LÁ E DE VOLTA OUTRA VEZ: 4,30%
A recente divulgação dos dados sobre a inflação ao produtor nos Estados Unidos, que superaram as expectativas com um aumento de 0,6% em fevereiro – o dobro do aumento de 0,3% previsto –, levou a um movimento de queda nas bolsas de valores globais.
Essa alta na inflação ao produtor, juntamente com um relatório anterior indicando uma inflação ao consumidor também superior ao esperado, contribuiu para um aumento nas taxas de juros de 10 anos, que se aproximaram de 4,30%.
Esses desenvolvimentos sugerem uma postura mais cautelosa do Federal Reserve em relação à redução das taxas de juros, intensificando a aversão ao risco entre os investidores.
No entanto, alguns sinais de renovação do crescimento econômico global oferecem uma visão ligeiramente mais otimista, preservada a expectativa anterior de que os bancos centrais possam iniciar cortes nas taxas de juros em meados do ano.
Neste contexto, os mercados europeus e os futuros americanos tentam se recuperar hoje, embora a maioria dos mercados asiáticos tenha registrado quedas significativas nesta sexta-feira, após as notícias sobre a inflação americana mais alta do que o esperado.
Complicando ainda mais a situação, a China decidiu manter inalteradas as taxas de seus empréstimos de médio prazo, sinalizando a possibilidade de que as taxas de referência permaneçam estáveis este mês.
Isso aumenta as preocupações sobre a capacidade do governo chinês de fornecer estímulos econômicos adicionais, colocando em dúvida a realização da meta de crescimento do PIB de 5% para o ano.
No mercado de commodities, observa-se uma correção nos preços do petróleo nesta manhã, após um recente aumento para a faixa dos US$ 85, e uma queda adicional no preço do minério de ferro, que agora está abaixo de US$ 100 por tonelada.
A ver…
00:55 — Será que o forward guidance vai cair?
No mercado de ações brasileiro, a prudência dominou o cenário, levando a um desempenho negativo para muitos ativos listados no Ibovespa.
Esse movimento descendente foi liderado, em grande parte, pelas ações da Vale e da Petrobras, que enfrentam preocupações persistentes quanto à potencial interferência política em suas gestões.
A Vale foi adicionalmente impactada pela queda no preço do minério de ferro, enquanto a Petrobras não conseguiu capitalizar plenamente o recente aumento nos preços do petróleo.
Em paralelo, no cenário político, o Ministério da Fazenda optou por postergar a apresentação ao Congresso Nacional da proposta crucial para a reforma tributária, focada na tributação da renda, um elemento vital na agenda do governo que busca, eventualmente, facilitar a redução da alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), reajustando a carga tributária de renda em detrimento da de consumo.
Anteriormente prevista para este trimestre, a entrega do texto agora dará lugar à priorização da regulamentação da reforma do consumo, assim como das iniciativas voltadas para a sustentabilidade e questões microeconômicas.
Além disso, o foco se volta para os dados sobre o volume de serviços prestados em janeiro, em sequência a um resultado surpreendentemente positivo das vendas no varejo.
Espera-se uma diminuição de 0,4% na comparação mensal, cujo desempenho poderá aliviar as preocupações de um Banco Central mais cauteloso, caso confirme as projeções de contração.
Um resultado robusto aumentaria a possibilidade de o Banco Central descartar o compromisso de novas reduções de 50 pontos-base na taxa de juros após maio, mudando potencialmente a dinâmica de relaxamento monetário.
Embora ainda se possa esperar cortes, a instituição deixaria de estar vinculada a essa promessa, sugerindo uma desaceleração na redução da taxa Selic.
A expectativa predominante no mercado é de que a Selic atinja 9,0% ao fim do ano, após pelo menos mais três cortes de 0,5%.
No entanto, diante de desafios tanto internacionais quanto domésticos, o Banco Central pode optar por uma abordagem mais moderada na política monetária.
01:41 — O sentimento positivo resiste, apesar das correções
Nos Estados Unidos, as últimas atualizações sobre inflação impulsionaram os rendimentos dos títulos do Tesouro e provocaram uma queda nos principais índices do mercado de ações.
O índice de preços ao produtor registrou um aumento significativo de 0,6% em fevereiro, uma cifra que superou em duas vezes as projeções do mercado, marcando o maior avanço anual desde setembro com 1,6%.
Como resultado direto, os rendimentos das notas do Tesouro de 10 anos avançaram 0,1%, alcançando 4,3%.
Paralelamente, o S&P 500 e o Nasdaq recuaram ambos 0,3%, enquanto o Dow Jones Industrial Average sofreu uma diminuição de 0,4%.
Apesar disso, os futuros dos mercados americanos iniciaram o dia em alta, demonstrando uma notável resiliência dos ativos de risco diante de indicativos de uma inflação mais elevada no país.
Contudo, há aspectos menos negativos a serem considerados. E
mbora o índice de preços ao produtor tenha excedido as expectativas, é importante notar que a maior parte desse incremento se deveu aos custos de energia, enquanto o crescimento nos serviços mostrou uma desaceleração.
