Assim caminha a humanidade: para onde está indo o mundo um ano depois da invasão da Ucrânia pela Rússia
Continuidade da guerra aponta para nova realidade dos investimentos no futuro próximo, com aumento de gastos militares e regionalização das cadeias de suprimentos

No dia 24 de fevereiro completaremos um ano da invasão russa ao território ucraniano. Para um conflito que todos pensavam já ter um ganhador claro, o trajeto até aqui se provou uma grande frustração para os russos, diante da resiliência do povo da Ucrânia e da represália internacional. Imaginava-se que seria fácil como na Crimeia, em 2014, mas as coisas nitidamente não foram por este caminho.
Podemos enumerar diversos motivos para a escalada da guerra, mas talvez um dos mais relevantes seja a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu.
Invadir a Ucrânia não só revigorou a aliança militar, a qual todos entendiam como cada vez mais escanteada desde a Queda do Muro de Berlim, como também promoveu a sua expansão para o norte, para a Suécia e a Finlândia.
Putin refém da China?
Como disse o presidente norte-americano, Joe Biden, que visitou inesperadamente a capital ucraniana no feriado, quando Putin lançou seu ataque, ele imaginou lidar com uma Ucrânia fraca e um Ocidente dividido, mas o presidente russo estava redondamente enganado. Colocou-se numa posição de desvantagem, sangrou a economia de seu país e se tornou refém (dependente) da China.
Aliás, podemos ir além. Durante décadas, países ao redor do mundo reduziram seus exércitos terrestres e cortaram gastos com armamento, como artilharia, certos de que outra grande guerra terrestre era improvável na era moderna.
A ideia central era de que qualquer conflito seria de alta tecnologia e direcionado. Os soldados estariam, ao invés de armados, debruçados sobre teclados a milhares de quilômetros de distância.
Leia Também
Guerra comercial abre oportunidade para o Brasil — mas há chance de transformar Trump em cabo eleitoral improvável de Lula?
Felipe Miranda: A arte da negociação — ou da guerra?
- O SEGREDO DOS MILIONÁRIOS: as pessoas mais ricas do Brasil não hesitam em comprar ações boas pagadoras de dividendos. Veja como fazer o mesmo neste treinamento exclusivo que o Seu Dinheiro está liberando para todos os leitores.
As lições militares da invasão da Ucrânia
A invasão da Ucrânia por Vladimir Putin mudou rapidamente esse pensamento. Agora, o que estamos vendo é uma rápida reavaliação não apenas da necessidade de aumentar os gastos com defesa, mas de qual armamento é necessário (diferentes tipos de armas, projéteis e drones).
Além das armas, deu aos exércitos globalmente muito o que refletir sobre o que deu certo para a Ucrânia e o que deu errado para a Rússia.
Isso inclui linhas de abastecimento, estruturas de comando e controle, coleta e entrega de inteligência.
Hoje, a Ucrânia passa a desfrutar das conquistas de seu aprendizado bem-sucedido em tempo real, enquanto a Rússia começa a evitar alguns dos erros inicialmente cometidos.
Algumas conclusões importantes dessa guerra
De fato, temos algumas coisas únicas sobre o conflito na Ucrânia, mas também há algumas conclusões importantes.
Com isso, aconteça o que acontecer, o incidente abalou o cenário de segurança tanto para os vizinhos próximos da Ucrânia quanto para os países mais distantes, de uma forma que teremos reverberações por muitos anos, aprofundando provavelmente o processo de desglobalização parcial e regionalização do mundo, com os países se juntando em novas alianças e se alinhando em prol de segurança, não mais eficiente das cadeias, como foi nas últimas décadas.
Inclusive, os membros da Otan precisam aumentar seus gastos com defesa urgentemente.
Essa foi a mensagem que a cúpula com os ministros da Defesa dos Estados membros quis passar para o mundo.
