Felipe Miranda: Era uma vez no Oeste
O 3G resolveu falar sobre Americanas e emitiu um comunicado protocolar. Estamos falando de possivelmente as maiores referências do capitalismo moderno brasileiro
"Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar”
Legião Urbana, em álbum de 1987
Ele não era operador de pregão. Naquele dia, porém, entre o final dos anos 80, começo dos 90, não sei precisar ao certo, foi escalado para a missão. O Ministro acabara de sair do banco, deixando a informação de que a taxa do overnight seria reduzida naquela madrugada.
Só alguém de confiança poderia ser designado a – sejamos diretos aqui – operar aquela informação privilegiada, ainda que, nem mesmo entre eles, essa fosse a expressão utilizada. Todos fingiam apenas se tratar de uma conversa informal com o admirado ministro.
Então, lá foi ele, com sua agressividade típica e a habilidade quase única de se alavancar em tão pouco tempo.
Entrou no pregão viva-voz, destilando seu francês em alto e bom som, aos berros: “Compro tudo de vocês, pode fazer fila, bando de filha da puta. Tomei, tomei e tomei, cambada de vagabundo.”
Soa estranho e fora de tom. Com efeito, é estranho e fora de tom. Contudo, era meio normal àquela época – conta-se até que, ao final de cada ano, havia um sorteio de uma mulher entre os operadores. Talvez, naquela ocasião específica, com algum exagero, porque o tamanho dos lotes e a confiança demonstrada escapavam um pouco da razoabilidade. Alguns acharam, sim, aquilo descompensado, pois, claro, não sabiam da informação assimétrica.
Leia Também
Mas, como nos ensina Warren Buffett, tudo que você precisa para perder um milhão de dólares é ter esse um milhão de dólares e uma informação privilegiada.
Naquele dia, a taxa over foi aumentada, não reduzida. Os prejuízos do banco foram astronômicos e o mesmo operador acabou novamente escalado para voltar lá e reduzir os danos o quanto mais rápido fosse possível. Entrou com o rabo entre as pernas, sob os olhares e as risadas alheias pelo vexame da véspera. Saiu cabisbaixo, humilhado e maltratado. A arrogância é marcada a mercado.
Não é possível repetir a experiência, até porque o pregão viva-voz foi extinto. Percorrendo as mesas de operação, você até encontra um cliente ou trade mais verborrágico contra os brokers, mas é coisa menor. Aquele faroeste, o verdadeiro bangue-bangue acabou.
Bom, ao menos deveria ter acabado.
Palavras não pagam dívidas
Depois de um longo silêncio sepulcral, o 3G resolveu falar sobre Americanas. Escreveu um comunicado protocolar. Disse que não sabia de nada, prometeu empenho para recuperar a empresa, lamentou as perdas sofridas pelos investidores e credores. Lembrou também que foi alcançado pelos prejuízos – ao ler, tive a sensação de que, se deixassem mais algumas linhas para a turma escrever, acabariam pedindo ressarcimento pelo rombo, vítimas de um grande escândalo que não lhes pertence.
Talvez os dois leitores mais críticos pudessem apontar que não havia muito espaço para um caminho diferente. Protocolos existem para serem seguidos. Qualquer coisa distinta poderia comprometê-los, seria uma espécie de tiro no próprio pé. É difícil discordar. Contudo, como escreve Shakespeare, palavras não pagam dívidas. Há oito pontos na carta, nenhum compromisso com injeção de dinheiro.
Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira não são apenas acionistas de referência da companhia. Foram por décadas controladores da empresa, incluindo aí o período do escândalo. Mas também não são só isso. Eles se transformaram num símbolo da companhia, uma metonímia da eficiência operacional e financeira. Está tudo lá no livro Sonho Grande, o conhecimento autodidata e intuitivo e também as lições aprendidas com Sam Walton, Jim Collins e companhia. Do aproveitamento inédito dos espaços aéreos entre gôndolas para a exposição dos ovos de Páscoa (meu Deus, até eles viraram polêmica agora!) à gestão financeira moderna – talvez moderna até demais, com certa elasticidade ética e contábil. Garantia, ALL, Kraft Heinz, Americanas. Tem mais de um exemplo para cada um dos Gs.
