AOS TRANCOS E BARRANCOS
Infelizmente, a surpresa positiva do IPCA de março no Brasil, que veio abaixo do esperado, foi rapidamente eclipsada pela divulgação do índice de preços ao consumidor nos EUA, que provocou uma turbulência nos mercados internacionais.
Isso acarretou uma elevação dos juros dos Treasuries, apreciação do dólar e queda nas bolsas de valores, afastando a perspectiva de cortes iminentes de juros pelo Federal Reserve.
A expectativa agora se volta para a decisão do Banco Central Europeu sobre juros, prevendo-se a manutenção das taxas em 4% e antecipando potenciais cortes a partir de junho, antes do Fed iniciar o seu ciclo de cortes.
As bolsas asiáticas sofreram quedas, refletindo o impacto da inflação mais alta que o esperado nos EUA e a contínua deflação na China, o que tem desanimado os investidores.
Nesta manhã, o cenário na Europa e nos futuros americanos também é de baixa, enquanto o petróleo apresenta queda e o minério de ferro mantém-se em alta.
No entanto, o contexto para o Brasil continua desafiador, com os desenvolvimentos internacionais repercutindo negativamente nos mercados locais.
A ver…
00:35 — O espaço para otimismo foi amassado
A divulgação do Índice de Preços ao Consumidor em março nos Estados Unidos dissipou qualquer expectativa de uma redução das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) já em junho, desencadeando um revés nos ânimos dos investidores e impactando negativamente os mercados de ações, inclusive o brasileiro.
Diante deste cenário, a possibilidade de uma Selic final superior a 9% ganha contornos mais definidos, e mesmo indicadores favoráveis de IPCA doméstico parecem insuficientes para alterar este panorama. Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, reconheceu o impacto adverso do dado americano.
Embora a agenda local inclua indicadores como vendas no varejo e declarações de autoridades monetárias, o enfoque permanece nas dinâmicas internacionais.
Em um contexto nacional mais positivo, destaca-se a continuidade de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras, o que representa uma notável derrota para a ala política do governo, que buscava sua substituição, e a expectativa do anúncio de um dividendo extraordinário pela estatal, um desenvolvimento bem-vindo para a equipe econômica, especialmente após críticas relacionadas às mudanças no arcabouço fiscal e à flexibilização dos limites de gastos federais.
Estes eventos coincidem com uma depreciação do real, que parece refletir um aumento do risco fiscal percebido no Brasil, junto com o aumento dos juros de longo prazo nos Estados Unidos, sugerido pelo simultâneo aumento no custo do seguro contra o default do Brasil (CDS de 5 anos).
Atualmente, a equipe econômica se debruça sobre o orçamento de 2025, preparando-se para o envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) e, em sequência, do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), adiando temporariamente discussões sobre ajustes na meta fiscal.
A possibilidade de superar as expectativas de déficit de 0,8% do PIB, projetadas no Boletim Focus, não seria surpreendente neste contexto.
01:43 — Esquece junho
A resposta dos mercados às recentes divulgações sobre a inflação nos EUA não tardou, especialmente após o relatório do núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, registrar um aumento mensal de 0,4%.
Contrariando as previsões de decréscimo, a inflação anual manteve-se estável em 3,8%, intensificando o debate sobre a trajetória da política monetária em face das pressões inflacionárias persistentes e um mercado de trabalho robusto, evidenciado pelo surpreendente relatório de empregos da semana anterior.
Como resultado, o mercado ajustou suas expectativas, agora prevendo apenas dois cortes de taxa pelo Federal Reserve (Fed) ao longo do ano.
Apesar de certos indicativos moderadores da inflação, como a deflação observada em várias subcategorias de preços ao consumidor em diferentes regiões dos EUA e a redução dos preços dos alimentos em várias cidades, a inflação permanece acima da meta de 2% estabelecida pelo Fed, colocando em xeque a antecipação dos cortes de taxa.
A expectativa para o momento do primeiro corte se estende agora para julho ou setembro, aguardando-se o Índice de Preços ao Consumidor Pessoal (PCE) em 26 de abril para uma possível recalibração das projeções.
A ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) destacou um consenso quase unânime sobre a necessidade de redução das taxas ainda este ano, apesar da janela para um corte ainda parecer fechada.
