A JANELA PARA O OTIMISMO COMEÇA A SER ABERTA, MAS O CAMINHO SERÁ DURO
Hoje, os holofotes estão voltados para os Estados Unidos, com especial interesse nos dados da inflação ao produtor de janeiro e nas expectativas inflacionárias de curto e médio prazo. Resultados inferiores ao previsto poderiam infundir otimismo nos mercados globais, já em alta desde o início do dia. As bolsas asiáticas, por exemplo, seguiram o impulso positivo do Ocidente na quinta-feira, com o mercado de ações japonês prosseguindo em sua trajetória ascendente e alcançando novos recordes. Apesar de um volume de negociações mais baixo devido ao feriado do Ano Novo Lunar, o ambiente é de otimismo.
Na Europa e nos Estados Unidos, os mercados apresentam alta nesta manhã, mantendo o ímpeto da alta da sessão anterior. Os indicadores de vendas no varejo mais fracos do que o esperado contribuíram para um otimismo cauteloso, que pode ser ampliado pelos dados econômicos divulgados hoje. O Brasil, alinhado à tendência internacional, pode ver seus mercados e os preços das commodities serem influenciados por esses desenvolvimentos. O petróleo inicia o dia com uma ligeira retração após o aumento de ontem, enquanto o minério de ferro exibe uma tendência de alta, um fator que promete impactar os setores relacionados na bolsa.
A ver…
00:47 — Difícil engatar neste começo do ano
No início de 2024, os ativos brasileiros enfrentaram desafios consideráveis, mas a recente realização de lucros no Ibovespa, após uma fase de recuperação no final de 2023, não sugere, a meu ver, uma tendência de declínio de longo prazo. Pelo contrário, continuo otimista com o desempenho dos ativos de risco no Brasil ao longo deste ano. Alguns observadores podem considerar o índice como excessivamente desvalorizado, dado que 73% das ações estão negociando abaixo de suas médias de curto prazo. Embora a ausência de catalisadores imediatos não permita uma reversão dessa tendência, isso não significa que não haja um caminho para recuperação. A entrada de capital estrangeiro pode ser um fator de virada, embora essa movimentação dependa fortemente da política monetária do Federal Reserve, o que nos deixa vulneráveis às flutuações das taxas de juros nos Estados Unidos.
Permaneço com uma perspectiva positiva, que também poderia ser aplicada ao mercado de ações da América Latina em geral. Conforme destacado por Rogério Xavier, em um evento recente do BTG e em entrevista ao Market Markers , o Brasil deve seguir o fluxo dos mercados emergentes, impulsionado pela expectativa de redução das taxas de juros globais. Nosso diferencial pode estar nos ganhos estruturais da balança comercial, que tem potencial para registrar um superávit superior a US$ 90 bilhões este ano, favorecido pelo aumento da produção de petróleo. Esse fator deve fortalecer as contas externas e ajudar a compensar os efeitos da redução nas colheitas de milho e soja. O caminho até agora tem sido promissor, com um superávit acumulado superior a US$ 8,5 bilhões até 9 de fevereiro.
01:50 — De olho nos preços ao produtor
Nos Estados Unidos, o cenário financeiro é marcado pela persistência de juros altos, enquanto o Federal Reserve prossegue com a redução de sua presença no mercado de títulos do Tesouro e de títulos hipotecários. Essa estratégia inclui, ainda, o recurso à operação de recompra reversa overnight, que tem contribuído para estabilizar os mercados em meio à contração do balanço do Fed. Este cenário se mostrou desafiador, especialmente após a divulgação de dados inflacionários ao consumidor que superaram as expectativas, causando inquietação inicial. Apesar disso, a recente queda de 0,8% nas vendas varejistas de janeiro – a maior redução em quase um ano – sinaliza um arrefecimento da atividade econômica, fator considerado positivo por aqueles que antecipam cortes de juros, esperados para iniciar entre maio e junho.
Nesta jornada, dois indicadores merecem atenção especial hoje. Primeiro, aguarda-se a pesquisa de fevereiro sobre o sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, que inclui as expectativas de inflação. Em segundo lugar, o índice de preços ao produtor, previsto para registrar um leve aumento de 0,1% na comparação mensal, após uma redução de 0,1% em dezembro. Importante frisar que, embora esses dados tenham sua relevância, não exercem o mesmo impacto nas decisões do Fed quanto o índice de gastos com consumo pessoal (PCE). Notavelmente, os recentes impulsos inflacionários no índice ao consumidor, como os aumentos nos preços de passagens aéreas e serviços de saúde, não influenciam diretamente o índice de preços ao produtor. Portanto, há a possibilidade de resultados melhores que o esperado para este último, o que seria benéfico para os ativos de risco.
