A LINHA TÊNUE DO MERCADO: FELICIDADE COM A ATIVIDADE E PREOCUPAÇÃO COM A INFLAÇÃO
O otimismo continua a marcar presença em Wall Street, onde as ações americanas estão sendo negociadas perto de seus picos históricos, com o S&P 500 atravessando o seu período mais estável desde 2018, sem registrar quedas de pelo menos 2%.
A atenção dos investidores se volta agora para os indicadores econômicos que serão divulgados nesta quinta-feira, incluindo a inflação ao produtor e as vendas no varejo.
Seguindo uma tendência positiva observada na inflação ao consumidor, espera-se que os preços ao produtor apresentem elevação, especialmente devido à recuperação dos preços da energia.
Ainda mais crítico é o impacto desses dados nos componentes que influenciam o índice de Preço de Gastos de Consumo Pessoal (PCE), considerado o indicador preferido de inflação pelo Federal Reserve.
Esses componentes devem manter um certo impulso de crescimento desde janeiro, indicando potenciais pressões inflacionárias ascendentes nas previsões principais do PCE.
Esses serão os últimos dados antes da importante reunião de política monetária do Fed na próxima semana.
Enquanto isso, os mercados europeus experimentam uma alta nesta manhã, refletindo um movimento similar aos ativos americanos.
O dia foi menos animador na Ásia, onde a maior parte das ações mostrou um desempenho modesto, e o mercado japonês registrou perdas pelo quarto dia consecutivo, devido a preocupações contínuas com as políticas do Banco do Japão.
Além disso, declarações de autoridades monetárias europeias previstas para hoje podem oferecer mais clareza sobre os futuros passos do Banco Central Europeu.
No segmento das commodities, o minério de ferro enfrenta mais uma jornada de declínio, aproximando-se cada vez mais do patamar de US$ 100 por tonelada, enquanto o petróleo observa uma recuperação, rondando os US$ 85 por barril.
Esse aumento vem na esteira de um ataque de drone ucraniano a uma das maiores refinarias russas, combinado com uma diminuição nos estoques de petróleo e gasolina nos Estados Unidos.
A ver…
00:58 — Tentando diluir os atritos
Ontem, o mercado brasileiro teve mais um dia de avanço, levando o Ibovespa a ultrapassar a marca dos 128 mil pontos durante uma sessão marcada pelo vencimento de opções sobre o índice. Esse impulso ocorreu mesmo diante de um cenário externo desafiador e das preocupações em torno da Petrobras e da Vale.
O apoio veio especialmente do setor de frigoríficos, impulsionado pela notícia da concessão de novas licenças de exportação para a China, e das instituições financeiras, à exceção do Banco do Brasil, que sofreu com a crescente visão negativa sobre o governo.
Na agenda econômica de hoje, destaca-se o adiamento do anúncio dos resultados da Eletrobras para esta manhã, uma mudança em relação à previsão inicial de divulgação ontem à noite.
Além disso, será apresentado o desempenho das vendas no varejo de janeiro, esperando-se uma recuperação após a retração de dezembro.
Ainda hoje, o Ministério da Fazenda deve revelar as expectativas de mercado para o resultado primário das contas públicas.
Será interessante observar a reação do mercado à comunicação da Petrobras, que tenta tranquilizar os investidores quanto à distribuição futura de dividendos, indicando que a postergação é temporária.
Essa perspectiva faz sentido, considerando a necessidade governamental por esses recursos.
01:49 — E os produtores?
A marcação de um novo recorde pelo S&P 500 nos EUA terá que aguardar, já que o índice registrou queda em um dia de movimentações relativamente tranquilas no mercado, destacando-se pela falta de grandes anúncios econômicos.
Nesse cenário de menor atividade, os investidores permaneceram ocupados avaliando os resultados da inflação divulgados na terça-feira, ao passo que se preparavam para os novos dados sobre as vendas no varejo e o índice de preços ao produtor, esperados para hoje.
A expectativa predominante é de que os consumidores tenham retomado os gastos no último mês, embora a intensidade desse movimento ainda seja uma incógnita que deverá ser esclarecida com os anúncios do dia.
Antecipa-se um crescimento de 0,7% nas vendas do varejo, uma recuperação em relação à contração de 0,8% observada do mês de dezembro para janeiro. Já as projeções do Federal Reserve de Chicago sugerem um aumento mais modesto, de 0,4% nas vendas.
Resultados acima das expectativas poderão influenciar a trajetória das taxas de juros. Além disso, os olhares se voltam para o índice de preços ao produtor, com uma alta esperada de 0,3% para fevereiro.
Apesar de ser considerado menos crucial do que os dados de inflação ao consumidor divulgados anteriormente, esse índice ainda é relevante e poderá impactar negativamente o mercado caso apresente um resultado superior ao antecipado.
Apesar dessas incertezas, o dia inicia-se sob uma perspectiva positiva.
