A SEMANA DA INFLAÇÃO CHEGOU
O panorama internacional nos cumprimenta hoje com um novo aumento nas taxas dos Treasuries dos EUA, exercendo pressão nas bolsas mundiais, ainda que os outros ativos de risco pareçam menos afetados.
O último relatório de empregos nos EUA, divulgado na sexta-feira, revelou um surpreendente acréscimo de 303 mil postos de trabalho em março, superando de longe as expectativas de 205 mil.
Essa discrepância representou um desvio padrão de 3,8 acima das previsões, com as estimativas falhando em antecipar o expressivo aumento.
Em resposta, a taxa de desemprego reduziu-se para 3,8%, enquanto o aumento salarial manteve-se alinhado com as previsões, fornecendo um leve consolo ao Federal Reserve.
Contudo, a robustez da economia americana pode levar o Fed a prolongar as taxas de juros elevadas por mais tempo, tornando o início dos cortes em junho cada vez mais improvável, com julho ainda vislumbrado como uma alternativa.
Nesta semana, damos início à temporada de resultados financeiros do primeiro trimestre nos EUA, aguardando também dados críticos sobre inflação, tanto americanos quanto brasileiros.
Recentemente, o Fed tem dado maior peso aos indicadores de inflação em comparação aos de emprego.
Adicionalmente, os dados comerciais alemães de fevereiro indicaram uma desaceleração nas exportações além do esperado.
Embora tenhamos discursos programados de autoridades dos bancos centrais, é improvável que novos comentários causem grandes movimentações de mercado agora.
Com Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, visitando a China, as atenções se voltam para as dinâmicas sino-americanas, enquanto os mercados asiáticos mostram resultados variados nesta segunda-feira.
A ver…
00:45 — Sob pressão
No Brasil, as tendências internacionais podem ter um impacto significativo na trajetória de redução da Selic, considerando que a dificuldade em baixar as taxas de juros nos EUA pode tornar mais complexo o avanço no nosso processo de relaxamento da política monetária.
Esta semana se destaca pela divulgação do IPCA de março na quarta-feira, um momento de especial atenção para a inflação dos serviços, coincidindo com a publicação do índice de preços ao consumidor nos EUA.
Esta conjuntura sugere uma semana de intensa atividade, onde números abaixo das expectativas podem revitalizar os ativos de risco, recentemente sob considerável tensão.
A agenda econômica se completa com os dados sobre vendas no varejo na quinta-feira e sobre o volume de serviços em fevereiro na sexta-feira.
Além dos dados econômicos, a semana reserva outras questões cruciais. Inicia-se com as discussões no governo acerca da meta fiscal para o próximo ano, contemplada no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, que deve ser apresentado ao Congresso até 15 de abril.
A definição da meta está prevista para os dias seguintes, antecedendo uma futura revisão da meta fiscal de 2024, esperada até o fim de maio. As especulações em torno da possível mudança na liderança da Petrobras prometem evoluir, assim como as conversas sobre a sucessão no Banco Central.
Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária, destacou-se por sua sintonia com Roberto Campos Neto, disputando a preferência com Paulo Picchetti, um nome forte aos olhos do mercado. Um nome de fora, como o de Marcelo Kayath, também pode aparecer.
01:51 — Disputa em Itaipu
A situação na gestão conjunta da usina hidrelétrica Itaipu pelos governos do Brasil e Paraguai atingiu um ponto crítico após o vencimento do acordo que assegurava os pagamentos em março, trazendo de volta um cenário de indecisão.
O Paraguai, buscando aumentar a tarifa energética de US$ 16,71 para US$ 22,60 por kWh, enfrenta resistência do Brasil, que vê essa demanda como um exagero com potenciais repercussões nos custos de energia.
A questão já havia congelado os pagamentos a terceiros ligados à Itaipu no início do ano, mergulhando a operação em desordem.
As autoridades brasileiras estão em busca de um novo arranjo, seja provisório ou de maior duração, para estabilizar as finanças da usina, embora a previsão de um desfecho permaneça incerta.
Diante dos desafios para estabelecer o preço da energia para 2024, a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) recorreu à justiça federal no Paraná, pleiteando a liberação de US$ 59,39 milhões (R$ 295,8 milhões) pela energia gerada no começo do ano.
Como administradora da comercialização da energia de Itaipu no Brasil, a ENBPar busca uma fundação mais robusta em aspectos institucionais, comerciais, regulatórios e legais para realizar os pagamentos com segurança e evitar riscos.