02:52 — Divididos
Em meio a um cenário de crescimento econômico, os Estados Unidos se destacam como a democracia com o mais elevado nível de divisão política e disfunção entre os países do G7. No ano passado, desavenças pessoais entre membros do Partido Republicano resultaram em um impasse na Câmara dos Representantes, deixando-a sem um líder por um período sem precedentes nos últimos 160 anos, remetendo a uma era de divisão comparável apenas à Guerra Civil. Para piorar, atualmente, a nação se depara com o cenário eleitoral presidencial de 2024, marcado por desafios significativos.
As sondagens revelam uma perspectiva desfavorável para o presidente em exercício, com somente 37% da população aprovando sua gestão. Uma grande maioria dos eleitores prováveis considera que Biden, aos 81 anos, não possui a vitalidade necessária para o cargo, e um percentual similar expressa o desejo de não vê-lo reeleito. Em contrapartida, Donald Trump, enfrentando 91 acusações em diversos processos judiciais e tendo recusado reconhecer sua derrota eleitoral em 2020 — instigando uma insurreição para obstruir a confirmação do resultado —, possui apenas 38% de aprovação referente a seu mandato, com 60% dos cidadãos rejeitando seu retorno. No entanto, ele segue sendo o candidato favorito para as eleições. Este momento peculiar reflete um período de incerteza na mais influente democracia global. Devemos ter uma resposta do mercado mais acentuada às eleições a partir de março.
03:45 — O problema político alemão
Ontem, comentei sobre a situação delicada da economia alemã, indicando as razões pelas quais isso a tornava vulnerável politicamente. Quando Olaf Scholz assumiu o cargo de chanceler da Alemanha, sucedendo Angela Merkel em 2021, havia uma expectativa otimista de que sua liderança poderia infundir novo vigor à nação, essencial para o núcleo da Europa. Merkel, reconhecida por sua gestão estável e eficaz ao longo de 16 anos, deixou um legado de liderança inquestionável, navegando o país e a União Europeia por múltiplas crises. Talvez Merkel tenha sido uma das principais lideranças do século até aqui, se não a principal. Scholz, prometendo ser um sucessor à altura de Merkel, prometeu continuidade com um toque progressista, alinhado às ideias de seu partido de centro-esquerda. Contudo, a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 foi um ponto de inflexão, com Scholz adotando uma postura surpreendentemente firme, anunciando uma "nova era" na política alemã em relação à Rússia.
Apesar desses esforços, a popularidade de Scholz sofreu uma queda acentuada devido ao declínio econômico da Alemanha e ao impacto da inflação sobre consumidores e indústrias, exacerbando o descontentamento entre trabalhadores e líderes empresariais. A coalizão governamental enfrenta desafios significativos, refletidos em uma aprovação governamental de apenas 17%, um recorde de baixa popularidade que abre espaço para o surgimento de extremismo político, um desenvolvimento preocupante para um país como a Alemanha. A Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido de extrema-direita, exemplifica essa tendência. Com as eleições nacionais previstas para outubro de 2025, o futuro político da Alemanha e seu impacto na estabilidade econômica europeia permanecem incertos, contribuindo para a volatilidade e a fraqueza dos ativos de risco no continente.
04:41 — Problemas das cadeias globais de suprimentos
Nos últimos dias, a infraestrutura de gasodutos do Irã sofreu múltiplas explosões, um evento significativo dada a projeção de que a demanda por gás natural liquefeito (GNL) crescerá mais de 50% até 2040, impulsionada pela transição energética de países como a China, que se movem para além do carvão, segundo previsões da Shell. Este cenário sugere uma pressão ascendente sobre os preços globais de energia. Paralelamente, Israel intensificou suas operações militares no Líbano, direcionando ataques aéreos ao Hezbollah, um movimento apoiado pelo Irã, em retaliação a ataques de foguetes. Esta escalada de tensões coincide com advertências do Reino Unido sobre ataques a embarcações no Mar Vermelho, exacerbando a instabilidade regional.
Como resultado direto dessas tensões, o setor de transporte marítimo global enfrenta desafios significativos, particularmente em rotas estratégicas como o Mar Vermelho, por onde transita uma parcela considerável do comércio mundial. A Maersk, líder no setor de logística e transporte marítimo, já sinalizou para seus clientes a complexidade crescente da navegação na região, que anteriormente já havia motivado a empresa a evitar o Canal de Suez. O cenário atual indica uma persistência de incertezas, potencialmente estendendo-se por vários trimestres, e implica em custos logísticos elevados e processos de transporte mais extensos e complexos. Estes fatores, somados à volatilidade no fornecimento de gás natural, representam pressões inflacionárias adicionais que podem afetar a economia global.