ENQUANTO ISSO, NOS MERCADOS INTERNACIONAIS…
Ontem tivemos a divulgação do PIB do Brasil no primeiro trimestre de 2024, com um crescimento de 0,8% na comparação com o quarto trimestre do ano passado. O número veio acima das estimativas dos analistas, que projetavam uma alta de 0,7% no período.
Um aumento melhor do que o esperado é, de fato, uma boa notícia. Mas isso não significa que tudo esteja resolvido aqui por terras brasilis…
Isso porque o maior crescimento acabou pressionando levemente para cima a curva de juros, com a percepção de que o Banco Central poderia ter mais dificuldade para combater a inflação.
E não bastasse os nossos próprios problemas, o cenário exterior também não ajudou, com a forte queda das commodities puxando para baixo o principal índice da Bolsa brasileira: o Ibovespa encerrou o dia com queda de 0,19%, nos 121.809 pontos.
Lá fora, o dia também foi de extrema volatilidade, com os principais índices americanos alternando entre perdas e ganhos ao longo do pregão. Ainda assim, conseguiram encerrar o dia no positivo: S&P 500, +0,15%; Nasdaq, +0,17%; e Dow Jones, +0,36%.
00:51 — "Ééééé, é do Brasil!"
A performance negativa do índice brasileiro comparado com os americanos acentuou ainda mais a diferença no ano. Enquanto o S&P 500 e o Nasdaq se valorizam mais de 10% em 2024, o Ibovespa amarga perdas de 9% no período.
E a situação fica ainda pior quando colocamos a variação do dólar na conta.
Depois de começar o ano abaixo dos R$4,90, as incertezas do lado fiscal brasileiro somado à revisão de menos cortes nos juros americanos por parte do Federal Reserve fez com que a moeda americana passasse a ser negociada nesses últimos dias perto dos R$5,30.
Dessa forma, o Ibovespa medido em dólares apresenta desvalorização de mais de 16%, a pior performance dentre as principais bolsas no mundo no ano.
A segunda pior colocada, a do México (com queda de 6% em moeda local e 11% em dólares) só obteve tal posto após as eleições ocorridas no último final de semana, na qual a candidata governista Claudia Sheinbaum ganhou com ampla vantagem – além de ter feito maioria tanto na Câmara como no Senado –, o que levantou o receio dos investidores de que conseguiria aprovar medidas populistas.
01:21 — Bota casaco, tira casaco
A indefinição acerca da política monetária nos Estados Unidos também tem dificultado a vida dos economistas que (ainda) tentam projetar a cotação da moeda americana.
Isso porque após começar o ano com expectativas de seis a sete cortes na Fed Funds Rates (a taxa básica de juros americana), atualmente o mercado precifica, no máximo, dois cortes até o final do ano.
E mesmo assim essas apostas variam ao sabor dos dados econômicos divulgados. Ontem, por exemplo, o relatório JOLTS mostrou que o número de vagas de trabalho disponíveis em abril totalizava 8,059 milhões – menor do que o projetado (8,350 milhões) e do que o número anterior (8,488 milhões, revisado para 8,355 milhões).
Além disso, alguns dados divulgados na segunda reforçaram a ideia de uma desaceleração da economia na Terra do Tio Sam, como os gastos da construção retraindo (-0,1%, ante +0,2% esperado) e do ISM da indústria (48,7 vs. 49,5 esperado).
As apostas de um corte de juros na reunião de setembro, que uma semana atrás tinha 42% de probabilidade de acordo com o CME FedWatch Tool, passaram para mais de 55% de chance.
Mas é importante ter em mente que alguns membros do Federal Reserve tem pontuado que gostariam de ver "vários meses" com bons dados de inflação para ficarem tranquilos com o início do afrouxamento monetário – sendo que alguns enxergam apenas um corte esse ano.
E com a possibilidade de um juro mais alto por mais tempo na Terra do Tio Sam, somado a divergência com outros BCs do mundo desenvolvido (o Banco Central Europeu deve iniciar o corte de juros já na reunião deste mês), é capaz de continuarmos vendo um dólar forte ao redor do mundo.
02:47 — A ajuda pode vir de onde a gente menos espera, mas…
A forte desvalorização nos preços das commodities, principalmente o petróleo, pode ajudar a controlar a inflação nos Estados Unidos e dar parte do conforto necessário para os formuladores de política monetária iniciarem o afrouxamento monetário.
Ainda que a decisão de manutenção dos cortes pela OPEP era altamente esperada (que hoje está perto dos 5,8 milhões de barris diários), o comunicado pontuou que os cortes voluntários (que totalizam 2,2 milhões de barris) seriam prolongados até setembro e, a partir de então, retomados ao longo dos próximos doze meses.
Esse possível aumento inesperado da produção ainda em 2024 fez com que o preço do barril de petróleo tivesse forte queda na segunda (-4%) e ontem (-1%), voltando para perto dos US$70/barril.
Só que a retomada da produção cortada involuntariamente é condicionada às condições de mercado. Caso o preço do petróleo continue a se desvalorizar, entendo que a OPEP pode facilmente anunciar que estenderá tais cortes – e, possivelmente veremos o barril se valorizar neste dia.
Mas o cenário de alguns analistas, de que o petróleo poderia chegar aos US$100 neste ano, parece improvável no momento. Um intervalo entre US$70 e US$90 me parece o mais plausível atualmente, com uma retomada nos preços somente no caso de um recrudescimento das tensões no Oriente Médio.
04:03 — No aguardo de uma ChipBrás (ou uma IABrás)
Parte importante da valorização nas bolsas internacionais no ano está ligada à temática de Inteligência Artificial – que, com muita boa vontade, dificilmente encontraremos na Bolsa brasileira.
Em maio, os setores com melhores performances foram Tecnologia de Informação, Serviços de Comunicação (com um grande peso em Alphabet e Meta) e Utilities. Esta última, ainda que sofra com os juros mais altos, se beneficiou da leitura dos investidores de que essa tecnologia demandará mais energia do que o sistema fornece atualmente.
Mas o grosso do movimento tem vindo especificamente das empresas de semicondutores.
O índice SOX, composto por companhias desse segmento, apresenta valorização de mais de 22% em 2024 – em grande parte pela forte valorização das ações da Nvidia, que mais do que dobraram no ínterim.
E, dado as perspectivas para o maior desenvolvimento e utilização da IA nos próximos anos, ainda é possível ver algum desses ativos no mercado internacional entregando bons resultados ao longo do ano.