🔴 SAVE THE DATE – 25/11: MOEDA COM POTENCIAL DE 30.000% DE VALORIZAÇÃO SERÁ REVELADA – VEJA COMO ACESSAR

Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Livro fechado

Sem final feliz: Livraria Cultura tem falência decretada pela Justiça de São Paulo

A histórica Livraria Cultura, fundada em 1947, não cumpriu com os acordos firmados na recuperação judicial e teve a falência decretada

Victor Aguiar
Victor Aguiar
9 de fevereiro de 2023
20:14 - atualizado às 18:39
Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo
Imagem: Livraria Cultura

Nem todo livro termina numa nota positiva — e, ao que tudo indica, a história da Livraria Cultura não terminará com todos felizes para sempre. Há pouco, a Justiça de São Paulo decretou a falência da histórica rede de lojas; o grupo estava em recuperação judicial desde 2018.

Em decisão proferida há pouco, o juiz Ralpho Monteiro Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo, recapitula os problemas recentes da companhia e adota um tom quase literário em sua argumentação — até chegar à trágica conclusão.

"É notório o papel da Livraria Cultura, de todos conhecida", diz o juiz. "Notória a sua (até então) importância, e não apenas para a economia, mas para as pessoas, para a sociedade, para a comunidade não apenas de leitores, mas de consumidores em geral".

A crise da Cultura ocorreu em paralelo à de outra grande rede de livrarias: a Saraiva (SLED3;SLED4), esta uma companhia de capital aberto e que também entrou em recuperação judicial em 2018. Em meio à evasão de clientes, queda nas vendas, custos em alta e inúmeras questões trabalhistas, o setor como um todo entrou em colapso.

A queda da Cultura e da Saraiva, no entanto, não representou o fim da história das livrarias. Longe disso: o que parece ter ficado no passado é o modelo de megalojas, cujos custos e despesas operacionais mostraram-se inviáveis sob o ponto de vista de gestão estratégica.

Em seu lugar, uma série de redes com unidades de menor porte — ou livrarias "de bairro", com atendimento personalizado e clima mais intimista —, começaram a surgir nos principais centros urbanos, injetando sangue novo no setor e trazendo um alento à comunidade editorial e aos amantes da literatura.

  • O Seu Dinheiro acaba de liberar um treinamento exclusivo e completamente gratuito para todos os leitores que buscam receber pagamentos recorrentes de empresas da Bolsa. [LIBERE SEU ACESSO AQUI]

Livraria Cultura: histórica, para o bem ou para o mal

"É de todos também sabida a impressão que a Livraria Cultura deixou para o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, que a descreveu como uma linda livraria, uma catedral de livros, moderna, eficaz e bela", continua o juiz Ralpho Monteiro, referindo-se à unidade localizada no prédio do Conjunto Nacional, em São Paulo (SP) — uma espécie de cartão-postal da cidade.

A loja em questão, aliás, era uma das duas que ainda estavam com as portas abertas; a outra está localizada no Bourbon Shopping Country, em Porto Alegre (RS). De resto, o grupo contava apenas com as operações on-line.

No auge do sucesso, a Livraria Cultura chegou a ter lojas em 16 cidades brasileiras — as grandes capitais, como Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e Recife eram os principais centros de atuação do grupo, fundado por Eva Herz em 1947 — a família segue no controle das operações até hoje.

A pandemia foi um golpe particularmente duro nos planos para tentar reerguer o grupo: antes da Covid-19, ainda havia 15 unidades físicas espalhadas pelo país; no começo do ano, esse número caiu para três — uma unidade no shopping Market Place, em São Paulo, foi encerrada nas últimas semanas.

"Mas a despeito disso tudo, e de ter este juízo exata noção desta importância, é com certa tristeza que se reconhece, no campo jurídico, não ter o Grupo logrado êxito na superação da sua crise", diz o juiz.

A Livraria Cultura localizada no Conjunto Nacional, em São Paulo (SP). Foto: Divulgação

Ossos pendurados no teto

Ao entrar na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, não há como desviar os olhos do enorme esqueleto suspenso no teto — uma espécie de dragão ou criatura mística que representa o caráter fantasioso da literatura. Os ossos pendurados, no entanto, parecem ser uma metáfora do que restou da empresa.

A decisão proferida pela Justiça de São Paulo cita os inúmeros descumprimentos, por parte da Livraria Cultura, dos acordos firmados com os credores no plano de recuperação. Da falta de prestação de contas ao não pagamento dos honorários da administradora judicial, há uma série de falhas no processo.

"Está muito evidente que as devedoras não estão empregando esforços para o seu soerguimento", escreve o Juiz Ralpho Monteiro. "A recuperação [judicial] foi pensada para socorrer apenas os devedores que realmente demonstrarem condições de se recuperar, posto que o seu processamento deve amparar somente devedores viáveis".

Outro ponto crítico para a decretação da falência da Livraria Cultura é a falha no cumprimento das questões trabalhistas: segundo a decisão, a empresa deixou de quitar os créditos devidos aos ex-empregados — o pagamento deveria ter sido feito até junho de 2021.

