Tony Volpon: Recessão nos EUA ou pouso suave? O que esperar da maior economia do mundo em 2024 — e um conselho para o seu bolso
O debate agora vai ser entre os que acreditam em fundamentos para um pouso suave nos EUA e os pessimistas pregando um cenário recessivo
Na minha última coluna intitulada “Ponto de virada?”, concluímos – baseados no comportamento dos mercados de renda fixa e dos níveis de então, com as Treasuries de dez anos beirando 5% – que estava na hora de abandonar o pessimismo que tem norteado meus comentários desde agosto.
A perfeita trifeta para se posicionar é a combinação de valuation, posicionamento e fundamentos.
Tinha, nessa última coluna, identificado a existência dos dois primeiros, sem ter muita certeza se os fundamentos iam ajudar, mas o fluxo de dados foi o melhor possível, começando no início do mês com um non-farm payroll de 150 mil novos empregos, contra 180 mil esperados, e uma forte desaceleração dos 297 mil no mês de outubro.
O Payroll, seguido por dados mais fracos de inflação, levou a um furioso rali nas Treasuries, com um fechamento da taxa de dez anos de quase 0,70% ao longo do mês, e com o S&P 500 recuperando todas as perdas sofridas desde agosto.
O fiscal nos EUA e as Treasuries
Mas e a questão fiscal? Bom, nada mudou. Mas, como já argumentamos (acreditamos que isso também seja verdade no caso brasileiro), risco fiscal deve ser expresso em uma maior inclinação da curva, um prêmio de risco que acaba sendo um term premium, e não na parte curta da curva.
Assim, sinais mais fortes de desaceleração econômica e desinflação, como aconteceram ao longo de novembro, devem sim levar as taxas longas a caírem, apesar do risco fiscal.
Leia Também
Essa mudança de fase da economia não deveria ser uma surpresa – nunca acreditei na ideia do “no landing”. Há uma certa fadiga na economia americana, o carro-chefe do consumo.
O debate agora vai ser entre aqueles que acham que os fundamentos estão ainda suficientemente fortes para assegurar um pouso suave, e os pessimistas pregando um cenário recessivo.
As projeções para os EUA
Novembro é época de lançamento das previsões e recomendações para o novo ano, e uma leitura (ainda que parcial) desses relatórios mostra a grande maioria apostando no pouso suave, com as recomendações diferenciadas por um peso maior ou menor em renda fixa, que quase todos acreditam ter bastante espaço para subir com a queda da inflação e corte de juros pelo Fed.
O Morgan Stanley, para dar um exemplo, projeta a Treasury de dez anos fechando o ano em 3,95% com corte de juros no segundo trimestre. O JP Morgan projeta 3,75% com cortes começando no terceiro trimestre.
Só que o mercado já precifica uma probabilidade relevante de corte de juros na reunião de março, com uma queda acumulada de fed funds de 1,20%.
Dado que devemos tratar tal precificação como sendo um mix de cenários prováveis, podemos concluir que, no espaço de um mês, o mercado de renda fixa saiu do “no landing”, passou direto pelo pouso suave, e hoje está já atribuindo uma probabilidade relevante de uma recessão em 2024.
O S&P 500 nas alturas
Mas, isso sendo verdade, como que o S&P 500 está flertando com as máximas? A explicação dessa aparente contradição passa por algumas observações.
A primeira é que, na maioria dos ciclos, a bolsa americana não corrige antes que fique claro que uma recessão está em curso. Assim, não é raro ver, por exemplo, a curva de juros invertida – um sinal claro de risco recessivo – e a bolsa subindo.
A segunda razão, já amplamente comentada, é que a bolsa americana hoje está megaconcentrada em ações de big techs que já precificam a promessa da inteligência artificial. O consenso é que essas empresas são relativamente imunes ao ciclo econômico, especialmente se o pior cenário imaginado for uma “leve” recessão.
Assim, me parece que a questão principal para a bolsa americana será se a precificação do tema AI está ou não exagerada, e se uma eventual recessão poderia desacelerar os investimentos na adoção dessas novas ferramentas, machucando a rentabilidade das empresas fornecedoras.
2024: juros nos EUA, Biden e eleições
Mas isso são preocupações para quando estiver claro que a recessão começou. Mais imediatamente, acredito que o “X” da questão será o comportamento do mercado de trabalho nos EUA.
Uma antecipação do ciclo de corte – já precificado pelos mercados, mas não sendo a previsão da maioria dos analistas – vai depender muito da taxa de desemprego.
A taxa vem subindo lentamente da sua mínima de 3,4%, mas aqui também o histórico sugere que se ela chegar ao nível de 4,2%, pode esperar por uma boa gritaria para o Fed agir e cortar o fed funds imediatamente.
Um fato a ser lembrado é que vários dos novos membros do Fed recém-nomeados pelo governo Biden são economistas especializados no mercado de trabalho e de tendência mais dovish.
Outro fator adicional: 2024 é ano eleitoral, e as pesquisas hoje não são favoráveis a Biden, imagina o que pode acontecer se houver uma recessão.
Mas haverá também outra linha de ataque dos doves até se não houver uma recessão, mas a inflação continuar a se comportar melhor.
Vamos ouvir o argumento de que, com a queda da inflação, a taxa de juros real estaria subindo de forma passiva, e assim o Fed deveria fazer “corte de ajuste” no fed funds.
