Bom dia, pessoal. Investidores no Brasil acalentam a esperança de um momento decisivo para os ativos nacionais depois da prévia da inflação abaixo do esperado, mesmo diante de um cenário global que inicia o dia sob tensão.
A expectativa gira em torno das divulgações sobre o PIB dos EUA e o índice PCE de fevereiro, este último sendo a medida de inflação preferida pelo Fed.
Uma surpresa positiva nesses indicadores poderia reacender o otimismo que marcou o final do ano anterior.
Há também uma atenção especial voltada para o ânimo dos consumidores e do setor empresarial na Europa.
Na Ásia, as ações tiveram um desempenho contido nesta quarta-feira, reflexo das preocupações com a possibilidade de as taxas de juros americanas se manterem elevadas por um período prolongado.
Os mercados japoneses retrocederam dos recentes picos históricos, enquanto o ímpeto das ações de tecnologia arrefeceu.
Na China, a Country Garden, a maior desenvolvedora imobiliária privada do país, enfrenta desafios severos, revelando na quarta-feira sua luta contra uma solicitação de liquidação após falhar no pagamento de um empréstimo — mais uma notícia preocupante vinda do gigante asiático, com impacto negativo sobre as commodities.
A ver…
00:45 — Pontos de atenção são observados, mas o dado em si foi bom
A terça-feira marcou uma jornada de sucesso para os ativos brasileiros, impulsionados pelo resultado do IPCA-15 de fevereiro, que surpreendeu positivamente ao registrar um aumento de 0,78%, ligeiramente abaixo da expectativa de 0,82%.
Apesar de representar um incremento em relação aos 0,31% de janeiro, o resultado já era antecipado, influenciado por fatores como o ajuste nas mensalidades escolares, tarifas aéreas devido ao Carnaval e a incidência do ICMS sobre combustíveis.
O índice amenizou as preocupações quanto a um agravamento do panorama inflacionário, contribuindo para o declínio das taxas de juros, a valorização da bolsa e a redução do dólar.
Embora o indicador não tenha sido ideal, destacando-se a necessidade de monitoramento dos dados de serviços, a surpresa negativa nos preços dos alimentos foi recebida como um indicativo otimista.
Nesta quarta-feira, o foco se volta para a divulgação do IGP-M do mês, que, se apresentar resultados inferiores aos projetados e de qualidade superior, pode corroborar a tendência positiva, embora sua diminuição após cinco meses de alta já esteja parcialmente antecipada pelo mercado.
O ponto central reside na perspectiva de relaxamento da política de juros.
Melhores indicativos inflacionários sugerem uma taxa Selic mais próxima de 8,5% ou 9% até o próximo ano, em vez dos 9,5% ou 10%.
Este cenário está intrinsecamente atrelado ao início do ciclo de redução dos juros nos Estados Unidos, previsto para junho.
Enquanto essa definição não se concretiza, o real pode enfrentar desafios para se valorizar diante do dólar, embora mantenha sua robustez, respaldada pelos expressivos superávits comerciais e pela atratividade dos juros reais elevados, elementos que fortalecem a moeda nacional neste contexto.
01:49 — Vem PIBão aí?
No mercado norte-americano, o índice Nasdaq Composite interrompeu sua sequência de quedas consecutivas, exibindo uma resiliência notável apesar da ausência de um direcionamento claro do mercado.
Paralelamente, o índice Dow Jones Industrial Average registrou um declínio, refletindo o impacto de dados recentemente divulgados sobre bens duráveis e a confiança do consumidor, que vieram abaixo das expectativas.
Esses indicadores não necessariamente apontam para uma economia enfraquecida, mas sugerem uma tendência de arrefecimento ou, no mínimo, uma normalização.
Em um mercado que não precifica uma desaceleração, essas nuances representam um risco digno de atenção.
Portanto, é crucial manter um olhar atento à próxima divulgação da segunda estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre.
Qualquer revisão positiva pode ser interpretada de forma negativa pelos investidores, enquanto números alinhados às expectativas ou marginalmente inferiores podem ser recebidos de forma positiva, especialmente considerando a proximidade do anúncio do índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE).
Prevê-se uma desaceleração econômica nos EUA para 2024, apesar do consumo ainda vigoroso por parte da classe média. Independentemente do resultado, isso terá implicações diretas na postura agressiva atual em relação às taxas de juros.
Recentemente, parece que os investidores de renda fixa começaram a assimilar as expectativas do Federal Reserve em relação à redução das taxas de juros neste ano, antecipando-se a três ou quatro cortes de 25 pontos base a partir de junho.
