SHITSHOW: O COPOM DE ONTEM VAI GERAR GRANDE DESCONFORTO
Hoje, o mercado local provavelmente enfrentará uma correção. Isso não se deve tanto à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em si, mas ao desacordo evidente que marcou a conclusão da reunião e à forma como isso foi comunicado, gerando controvérsias e direcionando a atenção para a ata que será publicada na próxima semana, diminuindo a importância relativa do IPCA de abril, que será anunciado amanhã.
Discutirei mais sobre essas dinâmicas a seguir. Lá fora, o dia também apresenta desafios, com as ações asiáticas fechando em queda nesta quinta-feira.
Destacam-se na agenda global o surpreendente aumento das importações na China em abril, que dobrou as previsões, chegando a 8,4%, e os desdobramentos da reunião do Banco da Inglaterra, que divulgou nesta manhã sua decisão sobre as taxas de juros.
Nos Estados Unidos, a tranquilidade em Wall Street continuou pelo segundo dia consecutivo na quarta-feira, mas os futuros americanos voltaram a cair esta manhã, em um movimento semelhante ao observado nos mercados europeus.
No mercado de commodities, o petróleo voltou a ultrapassar os US$ 84 por barril, enquanto o preço do minério de ferro se mantém acima de US$ 115 por tonelada.
A ver…
00:41 — Parabéns aos envolvidos: se reuniram por dois dias para tomar uma decisão dessas
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou ontem à noite por reduzir a taxa Selic em 25 pontos-base, ajustando-a para 10,50% ao ano.
Esse ajuste representa a primeira desaceleração no ritmo de cortes desde que o Banco Central começou a reduzir os juros em agosto de 2023.
No comunicado divulgado, o Copom destacou que o cenário internacional se tornou mais adverso, exigindo maior cautela por parte dos países emergentes e optou por não sinalizar os próximos passos em relação à taxa de juros, enfatizando a necessidade de uma política contracionista, indicando o fim do forward guidance.
Este movimento, embora esperado pelo mercado e justificado diante das incertezas (por mais que houvesse quem defendesse no mercado um corte de 50 pontos), foi contrário ao acordado na última reunião (em tese, ruim para credibilidade), mantendo os juros reais do Brasil em um nível consideravelmente alto (não há economia que aguente mais de dois anos com juro real curto acima de 5%).
Contudo, a verdadeira questão emergiu do resultado da votação, conforme comentei ser possível ontem.
A decisão do Copom não foi unânime: cinco diretores, incluindo o presidente Roberto Campos Neto, votaram pelo corte de 0,25 ponto; outros quatro diretores, entre eles o diretor de política monetária Gabriel Galípolo, favorito para suceder Campos Neto, defenderam uma redução de 50 pontos. Notavelmente, todos os diretores indicados pelo presidente atual apoiaram um corte mais substancial.
Até mesmo Paulo Picchetti, visto como a indicação mais técnica do governo atual e teoricamente mais alinhado com a gestão vigente do BC, votou por um corte de 50 pontos, possivelmente vislumbrando a presidência do banco.
A consequência é que o tom hawkish do comunicado e da decisão (desacelerando o ritmo de corte) não terão o efeito esperado.
Note: um Copom dividido não é necessariamente problemático, visto que divisões são comuns entre autoridades monetárias globais; no entanto, o modo como essa divisão ocorreu é preocupante. Primeiro, a decisão foi dividida por apenas um voto, indicando o que se chama de dissenso amplo.
Segundo, o comunicado não ofereceu explicações para os votos divergentes, o que aumenta a expectativa (e a ansiedade) pela ata da próxima reunião, agendada para a semana que vem.
Adicionalmente, essa decisão pode acirrar as tensões em Brasília, com o governo possivelmente insatisfeito com o desfecho, embora já o esperasse, e com a incerteza sobre a orientação da próxima gestão do BC à medida que o mandato do presidente atual se encerra.
O mercado teme que a nova gestão do Banco Central possa adotar uma postura mais politizada, dadas as expectativas já bastante voláteis.
O ciclo de corte de juros ainda não terminou e ainda teremos mais dois ou três cortes em 2024 de 25 pontos cada, mas a situação não é das melhores. Em resumo, a decisão foi problemática e é provável que o mercado reaja negativamente hoje.
01:59 — Outro dia morno
Nos EUA, o mercado de ações manteve-se relativamente tranquilo pelo segundo dia consecutivo, com resultados variados e uma jornada leve em termos de notícias econômicas. O Dow Jones Industrial Average encerrou com um aumento de 0,4%, enquanto o S&P 500 permaneceu estável.
Sem anúncios significativos de dados econômicos agendados para esta semana, parece que as ações estão sendo mais influenciadas por fatores técnicos, especialmente após uma recuperação na semana anterior impulsionada pelos resultados financeiros da Apple e por um relatório de emprego mais fraco do que o previsto.
É provável que esse ambiente mais sereno persista até o índice de inflação de abril, previsto para a próxima semana.
