EU NÃO QUERIA ESTAR NA POSIÇÃO DELES…
O papel dos banqueiros centrais tornou-se particularmente desafiador no cenário pós-pandêmico.
Apesar dos esforços recentes de aperto monetário, sem precedentes em sua severidade para algumas regiões, a economia global continua demonstrando uma resiliência surpreendente, e a inflação persiste em níveis elevados.
Isso coloca os formuladores de política monetária em uma posição delicada, tendo que ponderar sobre a possibilidade e o timing de redução das taxas de juros, uma questão que tem sido central nas discussões de mercado.
O segundo trimestre será decisivo para ajustar nossas expectativas em relação às direções que as políticas monetárias tomarão, e se essas mudanças poderão impulsionar os ativos de risco.
Neste contexto, os mercados de ações na Ásia tiveram uma performance mista nesta sexta-feira, parcialmente influenciados pelo avanço nas ações de tecnologia nos EUA que ajudou a recuperar as perdas do dia anterior.
Notavelmente, os mercados asiáticos têm mostrado uma resiliência impressionante, apesar de um dólar americano mais forte e os desafios deflacionários enfrentados pela China.
Enquanto isso, os mercados europeus apresentam ganhos nesta manhã, e os futuros dos EUA mostram-se sem uma única direção.
A agenda econômica nos Estados Unidos incluirá a divulgação das expectativas de inflação dos consumidores, além do início da temporada de resultados financeiros.
Entre as commodities, observamos uma alta nesta manhã, com o petróleo acima dos US$ 90 por barril e o minério de ferro superando os US$ 100 por tonelada.
A ver…
00:57 — Qual a Selic terminal?
No Brasil, o Ibovespa experimentou uma queda ontem, encerrando o dia a 127.396 pontos, em contraste com os ganhos observados nas bolsas de Nova York.
Este movimento reflete a contínua análise dos investidores sobre as futuras direções da política monetária do Federal Reserve e suas repercussões nos mercados globais, inclusive para o Banco Central do Brasil.
A Petrobras foi um dos destaques negativos, oscilando em resposta às flutuações no preço do petróleo, apesar de recentemente ter se alinhado mais estreitamente com a tendência de alta do mercado de commodities.
A empresa enfrenta novos desafios, como a recente suspensão judicial do presidente do seu conselho de administração, uma indicação de Silveira, marcando outra derrota para a ala política, mas também complicando a distribuição de dividendos extraordinários (estamos às vésperas da reunião que deveria deliberar sobre o tema).
No campo dos indicadores econômicos, a agenda de hoje destaca o volume de serviços referente a fevereiro.
Um resultado robusto, semelhante ao desempenho positivo observado recentemente no varejo, poderia fortalecer a expectativa de uma desaceleração no ritmo de corte da Selic.
O mercado espera uma quarta melhora consecutiva, antecipando um crescimento de 0,2% na comparação mensal.
Esse vigor na atividade econômica pode sinalizar uma surpresa positiva no crescimento do PIB deste ano, o que seria favorável à arrecadação tributária, mas potencialmente desfavorável para o controle da inflação.
Neste cenário, o debate se acirra entre os benefícios de um aumento na renda disponível das famílias, impulsionado pelo emprego formal e pela elevação dos salários reais, e os desafios inflacionários que isso representa para a inflação, o que pode elevar a projeção da Selic terminal neste ciclo afrouxamento monetário. Quem via 8,5% já foi para 9% e quem via 9% foi para 9,5%.
01:45 — A expectativa de inflação
Nos Estados Unidos, o índice de preços ao produtor de março, divulgado ontem, veio abaixo das expectativas. O indicador subiu apenas 0,2% em relação a fevereiro, contra a previsão de 0,3% dos economistas.
Esse resultado ajudou ontem as empresas mais sensíveis à variação dos juros, como as do setor de tecnologia.
No entanto, não foi suficiente para impulsionar os mercados globais, que permanecem preocupados com a falta de clareza sobre o início dos cortes nos juros nos EUA.
O Federal Reserve, por sua vez, dá mais atenção a outra métrica de inflação, o índice central de preços das despesas de consumo pessoal, que mescla elementos dos índices de preços ao consumidor e ao produtor, e geralmente apresenta valores intermediários entre esses dois indicadores. O dado deverá ser divulgado nas próximas semanas.
A agenda econômica inclui ainda a temporada de resultados trimestrais, que detalharei a seguir, e a divulgação pelo Instituto de Pesquisas da Universidade de Michigan do Índice de Sentimento do Consumidor.
As projeções apontam para um índice de 78,7 pontos, ligeiramente inferior ao anterior. O valor de 79,4 registrado em março foi o mais alto desde julho de 2021, refletindo o impacto de uma economia robusta e uma inflação contida no ânimo dos consumidores, embora ainda partindo de patamares baixos.
