CALIBRANDO AS POSIÇÕES: O QUE PODE MUDAR O HUMOR NO CURTO PRAZO?
Após a acentuada correção observada ontem no Brasil, que contrastou com o clima mais otimista no exterior, hoje voltamos nossa atenção para os dados consolidados de inflação de abril.
Embora importantes, estes dados são agora menos cruciais do que a ata do Copom, que será divulgada na próxima semana, devido ao comunicado confuso do Copom na quarta-feira passada, que revelou desacordo interno significativo, como discutimos ontem.
Lá fora, os mercados apresentam uma tendência de alta nesta manhã, com os mercados europeus e os futuros americanos subindo.
No Reino Unido, inclusive, o ânimo foi impulsionado pelo crescimento do PIB no primeiro trimestre, que superou as expectativas, tirando o país da recessão técnica.
Curiosamente, parece que os bancos centrais europeus poderão iniciar cortes de juros antes do Federal Reserve nos EUA. O Banco da Inglaterra, por exemplo, está avançando cautelosamente em direção a uma política monetária mais flexível, apesar dos sinais de um PIB mais robusto, já que a inflação ainda deve continuar desacelerando.
O Banco Central Europeu (BCE) deve seguir uma trajetória semelhante, com expectativa de redução dos juros entre junho e agosto.
Na agenda de hoje, destacam-se também as falas programadas de cinco membros do Fed nesta sexta-feira, que podem introduzir volatilidade nos mercados de títulos do Tesouro. Além disso, o índice de sentimento do consumidor de maio, medido pela Universidade de Michigan, é outro dado relevante do dia.
A ver…
00:52 — Qual a chance de minimizar o humor negativo?
No Brasil, como mencionei anteriormente, o destaque do dia é o IPCA de abril, que acelerou para 0,38%, ante 0,16% em março.
Se o resultado ficasse abaixo do esperado, similar ao observado no IPCA-15, poderia aliviar o pessimismo gerado pela divisão do Copom, em meio a incertezas sobre a futura composição do Banco Central a partir de janeiro de 2025, quando Roberto Campos Neto e mais dois diretores serão substituídos por indicados do presidente Lula — na semana que vem, também teremos inflação ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) do mês de abril, que poderia ajudar o sentimento internacional, inclusive no Brasil, caso venha abaixo do esperado.
A insegurança do mercado levou a uma elevação na curva de juros, valorização do dólar e queda da Bolsa para 128 mil pontos (o desempenho geral foi pior do que o sugerido pelo Ibovespa, parcialmente compensado por um dia positivo para a Petrobras e a Vale).
Está claro que ainda não chegamos ao fim do ciclo monetário e o Banco Central ainda pode realizar dois ou três cortes de 25 pontos-base cada, dependendo dos dados econômicos locais e internacionais.
Uma postura mais cautelosa já era antecipada, especialmente após os eventos trágicos no Rio Grande do Sul, onde há propostas para que dividendos da Petrobras sejam destinados a um fundo para desastres.
Entretanto, a comunicação falha do Banco Central, acompanhada de indicações preocupantes de que a instituição poderia adotar uma postura mais política em um momento crucial para ancorar expectativas, exacerbou as tensões.
Segundo relatos, até mesmo os diretores do BC ficaram surpresos com a reação do mercado.
Felizmente, terão a oportunidade de esclarecer a situação na próxima terça-feira, quando será divulgada a ata da reunião. Vamos ver se eles conseguem virar o jogo. O curto prazo segue ruim.
01:47 — Bons sinais para os mercados
Nos EUA, o mercado de ações continuou sua recuperação em maio ontem, após os dados de pedidos iniciais de auxílio-desemprego superarem as previsões.
O S&P 500 aproximou-se de menos de 1% de seu máximo histórico, alcançando seu nível mais alto desde o início de abril.
Após um mês desafiador, o mercado está estendendo uma retomada impulsionada pela expectativa de que o Federal Reserve possa cortar as taxas de juros ainda este ano.
Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego, que mencionei, subiram para 231 mil na semana passada, um valor acima das expectativas de consenso e o mais alto desde o verão passado.
Embora a magnitude do aumento tenha surpreendido muitos, um crescimento semanal era esperado, especialmente considerando que este é um padrão comum após as férias escolares em Nova York.
De fato, mais da metade do aumento não ajustado sazonalmente a nível nacional originou-se de Nova York, com mais de 10 mil solicitações na semana.
Portanto, mesmo que não seja garantido que o número ajustado sazonalmente volte para 210 mil na próxima semana, já há motivos para prever uma redução significativa nos pedidos olhando para frente.
Para hoje, declarações de membros do Fed estão no foco, como ocorreu ontem com a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly.