Talvez também pudessem apelar à velha máxima de que não se joga dinheiro bom atrás de dinheiro ruim. Mas não é apenas disso que se trata. Estamos falando de possivelmente as maiores referências do capitalismo moderno brasileiro. Se o Barão de Mauá seria, sei lá, uma espécie de Howard Hughes, os 3G poderiam duelar imageticamente com Sam Walton, Jack Welch e companhia.
Seria dinheiro bom atrás de legado bom, se isso lhes importar em algo. E deveria importar.
Meta cumprida - só que não
No meu entendimento particular, ainda que cada uma das palavras do comunicado seja verdadeira, o problema que agora vem à superfície com Americanas deriva, talvez entre outras coisas (reconheça), sim, de uma cultura corporativa desatualizada, que fazia sentido para os anos 80, na época do faroeste e do bangue-bangue, mas que não se alinha ao capitalismo de stakeholder e à imposta total transparência dos negócios num mundo de enorme escrutínio sobre tudo que fazemos.
O Garantia era conhecido pela sua sagacidade, mas também por sua truculência, cowboys de mercado. Na economia real, colocamos água na cerveja, depois milho pra piorá-la um pouco mais. Também vamos com mais água no catchup. Vestimos corte de produto com a retórica de corte de custo. São coisas bem diferentes.
O primeiro piora seu material e afasta clientes no longo prazo, nada tem a ver com produzir a mesma coisa com mais eficiência. Enquanto isso, esmagamos fornecedores com prazos, aliciamentos e ameaças, ao mesmo tempo em que os colaboradores internos convivem com o risco tácito e, se precisar, explícito de demissão em caso de não se cumprirem as metas. Ou você cumpre a meta ou…
Se a sobrevivência está em jogo, só há uma coisa a se fazer: cumprir a meta, ainda que ela não tenha sido, de fato, cumprida. Abusamos da elasticidade contábil e ética, porque todos têm bocas a alimentar e boletos para pagar.
Empresas são pessoas
O trio símbolo do capitalismo brasileiro precisa agora se lembrar do que é a essência do capitalismo, que passa por respeito aos contratos, direitos de propriedade e obediência à sinalização do sistema de preços. Não há como atacar essas bases e se manter como grande empreendedor. A própria origem do Parlamento inglês remete à necessidade de a burguesia proteger seus direitos econômicos (contratos e direitos de propriedade) dos direitos políticos quase ilimitados da nobreza decadente economicamente – sem isso, toda a organização moderna está em risco.
Empresas, no final do dia, são pessoas e suas culturas delas derivam. Ao escolher companhias para investir ou até mesmo trabalhar, precisamos observar se os controladores e os administradores são capazes de ler o zeitgeist atual e colocar suas empresas na direção da transformação ao futuro, uma rara união entre conservar o que funciona e se adaptar aos novos ventos.
Às lideranças, não cabe mais esmagar todo mundo em prol de um ponto a mais de margem. Ao mesmo tempo, também não há espaço para se perder em discussões sobre o gênero e o nome do terceiro banheiro.
Pra mim, moderno mesmo é o velho Jorge Ben: se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.
Depois de chegar a valer menos de R$ 0,10 na bolsa, ação da Americanas (AMER3) dispara 175% após balanço do 3T24 — o jogo virou para a varejista?