Nos últimos meses, o segmento de serviços representou o principal desafio nos relatórios de inflação.
Uma tendência de desaceleração nessa área seria vista de forma positiva pelo Fed em sua próxima reunião.
Para hoje, o foco se volta para o índice de sentimento do consumidor de março. Em fevereiro, a expectativa de inflação para o próximo ano entre os consumidores estava em 3,0%, aproximando-se do patamar mais baixo dos últimos três anos, o que indica que as expectativas inflacionárias permanecem estavelmente ancoradas. Este será o último indicador importante antes da reunião do Fed começar.
02:39 — Os sinais confusos da economia
Os membros do Federal Reserve encontram-se diante de um desafio complexo ao tentar guiar a economia dos Estados Unidos a um pouso suave este ano.
Enfrentam um panorama repleto de sinais econômicos divergentes e, inicialmente, podem ter tratado essas discrepâncias nos dados com uma dose de cautela.
No entanto, com a continuidade dessas tendências divergentes ao longo dos meses, pode ser necessário dar-lhes uma atenção mais rigorosa. Esse cenário tem potencial para intensificar, em vez de dissipar, a incerteza que envolve a trajetória futura da economia americana.
O cenário econômico atual é marcado por uma série de dados estatísticos que apresentam contradições flagrantes, provocando confusão.
Especialistas e veteranos do mercado, habituados a cenários mais previsíveis, se deparam com um número sem precedentes de dicotomias e divergências entre os indicadores econômicos.
Um dos exemplos mais significativos dessa divergência é o relatório de emprego, que apresenta leituras inconsistentes, gerando interpretações variadas.
Similarmente, os indicadores de inflação oferecem um panorama confuso, desafiando análises simplistas.
Talvez, por outro lado, essa complexidade na interpretação dos dados econômicos possa contribuir para a postura do Fed de considerar uma redução das taxas de juros antes que a inflação alcance a meta de 2%.
03:23 — Uma nova fronteira no mercado de saúde
O entusiasmo por trás da inteligência artificial é apenas superado pela empolgação dos investidores com os avanços em medicamentos antiobesidade. Similar à AI, o potencial impacto econômico dessas inovações começa a ser avaliado mais profundamente.
Além de medicamentos renomados como Ozempic e Wegovy, presenciamos um movimento mais amplo de inovação na saúde.
Tecnologias de edição genética expandem-se para tratar um espectro maior de doenças, enquanto a inteligência artificial promete revolucionar tratamentos e prevenções.
Avanços significativos também são observados no desenvolvimento de vacinas, especialmente através da tecnologia mRNA, e na evolução dos diagnósticos, capazes de identificar condições como a doença de Alzheimer.
Estima-se que os investimentos no setor da saúde possam aumentar em torno de 34% este ano, alcançando quase US$ 900 bilhões.
Historicamente, inovações na saúde têm reduzido os anos de vida perdidos por doenças e incapacidades em 10% a cada década.
Nos países desenvolvidos, os Estados Unidos se destacam como os maiores beneficiários, paradoxalmente, devido a uma prevalência maior de obesidade e condições de saúde precárias.
Melhorias generalizadas na saúde da população americana têm o potencial de impulsionar o Produto Interno Bruto a longo prazo, ao aumentar a taxa de participação na força de trabalho.
Estima-se que a má condição de saúde reduza o PIB americano em mais de 10%. Estamos, possivelmente, à beira de uma revolução significativa no campo da saúde.
04:12 — E a fusão?
Recentemente, o Joint European Torus (JET), parte do programa Euratom de pesquisa atômica da Europa, alcançou um marco significativo em seus experimentos com fusão nuclear, apresentando resultados promissores.
Embora os avanços pareçam modestos, eles representam uma etapa crucial em direção ao desenvolvimento de uma fonte de energia altamente eficiente e limpa.
Diferentemente da fissão nuclear, que é o processo utilizado nos 437 reatores nucleares operacionais globalmente, a fusão nuclear emula a reação natural do Sol e das estrelas, convertendo hidrogênio em hélio e liberando energia sem necessitar de urânio ou plutônio enriquecidos, e sem produzir resíduos radioativos de longa duração.
A fusão promete gerar uma quantidade de energia substancialmente maior do que a obtida pela fissão.
Os resultados do JET, com 69 megajoules de energia gerados em apenas 5 segundos a partir de apenas 0,2 miligramas de combustível, anunciados em fevereiro após revisão, são um testemunho do potencial dessa tecnologia.
Embora a viabilização da energia de fusão para uso prático possa ainda estar a algumas décadas de distância, os progressos indicam que estamos no caminho certo.
Espera-se que um reator experimental esteja operacional por volta de 2035, com a possibilidade de reatores comerciais emergindo por volta de 2050.
Enquanto isso, as usinas nucleares existentes continuam a ser uma fonte importante de energia, e o interesse no investimento em urânio segue relevante.