Leia também
- A invasão dos OVNIs foi adiada: entenda por que a tensão geopolítica pode ser ruim para o Brasil
- Surreal! O ‘peso-real’ deixou todo mundo histérico, mas inutilmente; entenda por que moeda comum não vai sair do papel
Do piso ao teto de gastos (militares)
Em 2014, na época da invasão da Crimeia pela Rússia, os países da Otan se comprometeram a aumentar seus respectivos gastos com defesa para 2% do produto interno bruto.
Ainda assim, embora muitos tenham aumentado seus gastos com equipamento militar e treinamento, a maioria dos estados da Otan ainda fica aquém do limite de 2%, incluindo Alemanha, França, Itália e Canadá (Trump tinha o hábito de criticar os membros da Otan, principalmente a Alemanha, por não pagarem sua parte). Os EUA, por outro lado, lideram o grupo, gastando 3,47% do PIB em defesa.
Por isso, enquanto a guerra devasta a Europa novamente e as tensões com a China aumentam (clique aqui para conferir o que escrevi sobre o tema recentemente), a meta de 2% da Otan, que expira no próximo ano, deve ser vista como o piso e não mais como o teto.
A Finlândia e a Suécia, ambas competindo pela entrada no bloco, gastam respectivamente 2% e 1,3% do PIB em defesa (Finlândia está mais próxima de entrar).
Aumento de gastos militares em meio à alta dos juros
Vale lembrar que isso tudo acontece enquanto estamos vivendo o momento no qual as taxas de juros e a inflação são extremamente relevantes.
Por exemplo, há mais de um ano, estávamos com uma taxa zero nos EUA, sendo que terminamos o ano passado caminhando para 5% de juro, enquanto pensávamos inicialmente que seria 1%. Todo o mundo passa hoje por uma política contracionista dura, diferente dos últimos 10 anos.
Depois de muito tempo com juros negativos, se acumularam pressões inflacionárias completamente inesperadas: a pandemia, o pós-pandemia e a guerra na Ucrânia.
Em outras palavras, os choques que vivemos recentemente devem moldar um pouco a forma como vemos o mundo daqui para a frente, com mais inflação e, consequentemente, mais juros. Um novo equilíbrio macroeconômico.
Meu entendimento é que as novas questões geopolíticas vão gerar inflação persistente e forte por muito tempo, resultado do processo de "reshoring" do Ocidente, em especial dos EUA, que não querem mais depender da China e de seus aliados (Rússia, por exemplo) — o “reshoring” traz de volta a cadeia de suprimentos para o país de origem.
Isso gera mais empregos industriais e um boom de Capex nos EUA e na Europa, assim como em países mais próximos e considerados amigos, como o Brasil e o México.
Por sinal, o processo coloca o Brasil em uma posição peculiar, uma vez que China e EUA são nossos dois principais parceiros econômicos.
O nosso país nasce como uma potência neutra para servir de pivô nessa relação, ao menos no que nos cabe.
Voltando ao assunto, a continuidade da guerra rompe cada vez mais as relações do Oriente com o Ocidente, que vai gerar pressão inflacionária persistente, mesmo que diluída no tempo, ao passo em que constrói suas novas estruturas regionalizadas.
Bem-vindos à nova realidade do mundo dos investimentos. Os vencedores em breve serão revelados, se afastando possivelmente dos vencedores da última década.
Trump mira na paz e acerta no ódio: o dia que Zelensky disse que Putin ia morrer
Em entrevista à uma emissora francesa, o presidente da Ucrânia fala algumas vezes na morte de Vladimir Putin — coragem ou desespero?
