Você largaria um emprego bem remunerado para perseguir a carreira dos sonhos? Antes de responder, conheça a história da Ester
Ester tomou a decisão de largar carreira estável financeiramente para abraçar a profissão de nutricionista; será que foi a decisão correta?
Convido-os a conhecer a inspiradora trajetória de Ester, uma nutricionista e corredora amadora de 43 anos. Ao vê-la hoje nessa posição, é difícil imaginar a fascinante - e nada linear - trilha de carreira que percorreu para chegar aqui.
Ester vem de uma família humilde, sempre estudou em escola pública e, no início da adolescência, sua perspectiva de vida e carreira se resumia basicamente a encontrar um emprego, qualquer um, em uma área administrativa e ganhar um salário. Era essa a realidade em que ela vivia e sonhar não era um hábito à mão.
As coisas começaram a mudar o fluxo "natural" que ela previu, quando foi aprovada em uma escola secundária de preparação para o magistério. Acelera a história, Ester terminou o curso, mas nunca chegou a atuar como professora. Desencantada com a profissão e o salário, decidiu procurar um trabalho em uma área administrativa.
Conseguiu seu primeiro emprego como auxiliar administrativo em uma loja de material de construção. Descobriu nessa posição que tinha tino comercial e de organização. Rapidamente foi promovida.
Este aprendizado deu a ela condições para encontrar um segundo emprego em um banco, como gerente de pessoa física. Ali iniciava uma longa e "bem sucedida" trajetória no mercado financeiro.
Daí em diante, passou por algumas outras instituições, acumulando promoções que a levou a atingir um cargo de gerente corporate, uma posição executiva e comercial, em que lhe assegurou ótima remuneração e a consolidação de uma carreira desejada por muitos que almejam o mercado financeiro.
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Carreira sólida, mas incompleta
E, mesmo no ápice de sua carreira, aos 36 anos – com status na posição, (aparente) estabilidade e um emprego "dos sonhos" –, Ester não se sentia plenamente realizada.
Nessa mesma época, começou a se apaixonar por tudo que envolvia o universo de esportes de endurance, alimentação e tudo que derivava disso.
Ao decidir correr a primeira maratona, começou a perceber que aprender sobre nutrição esportiva era algo que a levava a um estado de flow, de prazer intenso.
Foi ali que veio o lampejo sobre a transição de carreira: Ester tomou a decisão de largar um emprego estável financeiramente para abraçar a profissão de nutricionista.
Como uma boa planejadora, construiu uma estratégia para dar cabo do sonho, incluindo uma graduação e uma boa reserva financeira. Mas ainda assim ouviu opiniões de diversas pessoas sobre o grande passo que estava prestes a dar. Inclusive daqueles que ela não havia solicitado, mas decidiram dar de qualquer forma... Afinal, quase todo mundo se sente um pouco especialista em carreira (alheia).
Chefe da Ester
"Que louco ouvir isso. Eu nunca imaginei que você estivesse infeliz aqui e, além disso, que você tinha essa paixão por nutrição. Bem, se você está certa disso, desejo sorte em sua nova fase."
Essa foi a fala de Paulo, que nunca teve nenhuma conversa com Ester sobre sua história, desejos e ambições de carreira.
Colega da Ester no trabalho
"Mano, você é louca. Como é que você abandona essa posição para estudar Nutrição? Você manda tão bem comercialmente e tem tanto a crescer ainda. Você tem certeza desse movimento?"
Essa mesma colega já havia falado inúmeras vezes sobre a importância de viver um propósito e correr atrás dos sonhos. Ester sempre acreditou que isso fosse genuíno.
Irmão da Ester
"Maninha, você tem certeza de que quer seguir nesse caminho? E se você fizesse a graduação em paralelo ao seu emprego atual? E, quando finalizar, você faz uma transição definitiva para a nova profissão?"
O irmão de Ester era um cara ambicioso e tinha como modelo ideal, uma carreira de ascensão dentro do mundo corporativo. O que sua irmã estava prestes a fazer desafiava fortemente essa lógica.
