EM DIA DE PAYROLL LÁ FORA, O INVESTIDOR LOCAL SÓ PENSA EM UMA COISA…
Hoje é dia da divulgação do relatório de emprego nos EUA, o conhecido payroll, marcando um momento decisivo que reflete a criação de quase 1,6 milhão de empregos desde meados do ano passado.
Esse fortalecimento do mercado de trabalho sinaliza um dinamismo econômico, porém, traz um desafio para o controle da inflação, complicando a tarefa do Federal Reserve de reduzir as taxas de juros.
Dessa forma, a relevância dos dados divulgados hoje está em pé de igualdade com as recentes métricas de inflação, sublinhando o delicado equilíbrio que o Fed precisa gerenciar.
Além disso, após um dia agitado com declarações de sete integrantes do Fed, a expectativa é de mais intervenções que podem influenciar o mercado, embora provavelmente sem o mesmo impacto de ontem.
Nos mercados internacionais, especialmente na Ásia e na Europa, o cenário é de queda, refletindo preocupações globais. A atenção na Europa se volta especialmente para os números mais fracos do que o esperado das encomendas industriais alemãs de fevereiro.
Contrariando a tendência, os futuros nos EUA exibem uma ligeira alta. No campo do petróleo, o preço ultrapassando os US$ 90 por barril adiciona uma camada extra de complexidade, impulsionado por tensões geopolíticas.
No Brasil, essa alta poderia ser uma vantagem não fossem as turbulências políticas envolvendo a Petrobras, que prometem ser um foco de atenção renovado no cenário local.
A ver…
00:45 — Lula, o presidente da Petrobras (e do Brasil)
Por aqui, no último pregão, o Ibovespa registrou uma modesta alta de 0,09%, fechando em 127.427 pontos, contrastando com a tendência negativa dos mercados de Nova York.
Esse leve aumento camuflou a turbulência experimentada durante o dia, amplamente motivada por rumores acerca de mudanças no comando da Petrobras, que viu suas ações caírem 1,41%.
O mercado foi abalado por especulações de que Jean-Paul Prates poderia ser substituído por Aloizio Mercadante, atual presidente do BNDES, com Nelson Barbosa assumindo o cargo de Mercadante.
As incessantes notícias sobre a Petrobras provocaram tamanha agitação nas ações dentro do Ibovespa que a CVM decidiu abrir uma investigação sobre as circunstâncias.
Essa situação evidencia a intensa pressão sobre Prates. Reitero: a alternativa a ele pode ser bem mais desafiadora. A disputa entre a ala política do governo e a liderança da Petrobras não é novidade. Lula parece decidido a encerrar esse capítulo.
Haddad, previamente visto como um suporte para Prates, provavelmente não se envolverá neste embate, dada a multiplicidade de frentes em que já está engajado, precisando preservar seu capital político.
Uma nota positiva emergiu dessa confusão: Lula acenou positivamente para a liberação dos dividendos extraordinários da Petrobras, o que, mesmo que parcialmente, representará provavelmente uma boa injeção nos cofres públicos (R$ 6 bilhões ao que tudo indica). Embora a distribuição possa ser limitada à metade do valor total esperado, o gesto é bem-vindo por Haddad.
Caso Mercadante assuma a presidência da Petrobras, enfrentará imediatamente o desafio de ajustar a defasagem de 20% no preço da gasolina.
A capacidade de Mercadante para navegar por essas águas turbulentas será crucial, assumindo que sua nomeação se concretize.
01:39 — E esse payroll?
Nos Estados Unidos, a antecipação em torno do iminente relatório mensal de empregos aumenta após recentes solicitações de seguro-desemprego superarem as expectativas.
Espera-se um acréscimo de 200 mil empregos nas folhas de pagamento não-agrícolas para março, sucedendo um aumento de 275 mil em fevereiro.
A projeção sugere uma diminuição da taxa de desemprego para 3,8%, vindo de 3,9%, e um crescimento do salário médio por hora de 0,3% no mês e 4,1% no comparativo anual.
Um resultado superior ao antecipado poderia intensificar a pressão sobre a curva de juros, especialmente problemático quando consideramos que os rendimentos dos títulos de 10 anos ultrapassaram a marca de 4,30%. Por outro lado, um relatório alinhado ou abaixo das expectativas poderia oferecer um respiro necessário.
Na véspera, uma enxurrada de declarações por parte de mais de seis membros do Federal Reserve agitou o mercado, resultando em uma ponderação significativa para os investidores. Não é surpreendente, então, testemunhar a retração observada.
O S&P 500, abrangendo todos os seus 11 setores, viu uma queda, com 430 de suas ações declinando. O índice teve um decréscimo de 1,2%, mesmo após um início promissor de 0,9% pela manhã, aproximando-se de um recorde histórico.
Esta retração acompanhou quedas de 1,4% tanto para o Dow Jones Industrial Average quanto para o Nasdaq Composite.
