PASSAGEIROS DA AGONIA: ESTÁ DIFÍCIL TER UMA SEQUÊNCIA DE DIAS BONS NO BRASIL
Esta semana confirmou a tendência de redução das taxas de juros nas principais economias globais, exemplificada por movimentos na Suíça, que diminuiu sua taxa de juros em 25 pontos-base para 1,50%, no Brasil, com um corte de 50 pontos para 10,75%, e no México, que reduziu sua taxa em 25 pontos para 11%.
Paralelamente, o Banco da Inglaterra, o Federal Reserve dos EUA e o Banco Popular da China optaram por manter suas taxas estáveis.
Contudo, antecipa-se que o próximo passo dessas instituições será reduzir as taxas, alinhando-se ao ciclo de desinflação.
Apesar do otimismo no Brasil em resposta à postura flexível ("dovish") adotada por Jerome Powell durante sua coletiva na quarta-feira, não conseguimos sustentar a atmosfera positiva.
Os mercados acionários da Ásia enfrentaram uma queda acentuada nesta sexta-feira, com os mercados chineses experimentando as maiores perdas, influenciados por preocupações com potenciais novas regulações adversas tanto internas quanto internacionais.
Uma recuperação inicial no Nikkei 225 do Japão foi atenuada por dados inflacionários fortes.
Essas dinâmicas regionais levaram os mercados asiáticos a desconsiderar em grande parte os ganhos contínuos observados nos mercados dos EUA.
No entanto, nesta manhã, observou-se um retorno ao otimismo nos mercados europeus e nos futuros dos EUA.
Em contraste, as commodities, incluindo o petróleo e o minério de ferro, apresentaram desempenho negativo.
A ver…
00:52 — As questões fiscais
Na quinta-feira, o Ibovespa registrou uma queda de 0,75%, fechando em 128.158 pontos, divergindo da tendência positiva observada nos principais índices de Wall Street.
A baixa no índice brasileiro foi liderada pela queda nos preços das ações de empresas de grande porte, como Petrobras, Vale e os principais bancos do país.
Nesta sexta-feira, espera-se a divulgação do relatório fiscal do primeiro bimestre do ano, que deve incluir uma decisão sobre a possibilidade de restrição nos gastos governamentais.
Ontem, foi revelado que a arrecadação federal até fevereiro de 2024 aumentou 8,82% em termos reais em comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 467 bilhões, o maior valor para o período desde o início da série histórica.
Apesar de fevereiro apresentar uma arrecadação inferior à de janeiro, os números continuam demonstrando força, marcando o melhor fevereiro registrado.
Diante do incremento na arrecadação fiscal no começo do ano e após revisitar os gastos com o INSS, o governo brasileiro está delineando uma redução orçamentária de até R$ 3 bilhões.
Inicialmente, estimava-se uma necessidade de ajuste que variava entre R$ 5 bilhões e R$ 15 bilhões, contudo, a arrecadação de recursos trouxe uma margem de alívio superior ao projetado.
É relevante assinalar que tal medida não configura um contingenciamento (escassez de recursos), mas, sim, um bloqueio orçamentário, decorrente de um superávit nos limites de despesa.
Entretanto, a discussão orçamentária está longe de uma conclusão definitiva, podendo haver um anúncio de revisão da meta fiscal, talvez ajustando-a para um déficit de 0,25% do PIB, já no mês de maio.
Espera-se também que o Banco Central aborde a questão do risco fiscal em sua ata, na semana que vem, fornecendo clarificações sobre as "incertezas domésticas" previamente mencionadas na Super Quarta.
Como já apontei, dada a inexistência de uma âncora fiscal consistente, é natural que o BC adote uma postura cautelosa, assumindo a função de âncora monetária no contexto econômico atual.
01:47 — Não para de subir
Nos Estados Unidos, impulsionados por um crescente apetite ao risco entre os investidores, logo após a mais recente reunião do Federal Reserve, o S&P 500 atingiu seu vigésimo recorde anual, com destaque para os avanços nos setores industrial e bancário.
A razão para tal otimismo se mantém: a comunicação serena de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, após o encontro de política monetária em março.
Em resumo, o alívio no mercado decorre da continuidade de três cortes nas taxas de juros no planejamento do Fed para 2024.
Além disso, as informações recentes sobre vendas de imóveis residenciais e solicitações de auxílio-desemprego corroboram a perspectiva já delineada.
Notavelmente, as vendas de imóveis residenciais foram revividas no último mês, superando as expectativas para fevereiro, enquanto os números preliminares de solicitações de auxílio-desemprego indicam que as demissões mantêm-se em patamares historicamente baixos.
