O que são covenants e o que isso tem a ver com o rombo de R$ 20 bilhões das Americanas (AMER3)?
Ainda que não tenha efeito no caixa da companhia, inconsistência contábil deve aumentar o endividamento e estourar os chamados covenants; entenda o que são e por que isso poderia ser um problema para as Americanas
As "inconsistências contábeis" estimadas em R$ 20 bilhões descobertas nas demonstrações financeiras das Americanas (AMER3) têm "efeito caixa imaterial", segundo a companhia, mas têm tudo para bagunçar os indicadores de endividamento da empresa, ocasionando um estouro dos chamados covenants.
O que são covenants e para que servem
O termo covenant, mais conhecido de quem investe em títulos de dívida de empresas do que em ações, designa, neste caso, indicadores ou métricas financeiras que uma empresa precisa manter em certos níveis como forma de sinalizar a seus credores que tem capacidade de cumprir suas obrigações - ou, em bom português, pagar as suas dívidas.
Num sentido mais amplo, covenants são quaisquer tipo de obrigações acordadas entre as partes de um contrato para fazê-lo valer. Podem abarcar obrigações de se fazer ou não fazer algo - por exemplo, manter determinada composição societária, apresentar determinadas informações ao mercado periodicamente ou utilizar os recursos advindos do financiamento apenas para certo tipo de projeto.
- Quais empresas vão para o ‘ralo’ junto com AMER3? Segundo CEO da Empiricus Research, outras duas ações também podem sofrer desvalorizações bruscas após o ‘rombo’ descoberto em Americanas. SAIBA AQUI QUAIS SÃO ELAS
Os covenants são definidos em contrato e, se forem descumpridos, a outra parte tem direito a medidas compensatórias ou a tomar medidas legais.
No caso de covenants financeiros, que é o caso quando falamos de dívidas de empresas, eles geralmente abarcam indicadores de liquidez e alavancagem, um teto para o endividamento ou até mesmo a classificação de risco concedida por uma agência de rating.
Para emprestar dinheiro para a companhia, o credor - digamos, um banco - exige que a empresa mantenha, por exemplo, a sua relação dívida líquida/Ebitda ou Ebitda/despesas financeiras em determinado patamar ou faixa - sendo o Ebitda o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês.
Leia Também
Os covenants, assim, servem como uma espécie de garantia - em adição a eventuais outras garantias que a empresa tomadora de crédito possa apresentar -, de forma a dar segurança ao credor de que a devedora não perderá controle das suas finanças. Também contribuem para reduzir os juros da dívida da empresa que se dispõe a cumpri-los.
Em geral, se a empresa tomadora do crédito não for capaz de manter os seus indicadores dentro do que foi acertado - isto é, estourar os covenants - o credor tem o direito de executar a dívida antecipadamente. Para evitar que isso ocorra, as partes podem também repactuar os covenants.
Por que isso poderia ser um problema para as Americanas (AMER3)
O rombo identificado no balanço das Americanas certamente aumentará muito o endividamento da companhia quando as demonstrações financeiras hoje erradas forem republicadas com a correção.
Isso provavelmente levará a um estouro dos níveis de liquidez e alavancagem considerados aceitáveis pelos credores da varejista que porventura tenham acertado covenants para conceder o crédito, o que pode incluir bancos e outros investidores detentores de debêntures.
Num efeito cascata, isso poderia levar a um aumento das despesas financeiras da companhia ou até a execução de garantias. A pressão dos credores e a falta de capacidade de pagar imediatamente tamanha obrigação, por sua vez, poderia levar a varejista a precisar entrar com um pedido de recuperação judicial.
Segundo apurou o jornal Valor Econômico, no entanto, o comando das Americanas já procurou seus principais bancos credores, que concordaram em rolar a dívida da companhia, o que pode prevenir um eventual pedido de RJ.
Em teleconferência na manhã desta quinta-feira o agora ex-CEO da varejista, Sérgio Rial, já havia dito que sentia receptividade dos bancos a um possível acordo de suspensão da cobrança das dívidas.
Ele acrescentou, ainda, que as Americanas não têm dívidas relevantes de curtíssimo prazo e que teria caixa para pagar o primeiro grande vencimento, em 2025.
Do ponto de vista dos credores, o analista do Bradesco BBI, Gustavo Schroden, estima que o rombo das Americanas impactaria o patrimônio líquido dos seis bancos que a casa cobre em 4,5%.
Como não é possível precisar a exposição de cada um deles à empresa, especificamente, o analista analisou a exposição de cada banco ao segmento de varejo. Nesse sentido, Santander (SANB11) e BTG Pactual (BPAC11) são os que têm maior exposição, com cerca de 7% do total de empresas.
Acionistas precisarão socorrer a companhia
Para atravessar esta fase difícil, as Americanas precisarão de uma capitalização bilionária dos acionistas, segundo Rial.
Nos cálculos do analista da Empiricus Research, Fernando Ferrer, a capitalização da varejista pode chegar a US$ 2 bilhões. O número considera os compromissos futuros e também o endividamento da empresa, que deve ser equacionado para um patamar de três vezes a relação Dívida Líquida/Ebitda.
Acionista de referência da varejista, a 3G Capital - veículo de investimento do trio de empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira - já se comprometeu com a injeção de capital, o que, no entanto, deve diluir os acionistas que não toparem colocar mais dinheiro na empresa.
