DEPOIS DA SUPER TERÇA: UM DIA DE RECUPERAÇÃO APÓS A CORREÇÃO
Ontem, o mercado de ações dos Estados Unidos experimentou um ajuste significativo.
Espera-se um dia de grandes acontecimentos, com o relatório ADP Employment posicionando-se como o último indicador-chave antes da divulgação dos dados oficiais de emprego dos EUA na sexta-feira.
A Super Terça-feira nos Estados Unidos transcorreu sem surpresas notáveis para os mercados, com Joe Biden e Donald Trump emergindo como os vencedores das primárias presidenciais, sinalizando uma repetição das eleições de 2020 em novembro.
Em paralelo, a expectativa dos investidores cresce em antecipação ao depoimento de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, diante de um comitê da Câmara dos Representantes.
Além disso, destacam-se as vendas no varejo de janeiro na Europa e as atualizações sobre a força de trabalho nos EUA.
No cenário asiático, as ações encerraram a quarta-feira sem uma tendência unificada, após as perdas nas grandes empresas de tecnologia terem levado Wall Street a registrar seu pior desempenho em três semanas.
Em Hong Kong, o índice de referência teve uma recuperação de 2,3% antes da divulgação de relatórios pelos principais economistas chineses, à margem da sessão anual da legislatura cerimonial do país.
Essa recuperação veio após uma queda de 2,6% no dia anterior, desencadeada pelas declarações do primeiro-ministro chinês, que definiu a meta de crescimento econômico do país para este ano em cerca de 5% e esboçou planos para estímulos modestos visando impulsionar o consumo e o investimento.
Enquanto isso, os mercados europeus e os futuros dos EUA mostram tendência de alta, assim como os preços do petróleo bruto e do minério de ferro.
A ver…
00:47 — Entre a fala da Galípolo e algumas notícias corporativas
Ontem, os mercados brasileiros refletiram positivamente as flutuações nos preços das commodities, influenciados pelo anúncio de medidas de estímulo durante o Congresso do Povo na China.
No entanto, persiste uma apreensão quanto à viabilidade de atingir a ambicionada meta de crescimento econômico de 5% para este ano.
Essa preocupação deverá manter-se relevante hoje, impulsionada pelos aumentos observados nos preços do petróleo e do minério de ferro.
No que tange à pauta econômica, a expectativa gira em torno da divulgação da produção industrial pelo IBGE, antecipando-se uma retração de 1,6% em janeiro, uma inversão após o crescimento superior a 1% registrado em dezembro.
Uma confirmação desta redução, ou um resultado ainda mais baixo do que o projetado, pode aliviar a pressão sobre a curva de juros.
Além disso, declarações recentes de Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central, suscitam reflexões acerca da persistência da inflação de serviços, possivelmente influenciada pela dinâmica salarial.
No âmbito corporativo, destaca-se o rumor de que a Azul poderia estar interessada na aquisição da Gol, que contratou a Guggenheim Partners e o Citi como consultores para o processo.
Embora a Azul tenha negado qualquer negociação ou aprovação de tal operação, a situação da Gol, que recentemente entrou em recuperação judicial nos EUA sob o Chapter 11, mantém o mercado atento a futuros desenvolvimentos.
A Azul, por sua vez, reconhece estar aberta a explorar oportunidades de parceria no setor.
Adicionalmente, dois eventos significativos ocorreram:
i) a Primeira Turma do STF confirmou a decisão final na maior disputa trabalhista da Petrobras, prevenindo a perda de mais de R$ 47 bilhões pela empresa; e
ii) o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, anunciou que o governo Lula não buscará reverter a privatização da Eletrobras. Essas notícias podem influenciar positivamente o mercado hoje.
01:52 — O dia depois da correção
Nos Estados Unidos, a confiança nas ações de tecnologia atingiu o ponto mais alto dos últimos três anos, elevando as chances de um recuo no mercado, conforme observado entre segunda e terça-feira desta semana.
Com a desaceleração dos relatórios de lucros, o foco retornou para a economia e as taxas de juros, resultando em uma queda de 1% no índice S&P 500 na terça-feira e no maior recuo do Nasdaq 100 desde janeiro, enquanto os investidores ponderavam sobre dados econômicos variados à espera do testemunho de Jerome Powell.
Esta tendência não é exclusiva dos EUA; na Europa e no Japão, o alto engajamento nas ações também sinaliza um potencial para a realização de lucros.
Eventos importantes na agenda incluem o relatório de emprego do setor privado, a pesquisa Jolts e o Livro Bege do Fed.
Recentemente, a queda no PMI de serviços do ISM indicou a ausência de pressões inflacionárias crescentes nos EUA, sugerindo que o pico observado em janeiro pode ter sido mais um desvio do que um indicador de aumento real nas pressões de preços, com os dados atuais apontando para uma possível estagnação do PIB americano no primeiro trimestre.
Em paralelo, uma correção significativa ocorreu nas ações da Apple após uma queda de 24% nas vendas do iPhone na China nas primeiras seis semanas do ano.
Este evento é particularmente notável considerando a redução de 7% no mercado de telefonia móvel chinês no início de 2024, o que impacta diretamente os índices acionários dos EUA.