02:37 — O provável início do fim para o TikTok nos EUA…
Ontem, como antecipei há alguns dias, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou, com uma ampla maioria de 352 a 65 votos, uma proposta legislativa que visa à proibição do TikTok em território americano, a não ser que a ByteDance, empresa chinesa detentora do aplicativo, concorde em vendê-lo. Essa decisão coloca o futuro do aplicativo, que conta com 170 milhões de usuários nos EUA, nas mãos dos 100 membros do Senado.
O Presidente Joe Biden, que já havia expressado sua disposição em ratificar a medida caso aprovada, encontra-se em uma situação delicada, considerando a recente adoção do TikTok pela sua campanha de reeleição e o potencial impacto na percepção do eleitorado jovem, às vésperas de um novo embate eleitoral contra Donald Trump.
Uma eventual aprovação da lei não apenas intensificaria as tensões sino-americanas, mas também representaria uma medida legislativa sem precedentes no que concerne à restrição de uma plataforma social, alimentada pela percepção de que o governo chinês poderia exercer influência sobre a ByteDance e, consequentemente, sobre o TikTok, utilizando-o como instrumento de propaganda.
As preocupações se acentuam diante dos riscos à segurança nacional que a manipulação de dados e softwares por parte de entidades estrangeiras poderia representar, especialmente se tais informações estivessem ao alcance do governo chinês.
Além disso, há temores de que a ByteDance possa manipular seu algoritmo para disseminar conteúdo alinhado aos interesses de Pequim, influenciando os usuários.
A preocupação se estende ao impacto psicológico da plataforma, já que pais e especialistas em saúde mental têm alertado sobre o potencial viciante e prejudicial do TikTok.
Se efetivada, essa legislação também beneficiaria concorrentes como Meta, Google e Snap, ao eliminar um rival influente no mercado de redes sociais.
03:24 — Novas parcerias para os alemães
O Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, está empenhado em estreitar as relações econômicas com Tailândia, Malásia e Filipinas, na busca por uma maior diversificação das parcerias comerciais da Alemanha na Ásia, objetivando reduzir a dependência do país em relação à China.
Nesta semana, Scholz realizou encontros em Berlim com representantes desses três países do Sudeste Asiático, um movimento estratégico para diminuir a vulnerabilidade alemã perante as dinâmicas comerciais com a China, buscando ao mesmo tempo fortalecer a economia alemã por meio de redes de abastecimento e colaborações em matérias-primas mais variadas.
Apesar dos esforços para diminuir a dependência, a China se manteve como o principal parceiro comercial da Alemanha em 2023, marcando o oitavo ano consecutivo nessa posição, com investimentos diretos de empresas alemãs na China alcançando patamares recordes.
Os líderes de Malásia, Tailândia e Filipinas, que são integrantes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), administram economias que já possuem participação significativa nas cadeias globais de abastecimento de mercadorias e serviços, especialmente nas Filipinas.
Embora o mercado desses países seja consideravelmente menor que o chinês, a Asean representa um mercado consumidor considerável, com aproximadamente 670 milhões de habitantes. Paralelamente, a União Europeia, que conta com 27 países membros, tem revitalizado negociações comerciais com a Tailândia, além de ter iniciado diálogos com a Indonésia em 2016.
Os Estados Unidos também têm buscado estreitar laços com nações do Sudeste Asiático, indicando uma tendência das potências ocidentais de expandir sua influência na Ásia diante do cenário de tensões geopolíticas reminiscentes de uma nova Guerra Fria.
04:16 — E se o Federal Reserve não fizer nenhum corte? Creio que não seja o caso, mas vale refletir sobre…
Atualmente, tanto o Federal Reserve quanto as projeções do mercado futuro de juros antecipam três reduções nas taxas nos EUA ainda este ano. Contudo, a possibilidade de o Fed optar por não realizar nenhum corte está sendo debatida.
Torsten Slok, o economista-chefe do Apollo Group em Nova Iorque, propôs uma visão contrária, sugerindo a possibilidade de que não ocorram cortes nas taxas de juros este ano.
Slok embasa sua previsão em fatores econômicos: a economia mostra sinais de aceleração, não de desaceleração; o mercado de trabalho mantém-se robusto; pequenas empresas indicam planos de aumentar preços e salários; os aluguéis solicitados estão em alta novamente; e as condições financeiras parecem relaxadas.
Slok apresenta argumentos convincentes, e, embora a perspectiva de novas elevações de taxas, como sugerido por alguns no início do ano, pareça extrema, a ideia de manutenção das taxas atuais ganha força.
Adicionalmente, considera-se que o Fed deseje evitar erros do passado, como cortes prematuros que conduziram a dificuldades inflacionárias nos anos 70 e à formação de bolhas financeiras no final dos anos 90.
No entanto, a previsão de que cortes de juros não ocorrerão pode ser precipitada, dada a volatilidade e a capacidade de mudança do cenário econômico.
Com mais de nove meses restantes no ano, é plausível que se desenvolvam condições mais favoráveis que justifiquem uma redução das taxas de juros pelo Federal Reserve.