JÁ FALEI ANTES E VOLTO A DIZER: 2024 TEM TUDO PARA SER O ANO DA GEOPOLÍTICA
No cenário internacional, observamos o retorno do preço do petróleo para perto de US$ 80 por barril nesta manhã, em resposta aos ataques dos EUA e do Reino Unido aos rebeldes no Iêmen apoiados pelo Irã.
Os fatores geopolíticos estão cada vez mais integrados à realidade dos investidores, e 2024 parece ser o ano de consolidação desse processo.
Surpreendentemente, esse movimento não impediu a alta dos principais índices europeus, pelo menos até o momento.
Além disso, registramos desempenho positivo entre os ativos asiáticos nesta sexta-feira, com Tóquio continuando a bater recordes e negociando no nível mais elevado desde 1990, mesmo após uma quinta-feira menos glamorosa para os mercados globais, devido à absorção dos dados de inflação dos Estados Unidos.
O relatório de inflação divulgado ontem nos EUA levou alguns investidores a adiar suas previsões sobre quando o Federal Reserve iniciará cortes nas taxas de juros.
Este é um processo pedagógico, considerando que sempre vi março como um momento prematuro para o início da flexibilização.
No universo das commodities, enquanto o preço do petróleo está em alta, o minério de ferro volta a declinar, mesmo com a balança comercial apresentando números robustos.
Existe um debate substancial sobre os índices de preços ao consumidor e ao produtor na China, que permanecem em território deflacionário.
Na agenda, esperamos discursos de autoridades monetárias ao redor do mundo e a análise do PIB mensal do Reino Unido.
Entretanto, o destaque deve ser o início da temporada de resultados nos EUA, especialmente com os grandes bancos.
O contexto global continua dinâmico, com eventos geopolíticos e indicadores econômicos moldando as expectativas dos investidores.
A ver…
00:52 — Sem mudança no ritmo de cortes
No Brasil, também tivemos dados locais de inflação para assimilar, e o IPCA de dezembro acabou sendo ligeiramente superior às expectativas.
Contudo, isso está longe de ser catastrófico, especialmente considerando que algum soluço na inflação era antecipado tanto aqui quanto lá fora nesta virada de ano, conforme é habitual.
Ao final, houve a confirmação de uma notícia positiva: a inflação acumulou pouco mais de 4,6% no ano passado, permanecendo dentro das margens aceitáveis estabelecidas pelo Banco Central, relativamente à meta, o que não ocorria há três anos. Pelo menos uma conquista.
Esse dado provavelmente manterá o ritmo atual de cortes de juros de 50 pontos-base nos próximos meses.
Entretanto, o Ministério do Planejamento informa que essa inflação reduz em R$ 4,4 bilhões o espaço para gastos em 2024, indicando a necessidade de algum tipo de contingenciamento.
Mais uma vez, surgem preocupações fiscais, especialmente porque a saga da MP da reoneração persiste.
Neste momento, a equipe econômica explora alternativas adicionais de arrecadação para os meses vindouros.
Uma delas envolve a tributação de compras online de sites estrangeiros, cujo valor seja inferior a US$ 50.
Outra possibilidade seria uma proposta de ajuste no JCP, acompanhada da reforma tributária sobre a renda, considerando novamente o fim desse instrumento ou uma reformulação para um formato semelhante ao europeu.
Independentemente da abordagem escolhida, era previsível que as pressões fiscais voltariam a assombrar-nos cedo ou tarde.
01:56 — Que os jogos comecem
Nos Estados Unidos, o S&P 500 brevemente ultrapassou seu recorde de fechamento no início das negociações de ontem, apenas para cair durante a tarde, recuperando-se no final do dia e encerrando o pregão de forma estável.
Não foi um dia favorável. O foco principal estava na inflação de dezembro.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) principal registrou um aumento de 0,3% no último mês, ligeiramente acima das expectativas. O núcleo do IPC, que exclui os componentes alimentares e energéticos, também apresentou um aumento de 0,3% em dezembro.
Embora não tenha sido uma notícia positiva, está longe de ser o apocalipse, e a tendência de longo prazo permanece inalterada, continuando a sustentar a desinflação geral.
A boa notícia é que isso traz os investidores de volta à realidade. Não há mais a expectativa de cortes de juros já em março, como eu mencionava anteriormente, o que seria um cenário muito otimista. A probabilidade é que esses cortes ocorram entre maio e junho.
Com isso em mente, podemos retomar o foco nos fundamentos.
É válido observar hoje o início da temporada de resultados nos EUA, com destaque para os grandes bancos, como Bank of America, Bank of New York Mellon, BlackRock, Citigroup, Wells Fargo, JPMorgan Chase, entre outros.
