Na Vale (VALE3), o negócio do ano saiu do papel. Mas, na bolsa, o mercado não se empolgou — e o Ibovespa segue travado
A Vale vendeu a fatia de 13% da divisão de metais por um preço acima do que vinha sendo especulado. Então, por que as ações não sobem?

"O Ibovespa depende das ações da Vale para ir aos 130 mil pontos", disse o analista-chefe de renda variável da Empiricus Research, João Piccioni, durante a última edição do podcast Touros e Ursos, do Seu Dinheiro. As ações VALE3, afinal, são as de maior peso no índice — e acumulam perdas de 20% em 2023.
Era preciso um gatilho, uma faísca que desse forças aos papéis da mineradora; um novo desdobramento corporativo, um fato que destravasse valor para a empresa, já que a dinâmica do mercado de minério parece emperrada no curto prazo.
Uma semana depois do podcast, eis que a Vale apresenta o seu divisor de águas: a tão aguardada venda de participação na divisão de metais finalmente saiu do papel. Manara Minerals e Engine No. 1 serão donos de 13% da unidade; em troca, a mineradora brasileira vai receber módicos US$ 3,4 bilhões.
Era o negócio do ano para a Vale — talvez, para todo o universo corporativo brasileiro, considerando que, no câmbio atual, a operação vai movimentar mais de R$ 16 bilhões. O timing do anúncio também foi oportuno, numa dobradinha com resultados trimestrais que, em linhas gerais, foi bem visto por analistas.
Mas se, em tese, a transação envolvendo o braço de metais era a fagulha para VALE3, na prática, o vil metal da bolsa mostra que a história não é tão simples assim. As ações da mineradora caem mais de 2% nesta sexta (27) — e o Ibovespa segue de lado, perto dos 120 mil pontos há quase dois meses.
Dito isso: o que se passa? O mercado não gostou da venda e do balanço?
Leia Também
- ONDE INVESTIR NO 2º SEMESTRE: o Seu Dinheiro consultou uma série de especialistas do mercado financeiro e preparou um guia completo para te ajudar a montar uma carteira de investimentos estratégica para a segunda “pernada” de 2023. Baixe aqui gratuitamente.
Vale (VALE3): os números...
Há duas maneiras de analisar a venda da participação na operação de metais da Vale: a quantitativa e a qualitativa.
No lado quantitativo, a frieza dos números nos traz algumas informações importantes. Primeiro, duas boas e velhas regras de três: se 13% da divisão valem US$ 3,4 bilhões, então 100% equivalem a US$ 26 bilhões — cerca de 38% do valor de mercado total da Vale, de US$ 67,7 bilhões.
Ou seja: uma divisão que corresponde a menos de 15% do Ebitda consolidado da Vale foi avaliada num preço que corresponde a quase 40% da empresa; instintivamente, soa como um bom negócio.
O valuation da operação dá suporte ao instinto. BTG Pactual, Santander e Empiricus calculam que o EV/Ebitda da área de metais é de cerca de 10 vezes, bem acima do múltiplo de 4 vezes da própria Vale — outras companhias que atuam em metais são negociadas com índices de 8 a 12x, diz o Itaú BBA.
Portanto, a priori, nada de errado com a transação costurada entre a Vale e os investidores internacionais — a Manara, joint-venture entre a Ma'aden e o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, ficará com 10% da divisão de metais; a empresa de private equity americana Engine No.1 terá os outros 3%.
...e as interpretações
Mas, no lado qualitativo, há quem tenha ressalvas: o JP Morgan, em relatório, destaca que, apesar dos parceiros internacionais trazerem suporte e melhorarem a governança da divisão de metais, a transação também traz complexidade adicional ao negócio.
"Preferiríamos ver a operação de minério da Vale financiando pelo menos os primeiros estágios do crescimento da divisão de metais", diz o banco. "Afinal, a operação de minério é uma forte geradora de caixa, e a Vale hoje tem um balanço forte, que não precisaria de ajuda adicional".
O Itaú BBA também tem observações quanto ao racional do negócio, dizendo que a venda dos 13% é apenas um pequeno passo para destravar o potencial completo da divisão de metais — o fator-chave é a estabilização das operações, de modo a trazer confiabilidade à produção.
"Acreditamos que, uma vez que isso acontecer e os resultados melhorarem, a Vale poderá perseguir outras alternativas para destravar valor, como a venda de uma fatia maior da divisão ou mesmo um IPO no futuro", escrevem os analistas do banco brasileiro.
Passado, presente e futuro
Seja como for, fato é que, para a Vale, a venda de participação na unidade de metais é vista como estratégica. Em teleconferência com analistas e investidores, o CEO da mineradora, Eduardo Bartolomeo, falou repetidamente em "visão de longo prazo" e "parceiros corretos".
"Obviamente, há muitos interesses em comum com a Manara e a Engine No. 1, eles vieram [ao Brasil] para entender as questões fundamentais do negócio", disse o executivo. "São investidores de longo prazo e que trazem experiência setorial, os investidores árabes têm outras parcerias no setor".
