VOLTANDO AOS TRABALHOS DEPOIS DA PÁSCOA
Nesta segunda-feira, mercados como Hong Kong, Nova Zelândia e Austrália estão em pausa por conta do feriado de Páscoa, enquanto Japão e China operaram normalmente, com movimentos mistos devido à menor liquidez pela ausência de Hong Kong.
Com a Europa e o Reino Unido ainda de folga, os Estados Unidos e o Brasil retomam suas atividades, antecipando uma semana globalmente mais calma no mercado.
A última semana, apesar de tranquila, trouxe o índice PCE dos EUA, que veio conforme esperado, minimizando o impacto das recentes declarações de Christopher Waller, do Fed, sobre a hesitação em iniciar cortes de juros já em junho.
Os futuros nos EUA iniciaram o dia positivamente, animados por indicadores de inflação moderada globalmente e pela recuperação da China, evidenciada pelos PMIs de março que superaram as expectativas.
Esses dados sugerem uma estabilização no crescimento da China, uma notícia bem-vinda que pode repercutir positivamente no mercado de commodities e nos países que dependem da demanda chinesa.
Em suma, o cenário econômico apresenta-se construtivo, mantendo o mercado em uma perspectiva otimista.
A semana promete muitos dados que podem fortalecer essa percepção, dando alguma sustentação adicional aos ativos financeiros.
A ver…
00:48 — Os rumos do Brasil
Na última semana, o Ibovespa fechou a quinta-feira (28) com uma leve alta de 0,33%, marcando 128.106 pontos, apesar de ter recuado 4,53% no acumulado do primeiro trimestre.
sse movimento contrastou com a forte performance dos principais índices de ações em Nova York, impulsionados pelas expectativas de cortes nos juros nos Estados Unidos e por resultados econômicos e corporativos que surpreenderam positivamente.
O destaque ficou por conta de dados robustos do mercado de trabalho americano, o que sugere possíveis limitações para uma redução mais extensa dos juros.
No Brasil, a expectativa de uma taxa Selic final em torno de 9%-9,5% parece já estar ajustada nas projeções de mercado, refletindo a crença de que juros mais baixos globalmente continuam apoiando os investimentos em ativos de risco.
Estamos em uma etapa avançada do ciclo de redução da Selic, enquanto a inflação brasileira demonstra uma persistência maior que a antecipada, particularmente em setores mais vinculados à atividade econômica.
Esse cenário obrigou o Banco Central do Brasil a adotar uma postura mais neutra, buscando maior margem para manobras futuras.
A divulgação da ata do Copom trouxe luz sobre as "incertezas domésticas", relacionando-as ao aumento do salário mínimo e aos impactos potenciais na inflação, sobretudo nos serviços.
Com a reunião do Copom de junho ainda incerta, os focos de atenção para a semana incluem a divulgação da produção industrial de fevereiro, na quarta-feira, e o resultado primário do setor público consolidado de fevereiro, na sexta-feira, elementos cruciais para as projeções futuras da política monetária nacional.
01:51 — As portas deviam estar abertas
Em um contexto global que aponta para um crescente isolacionismo, as perspectivas de progresso para o Brasil podem enfrentar desafios.
Vale a pena relembrar o exemplo da Rodada Doha, um esforço multilateral sob os auspícios da Organização Mundial do Comércio (OMC), iniciado em Doha, Catar, em 2001, com o objetivo de fomentar a liberalização do comércio mundial e promover o desenvolvimento global.
Essas negociações abrangiam temas críticos como agricultura, acesso a mercados, direitos de propriedade intelectual e serviços.
Contudo, devido à falta de consenso entre os países envolvidos, as negociações da Rodada Doha não obtiveram êxito, marcando o fim das discussões em 2015.
Este episódio destacou as complexidades e os desafios de se alcançar avanços significativos em acordos comerciais por meio de negociações baseadas em consenso, indicando uma mudança na direção para acordos mais focados em grupos específicos de países.
Apesar dos progressos realizados nas últimas décadas, o Brasil permanece entre os países mais protecionistas do mundo, com altas tarifas e uma série de barreiras não tarifárias.
Existe uma certa relutância do Brasil em se abrir mais significativamente ao comércio internacional e engajar-se de maneira mais profunda nos processos de globalização.
Com os recentes desenvolvimentos globais, essa postura tende a se fortalecer como um argumento para aqueles que preferem manter o país isolado, o que pode ter um impacto negativo na indústria nacional, apesar da agricultura ainda encontrar caminhos para se sobressair.
