E SE O INIMIGO DE MEU INIMIGO AINDA FOR MEU INIMIGO?
Lá fora, as ações asiáticas tiveram um dia predominantemente positivo nesta terça-feira (27), com os investidores aguardando pistas sobre as perspectivas das taxas de juros e ainda cautelosos com os riscos sobre a instável recuperação econômica da China, sem falar nos desenvolvimentos na Rússia após a rebelião abortada no final de semana.
Pelo menos o governo chinês sinalizou mais estímulos, dizendo que apoiaria o fraco crescimento da segunda maior economia do mundo.
Mesmo assim, é importante mencionar que prevalece um sentimento de cautela entre os investidores em relação à trajetória da economia global nos próximos meses.
Como sabemos, a ameaça de uma possível recessão durante um ciclo de altas taxas de juros, imposta pelos bancos centrais, pode impactar significativamente os EUA e a Europa, influenciando assim o comércio global, as condições de financiamento e a demanda.
A turbulência geopolítica também diminuiu o apetite por risco após os eventos na Rússia, que parecia revelar rachaduras no poder do presidente Vladimir Putin (problemas para as commodities energéticas).
Na agenda, os banqueiros centrais estão reunidos para uma conferência em Sintra. Várias autoridades monetárias estão na agenda para conversar com o mercado e podem trazer volatilidade para os ativos.
A ver…
00:47 — À espera do IPCA-15
No Brasil, os investidores se debruçam hoje sobre a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), da qual ninguém espera muita coisa, e a prévia da inflação oficial de junho.
Caso a primeira possa apresentar uma linguagem mais suave e a segunda um número abaixo das expectativas, os ativos de risco podem voltar a se animar para além dos 120 mil pontos — precisamos embarcar de maneira mais contundente para a tese dos cortes de juros no terceiro trimestre (é o ciclo que os ativos brasileiros tanto querem).
Ainda acredito em um corte de 25 pontos-base na reunião do Copom de agosto, mas dependemos dos próximos dados econômicos.
Para hoje, o IPCA-15 apresentou um crescimento mensal de 0,04%, o que representaria uma desaceleração do patamar de 0,51% verificado em maio — algumas projeções já indicam como possível uma deflação no mês atual. Em 12 meses, o número chegou a 3,40% (o nível mais baixo do índice desde setembro de 2020).
01:27 — Sentimento do mercado em pausa
Nos EUA, as ações caíram ontem depois que o setor de tecnologia não conseguiu manter os ganhos do início do pregão, com o Dow Jones Industrial Average mantendo a sua sequência de perdas, acumulando seis dias de queda consecutivos, a mais longa sequência desde setembro do ano passado.
O mercado parece fraco. Depois de uma recuperação tão forte das mínimas de outubro, o bull market provavelmente precisa de um fôlego adicional.
Todo mundo já fez o máximo de compras de ações que vai fazer, mesmo que por um breve período.
O maior otimismo levou o S&P 500 a uma recuperação de pouco mais de 20% desde a baixa do mercado em outubro. Por um lado, esta é uma ótima notícia, pois significa que os participantes do mercado estão cada vez mais confiantes de que a economia e os lucros corporativos se estabilizarão, já que o Fed está próximo do fim de seu ciclo de aperto monetário, que visa reduzir a inflação.
Por outro lado, simplesmente não há muitos compradores de ações no momento depois da sequência positiva no ano. É por isso que o S&P 500 caiu quase 2% em relação ao pico recente de seu rali, atingido no início deste mês.
Na agenda, contamos com os dados de pedidos de bens duráveis dos EUA em maio. Eventuais surpresas com a atividade econômica americana podem ter efeito sobre os ativos de risco.
02:22 — A demanda por petróleo
Os contratos futuros de petróleo Brent subiram para US$ 74,55 o barril, numa alta de 0,5% ontem.
O confronto entre Moscou e o grupo mercenário russo Wagner foi evitado no sábado, depois que os mercenários fortemente armados se retiraram da cidade de Rostov, no sul do país, sob um acordo que interrompeu seu rápido avanço sobre a capital.
Naturalmente, é provável que isso leve a um prêmio de risco aplicado ao preço do petróleo em meio à possibilidade de mais distúrbios geopolíticos.
O desafio alimentou dúvidas sobre o controle do presidente Vladimir Putin no poder e alguma preocupação com a possível interrupção do fornecimento de petróleo russo, embora os carregamentos tenham se mantido dentro do cronograma.
A menor oferta já está na mente dos investidores, após a promessa da Arábia Saudita de cortar a produção a partir de julho. Ao mesmo tempo, o petróleo caiu cerca de 3,6% na semana passada devido a preocupações com a demanda (atividade chinesa e americana).
Ainda que haja estresse no curto prazo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo projetou que a demanda global de petróleo aumentará para 110 milhões de barris por dia até 2045, com a expectativa de que a demanda total de energia aumente 23%.
Embora o grupo reconheça que a energia renovável desempenhará um papel maior no mix de energia do mundo daqui para frente, o petróleo continua sendo uma parte integrante do mix (isso sem falar no subinvestimento na indústria do petróleo).
03:20 — E essa atividade chinesa?
O primeiro-ministro da China, Li, declarou em um evento do Fórum Econômico Mundial que o crescimento da China estava se acelerando e que a economia poderia liderar uma recuperação econômica global.
O crescimento da China, contudo, tem sido mais focado no setor de serviços, e o crescimento liderado por serviços tem menos impacto global. Isso abriu margem para a interpretação de que teremos mais estímulos.
O crescimento econômico chinês desacelerou em maio, com a produção industrial e as vendas no varejo ficando abaixo das expectativas — os gastos reprimidos em bens e viagens ainda ajudarão a China a atingir sua meta deliberadamente conservadora de crescimento do PIB de 5% este ano.
Mesmo assim, o banco central da China cortou várias taxas de juros em antecipação aos dados mais fracos.
O governo também anunciou um monte de medidas pró-negócios para impulsionar o crescimento econômico e incentivar o consumo, mas ainda não revelou o grande plano de estímulo que muitos estão esperando.
Parte do problema é que a China desperdiçou grandes somas de fundos estatais durante a pandemia (eles têm menos dinheiro para gastar em estímulos em meio a crescentes problemas econômicos).
04:06 — Os impactos russos
O presidente Vladimir Putin condenou os líderes do grupo mercenário Wagner como traidores da Rússia em um discurso à nação, seus primeiros comentários públicos desde a rebelião.
Os comentários de Putin fizeram pouco para esclarecer o mistério em torno dos eventos do fim de semana ou o destino de Prigozhin, que o Kremlin disse ter concordado em ir para Belarus e evitar processos como parte de um acordo para retirar suas forças — comentamos mais detalhadamente os eventos no M5M de ontem.
Como consequência, o rublo caiu ontem para seu nível mais baixo em relação ao dólar em cerca de 15 meses. Os investidores seguem tentando entender a turbulência que atingiu a Rússia. Embora o comboio de soldados com destino a Moscou tenha sido cancelado no sábado, o evento deixou sua marca.
Combates que poderiam levar a uma guerra civil foram evitados, mas as medidas representam um grande desafio ao poder de Putin.
Não foi apenas o rublo. A Rússia é um dos maiores produtores mundiais de petróleo e a instabilidade no país pode ameaçar a produção.
"Portos seguros" também voltam a chamar a atenção. O ouro, por exemplo, também subiu para US$ 1.935,50 a onça — durante uma guerra, por via das dúvidas, vale a pena comprar ouro.
Agora, os investidores observarão as consequências na Rússia nas próximas semanas, sem espaço para futurologia neste momento.