APERTEM O CINTO: O RESULTADO DE PETROBRAS VAI DAR O QUE FALAR
Os resultados divulgados pela Petrobras ontem à noite foram decepcionantes e devem impactar negativamente o Ibovespa hoje, marcando uma questão sistêmica significativa para o mercado.
Isso favorece os investidores que não possuíam ações da Petrobras em seu portfólio ou aqueles cuja participação era menor do que a proporção da empresa no índice, facilitando o desempenho acima do Ibovespa.
É lamentável, especialmente considerando o otimismo inicial do dia, influenciado pelo rali no setor de inteligência artificial nos EUA, impulsionado pelas recentes declarações de Jerome Powell.
O foco do mercado hoje está no relatório de empregos dos EUA de fevereiro, que promete ser o principal determinante do dia.
Os mercados europeus abriram em alta, animados pela estabilidade na terceira revisão do PIB do quarto trimestre de 2023, enquanto os futuros dos EUA mostram indecisão.
Um resultado mais fraco do que o esperado poderia diminuir os rendimentos dos Treasuries, depreciar o dólar e impulsionar as ações globalmente. Contudo, o clima de cautela gerado pelos resultados da Petrobras pode limitar esse efeito positivo, embora ainda haja espaço para uma valorização do real.
A ver…
00:52 — Onde estão os nossos dividendos?
A divulgação dos resultados da Petrobras se destaca como o fator mais influente no mercado local hoje, com a empresa agendando uma conferência matinal que busca oferecer algum conforto aos investidores.
No entanto, no mercado internacional, as ADRs da Petrobras negociadas em Nova York já registram uma queda superior a 10%, levando a um ajuste negativo de quase 2% no índice EWZ.
A grande questão gira em torno da ausência de dividendos extraordinários, contrariando as expectativas que variavam entre R$ 4 bilhões e R$ 8 bilhões.
É vital mencionar que a empresa ainda distribuirá dividendos ordinários, correspondendo a 45% do fluxo de caixa livre, totalizando R$ 14,2 bilhões aos acionistas. Isso se traduz em um pagamento de R$ 1,09 por ação ordinária e preferencial, dividido em duas parcelas iguais de R$ 0,549 nos meses de maio e junho.
Com base nos resultados de 2023, a Petrobras destinará R$ 72,4 bilhões em dividendos aos acionistas, um volume significativo, porém 66,4% inferior a 2022.
Quanto aos dividendos extraordinários, a gestão optou por alocar o lucro líquido remanescente de R$ 43,9 bilhões em uma reserva para remuneração do capital, visando sustentar futuras distribuições aos acionistas.
De acordo com o presidente da estatal, essa decisão reflete uma preferência pelo reinvestimento dos lucros em detrimento da distribuição de dividendos. Veremos…
Os resultados apresentados foram consideravelmente abaixo do esperado, exceto pela receita, que excedeu as projeções.
O EBITDA e o lucro líquido ficaram aquém das estimativas, com o lucro líquido anual alcançando R$ 124,6 bilhões, o segundo maior da história da empresa, mas 33,8% menor que o de 2022.
A distribuição de dividendos extraordinários seria um forte indicativo do compromisso da empresa com o crescimento sustentável e com o alinhamento dos interesses dos acionistas minoritários.
No entanto, isso não ocorreu, e a empresa enfrentará repercussões negativas no mercado hoje.
01:47 — Quem vai comandar a Vale?
Além das preocupações com a Petrobras, outro gigante do setor de commodities está no radar: a Vale. Hoje, o conselho de administração da mineradora tem reunião agendada, com a questão da liderança da empresa sendo debatida e, possivelmente, encaminhada para uma solução.
Uma das hipóteses consideradas é a renovação do mandato de Bartolomeo por um período mais curto que os usuais três anos, incluindo a preparação para uma transição de liderança durante seu mandato.
Além dele, figuram como potenciais candidatos personalidades como Walter Schalka da Suzano, Luiz Henrique Guimarães da Cosan, Sérgio Rial, ex-presidente do Santander, Paulo Caffarelli, ex-Cielo e Banco do Brasil, e Murilo Ferreira, ex-presidente da Vale.
Os ansiosos aguardam o término dessa indefinição que se prolonga.
Enquanto isso, em Brasília, declarações recentes do presidente Lula durante um evento do PAC atraíram críticas adicionais ao governo, já pressionado pela queda recente de popularidade.
Com os indicativos de melhoria na arrecadação no início do ano, Lula expressou interesse em expandir os gastos governamentais.
Resta ver qual será sua reação ao se deparar com a realidade de um provável contingenciamento, em vez do aumento desejado nos gastos.
Embora seja uma manifestação típica no contexto político, tais declarações contribuem para uma imagem negativa do governo em um período em que a equipe econômica se esforça para promover sua agenda com o objetivo de diminuir o déficit público nos anos vindouros.