É crucial que o Brasil não perca a oportunidade de se engajar na tendência de regionalização, buscando alianças estratégicas que possam fortalecer sua posição no comércio internacional e garantir seu desenvolvimento em um mundo cada vez mais dividido.
02:45 — Dados de emprego
Nos EUA, a decisão do Federal Reserve em junho permanece incerta. Recentemente, o indicador de inflação mais monitorado pelo Fed apresentou uma desaceleração para 0,3% em fevereiro, um valor abaixo do registrado em janeiro e das expectativas de 0,4%.
Em termos anuais, o índice PCE (despesas de consumo pessoal) cresceu 2,5% e seu núcleo, que exclui alimentos e energia, 2,8%, ambos atendendo às expectativas dos analistas.
Ainda assim, apesar dos números de inflação estarem controlados e em consonância com as previsões de mercado, o presidente do Fed, Jerome Powell, optou por não fazer promessas firmes durante sua aparição na Sexta-Feira Santa.
O foco do mercado agora se volta para as atualizações sobre o mercado de trabalho. Está programada para terça-feira a divulgação da última Pesquisa sobre Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho (JOLTS), seguida pelo relatório de emprego privado da ADP referente a março, na quarta-feira.
O destaque da semana será a divulgação dos dados sobre emprego fora do setor agrícola nos EUA, prevista para sexta-feira.
Os economistas antecipam um acréscimo de 216 mil postos de trabalho em março, indicando uma desaceleração em comparação com os 275 mil empregos adicionados em fevereiro. Números abaixo do esperado podem dar força ao mercado.
03:42 — O que está acontecendo com o iene?
O iene japonês está sendo negociado um pouco acima de US$ 151, marcando uma das suas taxas mais baixas em 34 anos e gerando rumores sobre possível intervenção do governo.
O Japão lida há tempos com um dilema econômico pouco comum: a deflação.
Enquanto a maioria dos bancos centrais pelo mundo elevou as taxas de juros para enfrentar a inflação, o Japão só recentemente encerrou sua política de juros negativos.
Teoricamente, o iene deveria valorizar-se com a alta dos juros, pois dinheiro mais caro implica menor oferta – a lógica da oferta e demanda deveria prevalecer. No entanto, o resultado esperado não se concretizou.
O Banco do Japão, cauteloso para não desencorajar o consumo, reforçou seu objetivo de manter os custos de empréstimo baixos, num movimento que pode ser interpretado como "subimos os juros uma vez e por ora é só".
Enquanto isso, o Federal Reserve (Fed) americano indica que manterá as taxas de juros elevadas por mais tempo, mantendo o dólar mais valorizado em comparação ao iene. Diante dessa perspectiva, os investidores começaram a se desfazer de seus ienes em favor do dólar.
Um iene mais fraco complica a situação do primeiro-ministro Fumio Kishida, encarecendo as importações japonesas – notadamente as de energia.
04:33 — O que fazer com a Venezuela?
Mesmo com a atenção dos Estados Unidos voltada para a invasão russa à Ucrânia, os conflitos em Gaza e a tensão com a China, um problema mais próximo tem se mostrado igualmente complicado para o presidente Joe Biden: a Venezuela.
Nicolás Maduro, ditador do país, prepara-se para conduzir supostas eleições presidenciais sob crescentes suspeitas de fraude.
No ano passado, o governo Biden suavizou as sanções impostas a Caracas, esperando em troca a promessa de Maduro por eleições livres e justas.
A motivação por trás dessa concessão era permitir que a Venezuela aumentasse sua produção e venda de petróleo, contribuindo para estabilizar os preços da gasolina nos EUA.
No entanto, o cenário eleitoral na Venezuela está longe de refletir a promessa. A exclusão de María Corina Machado, uma proeminente figura da oposição, e sua sucessora menos conhecida, Corina Yoris, da disputa eleitoral, destaca ações autoritárias que são marcas registradas de regimes ditatoriais.
Maduro, ciente da insatisfação popular e temendo a perda do poder caso alternativas democráticas ganhem voz, parece recorrer a táticas para se manter no controle.
Recentemente, o Departamento de Estado americano condenou a violação do acordo por Maduro, sinalizando possíveis consequências, e até mesmo o Brasil expressou críticas a essas manobras, evidenciando preocupações globais com o declínio democrático.