi a forma como o corte foi apresentado: uma ampla divergência que não estava alinhada com o discurso recente, sugerindo uma divisão de "nós contra eles".
Hoje, o mercado deve passar o dia debatendo a ata. Como conversamos, no documento, os membros indicados pelo governo, que terão mais tempo no Comitê ao longo dos próximos anos, votaram por um corte de 50 pontos para sinalizar que estão comprometidos com as metas estabelecidas. Credibilidade importa, como sabemos.
Afinal, apesar da diferença na amplitude, houve unanimidade em concordar que atingir a meta é o objetivo principal. Portanto, não faz sentido ser leniente e prometer cumprir a meta ao mesmo tempo.
Pelo documento apresentado nesta manhã, o comitê se mantém técnico. Não vai solucionar o problema, claro, mas pelo menos minimiza o ruído, mostrando alinhamento no tom contracionista.
O importante é que não haja uma transição tumultuada na reta final do mandato de Roberto Campos Neto.
02:34 — Inflação ao produtor
Nos EUA, após uma semana sem dados relevantes, o foco retorna à inflação. O relatório do índice de preços ao produtor (PPI), que mede os custos dos produtos no atacado, será divulgado nesta terça-feira, seguido pelo índice de preços ao consumidor (CPI) na quarta-feira.
As expectativas dos consumidores em relação à inflação causaram preocupação na segunda-feira.
A pesquisa de expectativas do consumidor do Fed de Nova York, divulgada ontem, mostrou que os americanos esperam uma inflação de 3,3% no próximo ano, acima da projeção de 3% em março.
Após sete meses de estabilidade, as expectativas dos consumidores quanto ao crescimento dos preços das casas atingiram o nível mais alto desde julho de 2022, sinalizando uma possível antecipação do consumo.
E não são apenas os consumidores que estão preocupados. CEOs e outros executivos também acreditam que a inflação será mais elevada. Isso reflete uma preocupação crescente com a inflação.
Para hoje, espera-se que o PPI de abril aumente 2,2% na comparação anual, um décimo de ponto percentual a menos que em março.
O núcleo do PPI, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve subir 2,3%. Um número abaixo do esperado poderia melhorar o humor global.
Enquanto isso, a temporada de resultados está em sua reta final, com empresas como Alibaba, Home Depot e Sony divulgando seus balanços hoje.
03:27 — Desdobramento das novas tarifas dos EUA sobre a China
Comentei ontem sobre o aumento das tarifas sobre os veículos elétricos chineses nos EUA, que passarão de 27,5% para 102,5%. Este é um grande movimento protecionista do governo Biden, que não apenas mantém as tarifas exorbitantes da administração Trump sobre cerca de 370 bilhões de dólares em importações anuais da China, mas também aprofunda essa abordagem.
Mais detalhes devem ser divulgados hoje, e novas tarifas também podem ser impostas sobre a indústria solar, o aço, o alumínio, as baterias e outros produtos de energia limpa.
Nos últimos anos, houve um intenso debate sobre se tarifas adicionais prejudicariam a luta contra a inflação. Esse debate provavelmente se tornou irrelevante agora, uma vez que as pressões mais graves sobre os preços diminuíram e os EUA se preparam para um ciclo eleitoral.
Proteger indústrias em estados-chave, como a automotiva em Michigan e a siderúrgica na Pensilvânia, está no centro desse debate, com ambos os lados ansiosos para abordar preocupações sobre segurança nacional, perda de empregos na indústria e riscos à cadeia de abastecimento.
Bilhões de dólares em subsídios foram destinados a setores-chave americanos em resposta à inundação de produtos subsidiados pela China no mercado internacional.
O maior receio é que essa política protecionista possa eventualmente se tornar indistinguível de uma política industrial.
Mais medidas devem surgir nos próximos meses, incluindo uma possível resposta chinesa, que pode envolver a desvalorização de sua moeda como forma de enfrentamento.
04:19 — Superando o Japão
A Índia deverá ultrapassar o Japão como a quarta maior economia do mundo até 2025. Este evento marcará o segundo ano consecutivo de declínio do Japão na classificação do PIB global, após ter caído do terceiro para o quarto lugar, atrás da Alemanha, em 2023.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional, o PIB nominal da Índia deverá ultrapassar 4,34 trilhões de dólares no próximo ano, ligeiramente acima dos 4,31 trilhões de dólares projetados para o Japão.
O PIB da Índia já havia ultrapassado o do Reino Unido em 2022, crescendo 7,8% em 2023.
O crescimento econômico da Índia tem sido impulsionado por uma forte demanda interna, especialmente após a sua população ter ultrapassado a da China no ano passado. O país também registrou um crescimento de dois dígitos nos setores de aço, cimento e fabricação de automóveis.
Em contraste, o crescimento do PIB do Japão ficou abaixo de 1,9% em 2023, após décadas de estagnação, e a OCDE prevê um fraco crescimento de 0,5% em 2024.
Os desafios do Japão são agravados pelo envelhecimento da população, baixa produtividade e um iene persistentemente fraco.