O exterminador do futuro? Saiba se o ChatGPT pode roubar o seu emprego; ferramenta aponta três profissões em perigo
Criado em novembro de 2022, o ChatGPT teve o “boom” de acessos em janeiro deste ano — período em que começaram as “especulações” sobre uma possível extinção de empregos no futuro
A competitividade do mercado de trabalho não é novidade para ninguém. Mas, no último semestre apareceu um novo rival: o ChatGPT.
A plataforma de inteligência artificial da Open AI “assustou” quem procura um emprego ou quer garantir muitos anos de carreira. Isso porque, em linhas gerais, novas ferramentas exigem mais habilidades profissionais ou até a substituição de algumas posições.
E, a preocupação não é à toa. Em março deste ano, um relatório do banco Goldman Sachs apontou que a inteligência artificial pode substituir, aproximadamente, 300 milhões de empregos em tempo integral.
O Fórum Econômico Mundial, porém, foi “menos alarmista”. Segundo o estudo sobre o Futuro do Trabalho 2023, divulgado em maio, cerca de 83 milhões de postos de trabalho deixarão de existir nos próximos cinco anos — sendo o avanço da tecnologia um dos fatores de “extinção”.
Sendo assim, pelo menos 10 carreiras profissionais devem desaparecer do mercado de trabalho até 2027, ainda segundo o estudo do Fórum Econômico Mundial.
Segundo especialistas ouvidos pelo Seu Dinheiro, de fato, algumas profissões podem desaparecer no futuro — o que não deixa de ser uma dinâmica “natural” no mercado de trabalho à medida que novas tecnologias surgem na sociedade e não exclusivamente tendo como causa principal o ChatGPT ou a inteligência artificial em geral.
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Mas, por que surgiu a preocupação com a extinção de empregos? O ChatGPT pode substituir postos de trabalho no futuro?
*Para essa reportagem colaboraram: Vinícius Gallafrio, CEO da MadeinWeb; Paulo Silveira, CEO da Alura; Monize Oliveira, Gerente (Head) de Comunicação e Marketing do Infojobs. A plataforma de inteligência artificial ChatGPT também contribuiu com respostas sobre a própria ferramenta.
ChatGPT: o exterminador dos empregos?
Criado em novembro de 2022, o ChatGPT teve o “boom” de acessos em janeiro deste ano — período em que começaram as “especulações” sobre uma possível extinção de empregos no futuro.
Em janeiro deste ano, a OpenAI — desenvolvedora da ferramenta — registrou mais de 800 milhões de acessos em todo o mundo. O Brasil ficou em quinto lugar no ranking de países que mais visitaram o site, representando mais de 4% do total dos acessos, segundo estudo divulgado em março pela Semrush, plataforma de gerenciamento de visibilidade online.
E, segundo especialistas em inteligência artificial, o ChatGPT veio para ficar.
Mas, “é improvável que o ChatGPT leve à extinção de profissões.” Essa simples frase foi escrita, por nada mais e nada menos, que a própria ferramenta de inteligência artificial. E, os especialistas, em linhas gerais, concordam.
“A gente já passou por outras ondas de tecnologia em que, no final do dia, as coisas se acomodaram. Ou seja, não é que tudo vai sumir ou vai mudar a água pro vinho”, afirma Vinicius Gallafrio, CEO da MadeinWeb e especialista em inteligência artificial (IA).
Na visão de Gallafrio, existem profissões que, de fato, serão mais afetadas pelo avanço da tecnologia, principalmente as com pouco valor agregado e mais repetitivas, já que essas posições tendem a ser automatizadas com o mecanismo de IA.
E, quem assistiu o clássico filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, pode assimilar um pouco melhor: no curta, o personagem principal era especialista em “apertar parafusos” em uma linha de montagem.
Mas, pouco tempo depois, o seu trabalho repetitivo e monótono foi substituído por uma “máquina revolucionária”.
Embora a ilustração seja simples, esse é o exemplo do que pode acontecer com o avanço da tecnologia nos próximos anos, implementada no mercado de trabalho.
“Provavelmente, o ChatGPT não vai acabar com os empregos, mas um profissional que souber usar essas ferramentas [de inteligência artificial] vai ter uma vantagem”, disse Paulo Silveira, CEO da plataforma de ensino à distância na área de tecnologia da informação Alura.