02:34 — A fala de Powell soou bem
Ontem, nos Estados Unidos, durante um questionamento pelo Comitê Bancário do Senado, Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, deu a entender que o Fed está cada vez mais confiante para iniciar o processo de redução das taxas de juros.
Seus comentários lançaram luz sobre a perspectiva do órgão quanto à programação para o primeiro corte de taxas, sugerindo a possibilidade de tal ação nos meses vindouros.
Pessoalmente, prevejo que o início se dará em junho, seguido por cortes adicionais em setembro e dezembro, cada um de 25 pontos-base.
Essa perspectiva impulsionou o S&P 500, que avançou 1%, atingindo um novo recorde – o décimo sexto no ano de 2024.
O otimismo do mercado pode se solidificar ainda mais, dependendo do relatório de emprego de fevereiro, que será divulgado hoje pela manhã.
Há uma expectativa geral de que este relatório esclareça se os surpreendentes dados de emprego e inflação de janeiro foram pontuais ou sinalizam um revigoramento do crescimento econômico nos EUA.
A previsão do mercado é de um acréscimo de 200 mil novos empregos no último mês, indicando uma redução no ritmo de criação de empregos comparado aos 353 mil de janeiro e 333 mil de dezembro.
03:29 — Mudando o foco
Com base nos dados atuais e ecoando as observações de Jerome Powell, não existem indícios ou justificativas para antever que a economia dos EUA enfrentará uma recessão em breve.
No entanto, a robustez econômica atual pode estar contribuindo para uma pressão inflacionária crescente, um aspecto cujo impacto só poderá ser plenamente compreendido com a análise dos indicadores econômicos nos meses seguintes.
Mesmo diante da preocupação com um número menor de reduções nas taxas de juros em 2024 do que inicialmente previsto, o mercado adotou uma visão mais otimista, valorizando a perspectiva de uma economia vigorosa, mesmo que isso signifique menos ações de estímulo por parte do Fed, em comparação a um cenário de enfraquecimento econômico acompanhado por cortes mais agressivos nas taxas.
Essa preferência sugere que os investidores estão mais inclinados a se concentrar nos fundamentos econômicos, facilitando a identificação de oportunidades de investimento.
Uma economia fortalecida implica no aumento dos lucros empresariais e na expansão da recuperação econômica, beneficiando a maior parte dos investidores, especialmente aqueles cujos portfólios não estão excessivamente concentrados em um número limitado de ações, diferentemente do S&P 500.
Este cenário se mantém promissor mesmo considerando o menor impulso das baixas taxas de juros e a persistência de uma inflação superior à meta.
Nesse contexto, com o S&P 500 alcançando outro recorde histórico ontem, o índice caminha para registrar ganhos em 17 das últimas 19 semanas, um feito não observado nos últimos 60 anos.
A menos que os dados de emprego de fevereiro indiquem uma reviravolta, o ambiente de otimismo no mercado é impressionante e reflete uma confiança notável na trajetória econômica futura.
04:21 — Olhando para a África
Durante o período imperialista, a Rússia czarista não expandiu seu território para a África, uma decisão que mais tarde se revelou benéfica para a União Soviética e que continua a favorecer Vladimir Putin nos dias de hoje.
Sem o fardo do colonialismo que outras potências carregavam, os russo puderam formar alianças com países africanos que haviam conquistado recentemente sua independência.
Nos anos 50 e 60, apoiaram movimentos de libertação no Zimbábue e ofereceram assistência militar e bolsas de estudo a estudantes do Mali e Burkina Faso.
Hoje, o Kremlin intensifica seus esforços diplomáticos na África, em um momento em que democracias ocidentais buscam isolar Putin. Muitos líderes africanos ressaltam as conexões estabelecidas durante a era soviética ao reconsiderarem suas relações com o Ocidente.
Com produções agrícolas em alta, a Rússia encontrou-se com um excedente de grãos, que agora está sendo distribuído como auxílio a nações africanas enfrentando instabilidades.
Na cúpula Rússia-África do último ano, Putin comprometeu-se a doar milhares de toneladas de cereais para países como Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia.
Segundo o Ministério da Agricultura russo, 200 mil toneladas de ajuda humanitária já foram enviadas para a África, um gesto que, embora represente uma fração das exportações russas de 60 milhões de toneladas, marca significativamente a influência de Putin.
Em retribuição, a Rússia ganha apoio para suas ambições geopolíticas e acesso a mercados que podem ajudar a minimizar o impacto das sanções impostas pelos EUA e Europa.
Esse movimento é um indicativo da reconfiguração global em novas esferas de influência, sinalizando o possível início de uma nova era de tensões comparáveis à Guerra Fria.