Destaca-se a observação de Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis, que pontuou a possibilidade de cortes nas taxas de juros não serem necessários este ano caso o progresso contra a inflação não se materialize. O relatório de hoje tem o potencial de consolidar ou abalar essa visão.
02:31 — De volta aos 90 dólares por barril
O mercado global de petróleo está em alerta máximo, com o Brent ultrapassando os US$ 90 por barril, atingindo valores não vistos desde outubro, em virtude do agravamento das tensões geopolíticas no Oriente Médio, impulsionando a aversão ao risco entre investidores.
A situação se intensificou quando o presidente Biden, em uma ligação com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, apelou por um cessar-fogo imediato em Gaza.
Esta foi a primeira conversa entre os dois líderes após Israel reconhecer sua responsabilidade na morte de sete trabalhadores humanitários durante um ataque aéreo na Síria, com Biden enfatizando a necessidade de Israel tomar medidas concretas para mitigar o sofrimento civil causado pelo conflito.
O temor predominante no mercado é o risco de um conflito armado direto entre Israel e Irã, elevando este momento a um dos mais críticos desde o início das tensões.
Uma potencial guerra entre as nações poderia disparar os preços do petróleo de forma dramática, considerando a capacidade produtiva do Irã de 3,1 milhões de barris por dia.
Uma das consequências mais drásticas seria o possível fechamento do Estreito de Ormuz pelos iranianos, limitando severamente o acesso global ao petróleo produzido pelas economias do Golfo Pérsico.
Embora as relações na região tenham visto melhorias significativas nos últimos anos, reduzindo a probabilidade de um confronto total, o risco de escalada bélica ganhou novas dimensões.
03:26 — E onde ficam os EUA nessa história de energia?
Recentemente, destaquei o notável volume de produção de petróleo nos Estados Unidos, que se posiciona como o maior produtor global.
Uma narrativa paralela se desenrola com a produção de gás natural no país, que tem atingido níveis recordes desde a recuperação da crise pandêmica em 2021.
No ano passado, os Estados Unidos se destacaram ao exportar uma quantidade significativa de gás natural, superando suas importações, com grande parte dessas exportações sendo de gás natural liquefeito (GNL) destinado à Europa. Essa movimentação visou mitigar a escassez energética provocada pela redução do fornecimento russo, decorrente da invasão à Ucrânia por Vladimir Putin.
Os EUA conquistaram a posição de maior exportador mundial de GNL, superando a Austrália e o Qatar, e a expectativa é que sua capacidade exportadora continue a expandir.
Paralelamente, os Estados Unidos têm avançado na adoção de energias renováveis, como solar e armazenamento por baterias, com um crescimento impressionante.
Prevê-se que estas fontes respondam por 81% do acréscimo na capacidade de geração elétrica do país este ano.
Esse avanço decorre principalmente da queda acentuada nos custos dessas tecnologias, graças a curvas de aprendizado que indicam um potencial de redução de preço ainda maior à medida que sua implementação se amplia.
Isso, por sua vez, impulsiona uma maior adoção, tornando-as mais competitivas e perpetuando o ciclo de crescimento. Em resumo, os Estados Unidos estão se consolidando, de forma discreta, porém assertiva, como a maior superpotência energética do planeta.
04:13 — Um mundo em conflito
Ao observar a guerra entre Ucrânia e Rússia, juntamente com as tensões no Oriente Médio, identificamos o que é conhecido como "risco de cauda" em ambos os cenários geopolíticos.
Esse termo descreve eventos de baixa probabilidade, mas que, caso ocorram, podem ter efeitos devastadores.
No contexto ucraniano, a preocupação primordial era uma potencial contraofensiva que poderia comprometer a presença russa na Crimeia.
Havia o temor de que, diante da possibilidade de perder essa região, o presidente Vladimir Putin pudesse tomar medidas extremas, possivelmente envolvendo a OTAN e intensificando o conflito.
Atualmente, a dinâmica militar favorece a Rússia, que dispõe de recursos suficientes, diferentemente da Ucrânia, que enfrenta carências. Isso sugere um caminho para a divisão formal do território ucraniano.
No Oriente Médio, a preocupação é com a possibilidade de um conflito ampliado. Em Israel, após os ataques do Hamas, existe um consenso sobre a necessidade de assegurar a segurança nacional, com expectativas de que operações na Faixa de Gaza prossigam.
O foco pode, então, se voltar para o Hezbollah e o Líbano. Contudo, a questão do Irã, que tem confrontado Israel indiretamente, é igualmente complexa.
Embora pareça haver um entendimento mútuo entre as principais potências da região – Irã, Israel, Arábia Saudita e Estados Unidos – de evitar um conflito de maior escala, que impactaria significativamente os preços globais do petróleo, permanece a incerteza sobre uma mudança de postura por parte do Irã.