FALAR A MESMA LÍNGUA JÁ É UM BOM COMEÇO
Os mercados operam em baixa nesta manhã de sexta-feira (7).
Os mercados asiáticos fecharam em queda, os principais índices europeus operam no vermelho e o futuro do S&P segue o tom negativo neste último pregão da semana.
Ontem o dia foi positivo para os ativos brasileiros. O Real apreciou 0,87%, entregando a melhor performance do dia entre os pares LatAm, a curva de juros registrou queda de até 10 pontos-base nos vértices mais longos e o Ibovespa voltou a subir (1,2%) após amargar queda em todos os pregões anteriores deste mês de junho.
Entre os destaques de hoje, o mercado espera a divulgação do dado mais importante do mercado de trabalho americano, o payroll, às 9:30h.
A mediana das expectativas dos economistas coletada pela Bloomberg aponta para a criação de 180 mil novas vagas de emprego no mês de maio, uma aceleração em relação às 175 mil vagas em abril.
Ainda bastante relevante, é esperada que a taxa de desemprego se mantenha estável em 3,9% e que haja um crescimento de 0,3% m/m dos ganhos por hora trabalhada, indicador relevante para a expectativa de inflação de salários por lá.
01:43 – Foi dada a largada
Embora ainda tenhamos patamares de inflação corrente acima dos níveis condizentes com o cumprimento da meta em diversas economias desenvolvidas, na quinta-feira (6), o Banco Central Europeu (BCE) deu a largada e confirmou as expectativas da maioria dos agentes de mercado ao anunciar a primeira redução das taxas de juros em 25 pontos-base para 3,75% a.a..
O discurso da Presidente Lagarde foi visto como cauteloso indicando que a continuação do ciclo de corte depende dos dados que serão divulgados à frente.
Nessa linha, Lagarde afirmou que os juros reais estão em patamares bastante restritivos, por isso, é muito provável que este não seja um corte isolado, contudo, “a velocidade e o tempo dependerão dos dados”, afirmou a Presidente da autoridade monetária europeia.
02:43 – De volta ao consenso
Ainda na seara monetária, ontem (6) tivemos diversas falas de membros do Comitê de Política Monetária (COPOM). Pela manhã, o Presidente Roberto Campos Neto falou em tom duro (hawkish) em evento realizado com agentes de mercado.
Campos Neto apontou vetores de incerteza em relação à inflação doméstica e destacou o uso do termo “desancoradas” ao se referir às expectativas de inflação futura.
Em relação ao fiscal, o Presidente afirmou que 80% das respostas do questionário do Copom indicaram uma piora no cenário fiscal e que o aumento esperado da trajetória da dívida pelo mercado tem gerado prêmio de risco na curva de juros.
Em seguida, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo seguiu a linha cautelosa de Campos Neto e afirmou que “tem muito valor” em uma decisão unânime do Copom. Galípolo ainda afirmou que não cabe discussão em relação à meta de inflação.
As falas consensuais dos membros do COPOM contribuíram grandemente para a melhora observada nos ativos de risco brasileiros durante o dia.
Na agenda das autoridades de hoje (7), teremos novamente o Presidente Campos Neto (10h30), Gabriel Galípolo (12h) e Paulo Picchetti (9h) em eventos abertos à imprensa.
3:05 – Em busca de credibilidade fiscal
Enquanto o Banco Central converge novamente para um consenso, no âmbito fiscal, a necessidade de aumento da arrecadação do governo gera muito ruído.
Na terça-feira (4), o presidente Lula barrou a cobrança de imposto de herança (ITCMD) sobre aplicação de previdência, contrariando recomendações da área técnica à frente da reforma tributária.
Em entrevista coletiva, o secretário extraordinário do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, confirmou que a decisão foi política, após diversos questionamentos dos jornalistas.
No mesmo dia, foi assinada a MP 1.227/2024 que limita o uso de créditos de PIS e da Cofins, em uma medida para bancar a desoneração da folha salarial de 17 setores da economia e de municípios até 2027.
Segundo a Receita Federal, a desoneração deve custar R$26,3 bilhões e as medidas do governo devem gerar R$29,3 bilhões aos cofres públicos.
Já na quarta-feira (5) a noite, o Senado aprovou o Mover e confirmou taxação de 20% para compras de até US$50 do exterior. Agora, o Comitê Nacional de Secretários Estaduais da Fazenda (Comsefaz) quer propor o aumento de 17% para 20% do ICMS sobre compras internacionais.
As manchetes de quinta-feira (6) revelaram grande insatisfação em relação à limitação do uso de créditos de PIS e da Cofins, por diversas entidades do setor de agronegócio.
A MP tem sido chamada de “MP do fim do mundo” pelos líderes desse setor que pediram ao Presidente do Senado a devolução da medida ao Governo.
Em uma corrida para achar alternativas para a MP, foi cogitada uma nova edição da repatriação de recursos, porém, a medida teria um impacto insignificante de aumento de arrecadação.
Do lado da despesa, repercute ainda nesta manhã o corte de despesas não obrigatórias na casa de R$5,7 bilhões do orçamento do Farmácia Popular, Auxílio Gás, obras em rodovias, PF e Exército. Esse corte é fruto do limite no reajuste de crescimento de despesas pelo índice de preços corrente do arcabouço fiscal. Na contramão, houve aumento de previsão de gastos com previdência na casa de R$13 bilhões.
Nos bastidores, os esforços da Fazenda em prol do aumento da arrecadação e os cortes de despesas não obrigatórias têm encontrado bastante resistência política, sinais de esgotamento no Congresso e batalhas dentro e fora de Brasília.