Além disso, temos o índice de preços ao produtor de dezembro, que, apesar de ter perdido um pouco de relevância após o IPC de ontem, espera-se que mostre uma inflação benigna aos produtores.
02:49 — A ascensão de uma gigante
As Sete Magníficas, como são conhecidas as gigantes empresas de tecnologia dos Estados Unidos (Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla), experimentaram um ano excepcional em 2023.
Essas sete maiores em valor de mercado no S&P 500 foram responsáveis pela maior parte dos ganhos do índice.
O valor combinado dessas empresas supera o mercado de ações de qualquer outro país, um feito notável.
Ontem, tivemos uma mudança interessante entre elas: o recente aumento no valor da Microsoft, impulsionado pela inteligência artificial, elevou a gigante da tecnologia ao posto de maior empresa dos EUA em valor de mercado, ultrapassando a Apple pela primeira vez desde novembro de 2021.
No ano passado, a Apple se tornou a primeira empresa a alcançar um valor de mercado superior a US$ 3 trilhões, antes de enfrentar uma correção.
Após um ano de resultados abaixo do esperado e declínio nas vendas, investidores e analistas expressam preocupações sobre a possibilidade de aumento da demanda em 2024. Nesse contexto, a Microsoft começou a atrair mais atenção.
As ações da Microsoft registraram um avanço de 64% em 2023, enquanto as da Apple subiram 38%. Juntas, essas duas empresas compõem aproximadamente 14% do S&P 500 ponderado pelo valor de mercado.
03:38 — Fogo do céu
A região do Golfo ganhou destaque nesta manhã devido aos ataques ocidentais contra as posições dos Houthi, o grupo rebelde do Iêmen apoiado pelos iranianos. Os Estados Unidos e seus aliados realizaram ataques aéreos contra os rebeldes no território iemenita.
Essa ação representa um avanço na resposta aos ataques a navios no Mar Vermelho, que ameaçaram os fluxos de combustíveis e mercadorias através dessa via navegável crucial.
O líder Houthi, Abdul Malik Al-Houthi, advertiu sobre uma possível "grande" retaliação em caso de mais ações do Ocidente. Uma perspectiva preocupante.
Consequentemente, os preços do petróleo dispararam durante o pregão asiático, com o petróleo Brent, referência global, registrando um aumento de 2,5%, ultrapassando a marca de US$ 79 por barril.
No entanto, em termos econômicos de curto prazo, isso não altera significativamente o quadro; afinal, o transporte marítimo desviou-se do Mar Vermelho.
O receio reside na possibilidade de uma escalada do conflito, ameaçando desencadear uma guerra mais ampla no Oriente Médio e criar novos focos de instabilidade política em diversas regiões do mundo, complicando as perspectivas otimistas para os mercados em 2024.
04:21 — A eleição do final de semana
O mundo estará atentamente observando os eleitores taiwaneses indo às urnas amanhã, em 13 de janeiro, para escolher o próximo presidente, marcando a primeira de uma série de eleições com implicações globais em 2024.
A eleição em Taiwan representa um ponto crítico nas tensas relações entre os Estados Unidos e a China.
A China considera Taiwan um território separatista e expressa a intenção de unificar-se com ele, inclusive recorrendo à força, se necessário. Paralelamente, Taiwan conta com o apoio dos EUA, que se sentiriam compelidos a defender a ilha.
A disputa eleitoral está se transformando em um confronto acirrado entre o candidato independentista William Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), atualmente no poder, e Hou You-ih, do Kuomintang (KMT), que propõe relações mais estreitas com a China.
Lai, do DPP, continua sendo o favorito e manteve uma liderança consistente ao longo deste ciclo eleitoral, embora sua vantagem tenha diminuído.
Contudo, se Lai vencer, é provável que o faça com menos de 50% dos votos, indicando uma mudança em relação às eleições de 2016 e 2020, quando a atual presidente, Tsai Ing-wen, ultrapassou confortavelmente esse patamar.
Dado que Taiwan é o maior produtor mundial de semicondutores (presentes em tudo), desempenha um papel vital na economia global.
Uma vitória de Lai provavelmente geraria uma reação imediata e negativa de Pequim, dada sua postura a favor da independência total de Taiwan.
Por outro lado, se Hou vencer, há menos risco de aumento imediato da pressão por parte de Pequim sobre Taipei, uma vez que a China busca um contato mais regular entre funcionários governamentais de ambos os lados e medidas rumo à unificação.
Este cenário merece uma atenção especial.