Em nota enviada ao Seu Dinheiro, a Livraria Cultura diz que recebeu a decisão de falência "com grande surpresa", e que pretende recorrer; a empresa ainda diz que as operações físicas e on-line continuam funcionando normalmente. Veja abaixo a íntegra do posicionamento:

A Livraria Cultura informa com grande surpresa a decisão que chegou no final da tarde de 09/02. Nesse momento iremos analisar a decisão do juiz, mas pretendemos recorrer pois entendemos que há soluções mais apropriadas à empresa, buscando sua recuperação, que não a falência. As operações das duas lojas físicas (Conjunto Nacional em São Paulo, e Bourbon Shopping Country em Porto Alegre), site e demais canais mantém-se normalmente em funcionamento.

A Livraria Cultura faliu. Qual será o destino da Saraiva?

A Saraiva também não tem tido vida fácil: na bolsa, suas ações amargam perdas expressivas — os papéis preferenciais SLED4, mais líquidos, fecharam cotados a R$ 1,33 e estão próximos a retornarem novamente à casa dos centavos, mesmo após um grupamento agressivo, na proporção de 35 para um.

Dito isso, após um período de forte impasse no plano de recuperação judicial, com enorme dificuldade para a venda de ativos, a Saraiva parece melhor posicionada para conseguir superar a situação financeira crítica. Em agosto do ano passado, a companhia aprovou junto aos credores a conversão de parte da dívida em ações.

A proposta prevê a conversão de R$ 163 milhões do endividamento envolvido na recuperação judicial em ações — o que, na prática, vai diluir o capital social da companhia, transformando-a numa empresa pulverizada na bolsa. Os débitos a serem equacionados, caso tudo dê certo, ainda ficariam na casa dos R$ 300 milhões.

A Saraiva tem 33 lojas físicas em operação, sendo que o estado de São Paulo concentra a maior parte delas, com 11 unidades — há, ainda, as operações online da companhia.

O livro da Saraiva, assim, ainda parece em aberto; já a história da Livraria Cultura parece chegar às páginas finais com um desfecho sombrio.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
HORA DO ADEUS?

Entenda por que dona do Outback quer sair do Brasil — e ela não é a única

8 de maio de 2024 - 11:49

Apesar de o Brasil representar 83% do faturamento internacional do Outback, gestora Bloomin’ Brands já avaliava vender as operações no país desde 2022

THE END

Capítulo final: o golpe de misericórdia. Saraiva decreta autofalência

4 de outubro de 2023 - 20:38

O pedido foi protocolado nesta quarta-feira (4), algumas semanas depois de a Livraria demitir funcionários e fechar as últimas cinco lojas

NOVO CAPÍTULO

Executivos da Saraiva renunciam após fechamento de lojas físicas; entenda o que isso significa para a rede de livrarias

23 de setembro de 2023 - 12:44

A companhia aprovou a saída de dois executivos da diretoria da companhia, o diretor presidente Jorge Saraiva Neto e o diretor vice-presidente Oscar Pessoa Filho

EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Saraiva vai virar ‘Amazon brasileira’? Livraria confirma decisão de demitir funcionários e migrar totalmente pro e-commerce

21 de setembro de 2023 - 19:48

São 33 lojas físicas em operação, sendo que o estado de São Paulo concentra a maior parte delas, com 11 unidades

Presente de grego

Por que as ações da Saraiva (SLED4 e SLED3) estão desabando mais de 20% após o grupamento?

23 de dezembro de 2021 - 13:15

A Saraiva promoveu um grupamento na proporção de 35 para 1 de suas ações PN (SLED4) e ON (SLED3), reduzindo fortemente a liquidez

Nada de penny stock

Na Saraiva (SLED3 e SLED4), uma medida para aliviar a pressão da CVM — mas que não tira a corda do pescoço

16 de outubro de 2021 - 13:56

A Saraiva (SLED3 e SLED4) quer fazer um grupamento de ações na proporção de 35 para 1, saindo da casa dos centavos — mas perdendo liquidez

fim da linha?

Sem conseguir vender ativos, Saraiva corre risco de ter falência decretada

22 de setembro de 2021 - 16:27

Após ação de um de seus credores, Justiça determinou que empresa apresente em até 30 dias uma nova proposta, sob a pena de que sua falência seja decretada

Perto da falência

Quais ações de empresas em recuperação judicial podem valer o risco?

10 de maio de 2021 - 5:00

Companhias nessa condição costumam ter ações baratas e que oferecem enorme potencial de ganho; os riscos, no entanto, são imensos

Livraria

Saraiva tem prejuízo de R$ 118 milhões no trimestre com lojas fechadas e sem crescer no online

22 de agosto de 2020 - 8:53

A receita líquida da Saraiva despencou 80% no segundo trimestre, para R$ 27,7 milhões. Desse total, apenas R$ 4,6 milhões vieram das lojas físicas

Livrarias em crise

Em acordo, editoras exigem que Saraiva pague livros à vista

24 de novembro de 2018 - 17:01

Para apoiar recuperação judicial da Saraiva, editoras exigem garantias mais claras; acordo semelhante com a Livraria Cultura está no forno

Em crise

Com dívida de R$ 667 milhões, Saraiva pede recuperação judicial

23 de novembro de 2018 - 8:20

Varejista vem passando por dificuldades desde o início do ano e já encerrou as atividades de 19 pontos de venda

Livrarias

Saraiva recebe propostas por cinco livrarias que foram fechadas

15 de novembro de 2018 - 10:00

Rede mineira Leitura, hoje a segunda maior do País, fez propostas para tentar assumir cinco dos pontos de venda que a rival fechou

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar