ALGUÉM SEGURA ESSE RALI: A VIDA É MUITO CURTA PARA SHORTEAR O S&P
Na ausência de eventos significativos no cenário internacional, investidores estrangeiros estão aproveitando o momento para ajustar as reações exageradas vistas anteriormente. Os principais índices do mercado europeu mostram-se próximos da estabilidade, enquanto os futuros dos EUA apresentam queda, corrigindo o impulso provocado pela euforia em torno da Nvidia. Observou-se um desempenho recorde em diversos mercados, desde a Ásia até a Europa e os Estados Unidos, entre quinta e sexta-feira, refletindo um otimismo acentuado no ambiente de mercado. Notavelmente, os mercados asiáticos encerraram o dia sem uma tendência unificada, influenciados pela redução da liquidez devido a um feriado em Tóquio.
Paralelamente aos resultados corporativos, há reflexões importantes a serem feitas sobre a política monetária do Federal Reserve. Recentemente, Christopher Waller, um dos membros do Fed, indicou que não existe urgência para a redução das taxas de juros, sugerindo a manutenção de juros elevados por um período mais extenso. Do outro lado do Atlântico, os dados sobre as expectativas de inflação na Zona do Euro surgem como um fator adicional, que pode ajudar a calibrar as expectativas dos investidores quanto às futuras ações do Banco Central Europeu, especialmente em um momento que marca mais um trimestre de retração no PIB alemão.
A ver...
00:45 — Se mantendo acima dos 130 mil pontos
No mercado brasileiro, o Ibovespa tem mantido sua posição acima dos 130 mil pontos, ainda que com uma participação mais reservada no rali global. As limitações internas podem ser atribuídas, em grande parte, às disputas fiscais nacionais, especialmente após a decisão favorável ao Congresso na contenda sobre o agendamento das emendas parlamentares. Ontem, o governo cedeu às exigências do Congresso, concordando em aderir ao cronograma de pagamento de emendas estipulado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Isso obriga o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a desembolsar mais de R$ 14 bilhões em emendas parlamentares até o dia 30 de junho, o último prazo antes das eleições municipais. Nem mesmo os positivos dados de arrecadação de janeiro, que já haviam sido antecipados pelo mercado, forneceram um pilar de apoio nesse contexto.
Além disso, o ambiente é tensionado pelo noticiário corporativo, particularmente após os resultados aquém do esperado da Vale. A expectativa já era de números não muito animadores, mas o lucro líquido de US$ 2,4 bilhões no último trimestre de 2023, significativamente abaixo das previsões e com uma redução anual de mais de 30%, trouxe uma decepção adicional, exacerbada por provisões adicionais ligadas ao desastre da barragem de Samarco em Mariana, em 2015.
As ADRs da Vale em Nova York fecharam o pós-mercado com uma leve queda e mostram sinais de recuperação no pré-mercado desta manhã. Outro ponto de atenção é a indefinição na sucessão do CEO Eduardo Bartolomeu, cujo mandato se encerra em maio, criando incertezas sobre o futuro direcionamento da empresa. O ambiente geral é desfavorável, também influenciado pela postura da China, que limita um diálogo mais positivo com o setor. Dada a importância da Vale no Ibovespa, sua situação impacta significativamente o mercado como um todo.
01:39 — Há espaço para mais?
Na quinta-feira, os três principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos alcançaram patamares inéditos, impulsionados pelos resultados excepcionais da Nvidia, que reforçaram a convicção de que os progressos em inteligência artificial (IA) poderão incrementar os lucros e expandir ainda mais o potencial de valorização das ações. O S&P 500 registrou seu décimo segundo recorde do ano de 2024, o Nasdaq 100 avançou 3%, e o Dow Jones ultrapassou a marca dos 39.000 pontos pela primeira vez. Paralelamente, as ações da Nvidia experimentaram uma alta de 16%, agregando aproximadamente US$ 277 bilhões ao seu valor de mercado em um único dia, um feito sem precedentes que superou o aumento de US$ 197 bilhões alcançado pela Meta, empresa mãe do Facebook, no começo do mês. O impulso parece continuar, visto que as ações da Nvidia apresentam alta no pré-mercado de hoje, mesmo com uma tendência de correção nos índices.
Contudo, o avanço para novas alturas não se limitou ao setor tecnológico. Um expressivo número de 55 empresas do S&P 500 também atingiu novos recordes na mesma sessão, abrangendo uma diversificada gama de indústrias e setores, como Costco Wholesale, Berkshire Hathaway, JP Morgan Chase, Merck e General Dynamics, demonstrando que o rali, inicialmente concentrado em tecnologia, agora se estende por uma vasta seção do mercado. Além disso, a mensagem de alguns membros do Federal Reserve (Fed) na quinta-feira, de que o banco central americano está no caminho certo para diminuir as taxas de juros ainda este ano, apesar de uma postura geral mais cautelosa, ofereceu um respiro aos investidores preocupados com as dinâmicas macroeconômicas.
02:28 — O recorde japonês
Com a bolsa de Tóquio fechada devido a um feriado, os demais mercados asiáticos registraram altas, impulsionados pelo recente rali da Nvidia em Nova York. Esse contexto oferece uma oportunidade para refletir sobre o desempenho notável do índice Nikkei 225 do Japão, que atingiu um novo recorde histórico na quinta-feira, superando sua máxima anterior de 1989. O otimismo em torno do índice é alimentado por uma combinação de políticas de estímulo do banco central do país e o término de longos períodos de deflação que marcaram a economia japonesa. Similaridades podem ser traçadas com a crise imobiliária do início dos anos 1990 no Japão, que mergulhou o país em uma recessão prolongada e um período de deflação, em um cenário que lembra os desafios atuais enfrentados pela China, indicativos de uma saturação no modelo de crescimento tipicamente asiático. O envelhecimento da população japonesa agravou esses desafios ao longo dos anos, mas a situação começou a se alterar com o término da pandemia de Covid-19, que introduziu inflação no sistema e pressionou as empresas a aumentarem sua produtividade e rentabilidade.
Curiosamente, o recorde do Nikkei 225 ocorre em um momento em que a economia japonesa acaba de entrar em recessão no segundo semestre de 2023. No entanto, isso não tem impedido o avanço das ações japonesas, especialmente considerando que o Japão frequentemente experimenta contrações econômicas. Nos últimos 18 anos, houve uma contração econômica em pelo menos um trimestre por ano em 17 desses anos. Isso se deve, em grande parte, ao baixo potencial de crescimento do Japão, exacerbado por desafios demográficos e de produtividade, facilitando a entrada da economia em recessão. Historicamente, as ações japonesas não têm reagido de maneira uniforme às recessões, apresentando um desempenho variado durante crises econômicas. Olhando para o futuro, com a economia em recessão, é improvável que o Banco do Japão adote políticas contracionistas, o que tende a ser favorável para o mercado de ações.
03:41 — E na Europa também!
O índice Stoxx 600, referência para o mercado europeu, também atingiu novos patamares históricos, necessitando de pouco mais de dois anos para alcançar essa marca, um feito notavelmente mais rápido em comparação com os mais de 30 anos de espera enfrentados pelos investidores no Japão. No entanto, esse marco para a Europa vem em um momento paradoxal, visto que, apesar do recorde, há uma tendência de retirada de capital da região por parte dos investidores. De fato, os fundos de ações europeus experimentaram resgates contínuos por, no mínimo, sete semanas seguidas. Tal cenário dificulta a defesa de um entusiasmo profundo por parte dos investidores em relação a esse desempenho histórico.
Ainda assim, quanto às avaliações, os ativos europeus estão sendo negociados a aproximadamente 13,6 vezes os lucros futuros, um valor que se situa abaixo da média dos últimos dez anos para o índice. Isso indica que, mesmo diante de um recorde, o Stoxx 600 está sendo avaliado a preços relativamente acessíveis para os padrões europeus (para contextualizar, o índice estava avaliado em pouco mais de 16 vezes os lucros futuros quando atingiu seu pico anterior, em janeiro de 2022). Este cenário sugere que ainda pode haver margem para valorização, especialmente considerando a tendência de queda nas taxas de juros observada este ano.
04:36 — Restrições de oferta e demanda global
Nesta manhã, observamos uma queda no preço do barril de petróleo, embora a trajetória recente tenha sido de ganhos, desafiando as preocupações com a demanda no curto prazo. Esse cenário pode ser atribuído a três principais fatores. Primeiramente, as tensões geopolíticas, especialmente na Rússia e nos países do Oriente Médio, influenciam negativamente a oferta de petróleo, gerando temores de possíveis interrupções. Em segundo lugar, indicadores apontam para um aperto na oferta do mercado físico de petróleo. Um exemplo claro disso foi o aumento menor do que o esperado nos estoques de petróleo dos Estados Unidos na última semana: um acréscimo de 3,51 milhões de barris frente a uma projeção de aumento de 3,9 milhões de barris, enquanto os estoques de gasolina diminuíram 293 mil barris.
Adicionalmente, até dezembro de 2023, a demanda global por petróleo continuou a bater recordes, com dezembro marcando o oitavo mês consecutivo de 2023 a registrar um pico histórico. Esse dinamismo se reflete nos preços mais elevados dos contratos futuros de curto prazo, sinalizando um mercado fortalecido. Portanto, apesar de os dados recentes não alterarem drasticamente a percepção de mercado, eles oferecem um sinal de estabilidade para aqueles que temiam um declínio acentuado na demanda. Embora exista a preocupação de que uma potencial recessão possa limitar a capacidade do petróleo de manter-se em níveis altos, certos fatores de suporte atuam para evitar uma queda mais pronunciada nos preços. Isso é uma notícia positiva para o Brasil, que espera se beneficiar das exportações de petróleo nos próximos anos.