HAVERÁ RESSACA DEPOIS DA PRIMEIRA "SUPER QUARTA" DE 2024?
O foco principal de hoje recai sobre as repercussões da recente reunião de política monetária do Federal Reserve.
As intenções do Fed de diminuir as taxas de juros têm sido um assunto de interesse para os mercados internacionais, antecipando-se um impacto significativo nos fluxos de capital ao longo de 2024.
Os mercados asiáticos reagiram com cautela nesta quinta-feira, apresentando resultados mistos em resposta à correção ocorrida nos mercados ocidentais ontem, influenciada pela expectativa de que os cortes nas taxas de juros nos EUA possam ser postergados para maio ou junho.
A expectativa por esse ajuste tão antecipado continua crescendo, e nem mesmo o modesto desempenho superior ao esperado do Índice de Gerentes de Compras (PMI) industrial chinês foi capaz de estimular o mercado.
Na Europa, os mercados mostram-se indecisos, tendendo para o negativo, à medida que os investidores aguardam pela reunião de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE).
Espera-se que o BoE revise para baixo sua previsão de inflação para este ano, o que poderia abrir caminho para cortes nas taxas de juros e, consequentemente, estimular o crescimento econômico.
Vale ressaltar que a taxa de juros do Reino Unido encontra-se no nível mais elevado dos últimos 16 anos, fixada em 5,25%. Contudo, prevalece a noção de que os bancos centrais das nações desenvolvidas necessitam de evidências mais concretas de que a inflação está se realinhando com as metas estabelecidas antes de iniciar uma verdadeira redução nas taxas.
Enquanto isso, os futuros americanos exibem uma recuperação nesta manhã.
A ver…
00:46 — Fotocópia ou Xérox?
Conforme amplamente antecipado, o Banco Central do Brasil implementou uma redução de 50 pontos-base na taxa Selic, ajustando-a para 11,25%.
O comunicado subsequente permaneceu inalterado em relação às diretrizes futuras, sinalizando a intenção de realizar pelo menos mais dois cortes de 50 pontos, o que potencialmente reduziria a taxa de juros para 10,25% até maio.
Embora existam riscos no horizonte, como a possibilidade de uma pausa no processo de desinflação, desafios fiscais e tensões geopolíticas, a direção atual parece bastante definida.
Dada a ausência de surpresas nessa última ação, espera-se que o mercado responda de forma neutra, especialmente após um janeiro desafiador para os ativos de risco locais.
Portanto, a dinâmica dos mercados locais está, em grande medida, influenciada pelo cenário internacional. Prevejo que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa continuar reduzindo a Selic para 9% até o final de 2024 e, possivelmente, para 8% até o final de 2025.
Abordagens mais cautelosas poderiam ajustar essas expectativas para 9,5% e 8,5%, respectivamente. No entanto, minha análise sugere que o Banco Central adotará uma postura mais flexível, ainda que de forma gradual.
Isso permitirá uma gestão da política monetária de forma suave, o que tradicionalmente favorece os ativos de risco.
Claramente, os ajustes nas taxas de juros por parte dos países desenvolvidos são relevantes, mas servem mais para delimitar o alcance de nossa política monetária do que para alterar diretamente o ritmo dos cortes internos.
01:51 — O recado foi dado: caiam na real e estejam preparados para esperar
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve marcou o término de sua intensa campanha de elevação das taxas de juros e iniciou um processo de reajuste das expectativas sobre o timing e a velocidade de possíveis reduções ao longo deste ano, em resposta ao alívio das pressões inflacionárias. Apesar da mudança de enfoque dos formuladores de política monetária para o início do relaxamento monetário diante de uma diminuição favorável da inflação, fica evidente a ausência de urgência para a redução das taxas. Não interprete mal: há um desejo evidente do Fed em cortar os juros. Entretanto, o momento ainda não é considerado oportuno. Assim, coube a Jerome Powell, em uma conferência de imprensa que gerou confusão, comunicar ao mercado a necessidade de paciência, pois o esperado corte não ocorrerá em março.
O Comitê Federal de Mercado Aberto decidiu ontem manter a faixa-alvo para a taxa de fundos federais entre 5,25% e 5,50%, um movimento antecipado pelo mercado.
A parte desafiadora foi sinalizar aos mais impacientes que a redução das taxas não seria imediata.
Sim, o relaxamento monetário é antecipado para 2024, provavelmente a partir de maio ou junho.
O mercado, por sua vez, projeta uma taxa implícita de 3,75% a 4,00% no final do ano, sugerindo um total de 150 pontos-base de cortes ao longo do ano.
Como resultado, o índice Nasdaq, já impactado pelos resultados da Alphabet, Microsoft e Tesla, viu suas perdas se aprofundarem.
