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Ana Carolina Neira
Ana Carolina Neira
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero com especialização em Macroeconomia e Finanças (FGV) e pós-graduação em Mercado Financeiro e de Capitais (PUC-Minas). Com passagens pelo portal R7, revista IstoÉ e os jornais DCI, Agora SP (Grupo Folha), Estadão e Valor Econômico, também trabalhou na comunicação estratégica de gestoras do mercado financeiro.
RESULTADOS 4T22

Com Selic nas alturas, temporada de balanços do quarto trimestre mostrou empresas (ainda mais) pressionadas

A alta dos juros surgiu como vilã da safra de resultados que encerra 2022, afetando diretamente as despesas financeiras das companhias

Ana Carolina Neira
Ana Carolina Neira
4 de abril de 2023
6:45 - atualizado às 16:03
Fachada do prédio da B3, em São Paulo
Imagem: Divulgação

A temporada de balanços referentes ao quarto trimestre de 2022 chegou ao fim e trouxe um resultado que já estava no radar dos investidores: de maneira geral, as empresas de capital aberto seguem penalizadas pela alta dos juros, que afeta as despesas financeiras e resulta num lucro mais modesto para boa parte delas.

A conclusão é a de que, enquanto os juros não cederem — e o Banco Central não tem sido otimista neste aspecto — não haverá mesmo muito brilho para as companhias listadas na B3.

Vale lembrar que a Selic em alta desacelera não apenas o consumo das famílias, mas encarece também as dívidas das empresas. Hoje, muitas estão endividadas, com geração de caixa menor e, por consequência, lucrando menos também.

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A temporada foi marcada, ainda, por intensa volatilidade e reações surpreendentes para os resultados, mostrando que o mercado de ações anda bastante descolado dos fundamentos e muito sensível a fatores paralelos.

"Já esperávamos um trimestre mais difícil levando em consideração o cenário macroeconômico e também os efeitos sazonais de Copa do Mundo e fim de ano, além dos efeitos políticos", afirma Gabriela Joubert, analista-chefe do Banco Inter.

Para ela, salvo destaques específicos, de fato é a parte de custos e a inflação que ainda pesam nos resultados das empresas, ainda que haja uma tendência de arrefecimento para ambos.

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Quem brilhou na temporada de balanços

Entre os destaques positivos da temporada, um relatório do Bank of America aponta as companhias de itens discricionários e administradoras de shoppings no grupo daquelas que foram bem.

Tem ainda os bancos, que, apesar do choque provocado pela Americanas (AMER3), demonstraram resiliência, com destaque para Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) — este último superou as expectativas e renovou seu lucro recorde.

No caso do Itaú — que segue como favorito de analistas e gestores entre os grandes bancos — além dos números fortes e uma carteira de crédito mais rentável, houve também alívio graças ao provisionamento total com o caso da Americanas. O Itaú é um dos maiores credores da varejista.

Outro setor que trouxe bons números foi o de papel e celulose, mas dentro do esperado, com impulso das receitas maiores que compensaram a alta dos custos.

E, claro, a queridinha da bolsa brasileira, a Weg (WEGE3), que teve um crescimento robusto das receitas e margens mais altas.

Vale também pontuar os bons resultados de Soma (SOMA3) e Arezzo (ARZZ3), que despontam entre as favoritas dos mercados, uma vez que atendem o público de alta renda — e, por isso, sofrem menos os efeitos macroeconômicos.

"Foi um trimestre ruim de maneira geral, com mais decepções do que surpresas positivas, um período de crescimento fraco. Mas é importante diferenciar que essas empresas que vendem para classes mais altas seguem resilientes", diz Paulo Weickert, sócio fundador e co-gestor da Apex Capital.

Quem não foi tão bem assim

Na contramão dessas companhias, as varejistas brasileiras seguem sofrendo com a alta dos juros, o endividamento e a renda mais restrita das famílias — e, claro, o tom mais pessimista que tomou conta do setor. Assim, Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) trouxeram balanços mais pressionados.

A Americanas (AMER3), por sua vez, sequer divulgou seu balanço trimestral enquanto enfrenta a maior crise de sua história.

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Um setor que frustrou no 4T22 foi o de siderurgia e mineração, especialmente quando os analistas avaliam os volumes e os projetos postergados. A Vale (VALE3), especificamente, trouxe números sólidos, mas ainda depende de mais previsibilidade sobre o preço do minério e da solução para a divisão de metais básicos para decolar outra vez.

Para Gabriela Joubert, analista-chefe do Banco Inter, o setor como um todo deve ver uma reversão desse quadro ruim já na temporada de balanços do primeiro trimestre deste ano, mas apenas parcialmente.

No caso específico da Vale, houve ainda uma aposta que não se confirmou: a de que a reabertura da China provocaria efeitos positivos imediatos e disseminados.

Já no setor de petróleo e gás, o que mais pesou foi a baixa na cotação do petróleo ao longo do quarto trimestre.

Mas aqui, o que interessa mesmo é saber sobre a Petrobras (PETR4): ela trouxe um lucro recorde de R$ 188,3 bilhões para o ano e aprovou a tão esperada distribuição de dividendos.

O problema é que, neste caso, cabe aquele ditado: "tudo certo, mas nada resolvido". Os dados vieram tão sólidos quanto o mercado esperava, mas as dúvidas sobre as políticas de precificação de combustíveis e distribuição de proventos seguem preocupando os investidores.

Outro setor que sofreu nesta temporada de balanços foi o de frigoríficos, conforme aponta o mesmo relatório do BofA. Para a JBS (JBSS3) e a Marfrig (MRFG3), o que pesou mais foram as margens mais baixas no mercado de carne bovina nos Estados Unidos. Já o excesso de oferta de frango prejudicou a BRF (BRFS3), enquanto o consumo doméstico caiu.

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