Herança maldita: o Brasil que Bolsonaro entrega para Lula
O título acima parece o de um filme antigo de faroeste, mas na verdade são as contas do governo que Bolsonaro está deixando para o sucessor

O título acima parece o de um filme antigo de faroeste, mas na verdade ele nada tem a ver com cinema, séries de TV ou qualquer outro tipo de ficção. Herança maldita, no caso, são as contas do governo que o presidente Jair Bolsonaro, ao sair, está deixando para seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
O mais irônico é que, em nenhum momento, Bolsonaro pensou em legar essas contas para um inimigo político.
Isso porque o capitão-presidente sempre achou que seria o sucessor de si mesmo, se mantendo no poder. Tal como aconteceu, aliás, com todos os presidentes da República após a aprovação da Emenda Constitucional nº 97, da reeleição, aprovada, de maneira não muito ética, diga-se a bem da verdade, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.
A reeleição é logo ali
Ao longo da campanha eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro disse que, se fosse eleito, não se candidataria a um novo mandato, mas se desdisse logo após tomar posse.
Lula acaba de declarar a mesma coisa:
“Em 2026, estou fora. Afinal de contas, estarei com 81 anos.”
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E desde quando, agora sou eu que comento, os políticos cumprem esse tipo de promessa? Nessa idade, um presidente, ainda mais se tiver boas chances de se reeleger, se considera não mais do que um estadista sênior e experiente.
Oitenta e um anos tinha Ronald Reagan quando visitou o Brasil em 1982. Nessa ocasião, fazendo um discurso em Brasília, saudou o povo da “Bolívia” e deu uma segunda mancada ao tentar corrigir o erro.
“Não”, ele afirmou. “Bolívia é para onde estou indo agora.” Não era. A próxima etapa de sua viagem era a Colômbia.
Só mais tarde é que se constatou que, naquela ocasião, Reagan estava sofrendo dos primeiros sintomas do mal de Alzheimer.
O mesmo que acontece com Lula se repetiu com Joe Biden nos Estados Unidos. Ao ser eleito em 2020, disse que não se lançaria em 2024, quando terá os mesmos 81 anos do Lula futuro.
Só que, quando chegar a época, os democratas partidários de Biden estarão gritando:
“Four more years!”; “Four more years!”
Isso sempre acontece na política americana.
Bolsonaro: histórico de brigas diplomáticas
Bem, já tergiversei muito. O assunto desta crônica é a herança que Bolsonaro deixará para Lula.
Existe um ponto ótimo que o petista, esperto como é, deverá aproveitar.
Jair Bolsonaro brigou com meio mundo, não raro pelos motivos mais fúteis.
Por exemplo, ele apoiou a candidatura de Donald Trump em 2020, coisa que jamais um presidente, principalmente de um anão diplomático (a classificação não é minha, mas sim de um porta-voz israelense durante o governo Dilma Rousseff) como o Brasil se tornou nos últimos tempos, deve fazer.
Indiretamente, curtindo um post de um adepto, Bolsonaro insinuou que a mulher de Emmanuel Macron, presidente da França, não era dotada de grande beleza.
O capitão-presidente arreganhou os dentes para Xi Jinping, estadista que dispensa apresentações.
Fez também um pequeno comício eleitoral para apoiadores da sacada da embaixada brasileira em Londres, justamente no dia em que prestou condolências ao rei Charles III, pela morte de sua mãe, a rainha Elizabeth II.
Elogiou Augusto Pinochet em Santiago e, em Buenos Aires, exaltou as juntas militares cujos integrantes haviam sido condenados à prisão perpétua.
Como escrevi acima, essa parte da herança é boa, já que basta fazer as pazes. Não é por acaso que as primeiras viagens de Lula ao exterior serão para Washington, Pequim e Buenos Aires.
Estrago no meio ambiente
Outro legado (se é que podemos chamá-lo assim) é o estrago, proclamado como virtude, que Jair Bolsonaro fez ao meio ambiente.
Basta que Lula reverta o procedimento, combata o desmatamento ilegal e já será considerado um herói por ambientalistas de todo o mundo.
A herança que Lula não vai aproveitar
Falemos agora da parte da herança que, ao que tudo indica, Luiz Inácio Lula da Silva irá lidar de maneira errada.
Em seu primeiro ano de governo, deveria adotar medidas de austeridade, sempre culpando o legado que recebeu do antecessor.
Ele fez isso em seu primeiro mandato, quando não reajustou o salário do funcionalismo e aumentou a meta de superávit primário.
Naquela ocasião, como agrado aos eleitores, principalmente do Nordeste, criou o Fome Zero, programa de baixo custo e alto retorno político.
Nos anos que seguiram, em parte devido à alta das commodities favorecida pelo forte crescimento chinês (percebam como não se pode melindrar o gigante asiático), pôde expandir a economia.
O PIB chegou a crescer 7,5% no ano de 2010.
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De Campos Salles a Castello Branco
O primeiro presidente brasileiro a se preocupar com austeridade foi o paulista Campos Salles, cujo governo (1898/1902), herdou de seu antecessor, Prudente de Morais, uma grande dívida com a Inglaterra.
Salles conseguiu renegociá-la dando como garantia, entre outras coisas, a receita da Alfândega do porto do Rio de Janeiro, então capital da República.
Seis décadas mais tarde, o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente do período militar, que governou entre abril de 1964 e março de 1967, fez questão de sanear as finanças do país, arruinadas por seu antecessor, João (Jango) Goulart, que tinha a mania de dobrar o salário mínimo e que “alavancou” substancialmente a inflação iniciada nos anos JK.
Naquela ocasião, através de seus ministros da Fazenda, Otávio Gouveia de Bulhões, e do Planejamento, Roberto Campos, o Brasil assinou um acordo draconiano com o Fundo Monetário Internacional. Acordo esse que permitiu ao Brasil, derrubar a inflação anual de 92% (1964) para 35% em 1966.
A política extremamente hawkish de Campos/Bulhões provocou grande quebradeira no comércio e na indústria brasileiras. Mas permitiu que, mais adiante, durante o governo Médici, o país vivesse o proclamado milagre, com crescimento anual de dois dígitos do PIB (14%) e inflação de 15%, um número baixíssimo para os padrões da época.
Fernando Henrique Cardoso não pôde deixar bons números na economia para Lula em 2003, justamente por culpa do próprio Lula.
Antes que o caro amigo leitor pense que estou delirando, informo que a alta do dólar, dos juros e da inflação em 2002, último ano do governo FHC, foi causada pelo juízo negativo que o mercado fazia do favorito para a sucessão, Luiz Inácio, sindicalista e político que passara anos e anos defendendo a estatização dos bancos e moratória das dívidas interna e externa, “promessas” essas que felizmente não cumpriu.
Lula vai repetir Bolsonaro?
Examinemos agora, com lupa, no primeiro ano de mandato de Lula, como se comportará seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que nos últimos dias anda falando algumas coisas sensatas, no quesito responsabilidade fiscal.
Se o presidente e seu ministro não fizerem o dever de casa, dificilmente o governo Luiz Inácio Lula da Silva chegará ao fim ou, se chegar, o presidente estará vivendo em reclusão no palácio da Alvorada, tal como está acontecendo com Jair Messias Bolsonaro nos estertores de seu mandato.
A todos os meus amigos leitores, um Feliz 2023.
Ivan Sant'Anna
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