Nos últimos meses, a companhia vinha enfrentando uma sequência de perdas, conforme os balanços de 2023 e do primeiro semestre de 2024, publicados após diversos adiamentos
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
Depois de lucro ‘milagroso’ no 2T24, Casas Bahia (BHIA3) volta ao prejuízo no 3T24 — e não foi por causa das lojas físicas
O retorno a uma era de ouro de lucratividade da Casas Bahia parece ainda distante, mesmo depois do breve milagre do trimestre anterior
Americanas (AMER3) registra lucro líquido de R$ 10,279 bilhões no 3T24 e reverte prejuízo de R$ 1,6 bilhão; veja os destaques do balanço
A CFO da varejista em recuperação judicial, Camille Faria, explicou que o lucro está relacionado ao processo de novação da dívida
Um respiro para Xi Jinping: ‘Black Friday chinesa’ tem vendas melhores do que o esperado
Varejo ainda não está nos níveis pré-crise imobiliária, mas o Dia dos Solteiros superou as expectativas de vendas
XP, Serasa Experian e Vibra estão com vagas abertas para estágio e trainee; confira essas e outras oportunidades com bolsa-auxílio de até R$ 7,6 mil
Os aprovados nos programas de estágio e trainee devem começar a atuar a partir do primeiro semestre de 2025; as inscrições ocorrem durante todo o ano
Agenda econômica: Prévia do PIB é destaque em semana com feriado no Brasil e inflação nos EUA
A agenda econômica da semana ainda conta com divulgação da ata da última reunião do Copom e do relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
Adeus, Porto Seguro (PSSA3), olá Lojas Renner (LREN3) e Vivara (VIVA3): em novembro, o BTG Pactual decidiu ‘mergulhar’ no varejo de moda; entenda o motivo
Na carteira de 10 ações para novembro, o BTG decidiu aumentar a exposição em ações do setor de varejo de moda com múltiplos atraentes e potencial de valorização interessante
Fred Trajano revela as três apostas do Magazine Luiza após se blindar da alta de juros; ações MGLU3 sobem com balanço forte no 3T24
Para o executivo, ainda é preciso dar novos passos em direção à monetização do GMV para garantir a lucratividade em meio aos juros altos no Brasil
Mesmo com números fortes no 3T24, Lojas Renner (LREN3) lidera as perdas no Ibovespa hoje após balanço; o que explica a queda dos papéis?
Varejista de moda teve lucro líquido de R$ 255,3 milhões, uma alta de 48% em relação ao mesmo período do ano passado; veja o que fazer com a ação
Magazine Luiza (MGLU3) “à prova de Selic”: Varejista surpreende com lucro de R$ 102 milhões e receita forte no 3T24
No quarto trimestre consecutivo no azul, o lucro líquido do Magalu veio bem acima das estimativas do mercado, com ganhos da ordem de R$ 35,8 milhões
O que faz as ações do Mercado Livre (MELI34) caírem mais de 15% em Wall Street hoje mesmo após o lucro em alta no 3T24
O desempenho negativo vem na esteira de um balanço forte e em expansão, mas aquém das expectativas nas linhas de lucratividade e geração de caixa
Totvs (TOTS3) anuncia aquisição da VarejOnline por R$ 49 milhões e elege novo CEO para a Techfin, joint venture com o Itaú (ITUB4)
Empresa de tecnologia também divulgou seus resultados do terceiro trimestre e aprovou um novo programa de recompra de ações de até 18 milhões de papéis
Ninguém para o Mercado Livre (MELI34): Gigante do varejo tem lucro 11% maior no 3T24; veja os destaques do balanço
O Meli registrou um lucro líquido de US$ 397 milhões entre julho e setembro deste ano, mas cifra vem abaixo das estimativas do mercado
O Mercado Livre (MELI34) vai superar o Magazine Luiza (MGLU3) e a Casas Bahia (BHIA3) de novo? O que esperar da safra de balanços das varejistas no 3T24
O consenso entre os analistas é que o “trator argentino do e-commerce” continue a esmagar as varejistas brasileiras com números robustos e mostre novos avanços no negócio de publicidade
Com iPhone 16 na lista: Black Friday 2024 começa mais cedo, com lojas antecipando descontos; veja os preços
Data oficial da Black Friday neste ano é 29 de novembro, mas o varejo tenta se antecipar com descontos que vão do celular às blusinhas
Obrigado, Haddad? Ações do varejo saltam até 8,9% com recado do ministro – analista revela qual é o melhor papel para ter em carteira
Ibovespa salta e dólar cai com fala do ministro da Fazenda; entenda o que fez as varejistas dispararem e como buscar lucros nesse cenário, segundo analista
XP, Desktop e C6 Bank estão com vagas abertas para estágio e trainee; confira essas e outras oportunidades com bolsa-auxílio de até R$ 7,6 mil
Os aprovados nos programas de estágio e trainee devem começar a atuar a partir do primeiro semestre de 2025; as inscrições ocorrem durante todo o ano
O que a indústria espera da Black Friday deste ano? Abinee faz aposta em um segmento específico
A maioria dos fabricantes de aparelhos eletrônicos espera crescimento das vendas de seus produtos na Black Friday, que acontece no dia 29 de novembro
O payroll vai dar trabalho? Wall Street amanhece em leve alta e Ibovespa busca recuperação com investidores à espera de anúncio de corte de gastos
Relatório mensal sobre o mercado de trabalho nos EUA indicará rumo dos negócios às vésperas das eleições presidenciais norte-americanas