Quem vai falar mais grosso: Lula ou Roberto Campos Neto?
Da maneira como o debate foi colocado, fica difícil estabelecer qualquer entendimento saudável das intenções do governo Lula
O mercado brasileiro voltou a ser palco de rinha entre autoridades. Agora, o presidente Lula parece bastante insatisfeito com uma realidade difícil de se lidar: a taxa de juro real da economia brasileira está bem elevada.
Infelizmente, falar grosso em entrevistas e em eventos, como o chefe de governo tem feito, pouco ajuda a reduzir essa taxa. Pelo contrário, pode acabar ajudando a mantê-la elevada.
Mas vamos por partes.
Qual o contexto da briga entre Lula e o presidente do Branco Central do Brasil?
De dezembro de 2022 para cá, muitas coisas aconteceram. As promessas de mais gastos públicos foram ganhando contornos cada vez mais materiais, a começar com a PEC da Transição, que se trata da maior expansão fiscal depois de 2020, ano da pandemia, apontando para um déficit neste ano. Para piorar, várias declarações polêmicas do presidente e de ministros soaram negativamente ao longo de janeiro.
O ambiente foi contaminado por um receio do mercado de uma visão mais heterodoxa, menos mercadológica e afastada das reformas que o Brasil precisa.
Nem mesmo o pacote fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ou a presença de outros nomes mais moderados no governo, como o de Simone Tebet, Marina Silva e Geraldo Alckmin, ajudaram no processo de recomposição dos preços dos ativos.
Leia Também
- Pensando em como buscar lucros em 2023? Este material completo e exclusivo mostra os caminhos mais promissores para buscar ganhos com ações, FIIs, BDRs e muito mais neste ano. CONFIRA AS INDICAÇÕES AQUI
O processo de perda de credibilidade foi se consolidando, deteriorando as expectativas dos agentes econômicos.
Como consequência, a curva de juros voltou a estressar e, não enxergando outra saída, o Comitê de Política Monetária (Copom) adotou um tom marginalmente mais duro na conclusão da reunião da semana passada, apesar de manter os juros inalterados no elevado patamar de 13,75%.
A postura desagradou ao Palácio do Planalto, que começou a bradar críticas aos quatro ventos sobre postulados estabelecidos, tais como a autonomia da autoridade monetária, o nível dos juros na atualidade e as metas de inflação.
Críticas equivocadas
As críticas foram construídas de maneira equivocada e apresentadas fora dos mecanismos formais que o governo dispunha para indicar insatisfação da maneira correta. É um erro, portanto.
Não há razão ou espaço para questionar a independência do BC. Se trata de um avanço institucional importante para o Brasil e qualquer revisionismo nesta frente seria um grande retrocesso.
Olhando para a frente, deveríamos debater como aprimorar e aprofundar a independência, nada diferente disso. Adicionalmente, as críticas mais parecem bravatas, uma vez que não parece haver fadiga política para mudar a lei.
- LEIA TAMBÉM: Os prós e os contras do pacote fiscal de Haddad; entenda por que os investidores não se empolgaram
Juros estão realmente altos
Sobre o nível dos juros, de fato há um nível elevado no Brasil. Mas a manutenção do mesmo só se dá por conta da incerteza fiscal, que desancora as expectativas de inflação. Sabemos que a inflação distorce a alocação eficiente de recursos e reduz o crescimento ao elevar a volatilidade na economia, inibindo os investimentos.
Adicionalmente, a inflação gera efeitos distributivos negativos para a sociedade, prejudicando especialmente as classes mais baixas.
Sem falar que taxas elevadas de inflação também podem gerar inércia e indexação, uma situação que o povo brasileiro tem muita experiência, aumentando o custo da desinflação (leva mais tempo para você estabilizar a economia, demandando mais tempo de juros elevados).
Banco Central: problema ou solução?
Basicamente, portanto, toda a vez que o governo reclama dos juros elevados, acaba pagando mais juros. Como muito bem afirmou Felipe Salto, ex-Secretário da Fazenda de São Paulo, o governo precisa entender que "o Banco Central é a solução e não o problema".
Não há espaço fiscal para gastos adicionais e, me valendo das palavras de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC, "o caminho para reduzir os juros não passa por desejo, mas por trabalho duro".
Precisamos trabalhar em diferentes frentes para tentar estabilizar o orçamento público brasileiro, principalmente endereçando em 2023 o novo arcabouço fiscal.
Apenas assim poderemos ancorar novamente as expectativas e possibilitar uma redução consistente da taxa de juros, conforme o governo tanto deseja.
Todo mundo quer juros mais baixos, mas poucos estão dispostos a fazer o que é necessário para obtê-los.
E as metas de inflação?
Finalmente, as metas de inflação talvez sejam o único ponto com o qual eu possa concordar, levando em conta várias ressalvas, com algum tipo de debate saudável. Não sobre como mudá-las, mas, sim, sobre como estender o horizonte para o que buscamos.
Entendo que possa ser legítimo uma conversão para uma meta mais saudável (já estamos em 3,25% ao ano, o que já é destaque para o histórico brasileiro), mas a trajetória para isso chama a atenção.