Idealmente, veríamos uma consolidação adicional no mercado a partir deste ponto, o que poderia estabelecer a base para a próxima formação técnica de alta para o S&P 500, um cenário que já se mostrou benéfico algumas vezes desde as quedas registradas entre agosto e outubro do ano passado.
Quanto à agenda do dia, embora haja alguns resultados financeiros de interesse, como os da Brookfield, Constellation Energy, Roblox e Warner Bros. Discovery, não há nada particularmente extraordinário.
Os futuros abriram em baixa, sem um catalisador específico para impulsionar o ânimo.
02:45 — Os próximos passos do Fed
No final de 2023, os comentários de vários membros do Federal Reserve sugeriam que eles acreditavam ter alcançado sucesso no combate à inflação, uma narrativa que soava quase como "missão cumprida".
Essa percepção não era infundada: ao longo do ano anterior, os dados indicaram um crescimento econômico nos EUA que apontava para a possibilidade de um "soft landing", caracterizado por uma inflação em declínio, um crescimento econômico robusto e baixo desemprego.
Esse cenário otimista levou muitos dirigentes do Fed a adotarem uma postura mais tranquila e a anteciparem uma possível mudança na política monetária.
De fato, os mercados futuros chegaram a prever uma redução de até 150 pontos-base na taxa dos fundos federais para 2024.
No entanto, o cenário mudou consideravelmente desde então. A inflação demonstrou ser mais persistente do que o esperado no primeiro trimestre do ano, enquanto o crescimento econômico se manteve forte.
Como resultado, os dirigentes do Fed adotaram um tom decididamente mais cauteloso. Atualmente, há quase uma unanimidade entre eles de que será necessário mais tempo para controlar a inflação e que as taxas de juros não serão reduzidas tão cedo.
Os mercados de futuros agora projetam apenas cerca de 0,5 ponto percentual de cortes para este ano.
A próxima reunião do FOMC está marcada para 11 a 12 de junho, e é improvável que haja cortes nesse encontro.
No entanto, dependendo dos dados econômicos que surgirem até lá, pode-se esperar pelo menos algum sinal de que um ciclo de cortes possa começar. Um possível primeiro corte em setembro seria bem-vindo.
03:32 — E o Banco da Inglaterra?
Hoje mais cedo, o Banco da Inglaterra divulgou sua decisão sobre política monetária. Conforme amplamente antecipado, a taxa de juros foi mantida em 5,25% pela sexta vez consecutiva, marcando o nível mais elevado para a libra nos últimos 16 anos.
No entanto, ao contrário do Federal Reserve dos EUA, o Banco da Inglaterra pode estar mais próximo de iniciar um ciclo de redução de juros.
Os investidores estão de olho nas reuniões de junho como uma possível ocasião para o primeiro corte nas taxas de juros, enquanto para o Fed, o corte é mais provável que ocorra em setembro.
Por exemplo, Susan Collins, presidente do Fed de Boston, indicou que as taxas nos EUA podem precisar permanecer no patamar atual por mais tempo do que o inicialmente esperado para conter a demanda e aliviar as pressões inflacionárias. Esta posição difere significativamente da postura mais aberta adotada pelas autoridades europeias.
Ontem, por exemplo, o Riksbank da Suécia acompanhou o Banco Nacional Suíço, optando por reduzir as taxas de juros. Apesar de o curto prazo ainda apresentar desafios, a mudança na política de juros pode estar próxima.
Isso seria muito benéfico para ativos sensíveis a juros, como os dos mercados emergentes, incluindo o Brasil.
04:28 — Perspectivas para o mercado de carbono
No primeiro trimestre de 2024, as emissões de créditos de carbono cresceram cerca de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 91 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) em novos ativos emitidos.
O Brasil, com seu vasto potencial, está posicionado para se tornar um líder influente no mercado global de créditos de carbono, apesar de enfrentar vários desafios.
Desde a realização da Conferência Rio-92 e a assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997, foi estabelecido que as nações desenvolvidas financiariam a preservação das florestas e a redução das emissões de gases de efeito estufa.
No entanto, mesmo após cerca de trinta anos, persistem muitas incertezas sobre como efetivamente compensar o sequestro de carbono e outros serviços ambientais, ressaltando a necessidade de uma expansão substancial desse mercado para alcançar as metas climáticas globais.
No segmento de créditos de carbono relacionados a florestas, o Brasil tem a capacidade de assumir uma posição de liderança. Esse objetivo pode ser alcançado formando uma coalizão com outros países ricos em florestas tropicais e estabelecendo um sistema próprio de certificação e registro.
Olhando adiante, é crucial que o Brasil lidere essa agenda, começando por estabelecer diálogos com países que possuem grandes extensões de terras florestais e agrícolas para desenvolver métricas e metodologias que valorizem os serviços ambientais como soluções viáveis para a descarbonização.
Implementando essas medidas, o Brasil não só pode maximizar seu amplo potencial no mercado de créditos de carbono, sendo que já lidera este mercado na América do Sul, apoiando 40% do total de projetos na região.