À medida que nos aproximamos do fim da semana, o cenário está se alinhando para um desfecho otimista. Os mercados europeus registram alta, assim como os futuros nos Estados Unidos, enquanto os mercados asiáticos apresentaram desempenho satisfatório. Esse otimismo no ambiente financeiro é impulsionado, em parte, pela expectativa de que os cortes nas taxas de juros por parte dos países desenvolvidos são iminentes, ainda que possam ocorrer mais adiante do que o previsto, o que é considerado uma abordagem mais prudente. Além disso, contribui para o ânimo positivo os resultados encorajadores divulgados por gigantes da tecnologia, como Meta e Amazon, que revelaram números robustos em seus últimos relatórios.
O único elemento pendente é o relatório de empregos dos EUA (payroll), crucial para validar a hipótese de uma redução das taxas de juros já em maio. Existe uma preocupação palpável de que indicadores mais fortes de emprego possam postergar essa ação. Instituições como o BCE (Zona do Euro) e o BoE (Reino Unido) parecem estar atrasadas no movimento de relaxamento monetário. Caso essa tendência de adiamento se confirme também nos EUA, o ânimo dos mercados poderá ser afetado. Enquanto isso, os preços das commodities energéticas mostram elevação nesta manhã, ao contrário das metálicas, que registram queda. Destaque para o petróleo, que sobe timidamente nesta manhã, mas recuou para abaixo dos US$ 80 ontem, influenciado pela possibilidade de um novo acordo de cessar-fogo em Gaza.
A ver...
00:53 — A produção industrial e o dilema da sucessão na Vale
No cenário econômico brasileiro, diante da falta de grandes novidades, o foco se volta para os dados da produção industrial de dezembro, que se espera apresentar um ligeiro aumento. As estimativas sugerem um crescimento modesto de 0,2% em relação ao mês anterior, marcando uma desaceleração em comparação com o avanço de 0,5% observado em novembro. Um desempenho superior ao projetado para este indicador não modificaria a trajetória esperada para a Selic, mas poderia trazer um leve otimismo ao mercado local. A perspectiva é de que a taxa de juros continue sua caminhada em direção aos 9% ao término de 2024, com possibilidade de concluir o ciclo de cortes em um patamar ainda mais baixo, próximo a 8%, em 2025. Contudo, essas expectativas estão condicionadas à evolução da inflação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, além da situação fiscal do país.
Hoje, outro assunto que merece atenção é a reunião extraordinária do conselho de administração da Vale, centrada na discussão sobre a sucessão de Eduardo Bartolomeo. Após a derrota do governo, há uma pressão de Lula para que Bartolomeo não seja mantido no cargo, com debates que prometem se estender até maio. A situação ganha contornos de relevância dada a importância da Vale para o Ibovespa, refletindo seu impacto sistêmico no mercado. Circula a possibilidade de um mandato interino de curta duração, limitado a um ano, para estabilizar a situação. Essa controvérsia se intensifica, e entre os potenciais sucessores está Luís Henrique Guimarães, ex-Cosan, cujo nome seria bem recebido pelo mercado.
01:47 — Entre resultados de gigantes e dados do mercado de trabalho
Nos Estados Unidos, as atenções se voltaram para as gigantes tecnológicas Apple, Amazon e Meta, que divulgaram seus resultados trimestrais na noite de ontem. Esses anúncios foram particularmente significativos para os mercados, dada a reação morna aos balanços anteriormente divulgados pela Alphabet e Microsoft. A expectativa por boas notícias era alta, refletida pela alta expressiva nas ações da Amazon e Meta Platforms já na quinta-feira, que se intensificou após o fechamento do mercado. A Amazon superou as expectativas, enquanto a Meta, empresa mãe do Facebook, apresentou projeções promissoras e anunciou seu primeiro dividendo, destacando-se positivamente. A Apple, contudo, não alcançou o mesmo nível de sucesso.
Observamos um avanço nos futuros nesta manhã, embora haja incerteza sobre a durabilidade desses ganhos. A atenção se desloca agora para a primeira avaliação do ano do mercado de trabalho americano. A expectativa é de que tenham sido criados 176,5 mil empregos em janeiro, uma diminuição em relação aos 216 mil de dezembro. Uma surpresa pode estar a caminho, considerando-se os recentes pedidos reduzidos de seguro-desemprego e condições climáticas mais favoráveis no início do mês, além de ajustes sazonais que podem potencializar o aumento da folha de pagamento.