Esses dados alinham-se ao reconhecimento por parte do Fed da robustez da economia americana, sugerindo até mesmo a emergência de uma nova tendência de crescimento, potencialmente mais otimista do que o previsto.
Hoje, o foco se volta para o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan para março, particularmente quanto às expectativas de inflação para o próximo ano.
A Apple encontra-se no limiar de um confronto judicial significativo. O Departamento de Justiça dos EUA, aliado a 16 procuradores-gerais estaduais, moveu uma ação contra a gigante tecnológica, acusando-a de adotar práticas monopolistas.
O processo, extenso com suas 88 páginas, compila uma série de reclamações que ecoam as críticas recorrentes à companhia.
Destacam-se no documento acusações contra a App Store da Apple por impor taxas elevadas e, supostamente, limitar os serviços de streaming e a criação de "superaplicativos" por concorrentes.
Outro ponto de controvérsia é a alegação de que a Apple dificulta deliberadamente o uso de produtos de terceiros pelos usuários de iPhone, juntamente com várias outras questões.
A Apple, por sua vez, refutou essas acusações.
O desenrolar deste processo judicial poderá se estender por anos até que se chegue a uma conclusão sobre a necessidade de a Apple modificar suas práticas comerciais.
Este processo marca um passo importante do DOJ, que se comprometeu a combater o monopólio corporativo, em sua campanha já tendo acionado judicialmente outras grandes corporações tecnológicas como Amazon, Google, e Meta por práticas anticoncorrenciais.
Além disso, a Apple enfrenta inquéritos na União Europeia sobre sua aderência à Lei de Mercados Digitais, investigação que também mira o Google. Contudo, esta não é a primeira vez que a Apple se vê sob investigação regulatória, nem provavelmente será a última.
03:24 — O gigante do petróleo
Durante os últimos seis anos, os Estados Unidos mantiveram a posição de maior produtor de petróleo bruto do mundo.
Em 2023, a produção americana de petróleo bruto, incluindo condensados, atingiu uma média diária de 12,9 milhões de barris, ultrapassando o recorde anterior, tanto nacional quanto global, de 12,3 milhões de barris por dia estabelecido em 2019.
Em dezembro de 2023, a produção mensal média nos EUA alcançou um novo ápice histórico, com mais de 13,3 milhões de barris por dia.
Dada a magnitude dessa produção, é pouco provável que outro país supere o recorde americano de produção de petróleo bruto em um futuro próximo, visto que nenhuma outra nação alcançou uma capacidade produtiva de 13 milhões de barris por dia.
Esta liderança confere aos Estados Unidos um significativo poder e influência geopolítica, solidificando sua posição como a principal força energética global.
A Saudi Aramco, empresa estatal da Arábia Saudita, recentemente descartou planos de expandir sua capacidade produtiva para 13 milhões de barris por dia até 2027.
Conjuntamente, Estados Unidos, Rússia e Arábia Saudita foram responsáveis por 40% da produção global de petróleo em 2023, correspondendo a 32,8 milhões de barris por dia.
Esses três países lideram a produção mundial de petróleo desde 1971, com o primeiro lugar alternando entre eles ao longo das últimas cinco décadas.
Em contraste, os próximos três maiores produtores – Canadá, Iraque e China – juntos produziram 13,1 milhões de barris por dia em 2023, uma quantidade apenas ligeiramente superior à produção dos Estados Unidos isoladamente.
Esse avanço deve-se, em grande parte, ao desenvolvimento da indústria de xisto nos EUA e aos impactos geopolíticos recentes, que impulsionaram o país em direção a uma crescente autonomia energética.
02:19 — Desarmando a bomba
Por um longo período, os líderes europeus hesitaram em impor restrições à importação de produtos agrícolas da Rússia, preocupados com o possível aumento nos preços globais dos alimentos e o impacto negativo em países em desenvolvimento, onde a inflação e a escassez de produtos poderiam gerar descontentamento.
Contudo, os preços mundiais dos alimentos atingiram seu ponto mais baixo em três anos em janeiro.
Em consequência, a Europa intensificou suas importações de cereais russos, ultrapassando os volumes prévios à invasão da Ucrânia. Essa tendência pode estar prestes a sofrer uma reviravolta.
A União Europeia está considerando um plano para aplicar tarifas elevadas a cereais, sementes oleaginosas e produtos relacionados importados da Rússia e de Belarus, seu aliado na invasão.
Essa ação, embora não deva afetar significativamente a economia russa em larga escala, será benéfica para os agricultores europeus ao reduzir a concorrência.
Ademais, essa medida carrega um significado simbólico importante para os líderes europeus que desejam romper os laços econômicos restantes da UE com o Kremlin.
Portanto, nos próximos meses, é possível que presenciemos uma nova volatilidade nos preços dos alimentos.