E, realmente, há a percepção, por parte do mercado, que a divisão de metais da Vale passa por problemas operacionais, e que poderia entregar mais em termos de resultados. A chegada dos parceiros internacionais, assim, pode implicar num ganho de produtividade no médio prazo.
E, para muitos, essa eventual melhora em metais não está corretamente precificada nas ações VALE3. O Santander destaca que, nas cotações do momento e considerando o Ev/Ebitda de 4x dos papéis da Vale, a divisão é avaliada atualmente ao redor de US$ 12 bilhões, bem abaixo dos US$ 67,7 bilhões implícitos na transação.
Ou, usando outras palavras: a ação VALE3 teria espaço para subir, considerando apenas a questão do valor justo da divisão de metais.
"A percepção de que a companhia está subavaliada vai ganhando corpo, além da injeção de capital ser positiva para alavancar o crescimento da unidade de negócio, que vem entregando aquém do esperado", diz Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.
Mas e as ações VALE3?
Portanto, tudo é muito mais complexo do que uma simples venda de participação e o preço fechado para tal: há questões de governança e de expectativa de melhora de desempenho da unidade de metais — o que pode ou não acontecer.
Mas, além disso, há um fator a ser considerado: a transação já era amplamente esperada, com rumores ganhando corpo nos últimos dias — tanto é que a ação VALE3 saiu da casa dos R$ 67 na semana passada para o patamar de R$ 72 na última terça (25).
O preço final, de US$ 3,4 bilhões, foi superior aos US$ 2,5 bilhões que vinham sendo especulados, é verdade. Ainda assim, em termos de valuation e de racional da transação, tudo veio mais ou menos em linha com o que já era esperado — para o bem ou para o mal.
Sendo assim, resta analisarmos outros fatores que influenciam as ações VALE3. No lado do balanço, também houve pouca surpresa: embora a linha de Ebitda tenha surpreendido positivamente, o dado de custos trouxe preocupação; o saldo dos relatórios dos analistas aponta para uma visão que vai de 'neutra' a 'ligeiramente positiva'.
No lado do minério, o mercado à vista não traz notícias muito animadoras: a tonelada da commodity negociada no porto de Qingdao, na China, caiu 3,58% hoje, negociada na faixa de US$ 110, bem distante das máximas históricas, quando chegou a superar os US$ 200.
Boa parte da dinâmica do mercado de minério de ferro está relacionada com a China: o gigante asiático e sua enorme demanda por insumos de infraestrutura é fundamental na precificação da commodity; se a demanda está aquecida, o preço sobe, e vice-versa.
E a tendência não parece muito animadora para a Vale: o PIB da China vem crescendo num ritmo inferior ao previsto pelo mercado, e há um certo pessimismo quanto ao comportamento do país no pós-pandemia. Portanto, sem grandes expectativas quanto a um novo rali do minério.
Ao fim de tudo, um gestor de fundos em São Paulo resume bem a ópera: "[A venda] é boa por executar, mas exatamente dentro do esperado, os investidores não deveriam ter nenhuma reação a isso. [Para mexer com a ação] é preciso algo diferente na dinâmica de China impactando demanda de aço/minério de ferro, e melhora operacional (tanto aumento de volume quanto redução de custos)".
Há, ainda, a questão política envolvendo um possível esforço do governo para colocar Guido Mantega na presidência da Vale — o ex-ministro da Fazenda que teve que deixar a equipe de transição do governo Lula, tamanha a rejeição que seu nome junto ao mercado.
Quanto ao fator Mantega, o gestor preferiu não se pronunciar. Mas, para quem acredita em coincidências: as ações da Vale saíram de R$ 72,01 na terça-feira para a casa dos R$ 68 nesta sexta, em meio aos rumores cada vez maiores de uma possível movimentação do governo para alocar alguns quadros políticos em posições-chave.
No caso da mineradora, o governo exerce influência via Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, que é dono de cerca de 10% do capital e tem dois membros indicados no conselho de administração.
As ações VALE3 têm um peso de 13,5% na carteira do Ibovespa; o índice, em meio a tudo isso, segue estacionado — nesta sexta, opera praticamente estável, aos 120.008 pontos, sem dar indícios de que conseguirá buscar os 130 mil pontos.
Ao menos, não sem a ajuda da mineradora.