Irmã da Ester
"Nossa, tem certeza que você vai abandonar uma profissão com essa remuneração, em troca de outra que paga mal em um mercado bastante difícil?"
A irmã de Ester é daquelas que fala com muita honestidade sobre o que pensa e do que ela acredita ser o certo a dizer. Com uma visão pragmática do mundo, achou importante dar um choque de realidade na irmã.
Melhor amiga da Ester
"Miga, se joga. A vida é uma só. Nada é mais importante que a sua felicidade. Eu vejo o quanto o seu olho brilha quando você fala sobre essa ideia. E, se não der certo, você muda a rota."
A melhor amiga sempre foi aquela que incentiva em todas as decisões. Mas a conversa parou por aí, nada além dessa fala cheer up.
Marido da Ester
"Se é o seu sonho, a gente se organiza financeiramente. Eu consigo administrar as despesas de casa por esse período. Sei que você vai se realizar muito mais nesse novo projeto e eu quero te ver feliz."
O marido de Ester é daqueles que a suportam incondicionalmente. Ele tinha consciência de que a segurança financeira era o que ela precisava para se sentir mais confiante. Montaram juntos o plano de contenção. Caso algo desse errado, ambos concordaram que ela voltaria para o mercado financeiro.
Filhos da Ester
"Legal, mãe."
Acabaram ganhando muito mais disponibilidade de tempo da mãe. Ambos no ensino fundamental, passaram a ter Ester muito mais presente na rotina diária – na vida escolar e em casa.
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A “visão do RH”
Aqui vai a minha análise sobre o caso. Mas antes de começar a dissecar meus pensamentos, vamos deixar claro uma coisa. Talvez você esteja se perguntando se a história de Ester é real. Sim, história e personagens são reais. Apenas o nome é fictício.
Parece trivial dizer isso, mas não é: carreira é algo individual. As escolhas precisam fazer sentido para você
Deixar para trás status, dinheiro ou um emprego, que aos olhos externos parece ser perfeito, pode parecer insanidade para os outros, mas também pode ser o motivo para manter a sua própria sanidade.
A gente julga e analisa sem saber a história de uma pessoa
Se Ester estivesse em uma sessão de coaching comigo, eu destacaria duas coisas para reforçar qualquer dúvida frente a sua decisão: a sua capacidade de adaptação e realização. Às vezes, revisitar a nossa própria história tendo uma grande mudança à vista pode ser encorajador.
Embora muitas vezes a gente queira ignorar a opinião alheia, escutá-la com humildade pode nos preparar para o que está por vir
De mil opiniões, você aproveitou uma? Ótimo, já valeu a pena! Veja a riqueza e variedade de perspectivas dadas a Ester. Quase um shark tank, ela teve que pôr sua ideia à prova. Se não conseguisse resistir à partida, talvez a transição ainda não estivesse no momento ideal.
Transição de carreira é uma prova de endurance
Ester sabe bem do que estou falando. Tal como uma maratona, que é um esporte de altíssima resistência, fazer uma transição de carreira carrega consigo várias semelhanças. Ouvir um case de sucesso não pode deixá-lo indiferente às dificuldades que surgirão ao longo da jornada.
Correr uma maratona pode parecer confortável até o trigésimo quilômetro, mas o que separa aqueles que terminam a prova com sucesso dos que desistem está justamente na capacidade de resistir nos últimos doze quilômetros.
Flexibilidade é um caminho para a realização
Mesmo planejando, é bem provável que algumas coisas saiam do eixo. Afinal, essa é a vida como ela é: um emprego diferente daquele que você almejava com a nova profissão, um salário aquém das expectativas, um prazer que não se concretizou.
Para não se frustrar, a regra é: aprenda a flexibilizar as próprias expectativas. Isso dá velocidade para redirecionar a rota e permanecer ativo na busca de mais realização.
E, claro, não deixarei de compartilhar por onde anda Ester. Mas isso é tema para outra coluna.
Até logo,
Thiago Veras