O que traduz, em outras palavras, a necessidade de ‘ficar atento’, inclusive no mercado de trabalho.
Nessa linha, o próprio ChatGPT já elencou as profissões “em perigo”. São elas:
- Operadores de telemarketing: com a capacidade do ChatGPT de realizar conversas humanas, é possível que as empresas substituam os operadores de telemarketing por chatbots alimentados por tecnologia de processamento de linguagem natural;
- Tradutores: o ChatGPT já é capaz de realizar traduções em tempo real em vários idiomas, o que pode tornar a profissão de tradutor menos necessária em alguns casos;
- Escritores de conteúdo simples: com a capacidade de gerar texto automaticamente, o ChatGPT pode ser usado para escrever textos simples como resenhas, descrições de produtos e notícias.
Ainda de acordo com o especialista, a mudança “não deve ser radical”, ou seja, acabar imediatamente com determinadas posições. “As pessoas vão se aprimorando, aprendendo e novas profissões vão surgindo.”
Por fim, nas palavras do ChatGPT:
A plataforma “ainda é uma tecnologia em desenvolvimento e, por enquanto, a maioria das profissões não deve ser afetada de maneira significativa. Além disso, muitas profissões que envolvem habilidades humanas únicas, como criatividade, empatia, intuição e tomada de decisão, provavelmente continuarão sendo necessárias mesmo com o avanço da inteligência artificial.”
Inteligência artificial é realidade (mesmo) ou futuro?
Se a inteligência artificial não vai acabar, definitivamente, com os empregos, não significa que seja algo para se ignorar — muito pelo contrário.
De acordo com Paulo Silveira, da Alura, as transformações advindas pelo ChatGPT devem acontecer “mais rápido”, a exemplo da evolução dos computadores e da internet.
“Quem lá atrás ignorou o computador por 10 anos perdeu a atratividade no mercado de trabalho. Não ficou impossível, mas perdeu algumas oportunidades. O mesmo deve acontecer agora”, diz Silveira.
E, na visão dele, as mudanças impulsionadas pelo ChatGPT devem acontecer em um período relativamente curto.
“Enquanto demorou cerca de 10 anos para todo mundo ter acesso ao computador e à internet, cinco anos para ter um smartphone, as ferramentas de inteligência artificial estão disponíveis em aplicativos e afins. No caso do ChatGPT e possíveis concorrentes, a transformação deve acontecer nos próximos dois anos.”
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ChatGPT (não) é um vilão
Embora o mundo tenha ficado “fascinado” com a rapidez e praticidade do ChatGPT — e isso tenha se tornado um motivo de preocupação para muitos profissionais —, vale lembrar que a ferramenta deve ser mais uma aliada no mercado do trabalho do que uma “exterminadora do futuro”.
Em alguns setores da economia, a plataforma tem sido testada e implementada para agilizar processos, inclusive de recrutamento e seleção.
O Infojobs, plataforma de empregos, por exemplo, integrou recentemente seu software de busca — o PandaPé — com o ChatGPT.
“A ferramenta [de inteligência artificial] consegue fazer a função burocrática, e a área de recursos humanos tem diversas tarefas operacionais. Elas vêm para suprir a necessidade de gestão de dados, otimizando o tempo, enquanto o profissional agrega conhecimento em inteligência humana”, diz Monize Oliveira, gerente de marketing e comunicação do Infojobs.
No Infojobs, o ChatGPT tem auxiliado a gerenciar todo o processo seletivo, como a criação da descrição dos cargos divulgados pela plataforma de empregos.
A ferramenta de IA tem sido utilizada por cerca de 18% das empresas clientes do Infojobs para divulgação de vagas, desde a integração com o software PandaPé, segundo dados fornecidos pela Infojobs ao Seu Dinheiro.
Além disso, o ChatGPT é uma ferramenta autônoma, capaz de reunir informações em questão de segundos com base em conteúdos já existentes na internet, mas ainda carece de atualizações — que devem ser desenvolvidas por seres humanos.
Em todo o processo de desenvolvimento de IA, “existem pessoas acompanhando. Então, quando você está interagindo com um chatbot, apesar de ele ser uma máquina, não significa que aquela conversa não possa ser acompanhada, lida ou mesmo monitorada por um ser humano por trás. E é isso que vai dando, inclusive, a calibragem da máquina”, explica Vinicius Gallafrio, CEO da MadeinWeb.