Mudança de CEO, apagão e risco Lula. Chegou a hora de vender Eletrobras?
A manifestação favorável da PGR sobre a vontade de o governo aumentar o seu poder de voto na companhia também pesou sobre os papéis da companhia; o que fazer agora?
Nesta semana, fomos surpreendidos com a renúncia de Wilson Ferreira Jr. do cargo de CEO da Eletrobras, o que fez as ações descarrilarem nos últimos dias.
Mas será que essa saída é um sinal para vender os papéis? Será que a partir de agora, sem Wilson no comando, a Eletrobras está entrando em um ciclo de piora de resultados e de governança?
Antes, precisamos entender o que o antigo CEO representou no processo de reconstrução da Eletrobras.
Wilson, o salvador
Além de ter um longo track record de sucesso no setor, foi sob o comando de Wilson Ferreira Jr. que a Eletrobras se reergueu, após quase ter quebrado com a má administração durante o governo Dilma.
Aquela primeira gestão de Wilson, que começou no governo Temer (2016) e terminou em 2021, foi inquestionavelmente ótima, e foi graças a ela que a Eletrobras não quebrou.
Foi graças ao Wilson, também, que a privatização aconteceu, já que ninguém se interessaria pela companhia sem todas as melhorias que foram feitas em sua administração.
Leia Também
Os processos foram revistos, o quadro de funcionários foi enxugado e inúmeras subsidiárias deficitárias foram vendidas. Repare na evolução da receita, ebitda e lucro em seus primeiros anos à frente da companhia.
Em 2021, Wilson deixou a Eletrobras para ser CEO da Vibra, mas não demorou muito para voltar para a elétrica. Naturalmente, o mercado comemorou o seu retorno, em setembro de 2022, após a privatização.
Naturalmente, também, o mercado ficou decepcionado com a renúncia nesta semana, especialmente por achar que isso estaria de alguma forma relacionado a alguma interferência política.
Mas ao que tudo indica, não foi exatamente isso o que aconteceu. Segundo várias notícias que saíram ao longo da semana, Wilson teria renunciado por conta de desentendimentos com o Conselho de Administração da Eletrobras.
A DINHEIRISTA — Pensão alimentícia: valor estabelecido é injusto! O que preciso para provar isso na justiça?
A Eletrobras é outra depois da privatização
Obviamente, respeitamos muito a figura de Wilson e não temos como saber exatamente o que aconteceu nos bastidores da companhia. Mas os rumores de uma relação estremecida com o Conselho fazem sentido, em nossa visão.
O nome da empresa é o mesmo, mas a verdade é que a Eletrobras de hoje é bem diferente em termos de gestão. Há alguns anos, a companhia era estatal, sem quase nenhum poder dos conselheiros e "apenas" um ministro a quem Wilson se reportava, mas que nunca esteve muito interessado em prestação de contas.
Após a privatização, a Eletrobras virou uma corporation (sem controlador) e o modelo de decisão mudou bastante. O Conselho agora é atuante, chato (no bom sentido) e trabalha com um modelo de prestação de contas, discussão, celeridade de decisões e resultados de uma empresa privada, de fato.
Sim, Wilson Ferreira foi importantíssimo na história da Eletrobras, e agradecemos imensamente por sua contribuição nos anos pré-privatização. Mas a companhia vive um momento bem diferente daquele, e talvez também precise de uma mentalidade diferente a partir de agora.
Obviamente, o tempo é quem vai nos dizer se a mudança será assim tão ruim quanto indicam as primeiras reações dos investidores ou se eles estão exagerando. Por ora, me parece o segundo caso, já que a Eletrobras segue com ativos valiosos no portfólio, e ainda conta com muito espaço para melhorias.
Além disso, Ivan Monteiro, que era chairman e agora passa a ser o novo CEO, já estava no dia-a-dia da Eletrobras, além de ter boa passagem por outras companhias listadas.
Se realmente estiver mais alinhado com o Conselho, como sugerem as reportagens divulgadas durante a semana, pode trazer a celeridade de decisões e processos que temos sentido falta desde a privatização, há cerca de um ano.
Obviamente, vamos continuar muito atentos a essa história, mas a troca de CEO não nos parece um motivo para vender as ações. Na verdade, pode até ajudar a reduzir os atritos políticos com o governo.
Decisão desfavorável na PGR
Outro ponto que pesou nos papéis foi a manifestação favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a vontade de o governo aumentar o seu poder de voto da Eletrobras, que foi limitado a 10% no processo de privatização.
Obviamente, a notícia é ruim, mas não é uma decisão final. Quem decidirá é o STF, o que ainda pode demorar bastante.
Eu já falei sobre esse risco aqui, e sobre como "rasgar o contrato" seria muito ruim para o próprio governo – talvez, pior até do que para os acionistas.
Além disso, o novo CEO já foi diretor financeiro do Banco do Brasil e da Petrobras também, com bom trânsito político e muito mais habilidade para negociar com o governo.
Com mais "ferramentas" políticas em suas mãos, Monteiro pode, por exemplo, conseguir um recuo nas ambições do governo em ganhar poder na Eletrobras em troca de um "adiantamento" da companhia para a Conta de Desenvolvimento Energético, o que resultaria em um barateamento das tarifas de energia.
E o apagão?
Se a troca de CEO não assusta, será que o apagão desta semana é motivo para vender as ações?
É importante mencionar que no momento em que escrevo esta coluna, as investigações estão em andamento, mas ao que tudo indica a falha começou em uma das linhas de transmissão da Chesf, subsidiária da Eletrobras.