Apesar disso, antecipa-se um leve aumento na taxa de desemprego, de 3,7% para 3,8%. Esse dado será crucial para o Federal Reserve ao ajustar sua política monetária. Neste contexto, Jerome Powell, presidente do Fed, está programado para aparecer no programa "60 Minutes" da CBS News neste domingo, onde discutirá a inflação e os cortes de taxa antecipados. Sua última participação no programa, em abril de 2021, gerou uma resposta significativa do mercado, tornando um evento a ser acompanhado.
02:35 — O que aprendemos nos últimos dias?
Após duas semanas de atenção às declarações dos principais bancos centrais globais, algumas lições foram claras. A conclusão coletiva dos formuladores de política é que, embora a trajetória das taxas de juros esteja definida para uma queda, as expectativas de mercado para cortes de taxas no primeiro trimestre eram prematuras, segundo as decisões recentes da Reserva Federal, do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra. Além disso, o conceito de um "pouso suave" econômico tem sido uma narrativa recorrente, sugerindo que a cautela dos bancos centrais em relação à redução antecipada das taxas é justificável diante da perspectiva de manutenção da atividade econômica em níveis robustos.
Nos Estados Unidos, essa ideia parece particularmente plausível, onde uma queda consistente na inflação é vista junto a indicativos de força no mercado de trabalho e no consumo, mesmo com sinais de desaceleração em outras áreas da economia. A principal lição extraída é que os líderes das instituições monetárias buscam evidências mais concretas de que a tendência de desinflação atual é duradoura. Nesse contexto, o conflito no Mar Vermelho, que impactou rotas comerciais críticas e elevou custos de transporte, representa um potencial risco inflacionário adicional.
03:29 — Ozempiconomia
Estima-se que quase metade da população adulta dos EUA seja classificada como obesa. Essa tendência, porém, talvez esteja prestes a ser alterada. À medida que a luta contra a obesidade se intensifica, os medicamentos para perda de peso estão vendo um aumento sem precedentes em suas vendas, acumulando bilhões de dólares em faturamento. Em um movimento significativo, o FDA aprovou no final do ano passado a Zepbound, uma inovação da Eli Lilly destinada a suprimir o apetite, que está projetada para se tornar um dos medicamentos mais comercializados na história, ao lado de sucessos como Ozempic e Wegovy, da Novo Nordisk. Se espera que cerca de 7% dos americanos poderiam estar utilizando medicamentos para emagrecer até 2035.
Essa mudança de paradigma tem gerado preocupações no setor de supermercados, com gigantes como o Walmart já observando impactos nos padrões de consumo alimentar. Essa tendência sugere uma transformação no comportamento do consumidor americano, impulsionada pelo crescente uso de fármacos para redução de peso. Enquanto isso, as empresas farmacêuticas celebram o aumento dos lucros.
Contudo, essa mudança não está isenta de críticas, principalmente devido à dependência que os usuários desenvolvem em relação a esses medicamentos. Há relatos de que a interrupção do uso pode levar a um retorno exacerbado dos antigos hábitos alimentares, potencialmente mais nocivos que antes. Esse fenômeno representa um aspecto crítico que merece atenção nos anos vindouros.
04:14 — Uma nova era
Nos últimos trinta anos, observamos crescentes advertências de que estamos à beira de uma era dominada por um maior enfoque na segurança militar. O ano de 2024 pode ser reconhecido como o momento crucial dessa transformação. O Mar Vermelho, uma das rotas comerciais mais críticas do planeta, agora representa um alto risco para a navegação devido a ataques recentes a embarcações de bandeira americana, apesar das respostas militares por parte dos Estados Unidos e do Reino Unido. Ademais, a Guarda Revolucionária do Irã intensificou a tensão ao disparar mísseis balísticos e drones armados contra o aeroporto de Erbil, no Iraque, um ponto estratégico para forças internacionais lideradas pelos EUA. Apesar de uma trégua temporária em Gaza para troca de reféns, o cenário permanece alarmante.
Este contexto exige que nações aliadas e democráticas ao redor do globo revisem e, se necessário, aumentem seus investimentos em defesa. Conforme já destacado anteriormente, a fase do "dividendo da paz" chegou ao fim. Nos próximos anos, poderemos enfrentar conflitos envolvendo potências como Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Um indicativo dessa nova realidade foi a mobilização do Reino Unido, enviando aproximadamente 20 mil soldados para liderar o Exercício Steadfast Defender da OTAN, uma das maiores operações da aliança desde o término da Guerra Fria. Estamos, sem dúvida, no limiar de uma nova era geopolítica e militar.