Vale a pena abandonar as ações da Tupy (TUPY3) após troca de executivos na empresa? Saiba o que esperar dos papéis
Na última sexta-feira, a Tupy anunciou a renúncia de dois membros do Conselho e a entrada de novos nomes para o lugar
O último fim de semana não foi dos mais fáceis para o investidor de Tupy. Digo por experiência própria: a empresa está entre as três maiores posições da Carteira Market Makers. Se você decidiu passar o fim de semana na praia ou não abriu as redes sociais e ainda não sabe do que se trata, eu explico.
Na última sexta-feira após o fechamento do pregão, a Tupy comunicou ao mercado a renúncia de dois membros do Conselho de Administração da companhia e a entrada de novos nomes para o lugar.
O que chamou atenção de muita gente e gerou frenesi nas redes sociais foi que as pessoas escolhidas pelos acionistas para ocupar alguns dos cargos mais importantes da empresa são nomes políticos.
Saíram do conselho duas pessoas técnicas do BNDES: Carla Gaspar Primavera, especialista em transição energética, e Fabio Rego Ribeiro, especialista em investimentos privados do banco; e entraram Anielle Franco e Carlos Lupi, dois ministros do atual governo Lula.
Anielle Franco é ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle Franco, assassinada em 2018, enquanto Carlos Lupi é ministro da Previdência Social e presidente do Partido Democrático Trabalhista (PDT).
No documento, a Tupy informou que a indicação veio de um dos acionistas da companhia, a BNDES Participações S.A. (BNDESPar), que detém 28,2% das ações da empresa.
Como a PREVI, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, detém outros 24,8%, as indicações devem ser aprovadas por maioria dos votos.
A expectativa do mercado na Tupy
Como acionistas da Tupy através do Market Makers FIA não gostamos da mudança no conselho. Os novos conselheiros não possuem qualquer histórico em metalurgia, empresas de capital aberto e sequer estão envolvidos em pautas estratégicas para a empresa.
Como o conselho de uma empresa existe para zelar pelo interesse dos acionistas e fiscalizar a atuação dos executivos, ficamos preocupados pelas indicações de cunho político.
Apesar disso, é importante entender a expectativa do mercado na Tupy. Descontos de governança corporativa ou mesmo dificuldades no entendimento de geração de valor geralmente são refletidos nos múltiplos que o mercado paga pelas companhias.
Pegando como referência o múltiplo EV/EBITDA, a Tupy (linha azul do gráfico) é a empresa mais descontada quando comparada aos seus pares:
Além disso, a Tupy (linha branca) tem o pior desempenho no ano: ela tem sido afetada por uma demanda menor pelos seus produtos, principalmente no Brasil, por conta de um efeito conjuntural no setor, que é a transição da frota de motores euro 5 para euro 6 além do ambiente macroeconômico desfavorável.
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Tudo isso para dizer que SIM, a entrada dos conselheiros é negativa, mas não dá para desprezar o preço que se paga pela companhia.
Se o mercado pagasse prêmio de governança e algo dessa magnitude acontecesse, a ação teria que corrigir com razão ao evento, mas não foi bem o que aconteceu: a ação chegou a cair quase 6% no início do pregão de ontem, mas fechou o dia com queda de 1,92%.
Dos ruídos aos sinais
Como o objetivo é sempre separar o sinal, que é aquilo que realmente importa, do ruído, vamos aos fatos.
O BNDES e a Previ são acionistas da companhia desde 2007 e nunca atrapalharam a estratégia de consolidação da companhia no setor de fundição de blocos e cabeçotes no Ocidente, chancelando duas grandes aquisições nos últimos anos: Teksid e MWM, que juntas somaram R$ 1,2 bilhão em aquisições.
Como investidores da empresa, tanto o BNDES como a Previ querem extrair algum retorno desses investimentos de modo a devolvê-los para a sociedade, para que possa ser investido pelo governo em educação, saúde etc.
Acho míope somente acreditar que os acionistas de referência estão na companhia para destruir valor - embora o evento de sexta não contribua em nada para essa narrativa.
Concordo que os dois conselheiros não devem contribuir na estratégia de longo prazo da Tupy, mas tenho dificuldades de entender como eles vão atrapalhar no dia-a-dia.
O maior risco seria a saída de executivos, que por sua vez, já passaram por outros governos no passado. Como, por exemplo, o CEO Fernando Rizzo, que está na empresa há 19 anos, 5 deles como CEO.
Vale a pena desistir da empresa?
Olhando especificamente para a agenda dos executivos, a empresa nunca esteve tão bem posicionada. Em relatório que enviamos para os membros da Comunidade Market Makers, destacamos o momento dela:
“Com as recentes aquisições da Teksid (2019) e MWM (2022), a Tupy se posiciona como a empresa líder na produção de blocos e cabeçotes de ferro fundido de todo o Ocidente, e dado que estes componentes são indispensáveis para motores à combustão, enxergamos espaço para a Tupy expandir suas receitas e margens, seja através de contratos mais rentáveis - afinal ela conquistou poder de barganha o suficiente para buscar isso - ou mesmo agregando serviços mais complexos, tais como usinagem e montagem de motores.”
Portanto, apesar da entrada dos dois conselheiros não estar alinhada com os rumos da companhia, não acho que isso é suficiente para jogar fora toda a relevância que a empresa conquistou ao longo dos últimos anos e o trabalho que vem sendo feito internamente pelos atuais executivos, inclusive, na frente de descarbonização, em que o governo pode até ser parceiro dela.
A notícia é ruim, mas não muda a visão positiva que enxergamos para a Tupy, principalmente, no preço atual.
Negociando a menos de 4 vezes o EBITDA para 2024 (a estimativa do consenso é de R$ 1,6 bilhão), a Tupy tem condições de gerar R$ 700 milhões de caixa - já descontando o Capex, imposto de renda e as despesas financeiras -, o equivalente a 20% do seu valor de mercado.
Um abraço,
Matheus Soares
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