E a semana promete mais agitação: hoje esperamos os resultados da Apple, Amazon e Meta Platforms, todos após o fechamento do mercado, e amanhã teremos o relatório de empregos de janeiro.
02:43 — E os ingleses?
O Banco da Inglaterra (BoE) tem sua reunião programada para hoje, enfrentando uma decisão sobre política monetária que promete ser mais desafiadora que a do Federal Reserve.
Enquanto o Fed teve como principal tarefa moderar as expectativas de cortes iminentes nas taxas de juros já em março, a situação do BoE é complexa, marcada por divergências entre as expectativas dos formuladores de políticas e do mercado.
Ainda que haja um consenso sobre a direção futura das taxas de juros — um movimento de redução —, o contexto econômico do Reino Unido apresenta desafios adicionais não observados nos Estados Unidos.
Ao contrário da economia americana, onde a inflação está se ajustando aos objetivos enquanto o crescimento permanece estável, o Reino Unido enfrenta obstáculos persistentes.
A inflação britânica, situando-se em 4%, é a mais alta entre as nações do G7, e o crescimento econômico está entre os mais baixos do grupo.
As evidências recentes mostram que as famílias britânicas seguem cautelosas com os gastos, e as empresas, apesar de um leve otimismo, expressam preocupação com uma possível retomada inflacionária.
Essa conjuntura sugere que investidores antecipam que Andrew Bailey, o presidente do BoE, possa optar por manter as taxas de juros elevadas por um período prolongado.
Tal cenário antevê uma valorização da libra em comparação ao dólar, em um momento em que as projeções já indicam um crescimento modesto para a economia britânica este ano, complicando ainda mais o panorama.
03:39 — O primeiro cyborg
No final de janeiro, Elon Musk revelou que a Neuralink, sua empresa inovadora focada em desenvolvimento de interfaces cérebro-computador, alcançou um feito notável: a realização bem-sucedida do primeiro implante de seu chip cerebral em um ser humano.
O indivíduo que recebeu o implante está se recuperando satisfatoriamente, marcando um avanço significativo para o setor nascente.
O objetivo principal desse projeto é oferecer novas esperanças para pessoas que sofrem de condições médicas graves, como paralisia, e, com progresso futuro, Musk aspira expandir a aplicação para tratar perda de audição e visão, e eventualmente promover a integração entre humanos e inteligência artificial.
Este é um projeto extremamente ambicioso, característico das iniciativas lideradas por Musk.
Os implantes da Neuralink caracterizam-se pelo uso de eletrodos extremamente finos, semelhantes a fios, capazes de detectar e facilitar a transmissão de sinais elétricos e químicos, conhecidos como “picos de neurônios”, no cérebro dos usuários.
O primeiro produto da Neuralink, denominado Telepatia, tem como proposta possibilitar o controle de smartphones ou computadores – e, consequentemente, uma ampla gama de dispositivos – simplesmente através do pensamento.
A aprovação da FDA para a realização de testes clínicos em seres humanos foi concedida à Neuralink em maio de 2023, permitindo que a empresa iniciasse o processo de seleção de participantes em setembro.
A Neuralink está progredindo rapidamente nesse campo promissor, que já conta com várias outras empresas em destaque, como Synchron, Onward, Precision Neuroscience e Blackrock Neurotech, demonstrando o potencial explosivo dessa indústria.
04:25 — A geopolítica da Ásia e do Pacífico
Em novembro de 2011, o Presidente Barack Obama delineou sua visão para a presença dos Estados Unidos na Ásia-Pacífico, introduzindo o que rapidamente ficou conhecido como o "pivô para a Ásia".
Essa estratégia de política externa propunha uma reorientação do foco americano, das custosas intervenções no Oriente Médio para o fortalecimento das alianças com o objetivo de equilibrar o crescimento da influência da China.
Dessa forma, a diplomacia dos EUA no século XXI seria decisivamente voltada para o leste. No entanto, ao chegarmos a 2023, percebe-se que a execução desse "pivô para a Ásia"se revelou mais complexa do que inicialmente previsto.
Os contínuos conflitos, como o embate entre Israel e o Hamas, que tem o potencial de escalar para um confronto regional mais abrangente envolvendo os EUA e o Irã, exemplificam algumas das complicações enfrentadas.
Além disso, a guerra na Ucrânia persiste como um dos focos mais significativos e onerosos da política externa americana, distanciando-se da visão original de Obama para a diplomacia do século XXI.
Apesar dessas diversões, conversas com especialistas em segurança nacional dos EUA confirmam que a ascensão da China ainda é considerada o maior desafio à segurança nacional do país. Resta a questão sobre qual será o direcionamento dos Estados Unidos em 2024.