O que ainda não se sabe é como um problema técnico relativamente simples de ser contornado pelos sistemas de proteção das linhas gerou um efeito dominó que interrompeu o fornecimento de energia para todas as regiões do país, o que inclusive acarretou em pedidos para a entrada da Polícia Federal nas investigações.
Como investidores da Eletrobras, o importante é lembrar que o próprio contrato de concessão de linhas de transmissão já estabelece um "desconto" no faturamento dos empreendimentos por falta de disponibilidade, o que deve impactar negativamente a receita líquida da companhia.
No entanto, estamos falando de um ativo que não chega a 700 km de extensão, menos 1% do portfólio de transmissão da Eletrobras.
Ou seja, isso também não é motivo para ficar pessimista com a Eletrobras, que apesar deste episódio, tem um ótimo histórico de disponibilidade de suas linhas.
É claro que essa é uma história cheia de ruídos, mas a queda de mais de 10% em poucos dias já me parece bastante exagerada.
Seguiremos acompanhando de perto, mas por enquanto as ações da Eletrobras (ELET6) seguem na carteira da série de Vacas Leiteiras, que conta com várias outras histórias sem tanta emoção, mas com grande potencial de pagamento de dividendos. Tem até "vaca leiteira" gringa por lá.
- As 5 melhores ações da bolsa para dividendos: confira as recomendações feitas por Ruy Hungria e outros analistas da Empiricus Research para quem busca renda recorrente com proventos de empresas nacionais. O relatório está disponível gratuitamente aqui.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy
O que se sabe até agora sobre o complô dos ‘Kids Pretos’ para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes — e que teria a participação do vice de Bolsonaro
A ideia de envenenamento, de acordo com o plano do general, considerava a vulnerabilidade de saúde e a ida frequente de Lula a hospitais
É hora de taxar os super-ricos? G20 faz uma proposta vaga, enquanto Lula propõe alíquota que poderia gerar US$ 250 bilhões por ano no mundo
Na Cúpula do G20, presidente Lula reforça as críticas ao sistema tributário e propôs um número exato de alíquota para taxar as pessoas mais ricas do mundo
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
O primeiro dia do G20 no Rio: Biden, Xi e Lula falam de pobreza, fome e mudanças climáticas à sombra de Trump
As incertezas sobre a política dos EUA deixaram marcas nos primeiros debates do G20; avanços em acordos internacionais também são temas dos encontros
O tamanho do corte que o mercado espera para “acalmar” bolsa, dólar e juros — e por que arcabouço se tornou insustentável
Enquanto a bolsa acumula queda de 2,33% no mês, a moeda norte-americana sobe 1,61% no mesmo intervalo de tempo, e as taxas de depósito interbancário (DIs) avançam
Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3) voltam a ficar no radar das privatizações e analistas dizem qual das duas tem mais chance de brilhar
Ambas as empresas já possuem capital aberto na bolsa, mas o governo mineiro é quem detém o controle das empresas como acionista majoritário
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
No G20 Social, Lula defende que governos rompam “dissonância” entre as vozes do mercado e das ruas e pede a países ricos que financiem preservação ambiental
Comentários de Lula foram feitos no encerramento do G20 Social, derivação do evento criada pelo governo brasileiro e que antecede reunião de cúpula
Milei muda de posição na última hora e tenta travar debate sobre taxação de super-ricos no G20
Depois de bloquear discussões sobre igualdade de gênero e agenda da ONU, Milei agora se insurge contra principal iniciativa de Lula no G20
A escalada sem fim da Selic: Campos Neto deixa pulga atrás da orelha sobre patamar dos juros; saiba tudo o que pensa o presidente do BC sobre esse e outros temas
As primeiras declarações públicas de RCN depois da divulgação da ata do Copom, na última terça-feira (12), dialogam com o teor do comunicado e do próprio resumo da reunião
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Lula ainda vence a direita? Pesquisa CNT/MDA mostra se o petista saiu arranhado das eleições municipais ou se ainda tem lenha para queimar
Enquanto isso, a direita disputa o espólio de Bolsonaro com três figuras de peso: Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro e Pablo Marçal
Quantidade ou qualidade? Ibovespa repercute ata do Copom e mais balanços enquanto aguarda pacote fiscal
Além da expectativa em relação ao pacote fiscal, investidores estão de olho na pausa do rali do Trump trade
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Mubadala não tem medo do risco fiscal: “Brasil é incrível para se investir”, diz diretor do fundo árabe
O Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi, segue com “fome de Brasil”, apesar das preocupações dos investidores com o fiscal
Campos Neto acertou, mudanças na previdência privada, disparada do Magazine Luiza (MGLU3) e mais: confira os destaques do Seu Dinheiro na semana
Na matéria mais lida da semana no portal, André Esteves, do BTG Pactual, afirma que o presidente do BC, está correto a respeito da precificação exagerada do mercado sobre o atual cenário fiscal brasileiro
Você quer 0 a 0 ou 1 a 1? Ibovespa repercute balanço da Petrobras enquanto investidores aguardam anúncio sobre cortes
Depois de cair 0,51% ontem, o Ibovespa voltou ao zero a zero em novembro; índice segue patinando em torno dos 130 mil pontos
Dividendos da Eletrobras (ELET3) vêm aí? Lucro da companhia dispara mais de 380% no 3T24 — e aqui estão os motivos para você comprar as ações, segundo analistas
Bancos mantiveram a recomendação de compra para os papéis da empresa após a divulgação do balanço, ressaltando o momento positivo no setor elétrico
Lula fala em aceitar cortes nos investimentos, critica mercado e exige que Congresso reduza emendas para ajuda fazer ajuste fiscal
O presidente ainda criticou o que chamou de “hipocrisia especulativa” do mercado, que tem o aval da imprensa brasileira