Gostaria de pontuar três fatores:
- O objetivo seria convergir para uma meta semelhante à meta (ainda que implícita) dos países emergentes mais comprometidos com a estabilidade, o que resultaria em um prêmio frente aos 2% de meta informal de economias desenvolvidas, como a americana. O problema é que, na nova realidade que vivemos, já se debate uma inflação nos EUA mais próxima de algo entre 3% e 4%. Ou seja, convergir para 3% no Brasil quando pode se esperar 3% nos EUA não me parece a melhor estratégia;
- Se a realidade mudou, não podemos trabalhar com as mesmas premissas. Quando começamos o debate para a convergência das metas de inflação para 3% ao ano, o mundo era diferente. Vivíamos então com a ideia de "estagnação secular", cujas consequências eram crescimento baixo, inflação baixa e juro baixo. Isso mudou, sem falar nas questões geopolíticas, que prometem moldar novas cadeias de suprimentos (vetor inflacionário). Em outras palavras, temos um novo equilíbrio macro dotado de menor produtividade, mais inflação e mais juros. Ao menos discutir metas de inflação nessa nova realidade não deveria ser algo que causasse náusea nos mercados; e
- Sim, é legítima a ideia de que precisamos fazer convergir a inflação brasileira à média emergente, por volta de 3% ao ano. Contudo, ao menos poderíamos discutir as consequências de se caminhar muito rapidamente para os 3% de inflação quando o mundo desenvolvido também enfrenta um problema de preços semelhantes. Possivelmente, neste ritmo de trajetória, mergulharemos o país numa recessão, com o risco de uma grave crise de crédito.
Uma discussão saudável é necessária
Por isso, acredito que seja saudável apenas discutir a ideia, mas pelos meios formais e com muitas ressalvas, completamente diferente do que temos visto no governo, que colocou a problemática da maneira mais equivocada possível.
Diante da briga entre o presidente da República e o presidente do BC, ficou difícil para que haja espaço dentro do Conselho Monetário Nacional (CMN) para um debate saudável.
Dessa forma, do jeito que foi colocado, sou totalmente contrário ao revisionismo das metas, ainda que estenda validade do debate em termos técnicos.
Não podemos nos render ao radicalismo de algumas alas menos atualizadas do governo que desejam uma intervenção mais direta na autoridade monetária.
Seria um erro grosseiro e poderia acabar em desastre — ainda assim, não acredito que seja viável politicamente, com Arthur Lira forte na Câmara e a oposição marcando presença no Senado, inviabilizando a utilização de capital político do governo para temas polêmicos e menos prioritários como revisionismo de autonomia do BC.
Entendo que o governo não pode se valer da questão para fugir de suas próprias responsabilidades. Lembrem-se que a raiz do problema ainda é a política fiscal. Declarações polêmicas apenas afetam a formação de expectativa e de nada ajudam na construção de um ambiente com custo de financiamento mais salutar.
Resumidamente, vemos que a precificação dos ativos brasileiros passou a depender cada vez mais das questões políticas, macroeconômicas e sistêmicas.
A volatilidade deve continuar até que pelo menos saibamos para onde caminhamos com o novo arcabouço fiscal, enquanto esperamos alguma trégua de Lula em relação às críticas que tem emitido.
Os próximos meses ainda serão recheados de ruídos.
Tesouro IPCA+ é imbatível no longo prazo e supera a taxa Selic, diz Inter; título emitido há 20 anos rendeu 1.337%
Apesar de volatilidade no curto prazo, em janelas de tempo maiores, título indexado à inflação é bem mais rentável que a taxa básica
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
Regulação do mercado de carbono avança no Brasil, mas deixa de lado um dos setores que mais emite gases estufa no país
Projeto de Lei agora só precisa da sanção presidencial para começar a valer; entenda como vai funcionar
Bolsonaro pode ser preso? PF indicia ex-presidente, Braga Netto e mais 35 em inquérito sobre tentativa de golpe de Estado
As penas previstas para o caso são de 4 a 12 anos de prisão na investigação sobre golpe de Estado, 4 a 8 anos de prisão por abolição violenta do Estado Democrático de Direito
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
O pacote de corte de gastos sai ou não sai? Haddad dá previsão sobre anúncio das medidas e Rui Costa conta o que será preservado
As principais medidas já haviam sido apresentadas a Lula, mas a equipe econômica estava esperando finalizar um acordo com o Ministério da Defesa; reuniões continuam na tarde desta quinta-feira (21)
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
De agricultura e tecnologia nuclear à saúde e cultura: Brasil e China assinam 37 acordos bilaterais em várias áreas; confira quais
Acordo assinado hoje por Xi Jinping e Lula abrange 15 áreas estratégicas e fortalece relação comercial entre países
Polícia Federal: general preso imprimiu plano de execução de autoridades no Palácio do Planalto
PF divulgou que o general reformado Mário Fernandes deu o nome de Planejamento ao arquivo impresso
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
O que se sabe até agora sobre o complô dos ‘Kids Pretos’ para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes — e que teria a participação do vice de Bolsonaro
A ideia de envenenamento, de acordo com o plano do general, considerava a vulnerabilidade de saúde e a ida frequente de Lula a hospitais
É hora de taxar os super-ricos? G20 faz uma proposta vaga, enquanto Lula propõe alíquota que poderia gerar US$ 250 bilhões por ano no mundo
Na Cúpula do G20, presidente Lula reforça as críticas ao sistema tributário e propôs um número exato de alíquota para taxar as pessoas mais ricas do mundo
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
O primeiro dia do G20 no Rio: Biden, Xi e Lula falam de pobreza, fome e mudanças climáticas à sombra de Trump
As incertezas sobre a política dos EUA deixaram marcas nos primeiros debates do G20; avanços em acordos internacionais também são temas dos encontros
Rali do Trump Trade acabou? Bitcoin (BTC) se estabiliza, mas analistas apontam eventos-chave para maior criptomoeda do mundo chegar aos US$ 200 mil
Mercado de criptomoedas se aproxima de uma encruzilhada: rumo ao topo ou a resultados medianos? Governo Trump pode ter a chave para o desfecho.