Ainda dá para ganhar com as ações do Banco do Brasil (BBAS3) e BTG Pactual (BPAC11)? Não o suficiente para animar o JP Morgan
O banco norte-americano rebaixou a recomendação para os papéis BBAS3 e BPAC11, de “outperform” (equivalente à compra) para a atual classificação neutra
Casas Bahia (BHIA3) quer pílula de veneno para bloquear ofertas hostis de tomada de controle; ação quadruplica de valor em março
A varejista propôs uma alteração do estatuto para incluir disposições sobre uma poison pill dias após Rafael Ferri atingir uma participação de cerca de 5%
Tanure vai virar o alto escalão do Pão de Açúcar de ponta cabeça? Trustee propõe mudanças no conselho; ações PCAR3 disparam na B3
A gestora quer propor mudanças na administração em busca de uma “maior eficiência e redução de custos” — a começar pela destituição dos atuais conselheiros
Vale tudo na bolsa? Ibovespa chega ao último pregão de março com forte valorização no mês, mas de olho na guerra comercial de Trump
O presidente dos Estados Unidos pretende anunciar na quarta-feira a imposição do que chama de tarifas “recíprocas”
Agenda econômica: Payroll, balança comercial e PMIs globais marcam a semana de despedida da temporada de balanços
Com o fim de março, a temporada de balanços se despede, e o início de abril chama atenção do mercado brasileiro para o relatório de emprego dos EUA, além do IGP-DI, do IPC-Fipe e de diversos outros indicadores
O e-commerce das brasileiras começou a fraquejar? Mercado Livre ofusca rivais no 4T24, enquanto Americanas, Magazine Luiza e Casas Bahia apanham no digital
O setor de varejo doméstico divulgou resultados mistos no trimestre, com players brasileiros deixando a desejar quando o assunto são as vendas online
Nova York em queda livre: o dado que provoca estrago nas bolsas e faz o dólar valer mais antes das temidas tarifas de Trump
Por aqui, o Ibovespa operou com queda superior a 1% no início da tarde desta sexta-feira (28), enquanto o dólar teve valorização moderada em relação ao real
Não é a Vale (VALE3): BTG recomenda compra de ação de mineradora que pode subir quase 70% na B3 e está fora do radar do mercado
Para o BTG Pactual, essa mineradora conseguiu virar o jogo em suas finanças e agora oferece um retorno potencial atraente para os investidores; veja qual é o papel
Nem tudo é verdade: Ibovespa reage a balanços e dados de emprego em dia de PCE nos EUA
O PCE, como é conhecido o índice de gastos com consumo pessoal nos EUA, é o dado de inflação preferido do Fed para pautar sua política monetária
Não existe almoço grátis no mercado financeiro: verdades e mentiras que te contam sobre diversificação
A diversificação é uma arma importante para qualquer investidor: ajuda a diluir os riscos e aumenta as chances de você ter na carteira um ativo vencedor, mas essa estratégia não é gratuita
Após virar pó na bolsa, Dotz (DOTZ3) tem balanço positivo com aposta em outra frente — e CEO quer convencer o mercado de que a virada chegou
Criada em 2000 e com capital aberto desde 2021, empresa que começou com programa de fidelidade vem apostando em produtos financeiros para se levantar, após tombo de 97% no valuation
Tarifas de Trump derrubam montadoras mundo afora — Tesla se dá bem e ações sobem mais de 3%
O presidente norte-americano anunciou taxas de 25% sobre todos os carros importados pelos EUA; entenda os motivos que fazem os papéis de companhias na América do Norte, na Europa e na Ásia recuarem hoje
CEO da Americanas vê mais 5 trimestres de transformação e e-commerce menor, mas sem ‘anabolizantes’; ação AMER3 desaba 25% após balanço
Ao Seu Dinheiro, Leonardo Coelho revelou os planos para tirar a empresa da recuperação e reverter os números do quarto trimestre
Em reviravolta, ações da CVC (CVCB3) deixam a ponta negativa do Ibovespa e chegam a subir 6%. Afinal, o resultado do 4T24 é positivo ou negativo?
A empresa saiu das maiores quedas do Ibovespa para as maiores altas, com o mercado avaliando se os pontos negativos foram maiores do que os positivos; saiba o que fazer com as ações agora
Oncoclínicas (ONCO3) fecha parceria para atendimento oncológico em ambulatórios da rede da Hapvida (HAPV3)
Anunciado a um dia da divulgação do balanço do quarto trimestre, o acordo busca oferecer atendimento ambulatorial em oncologia na região metropolitana de São Paulo
Esporte radical na bolsa: Ibovespa sobe em dia de IPCA-15, relatório do Banco Central e coletiva de Galípolo
Galípolo concederá entrevista coletiva no fim da manhã, depois da apresentação do Relatório de Política Monetária do BC
Um café e a conta: o que abertura do Blue Box Café da Tiffany em São Paulo diz sobre o novo mercado de luxo
O café pop-up abre hoje (27) e fica até o dia 30 de abril; joalheria segue tendência mundial de outras companhias de luxo
Braskem (BRKM5) salta na bolsa com rumores de negociações entre credores e Petrobras (PETR4)
Os bancos credores da Novonor estão negociando com a Petrobras (PETR4) um novo acordo de acionistas para a petroquímica, diz jornal
JBS (JBSS3): Com lucro em expansão e novos dividendos bilionários, CEO ainda vê espaço para mais. É hora de comprar as ações?
Na visão de Gilberto Tomazoni, os resultados de 2024 confirmaram as perspectivas positivas para este ano e a proposta de dupla listagem das ações deve impulsionar a geração de valor aos acionistas
Não é só o short squeeze: Casas Bahia (BHIA3) triplica de valor em 2025. Veja três motivos que impulsionam as ações hoje
Além do movimento técnico, um aumento da pressão compradora na bolsa e o alívio no cenário macroeconômico ajudam a performance da varejista hoje; entenda o movimento