O mercado também aguarda com expectativa o índice de preços ao produtor de março, buscando mais pistas sobre a direção futura da política monetária e suas implicações para a economia global.
02:34 — Um parceiro americano do outro lado do Pacífico
Na recente visita do Primeiro-Ministro japonês, Fumio Kishida, à Casa Branca, observamos um esforço dos Estados Unidos para reforçar alianças com potências asiáticas visando uma estratégia de contenção em relação à China.
Nesse contexto, discussões sobre aprofundamento das relações militares e industriais entre os EUA e o Japão ganham destaque, exemplificadas pelo debate em torno da potencial aquisição da US Steel pela Nippon Steel japonesa, um movimento que parece cada vez mais provável.
A colaboração entre as duas nações também se estende ao campo da tecnologia, marcada pelo lançamento de um novo programa de pesquisa em inteligência artificial (IA), financiado conjuntamente por gigantes tecnológicas como Nvidia, Amazon, Arm Holdings, Microsoft, e corporações japonesas, que contribuirão com US$ 110 milhões para promover parcerias de pesquisa em IA entre universidades dos dois países.
Este avanço na pesquisa de IA coincide com o momento em que a administração Biden considera implementar regulações para limitar os riscos associados a essa tecnologia emergente.
Este esforço se soma ao anúncio de um investimento de US$ 2,9 bilhões pela Microsoft, destinado a ampliar suas operações de IA e infraestrutura de computação em nuvem no Japão, reforçando a cooperação bilateral em tecnologia avançada.
Isso tudo aconteceu paralelamente à desvalorização do iene para níveis não vistos desde 1990, atingindo a marca de 152/153 por dólar, que acendeu alertas sobre uma possível intervenção das autoridades japonesas para estabilizar a moeda.
A queda acentuada do iene, combinada com a recuperação do dólar em resposta a dados de inflação mais elevados nos EUA, destaca as complexas dinâmicas econômicas que acompanham os esforços diplomáticos e tecnológicos entre as duas maiores economias do mundo.
03:29 — Tentando se manter acima de US$ 90,00
A tensão no Oriente Médio impulsionou o preço do petróleo, com o barril lutando para se manter acima dos US$ 90. Isso se deve às preocupações dos Estados Unidos sobre um ataque significativo, potencialmente envolvendo mísseis ou drones, que o Irã ou seus aliados, como o Hezbollah, poderiam lançar contra Israel em breve.
Este ataque seria uma retaliação ao bombardeio de uma embaixada iraniana na Síria, que resultou na morte de oficiais iranianos.
A expectativa de um ataque iraniano é vista mais como uma questão de tempo. Adicionando tensão, um bombardeio israelense em Gaza, durante o início do Eid al-Fitr, um feriado muçulmano que celebra o fim do Ramadã, resultou na morte de familiares de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas.
Um eventual ataque iraniano poderia levar a uma resposta severa de Israel, desencadeando uma escalada de violência sem precedentes na região.
04:10 — Falta de dados
Companhias focadas no desenvolvimento de inteligência artificial estão diante de um desafio inesperado: a escassez de dados relevantes na internet para expandir seus projetos.
A busca incansável por material para aprimorar seus sistemas fez com que gigantes como a OpenAI raspassem praticamente todo o conteúdo web acessível. Eles preveem que fontes de dados de qualidade, incluindo artigos acadêmicos, podem se esgotar em até dois anos.
Para contornar essa limitação e sustentar seus objetivos de desenvolvimento, essas empresas estão explorando maneiras inovadoras de adquirir novos dados para treinamento em IA, por vezes navegando por áreas legais ambíguas.
Entre as estratégias adotadas, a OpenAI teria criado um mecanismo capaz de transcrever áudios de vídeos do YouTube, inaugurando um vasto reservatório de informações que poderia infringir direitos autorais. Curiosamente, o Google, proprietário do YouTube, não contestou essa prática, possivelmente porque também utiliza uma técnica similar para enriquecer seus próprios modelos de IA.
Diante da carência de dados de alta qualidade na web, a Meta chegou a ponderar a aquisição da editora Simon & Schuster, visando ao acervo contido em seus títulos.
Com a redução progressiva de conteúdo original disponível, algumas corporações começaram a fabricar dados "sintéticos", isto é, empregando IA para gerar conteúdo que, por sua vez, servirá para treinar esses mesmos sistemas de IA. Vivemos em tempos estranhos.