Ação da Evergrande é suspensa de novo apenas um mês depois de seu retorno; saiba por quê
A incorporadora confirmou que o fundador e chairman está sob vigilância da polícia chinesa; as negociações foram retomadas em 28 de agosto na bolsa de Hong Kong, após hiato de 17 meses
Em mais um capítulo da crise da Evergrande, uma das maiores incorporadoras do setor imobiliário da China, as ações da companhia foram suspensas na bolsa de Hong Kong nesta quinta-feira (28).
O movimento acontece um dia depois da notícia de que o fundador da empresa, Hui Ka Yan, estaria sob vigilância da polícia chinesa — o que foi confirmado pela incorporadora. Em comunicado, a Evergrande afirmou que o executivo "foi alvo de medidas obrigatórias nos termos da lei por suspeita de crimes ilícitos".
Ontem (27), a ação da Evergrande tombou 19% e terminou o pregão a 32 centavos de Hong Kong, no último dia de negociações na bolsa asiática. Na semana, os papéis acumularam perdas de cerca de 42%.
Mas, esta não foi a primeira vez que os papéis da Evergrande tiveram as negociações interrompidas. Em março de 2022, as ações da incorporadora foram suspensas e só foram retomadas em 28 de agosto deste ano, após um hiato de 17 meses.
Agora, a companhia teve as operações na bolsa de valores novamente impedidas depois de apenas um mês. Dessa vez, suspensão também é válida para as unidades China Evergrande New Energy Vehicle Group e Evergrande Property Services. Não há data prevista para a retomada das negociações.
Vale ressaltar que no início de setembro, a companhia adiou uma reunião para tratar da reestruturação da dívida com credores — que começou em março deste ano.
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Crise da Evergrande
Os problemas na Evergrande começaram em 2020, quando o governo chinês implementou novas regras para controlar a quantidade de dinheiro que as grandes empresas imobiliárias poderiam tomar emprestado.
A Evergrande, que já foi a maior incorporadora da China em vendas, acumulou dívidas de mais de US$ 300 bilhões ao se expandir agressivamente para se tornar uma das maiores empresas do país.
Na época, rumores indicavam que o fundador estaria sendo pressionado pelo governo a usar a fortuna pessoal para o pagamento das dívidas da incorporadora.
A empresa perdeu um prazo crucial em 2021, pois não conseguiu pagar os juros de cerca de US$ 1,2 bilhão em empréstimos internacionais.
Em agosto deste ano, a incorporadora apresentou um pedido de proteção contra falência, o Chapter 15, em um tribunal de Nova York.
O chamado Capítulo 15 protege os ativos norte-americanos de uma empresa estrangeira enquanto essa companhia trabalha na reestruturação das suas dívidas.
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Subsidiária em apuros
Uma das subsidiárias da Evergrande, a Hengda Real Estate, acumula mais de 400 bilhões de yuans em dívidas e contas comerciais não pagas, e falhou em pagar outros cerca de 400 bilhões em petições judiciais de credores contra a empresa. As informações foram fornecidas por meio de comunicado oficial.
No final de agosto deste ano, as dívidas não pagas da Hengda Real Estate totalizavam aproximadamente 278,532 bilhões de yuans. No mesmo período, as contas comerciais vencidas da empresa contabilizavam cerca de 206,777 bilhões de yuans.
A subsidiária da Evergrande também informou que se desfez completamente de 73 projetos imobiliários por meio de transferência de ativos, terras e construções em progresso, fundos, entre outros.
Também, foram protocolados 163 novos casos de execução contra a Hengda Real Estate — envolvendo um valor total de aproximadamente 9,128 bilhões de yuans — e outros 68 casos em que os ativos congelados em subsidiárias ou empresas controladas pela Hengda.
Prisão do fundador da Evergrande
Os passos do bilionário e chairman da Evergrande, Hui Ka Yan (ou Xu Jiayin), estão sendo monitorados pelo governo chinês. A informação foi confirmada pela companhia nesta quinta-feira (28).
Yan foi “preso” pela polícia no início de setembro e desde então está sob investigação policial — mas pouco se sabe sobre a situação do bilionário.
As medidas impostas ao executivo da Evergrande, em linhas gerais, são proibições de sair do local — determinado pela polícia chinesa —, reunir-se ou comunicar-se com outras pessoas sem o aval da força maior do Estado. Passaportes e documentos também estão retidos, com base na Lei de Processo Penal do país.
Xu Jiayin, ou Hui Kan Yan em cantonês, já foi o homem mais rico da China no final da década de 2010, nos tempos áureos da Evergrande — e da economia do país.
Hoje, a fortuna do fundador de uma das maiores incorporadoras do gigante asiático é estimada em US$ 3,2 bilhões, segundo a Forbes.
*Com informações de Estadão Conteúdo, Bloomberg, Reuters e CNBC