02:48 — A dor de cabeça de Biden
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden tem se encontrado nesta semana com os quatro líderes congressistas mais influentes na Casa Branca esta semana.
O objetivo é superar o atual impasse e prevenir uma paralisação governamental parcial prevista para começar na sexta-feira.
Entre os líderes estão Mike Johnson, presidente da Câmara; Chuck Schumer, líder da maioria no Senado; Hakeem Jeffries, líder da minoria na Câmara; e Mitch McConnell, líder da minoria no Senado.
Eles discutem o detalhamento de 12 projetos de lei orçamentários, que somam US$ 1,6 trilhão, dependendo de extensões temporárias desde o final de setembro para impedir a paralisação.
A maioria dos departamentos federais enfrenta a escassez de fundos após a primeira metade de março, evidenciando a persistente novela fiscal dos EUA.
Adicionalmente, Biden visa argumentar a favor do pacote de ajuda externa recentemente aprovado pelo Senado, o qual inclui suporte à Ucrânia e Israel, assim como auxílio humanitário a Gaza.
Mike Johnson, no entanto, tem resistido a levar o projeto de lei à votação na Câmara, dominada pelos Republicanos, a não ser que haja um acordo com os Democratas sobre restrições na fronteira com o México.
Esse é mais um complicador na trama política que, por ora, parece sem resolução. A prioridade imediata é assegurar o funcionamento contínuo do governo.
Entretanto, o uso recorrente de "Resoluções Contínuas", prática comum nos EUA, mantém os níveis de gastos anteriores e os aumenta em 8% anualmente, um dos motivos pelos quais a dívida pública tem crescido exponencialmente desde 2008.
03:33 — Desordem global
Atualmente, o mundo parece estar se encaminhando para uma era de incertezas crescentes, com um aumento potencial no risco de desordem, caos e adversidades.
Essa perspectiva é compartilhada por figuras notáveis, como o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, que destaca a possibilidade de um agravamento da desordem global.
De acordo com essa visão, há uma preocupação de que os mercados financeiros possam estar subestimando os riscos associados a tumultos políticos e sociais, que surgem do populismo e da erosão do Estado de Direito.
Embora seja desafiador determinar até que ponto esses riscos estão refletidos nos preços de mercado, é inegável que as tensões geopolíticas têm se intensificado, exemplificadas pelos conflitos entre Rússia e Ucrânia, e entre Israel e Hamas.
Além disso, nos Estados Unidos, as tensões políticas internas poderiam se agravar com a aproximação das eleições presidenciais de novembro, em um cenário já marcado por políticas populistas.
Estas políticas incluem o protecionismo e as restrições à livre circulação de bens, capitais e pessoas, que historicamente tendem a prejudicar o desempenho econômico a longo prazo.
Vivemos, sem dúvida, em tempos complexos e imprevisíveis.
04:34 — Problemas estruturais
Os mercados acionários da China, especificamente os índices Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite, exibiram um comportamento cauteloso, limitando os avanços que tinham no início da sessão.
Isso ocorreu em meio ao crescente nervosismo sobre o desafiador cenário do mercado imobiliário chinês.
Em destaque, a Country Garden Holdings, uma construtora em dificuldades, encontrou-se no olho do furacão devido a uma ação judicial em Hong Kong, provocada por sua falha em quitar um empréstimo de US$ 200 milhões.
A situação, que será avaliada em tribunal em meados de maio, evidencia a posição vulnerável da Country Garden dentro de uma crise imobiliária que se aprofunda na China.
Esse cenário lembra o caso da Evergrande, refletindo os desafios enfrentados pelo setor com a diminuição das vendas e a erosão da confiança dos consumidores.
A política cambial da China também desempenha um papel crucial nesta equação. Há duas décadas, o país manteve sua moeda intencionalmente desvalorizada, uma estratégia que se provou eficaz para dominar as exportações globais.
No entanto, esses tempos mudaram. Atualmente, o desafio é impedir que o yuan se desvalorize excessivamente.
Embora uma moeda mais fraca facilite as exportações, num contexto de tensões comerciais crescentes, preservar o poder de compra torna-se mais crucial.
Este cenário é complicado pelo fato de que os rendimentos dos títulos chineses estão significativamente abaixo dos que são oferecidos pelo dólar, uma inversão de como as coisas costumavam ser, contribuindo para a pressão sobre o dólar.
Para a China, esse dilema sublinha um deslocamento preocupante na sua posição na economia global.