Após passar toda a manhã em leilão, as ações AMER3 finalmente começaram a ser negociadas no início da tarde desta quinta-feira, em queda de 76%. Acompanhe a nossa cobertura completa de mercados.
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
Americanas (AMER3) registra lucro líquido de R$ 10,279 bilhões no 3T24 e reverte prejuízo de R$ 1,6 bilhão; veja os destaques do balanço
A CFO da varejista em recuperação judicial, Camille Faria, explicou que o lucro está relacionado ao processo de novação da dívida
Agenda econômica: Prévia do PIB é destaque em semana com feriado no Brasil e inflação nos EUA
A agenda econômica da semana ainda conta com divulgação da ata da última reunião do Copom e do relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
Renda fixa apimentada: “Têm nomes que nem pagando CDI + 15% a gente quer”; gestora da Ibiuna comenta sobre risco de bolha em debêntures
No episódio da semana do podcast Touros e Ursos, Vivian Lee comenta sobre o mercado de crédito e onde estão os principais riscos e oportunidades
PIX por aproximação já está disponível nas carteiras digitais do Google, com ‘restrições’; veja o que Campos Neto disse no evento de lançamento
O Pix já está disponível para aparelhos Android, através do Google Pay, mas está restrito a determinados bancos; veja quais
O payroll vai dar trabalho? Wall Street amanhece em leve alta e Ibovespa busca recuperação com investidores à espera de anúncio de corte de gastos
Relatório mensal sobre o mercado de trabalho nos EUA indicará rumo dos negócios às vésperas das eleições presidenciais norte-americanas
Americanas (AMER3) convoca assembleia para processar o ex-CEO Miguel Gutierrez e outros executivos por fraude bilionária
Empresa alega que os executivos “em evidente violação aos seus deveres legais e estatutários, participaram da fraude contábil”
A dama e o vagabundo: quem está no Serasa suja o nome do cônjuge? Saiba quando a relação com um inadimplente pode se tornar uma cilada
É possível ser negativado ou ter os bens penhorados porque o cônjuge ou companheiro está inadimplente? Quatro leitores da Dinheirista tiveram essa dúvida
Temporada de balanços do 3T24: Confira as datas e horários das divulgações e das teleconferências
A temporada de balanços do 3T24 começa já neste mês, com a Vale (VALE3) estreando o período das divulgações na quinta-feira (24)
BB Asset e JGP unem forças e lançam gestora focada em investimentos sustentáveis; Régia Capital nasce com patrimônio de R$ 5 bilhões
Com produtos de crédito líquido e estruturado, ações, private equity e agronegócio, a estimativa da Régia é atingir R$ 7 bilhões em ativos sob gestão até o fim deste ano
Na nova ‘corrida do ouro’ do varejo, Mercado Livre larga na frente no ‘retail media’, mas as concorrentes brasileiras prometem reagir
O mercado de publicidade é visto como uma nova fonte de receita para o varejo — mas as brasileiras encontram-se ainda muitos passos atrás na busca por território no mercado local
Títulos públicos como garantia e investimento coletivo: as novidades do Tesouro Direto nos próximos meses
Segundo coordenador-geral do Tesouro Direto, novos títulos públicos não estão na pauta no curto prazo, mas haverá novidades em outras frentes
Limite do cartão do Nubank pode chegar a até R$ 150 mil com esta nova funcionalidade do ‘roxinho’
Investimentos em renda fixa podem aumentar o limite do cartão, de forma descomplicada
Vitória bilionária: STF autoriza Executivo a alterar alíquota de créditos do Reintegra — e livra governo de impacto de quase R$ 50 bilhões
O resíduo tributário é formado por impostos pagos ao longo da cadeia produtiva, como matéria-prima e materiais de embalagem
Bolsas da China vão do ‘dragão de madeira’ ao ‘touro de ouro’ com nova rodada de estímulos — mas índices globais caem de olho em dados da semana
Nos próximos dias serão publicados os números de emprego nos Estados Unidos, que darão pistas sobre o futuro dos juros norte-americanos
Americanas (AMER3), Marisa (AMAR3), Casas Bahia (BHIA3) e Magalu (MGLU3): como as demissões em massa no varejo podem afetar o caixa das empresas nos próximos anos
Em 2023, principais varejistas listadas na B3 fecharam 320 lojas; reestruturação pode gerar despesas com processos trabalhistas
A véspera do dia mais importante do ano: investidores se preparam para a Super Quarta dos bancos centrais
Em meio a expectativa de corte de juros nos EUA e alta no Brasil, tubarões do mercado local andam pessimistas com o Ibovespa
Americanas (AMER3) vai dizer adeus à bolsa? Minoritários querem exclusão definitiva da varejista do Novo Mercado — e oferta por ações na B3
Instituto que representa minoritários pediu à B3 um pedido de exclusão definitiva da Americanas do Novo Mercado e realização de OPA
Descontos de encher os olhos: por que Magalu (MGLU3), Casas Bahia (BHIA3) e outras varejistas oferecem preços até 20% mais baixos para pagamento via PIX
Segundo o levantamento da consultoria Gmattos, os descontos variam de 2% a 15% na maioria dos produtos; pressão de caixa e efetividade do PIX explicam tendência
Ajuste seu alarme: Resultado do payroll define os rumos dos mercados, inclusive do Ibovespa; veja o que esperar
Relatório mensal sobre o mercado de trabalho norte-americano será decisivo para antecipar o próximo passo do Fed