Inocentes ou culpados? Governo gasta e Banco Central corre atrás enquanto o mercado olha para o (fim da alta dos juros e trade eleitoral no) horizonte
Iminência do fim do ciclo de alta dos juros e fluxo global favorecem, posicionamento técnico ajuda, mas ruídos fiscais e políticos impõem teto a qualquer eventual rali
Ainda sobe antes de cair: Ibovespa tenta emplacar mais uma alta após decisões do Fed e do Copom
Copom elevou os juros por aqui e Fed manteve a taxa básica inalterada nos EUA durante a Super Quarta dos bancos centrais
O que é bom dura pouco: Putin responde Trump com um novo ataque
Um dia depois de conversar com o presidente norte-americano sobre um cessar-fogo na Ucrânia, Rússia usa drones e atinge áreas civis e um hospital
De volta à Terra: Ibovespa tenta manter boa sequência na Super Quarta dos bancos centrais
Em momentos diferentes, Copom e Fed decidem hoje os rumos das taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos
O canto da sereia (de Trump) é irresistível até para Putin
O russo conversou com o republicano por telefone e deu o primeiro passo na direção de um cessar-fogo na Ucrânia, mas fez um alerta
Não é um pássaro (nem um avião): Ibovespa tenta manter bom momento enquanto investidores se preparam para a Super Quarta
Investidores tentam antecipar os próximos passos dos bancos centrais enquanto Lula assina projeto sobre isenção de imposto de renda
Mais uma Super Quarta vem aí: dois Bancos Centrais com níveis de juros, caminhos e problemas diferentes pela frente
Desaceleração da atividade econômica já leva o mercado a tentar antecipar quando os juros começarão a cair no Brasil, mas essa não é necessariamente uma boa notícia
Amigos & rivais: a ligação de Trump para Putin e a visita de Xi Jinping a Washington
Se a vida imita a arte, o republicano é a prova disso: está tentando manter os amigos perto e os inimigos ainda mais próximos
As múltiplas frentes de batalha de Donald Trump
Disputas comerciais, batalha contra os serviços públicos, participação indireta em conflitos no Oriente Médio e tentativa de paz pela força na Ucrânia fazem parte das várias guerras nas quais o republicano se meteu
A terceira grande guerra bate à porta: Trump vai abrir?
Presidente norte-americano discursa no Departamento de Justiça dos EUA e fala que uma guerra global agora não teria precedentes porque seria patrocinada por armas nucleares
Trump golpeia, Otan se esquiva — mas até quando?
Mark Rutte, chefe da aliança transatlântica, esteve na Casa Branca nesta quinta-feira (13) para tentar convencer os EUA a se manterem na linha de frente da luta pela Europa
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Hegemonia em disputa: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de IPCA, dados de emprego nos EUA e balanços
Temporada de balanços volta a ganhar fôlego enquanto bolsas têm novo horário de funcionamento, inclusive no Brasil
Trump e Putin: uma amizade sem limites — até quando?
O republicano rebateu críticas de que sua administração está sendo leniente com a Rússia — na avaliação dele, apesar da boa relação com o russo, há ações sendo feitas para pressionar Moscou
Putin tem medo do que? A única coisa que pode conter a máquina de guerra da Rússia agora — e está ao alcance de Trump
Enquanto o presidente norte-americano tenta um acordo de paz pouco ortodoxo na Ucrânia, economista do Brooking Institute diz qual é a única coisa que pode segurar o russo no momento
O grande dia para os EUA está chegando
As idas e vindas de Trump sobre as tarifas e a manutenção do discurso agressivo voltam a mexer com os mercados e levam um dos maiores fundos de hedge do mundo a fazer um alerta
Quando você é o técnico: Ibovespa busca motivos para subir em dia decisão de juros do BCE
Além do BCE, os investidores seguem de olho nas consequências da guerra comercial de Donald Trump
Içando a âncora fiscal: a proposta do novo governo alemão para flexibilizar o “freio da dívida” e investir em defesa após recuo dos EUA
Os partidos de centro concordaram em lançar um fundo de 500 bilhões de euros (R$ 3,1 trilhões) para investir em setores prioritários como transporte, redes de energia e habitação
Após discussão entre Trump e Zelensky na Casa Branca, Europa anuncia plano de paz próprio para guerra entre Rússia e Ucrânia
Primeiro-ministro do Reino Unido diz que país concordou com França e Ucrânia em trabalhar num plano de cessar-fogo