A estatal alerta para a possibilidade de cortes de energia resultantes do impasse e sublinha a relação direta entre a questão tarifária e os preços de energia, levantando temores de efeitos inflacionários.
02:48 — Uma olhada nos preços ao consumidor
Nos Estados Unidos, a atenção do mercado está voltada para os próximos dados sobre inflação ao consumidor, agendados para serem divulgados na quarta-feira.
As orientações recentes do Federal Reserve realçaram a relevância do índice de inflação ao consumidor em detrimento da inflação medida pelo PCE, que o Fed tradicionalmente prefere para avaliar os preços.
Essa mudança torna as próximas divulgações de dados ainda mais críticas. As expectativas medianas antecipam que o IPC geral registre um aumento de 0,4% mensal e de 3,1% anual, indicando uma ligeira desaceleração em relação aos dados anuais de fevereiro.
Ainda se prevê que os núcleos da inflação, que filtram os elementos mais instáveis, mostrem um arrefecimento tanto mensal quanto anual para +0,3% e +3,7%, respectivamente.
Adicionalmente, a divulgação da ata da reunião de março do Federal Reserve, também programada para quarta-feira, está sob alta expectativa. Isso ocorre especialmente após os dados recentemente positivos do mercado de trabalho que enfraqueceram as chances de cortes nas taxas de juros.
Qualquer indicação adicional sobre o futuro da política monetária é aguardada com grande interesse. Paralelamente, está marcado o início da temporada de divulgação de lucros do primeiro trimestre; já na sexta-feira, esperam-se os resultados trimestrais de gigantes bancários como JPMorgan, Wells Fargo e Citigroup, bem como da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo. Uma temporada de lucros que surpreenda positivamente, a exemplo do que ocorreu no trimestre anterior, poderia fornecer novo impulso para o mercado.
03:32 — E o corte de juros na Europa?
Nesta semana, a atenção do mercado financeiro também se volta para a reunião do Banco Central Europeu, programada para quinta-feira.
Ninguém espera cortes de juros nesta semana, mas com a expectativa crescente de um possível corte nas taxas de juros pelo BCE já em junho, o debate se intensifica sobre se este movimento marcará o início de uma série de cortes ou se a instituição optará por uma estratégia mais conservadora.
Apesar de a Presidente Christine Lagarde poder diminuir as especulações sobre essa possibilidade na coletiva pós-reunião, o assunto já é amplamente discutido entre os analistas.
Por outro lado, a robustez inesperada da economia americana impulsionou os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA ao seu pico desde o final de novembro, reduzindo as expectativas de cortes iminentes nas taxas de juros.
Este cenário coloca o relatório sobre o índice de preços ao consumidor dos EUA, que será divulgado na quarta-feira, no centro das atenções, como o próximo grande indicador que poderá definir a direção futura dos rendimentos.
De forma intrigante, percebe-se que a política monetária global está, de certa maneira, atrelada às dinâmicas inflacionárias dos Estados Unidos.
04:29 — Carne de laboratório
A indústria da carne de laboratório encontra-se sob intensa discussão nos Estados Unidos. Legisladores de estados como Alabama, Arizona, Flórida e Tennessee estão considerando leis que proibiriam essa nova fonte de proteína.
A base das objeções se assenta tanto em questões de segurança alimentar quanto no impacto potencial sobre a tradicional indústria pecuária. Em contrapartida, críticos dessas propostas legislativas defendem a inovação no setor alimentício, argumentando que as escolhas de consumo devem permanecer nas mãos dos consumidores.
Este campo emergente, que já captou bilhões em investimentos, incluindo aportes de gigantes como Cargill e Tyson, utiliza células animais para desenvolver carne em biorreatores, com a adição precisa de hormônios e nutrientes.
A Eat Just, pioneira americana, conquistou no ano passado a primeira aprovação federal para comercializar sua carne de laboratório, marcando um avanço significativo para a indústria.
No entanto, a resistência não se limita aos EUA; a Itália, por exemplo, baniu recentemente tais produtos, alegando riscos potenciais até mesmo para sua cultura culinária.
Defensores dessa tecnologia argumentam que a carne cultivada representa uma opção mais sustentável, alinhada às metas globais, embora reconheçam os desafios de torná-la economicamente viável.
A preocupação é que, sem o suporte contínuo de financiamento, o futuro dessa inovação possa estar em xeque, especialmente considerando o fim da era dos juros baixos.