Tal movimento faz sentido (é na prática o que o nosso Banco Central vem fazendo) mas não justificaria o que já está precificado de cortes, e sim o que vários estrategistas estão sugerindo, algo como cortes de 0,25% a cada outra reunião.
Este será o debate de 2024, que já começou efetivamente.
- VEJA TAMBÉM: ONDE INVESTIR EM DEZEMBRO: VEJA RECOMENDAÇÕES GRATUITAS EM AÇÕES, FIIS, BDRs E CRIPTOMOEDAS
Um conselho para o seu bolso
Eu acredito que a economia americana realmente “virou a chave” e deve rodar abaixo do seu potencial com riscos de cair em recessão.
Neste momento me parece que, de um lado, a renda fixa está fazendo uma aposta bem maior que a renda variável que teremos uma recessão em 2024, o que levaria o Fed a acelerar os cortes bem além de suaves ajustes para calibrar a taxa real ex-ante.
Também acredito que a bolsa dos EUA não é tão imune a uma recessão, como dizem os mais otimistas, porque, no final do dia, as 493 empresas do S&P 500 são as que têm que comprar os fabulosos novos produtos do “Magnificent Seven”.
Levando essas duas conclusões em consideração, eu estaria bem menos alocado em risco neste momento.
O conflito entre as narrativas de recessão versus pouso suave nos EUA deve durar um bom tempo e gerar boas oportunidades de compra e venda, e depois do rali furioso de novembro, um pouco de cautela e paciência parece ser o caminho mais prudente.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
Azeite a peso de ouro: maior produtora do mundo diz que preços vão cair; saiba quando isso vai acontecer e quanto pode custar
A escassez de azeite de oliva, um alimento básico da dieta mediterrânea, empurrou o setor para o modo de crise, alimentou temores de insegurança alimentar e até mesmo provocou um aumento da criminalidade em supermercados na Europa
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Está com pressa por quê? O recado do chefão do BC dos EUA sobre os juros que desanimou o mercado
As bolsas em Nova York aceleraram as perdas e, por aqui, o Ibovespa chegou a inverter o sinal e operar no vermelho depois das declarações de Jerome Powell; veja o que ele disse
A escalada sem fim da Selic: Campos Neto deixa pulga atrás da orelha sobre patamar dos juros; saiba tudo o que pensa o presidente do BC sobre esse e outros temas
As primeiras declarações públicas de RCN depois da divulgação da ata do Copom, na última terça-feira (12), dialogam com o teor do comunicado e do próprio resumo da reunião
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Voltado para a aposentadoria, Tesouro RendA+ chega a cair 30% em 2024; investidor deve fazer algo a respeito?
Quem comprou esses títulos públicos no Tesouro Direto pode até estar pensando no longo prazo, mas deve estar incomodado com o desempenho vermelho da carteira
A Argentina dos sonhos está (ainda) mais perto? Dólar dá uma trégua e inflação de outubro é a menor em três anos
Por lá, a taxa seguiu em desaceleração em outubro, chegando a 2,7% em base mensal — essa não é apenas a variação mais baixa até agora em 2024, mas também é o menor patamar desde novembro de 2021
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Stuhlberger compra bitcoin (BTC) na véspera da eleição de Trump enquanto o lendário fundo Verde segue zerado na bolsa brasileira
O Verde se antecipou ao retorno do republicano à Casa Branca e construiu uma “pequena posição comprada” na maior criptomoeda do mundo antes das eleições norte-americanas
Em ritmo de festa: Ibovespa começa semana à espera da prévia do PIB; Wall Street amanhece em alta
Bolsas internacionais operam em alta e dão o tom dos mercados nesta segunda-feira; investidores nacionais calibram expectativas sobre um possível rali do Ibovespa
Agenda econômica: Prévia do PIB é destaque em semana com feriado no Brasil e inflação nos EUA
A agenda econômica da semana ainda conta com divulgação da ata da última reunião do Copom e do relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
Renda fixa apimentada: “Têm nomes que nem pagando CDI + 15% a gente quer”; gestora da Ibiuna comenta sobre risco de bolha em debêntures
No episódio da semana do podcast Touros e Ursos, Vivian Lee comenta sobre o mercado de crédito e onde estão os principais riscos e oportunidades
7% ao ano acima da inflação: 2 títulos públicos e 10 papéis isentos de IR para aproveitar o retorno gordo da renda fixa
Com a alta dos juros, taxas da renda fixa indexada à inflação estão em níveis historicamente elevados, e em títulos privados isentos de IR já chegam a ultrapassar os 7% ao ano + IPCA
Selic sobe para 11,25% ao ano e analista aponta 8 ações para buscar lucros de até 87,5% ‘sem bancar o herói’
Analista aponta ações de qualidade, com resultados robustos e baixo nível de endividamento que ainda podem surpreender investidores com valorizações de até 87,5% mais dividendos
Carne com tomate no forno elétrico: o que levou o IPCA estourar a meta de inflação às vésperas da saída de Campos Neto
Inflação acelera tanto na leitura mensal quanto no acumulado em 12 meses até outubro e mantém pressão sobre o BC por mais juros
Você quer 0 a 0 ou 1 a 1? Ibovespa repercute balanço da Petrobras enquanto investidores aguardam anúncio sobre cortes
Depois de cair 0,51% ontem, o Ibovespa voltou ao zero a zero em novembro; índice segue patinando em torno dos 130 mil pontos