Além disso, a agenda inclui a pesquisa sobre o sentimento do consumidor de maio, destacando as expectativas dos consumidores sobre a inflação para o próximo ano.
02:38 — Visão europeia
Os parlamentares europeus aprovaram nos últimos dias uma significativa revisão das regras orçamentárias da União Europeia. O novo esquema pretende tornar as regras mais transparentes, propícias ao investimento, adaptáveis às condições específicas de cada país e mais flexíveis.
O principal objetivo é preservar a capacidade de investimento dos governos. Sob as novas regras, países com dívida superior a 90% do PIB devem reduzi-la em média 1% ao ano, enquanto aqueles com dívida entre 60% e 90% do PIB devem diminuí-la em 0,5% ao ano.
Caso o déficit de um país exceda 3% do PIB, ele deverá ser reduzido durante períodos de crescimento econômico para alcançar 1,5%, além de estabelecer uma reserva de gastos para tempos econômicos adversos.
As regras também estendem o período para alcançar os objetivos do plano nacional de quatro para sete anos, marcando um avanço no cenário fiscal europeu.
Além disso, outro movimento notável da União Europeia, embora ainda preliminar, é o plano de usar parte dos US$ 225 bilhões em ativos financeiros russos para financiar ajuda militar e humanitária para a Ucrânia (este plano se concentraria nos rendimentos gerados por esses ativos).
A medida ainda necessita ser votada e oficialmente aprovada por todos os 27 países-membros, mas já representa um passo importante.
O acordo propõe liberar até US$ 3,2 bilhões anualmente para Kiev, dos quais 90% podem ser destinados à compra de munições e outros equipamentos militares — com a primeira parcela dos fundos podendo chegar à Ucrânia já em julho.
Apesar de haver controvérsias sobre a legalidade de se apropriar de propriedades russas, essa estratégia destaca-se como uma forma de apoiar financeiramente a Ucrânia sem impor altos custos financeiros diretos, semelhante ao que ocorre nos EUA.
03:24 — Eleições africanas
Após três décadas sob o governo do Congresso Nacional Africano (ANC), a África do Sul se aproxima de um possível ponto de inflexão político nas eleições deste mês.
O partido, que foi liderado por Nelson Mandela e desempenhou um papel crucial no combate ao apartheid, promovendo a revogação das leis racistas e impulsionando o desenvolvimento econômico, bem como a expansão do acesso à saúde e à educação, enfrenta agora um momento crítico.
Entretanto, a performance do ANC na última década deixou a desejar: a economia estagnou em meio a constantes apagões de energia e problemas logísticos que comprometeram a produtividade do país; o desemprego atingiu 32%; e os níveis de crime e corrupção se tornaram elevadíssimos.
Pesquisas recentes indicam que o apoio ao ANC caiu para menos de 40%, uma redução drástica de cerca de 20 pontos percentuais desde cinco anos atrás, marcando o pior desempenho desde o término do regime de minoria branca.
Portanto, é bastante provável que o partido perca sua maioria parlamentar nas eleições de 29 de maio, necessitando formar alianças para se manter no poder.
Uma preocupação particular reside na possibilidade de uma coalizão com o partido Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF), que defende a nacionalização das minas e a estatização de todas as terras. Tal aliança poderia representar um caminho desastroso para um país que já enfrenta múltiplas adversidades.
04:13 — Inteligência Artificial como arma
Está emergindo um debate entre as grandes potências militares globais sobre a necessidade de estabelecer salvaguardas para a implementação da inteligência artificial (IA) em operações militares.
Embora já existam esforços para assegurar o uso seguro da IA em geral, torna-se cada vez mais urgente expandir essa discussão para abranger seu uso em contextos bélicos, onde o risco para vidas humanas é substancial.
Sim, a regulação da IA é reconhecida como uma necessidade crítica, mas até o momento, pouca atenção foi dedicada especificamente às implicações de seu uso no âmbito militar, um campo que provavelmente se expandirá nos próximos anos sob o conceito de "DefTech" (tecnologia de defesa).
Considere os riscos potenciais, como a possibilidade de uma pessoa ser erroneamente identificada como alvo legítimo para um ataque de drone, ou os tipos de aplicações de IA vistos na Ucrânia, onde reconhecimento facial e outros dados são utilizados no campo de batalha sem regulamentações claras.
Assim, é crucial que as discussões sobre a segurança da IA não apenas abordem seu uso seguro em geral, mas também se concentrem especificamente nas práticas adequadas de uso da IA em contextos de guerra, combate e conflito, em linha com o que fizemos com as armas nucleares.
É vital que existam diretrizes claras, estabelecidas por nações democráticas, que assegurem que o uso da IA em operações militares esteja alinhado com o direito internacional e humanitário, promovendo uma ordem global baseada em regras.