Outra Super Quarta dos Bancos Centrais vem aí — e o cenário de juros tende a ficar cada vez mais propício para os ativos de risco
Ciclo de redução de juros já começou no Brasil; EUA estão na fase de ajuste fino e podem começar a cortar taxas dentro de um ano
Aqui estamos diante de mais uma das tão conhecidas "Super Quartas".
O termo encapsula a tendência intrínseca dos brasileiros de focar nos investimentos.
Um dia que inclui reuniões de política monetária tanto no Brasil quanto nos EUA? Bem, por que não chamar esse evento de "Super Quarta"?
Independentemente do nome, é inegável a relevância desta quarta-feira (20).
Na verdade, a semana toda está repleta de encontros de autoridades monetárias.
Começamos com EUA e Brasil na quarta-feira, seguimos para o Reino Unido na quinta-feira e encerramos a semana com o Japão na sexta-feira. Essa sequência de reuniões sucede a realizada pela Zona do Euro na semana passada.
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Fonte: Bloomberg.
Apesar da proximidade das datas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil está em uma posição distinta em comparação com outros lugares.
Aqui, espera-se mais uma redução de 50 pontos-base na Selic, levando a taxa a 12,75% ao ano. A incerteza recai sobre o comunicado que acompanhará a decisão.
Por enquanto, o cenário predominante é manter a linguagem atual, antecipando mais cortes de 50 pontos até o final de 2023, resultando em uma taxa básica de juros de 11,75% ao ano.
Copom pode acelerar cortes nos juros
Contudo, dependendo dos dados nos próximos meses até dezembro, pode haver uma aceleração no ritmo de queda.
Por exemplo, se tivermos mais dados de inflação semelhantes a agosto, quando os números ficaram no limite inferior das estimativas e apresentaram qualidade favorável, um corte de 75 pontos em dezembro pode ser uma possibilidade. Isso colocaria a Selic em 11,50% no final de 2023, o que seria bastante interessante.
Os céticos quanto à mudança na linguagem do BC para acelerar a queda dos juros baseiam sua posição no fato de que as expectativas de inflação estão acima das metas, a economia continua a mostrar um crescimento resiliente e o mercado de trabalho permanece apertado. Nesse sentido, é necessário exercer prudência.
Também é importante lembrar de três aspectos:
- i) a situação fiscal deteriorou-se nas últimas semanas, com o mercado questionando a execução do Orçamento de 2024;
- ii) a pressão dos alimentos e combustíveis no IPCA; e
- iii) o dólar mantém-se em um patamar mais próximo de R$ 4,90 do que R$ 4,70.
Sobre o segundo ponto, a escalada nos preços do petróleo introduziu o risco de novos reajustes da gasolina e do diesel.
Essa nova dinâmica na balança de riscos diminui as chances de uma queda de 75 pontos-base em dezembro.
Portanto, mantenho minha visão de mais cortes de 50 pontos até o final do ano como cenário predominante.
Cortes mais acentuados nos juros são mais prováveis em 2024
Uma aceleração até dezembro não é impossível, mas é menos provável. Em 2024, essa possibilidade aumenta.
Até o fim do ano que vem, devemos nos encaminhar para uma Selic de um dígito, podendo encerrar o ano entre 8,5% e 9,5%, dependendo dos dados da economia brasileira nos próximos 12 meses.
Fed deve manter atual nível dos juros
Enquanto isso, nos EUA, a situação é um pouco distinta.
Espera-se que o banco central mantenha as taxas estáveis na quarta-feira, entre 5,25% e 5,50%, mas o foco dos mercados estará no chamado gráfico de pontos do Fed, que ilustra as projeções das autoridades sobre as taxas.
Na última vez, em junho, o documento mostrou mais dois aumentos de taxas em 2023, sendo que já tivemos um deles em julho.
Uma questão crucial é se o Federal Reserve (Fed) irá aumentar as taxas novamente antes do fim do ano – o mercado não acredita que isso ocorrerá – e quando começará a reduzi-las.
Embora o gráfico de projeções seja informativo até certo ponto, o Fed está condicionado aos dados, e, portanto, a trajetória futura das taxas pode mudar rapidamente.
Eu considero bastante provável que haja mais um aumento residual de 25 pontos-base até o final do ano antes de encerrar o ciclo de aperto monetário, ao contrário do que ocorreu na reunião do Banco Central Europeu (BCE) na semana passada, quando provavelmente testemunhamos o final do ciclo de aperto monetário na região, chegando a 4% ao ano.
Inflação é o foco
Os dados de inflação, especialmente, estarão no cerne das considerações das autoridades – o índice de preços ao consumidor subiu para um ritmo anual de 3,7% em agosto, em comparação com os 3,2% de julho.
No entanto, não se resume apenas aos dados principais. Outros fatores estão alimentando a inflação que o Fed vai monitorar enquanto busca atingir sua meta de 2%.
O custo da energia é uma consideração, assim como os aumentos salariais. A última parte da batalha contra a inflação para o Fed será sempre a mais desafiadora, e está se tornando mais difícil a cada dia.
Com a inflação significativamente acima da meta de 2% e uma atividade econômica robusta, o Fed pode preferir manter a porta aberta para mais aumentos, em vez de declarar imediatamente o fim do ciclo de aperto monetário, correndo o risco de surpresas.
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Fundamentalmente, o comportamento das taxas de juros é o que determina o ciclo de mercado. Essa taxa de juros está apenas começando a cair no Brasil agora.
Nos Estados Unidos, por outro lado, mesmo que haja debate circunstancial sobre um possível aumento adicional ou não na taxa básica de juros até o final do ano, estamos claramente na fase de ajuste fino. Em um ano, é provável que o Fed já tenha iniciado seu ciclo de redução da taxa básica.
Com mais de 30 anos de experiência profissional, em períodos sem recessão ou crises severas, os ciclos de redução de juros estão associados a uma valorização acentuada dos ativos de risco.
Portanto, vejo com otimismo o investimento em ativos de risco no Brasil neste momento.
É claro que isso deve ser feito com a devida adequação das posições, de acordo com o perfil de risco, e uma diversificação apropriada da carteira, acompanhada das proteções correspondentes.
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