Reaproximação, acordos e promessas de investimento: o saldo da visita de Lula à China
À imprensa chinesa, Lula disse que o Brasil pretende se reindustrializar e não vai mais promover privatizações
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deixou a China e desembarcou neste sábado (15) em Abu Dhabi.
Ele deve aproveitar a escala nos Emirados Árabes Unidos para se reunir com representantes de fundos soberanos e líderes políticos locais antes de retornar ao Brasil.
O desembarque em Brasília está previsto para amanhã (16).
Em meio a tantos compromissos internacionais nos últimos dias, Lula brincou com jornalistas dizendo que está “o pó da rabiola”.
Destaque na imprensa chinesa
Enquanto Lula volta para o Brasil, sua passagem pela China continua dando o que falar por lá.
Ele traz na bagagem uma série de acordos e parcerias com a China. Na sexta-feira (14), Lula e seu anfitrião, Xi Jinping, assinaram 15 desses pactos.
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A visita do brasileiro mereceu destaque na imprensa chinesa, tanto na televisão quanto nos jornais impressos.
Declarações do presidente sobre o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, em inglês), que pode libertar os países emergentes das amarras do financiamento tradicional com organismos multilaterais, viraram a manchete do jornal China Daily, o maior diário em inglês no país asiático.
Neste sábado, o China Daily traz em sua capa declarações do presidente Xi Jinping de que as relações de Pequim com o Brasil "são uma prioridade diplomática" e que os dois países vão contribuir para a paz regional e mundial, além de procurarem fortalecer a parceria estratégica, que é de longo prazo.
Segundo o jornal chinês, Xi Jinping ressaltou ainda nas conversas com Lula que, além de Brasil e China serem os maiores países emergentes de seus hemisférios, partilham de vários interesses comuns.
A visita de Lula, recepcionado ontem por Xi Jinping no Grande Palácio do Povo, em Pequim, foi mostrada várias vezes na CCTV, a rede estatal chinesa, com imagens da cerimônia de boas-vindas e das reuniões entre os dois presidentes.
Em 2024, China e Brasil comemoram 50 anos de relações diplomáticas, estabelecidas em 1974.
Em suas conversas com Lula, Xi Jinping falou da necessidade de reforçar a cooperação em áreas como agricultura, energia, infraestrutura, aeroespacial, além de novos ramos, como economia verde, economia digital e energia limpa, segundo a imprensa chinesa.
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Brasil não vai mais vender empresas estatais, diz Lula
Numa entrevista à emissora CCTV, Lula disse que o Brasil não vai vender mais empresas estatais.
O presidente também defendeu transações comerciais entre países sem passar pelo dólar, a busca de uma solução para a guerra da Ucrânia e a criação de uma nova forma de governança mundial, em que países como China, Brasil e México tenham mais voz.
"Não queremos ser vendedor nem só de commodities ou vendedor de empresa estatal", afirmou Lula, segundo transcrição da conversa liberada pelo governo brasileiro.
"O que o Brasil quer propor à China é que nós precisamos construir uma centena de coisas novas. Que passa por rodovia, por ferrovia, por portos, aeroportos, que passa por novas indústrias, que passa por empresas de químicas, que passa por investimentos novos."
É o que Lula vem chamando de reindustrialização do Brasil.
Lula defendeu na conversa com a imprensa chinesa, como já havia dito em outras ocasiões durante a viagem ao país asiático, que é preciso avançar na relação do Brasil com a China, não apenas na questão econômica e na questão comercial, mas em temas como ciência e tecnologia, convênios entre as universidades e na transição energética.
"Nós precisamos estabelecer uma política em que a China se transforme em parceiro de investimentos no Brasil."
Lula reitera defesa de reforma de organismos multilaterais
Sobre reformas em organismos multilaterais, que Lula já havia defendido na viagem durante discurso na posse de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento, o petista afirmou que é preciso dar mais representatividade ao Conselho de Segurança das Nações Unidos.
"Eu acho que tem que ter países da América do Sul, América Latina, países da África. Não é possível, que o continente africano com cinquenta e quatro países não possa ter representante."
"Se você não tiver um Conselho de Segurança da ONU, com autoridade de decidir, e os países signatários cumprirem, não vai resolver o problema climático no mundo", afirmou Lula à TV chinesa.
"A única coisa que eu quero é o seguinte: é preciso criar uma nova forma de governança mundial", disse Lula.
"A China tem que ser levada em conta. O Brasil tem que ser levado em conta. Um país como a Nigéria, como o Egito, como México, tem que ser levado em conta. A Índia tem que ser levada em conta", comentou o presidente.
Segundo ele, na medida em que esses países vão crescendo e se desenvolvendo, obviamente começam a assustar aqueles que se sentiam o dono do mundo.
Sobre a guerra na Ucrânia, o presidente brasileiro disse estar “obcecado” em conversar com as pessoas pelo mundo para encontrar um jeito de alcançar a paz. Ele defendeu que países parem de fornecer armas para o conflito e que busquem uma solução de paz.
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Os países ricos e as mudanças climáticas
Lula da Silva também defendeu que os países ricos sejam mais ativos no combate às mudanças climáticas e não só ofereçam dinheiro aos países pobres, recursos, aliás, que algumas vezes nem chegam na prática.
"Às vezes tem muito discurso de dinheiro e pouco dinheiro aparece", afirmou em rápida conversa com jornalistas antes de deixar a China.
"É preciso que em todos os países, dos mais industrializados ao menos industrializados, a gente tenha preocupação [com o clima]", disse Lula.
Para ele, quando o assunto é clima, todos estão no mesmo barco. Se afundar, todo mundo vai se dar mal.
*Com informações do Estadão Conteúdo.
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