Desde o início do ano, as ações da Apple recuaram cerca de 12%, reduzindo seu valor de mercado para abaixo do da Microsoft.
02:45 — Abandonando o navio
A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, tem redirecionado sua estratégia de investimento para enfatizar a luta contra as mudanças climáticas, marcando uma evolução significativa em sua abordagem.
Após anos promovendo a importância de considerar critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nos investimentos e nas operações corporativas, a empresa decidiu abandonar a nomenclatura ESG de seu léxico.
Essa mudança de direção não significa, contudo, um abandono dos princípios que ela representa.
Ao contrário, a BlackRock intensificou seus esforços para impulsionar investimentos que combatam as alterações climáticas, vendo nisso uma oportunidade de investimento crucial para a atual geração.
A gestora está canalizando bilhões de dólares dos seus clientes para financiar projetos de infraestrutura sustentável que contribuam para a transição energética dos combustíveis fósseis para fontes mais limpas e renováveis.
Neste contexto, a BlackRock está alinhando suas estratégias com as de outros investidores de renome, como a Brookfield, ao investir em projetos de energia limpa, incluindo soluções baseadas em energia solar e biogás gerado a partir de resíduos orgânicos, além de tecnologias emergentes focadas na captura de carbono atmosférico.
A despeito dessa nova orientação, produtos anteriormente designados sob a etiqueta ESG estão perdendo espaço, refletindo uma nova fase na abordagem de investimentos da companhia, que agora se concentra mais diretamente nas soluções para o clima.
03:31 — Cortando cabos submarinos
No final do mês passado, quatro cabos submarinos localizados no Mar Vermelho, essenciais para a transmissão de sinal de internet e telecomunicações entre a Ásia e a Europa, foram severamente danificados.
A origem exata desse incidente permanece incerta, contudo, há suspeitas por parte das autoridades de que os cabos possam ter sido deliberadamente sabotados pelos rebeldes Houthis do Iêmen, numa tentativa de exercer pressão sobre Israel para que cesse suas ações militares contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O Mar Vermelho é uma rota crítica não só para a navegação marítima mas também para a infraestrutura global de internet, abrigando mais de 15 cabos submarinos que facilitam cerca de 17% do tráfego de internet mundial.
Contrariamente à crescente popularidade da Internet via satélite, como a oferecida pela Starlink, a infraestrutura de cabos submarinos permanece sendo a espinha dorsal da conectividade global online, devido à sua capacidade de oferecer uma transmissão de dados mais econômica e rápida, sendo responsáveis por mais de 99% do tráfego de dados intercontinentais.
Este setor, vital para a manutenção do fluxo de informações globais, atraiu investimentos significativos de gigantes tecnológicos como Google, Facebook e Microsoft, que investem na expansão desta rede, com o custo de implementação de novos cabos podendo alcançar até US$ 350 milhões cada.
Os Houthis, por sua vez, negam qualquer envolvimento na destruição dos cabos e apontam para as atividades militares dos Estados Unidos e do Reino Unido na região como possíveis causas.
Este incidente resultou em uma deterioração significativa na qualidade da conexão à internet em países como Índia, Paquistão e na região da África Oriental, afetando aproximadamente 25% do tráfego de internet que passa pelo Mar Vermelho, um elo fundamental para a transmissão de dados da Ásia para a Europa. Embora as operadoras de internet tenham conseguido redirecionar o tráfego para minimizar os impactos, os trabalhos de reparo dos cabos estão previstos para iniciar somente no próximo mês.
Esse evento sublinha como os conflitos no Oriente Médio podem ter repercussões extensas, afetando até mesmo o tráfego global da internet.
04:29 — Dor de cabeça geopolítica
A concepção de que as tensões geopolíticas recentes se concentram exclusivamente no Oriente Médio é um equívoco. Embora o Hamas tenha rejeitado a proposta de um cessar-fogo temporário, exigindo um acordo duradouro e a retirada total das forças israelenses de Gaza – um desfecho improvável –, as tensões também estão elevadas na Europa.
Autoridades de alto nível da União Europeia esboçaram planos ousados nos últimos dias para fortalecer a indústria de defesa europeia de maneira sem precedentes.
Essa iniciativa surge como resposta à guerra russa na Ucrânia e à percebida hesitação dos Estados Unidos em manter seu compromisso histórico com a segurança europeia.
Sob as novas diretrizes, espera-se que os 27 Estados-membros da UE unam esforços para adquirir no mínimo 40% de seu equipamento de defesa conjuntamente, assegurando que até 2030, 35% do valor gasto em defesa seja canalizado para o mercado interno europeu.
Historicamente, os países europeus contaram com a proteção nuclear dos EUA através da OTAN. No entanto, a postura cada vez mais assertiva de Moscou ressalta a urgência de robustecer as capacidades defensivas do continente.
A invasão da Ucrânia pela Rússia revelou vulnerabilidades significativas na capacidade de produção de armamentos da Europa.
Após anos seguindo estratégias de defesa fragmentadas, que resultaram em uma Europa desunida apesar dos altos investimentos em defesa, o novo plano visa fomentar uma unidade de propósito na segurança europeia.