Paralelamente, será divulgada a expectativa de inflação dos consumidores, um indicador chave que influencia as decisões de consumo no curto e médio prazo, dependendo das expectativas inflacionárias futuras (as pessoas decidem se consomem mais hoje ou poupam a depender do que esperam da inflação).
02:33 — Já estamos em outra temporada de resultados
Hoje teremos o início da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2024 nos Estados Unidos, com a divulgação dos números de grandes instituições financeiras como BlackRock, Citigroup, JPMorgan Chase, State Street e Wells Fargo.
Este período é crucial, pois os investidores estão particularmente focados nas perspectivas dos executivos bancários sobre temas como empréstimos, crédito ao consumidor e demanda empresarial, em um cenário de mercado de trabalho mais robusto do que previsto e persistência de altos preços.
As expectativas de lucro para este trimestre são moderadas: das 112 empresas do S&P 500 que divulgaram suas projeções, 79 apresentaram previsões negativas para o lucro por ação, enquanto 33 foram positivas.
O JPMorgan, sendo o maior banco do país, é visto como um barômetro da saúde econômica, e há grande expectativa para as declarações de seu CEO, Jamie Dimon, sobre o clima econômico atual.
O banco viu um aumento nas atividades de negociação no primeiro trimestre, e os analistas também estão atentos às suas previsões para a margem financeira em 2024.
Por outro lado, o Citigroup está passando por uma grande reestruturação, se desfazendo de alguns de seus negócios internacionais, o que pode resultar em um trimestre movimentado devido aos custos associados a essas mudanças.
Vale a pena observar as declarações do Wells Fargo sobre questões de inadimplência e o mercado imobiliário, assim como os comentários de Goldman Sachs e Morgan Stanley sobre o mercado de banco de investimentos, incluindo fusões e aquisições e ofertas públicas iniciais.
03:29 — Sem fazer nada por enquanto
O Banco Central Europeu (BCE) está cada vez mais próximo de reduzir as taxas de juro, enquanto o Federal Reserve dos EUA estende seu calendário de política monetária.
Na última reunião do BCE, realizada nesta quinta-feira, percebeu-se que cinco membros do Conselho demoraram mais do que outros para se convencerem a manter as taxas inalteradas.
Inicialmente, havia um forte apoio para começar a reduzir os custos dos empréstimos imediatamente, mas a maioria decidiu por estabelecer junho como o momento para iniciar a flexibilização.
Prevê-se que a primeira etapa do ciclo de cortes do BCE possa reduzir a taxa de depósito em até 100 pontos-base a partir do atual nível recorde de 4%.
O timing exato desses cortes ainda é incerto. Durante a coletiva de imprensa após a reunião, Christine Lagarde, presidente do BCE, não ofereceu novas informações além do que os mercados já esperavam.
A direção, no entanto, está clara: os cortes nas taxas estão a caminho e podem ocorrer antes mesmo de serem implementados nos EUA, marcando um passo inicial crucial para a redução de juros nos países desenvolvidos.
04:11 — Excesso de capacidade
A capacidade industrial excessiva da China foi um ponto chave tanto na recente conversa telefônica entre o Presidente Biden e Xi Jinping, quanto na visita da Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, à China.
Washington sustenta que, apesar da China representar um terço da produção industrial global, ela responde por apenas um sexto do consumo mundial. Esse desequilíbrio resulta em empresas chinesas — muitas das quais são fortemente subsidiadas ou estatais — saturando os mercados ocidentais e globais com produtos de baixo custo, especialmente em áreas críticas como veículos elétricos, baterias e energia solar fotovoltaica.
Embora isso beneficie consumidores globalmente através da redução de custos e da promoção de energias renováveis, também prejudica os fabricantes americanos, que são menos competitivos. No Brasil, esse impacto é notório no setor siderúrgico.
Paradoxalmente, enquanto os EUA e a Europa criticam a China por tornar a transição energética mais acessível, também a repreendem por não fazer o suficiente para descarbonizar sua economia.
Essa contradição é claramente percebida pelos chineses e por muitos no Sul Global. Sob o ponto de vista de Washington, a superprodução chinesa é uma falha crítica de sua política industrial, exacerbada pela relutância de Xi em estimular o consumo interno.
Em um ano eleitoral, espera-se que os Democratas imponham algumas barreiras ao acesso ao mercado antes de novembro, possivelmente através de impostos sobre a indústria siderúrgica chinesa, investigações sobre segurança dos dados em veículos elétricos chineses, e um reajuste das tarifas da era Trump sobre outras importações.
Essa tendência sugere uma continuação ou intensificação das restrições comerciais, especialmente se Trump reassumir a presidência.